Meu Querido Meio Irmão - Brutinha escrita por Juliana


Capítulo 69
Capítulo 69




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Fui até a sacada do salão. Na verdade, estava mais para uma varanda... Era espaçosa, e tinha um mini-jardim na frente. Veio uma brisa um tanto quanto gelada, e como eu estava com um vestido tomara-que-caia, senti um pouco de frio. Apoiei-me no murinho, da altura de minha cintura, que separava a varanda da rua. 
  Qual seria o valor da amizade? Ou uma pergunta melhor ainda; quando sabemos se o que temos com alguém é realmente amizade? Às vezes basta um pequeno gesto para que possamos admirar e guardar no coração as pessoas, mas também basta um gesto menor ainda para que toda a nossa apreciação e admiração suma. Eu realmente gostava de Lia, e achei que ela também gostasse de mim. Achei ainda que a sua péssima atitude naquele dia fora por causa da bebida, mas não, pelo jeito ela realmente sentia tudo o que disse. 
  A amizade que acaba nunca principiou, diria Públio Siro. Concordo. 
  Mas... Para não perder o costume, meus pensamentos foram interrompidos quando senti que alguém me observava próximo a mim. Não virei-me para ver, pois sabia que era bruno ou Malu 
  As hipóteses de ser ele foram totalmente excluídas quando ouvi que a tal pessoa se aproximava, e seus passos pareciam martelos ao assoalho de madeira, típicos de quem usava sapato de salto alto. 
  Eu ainda não tinha deixado escapado nenhuma lágrima, mas mesmo se estivesse, não me importaria...  
  Senti que a pessoa havia parado há alguns passos de mim. Não era malu. Se fosse, ela teria vindo correndo e me abraçado, fazendo eu me sentir bem. O que uma amiga verdadeira realmente faria. Hesitante, me virei lentamente para ver quem era. É. Realmente, não era Malu.

Se eu não estivesse apoiada ao muro, cairia lá mesmo. 
  — O que foi, Lia? Fera mandou você vir aqui me irritar? Pois já conseguiu.
  — Ele não mandou nada... — Ela disse olhando para o chão.
  — Ótimo! Veio por conta própria?
  — Sim. — Ela se calou por um momento, mas logo levantou sua cabeça, olhando-me nos olhos com uma força tão profunda que me intimidou. Vi também que seus olhos estavam mareados, ela voltou a falar, — fatinha... Eu não sei como começar isso, desculpe. Não, espera, não é por isso que eu queria pedir desculpas! Quero dizer, que eu quero — Ela se atrapalhou um pouco — Bem, você sabe pelo o que eu quero me desculpar...
  — Por ser uma cínica? Falsa? Mentirosa? — Ok, talvez eu tenha exagerado.
  — Por tudo isso e mais um pouco. Eu não fui sua amiga naquele dia, e... — A interrompi.
  — Nunca foi. Esqueceu das suas próprias palavras?
  — Por favor, não torne isso mais difícil do que já é. Você sabe que eu sou orgulhosa. Então... Eu não fui sua amiga naquele dia, e não pense que eu não considerava você como tal. Eu estava bêbada, você sabia! E sabia também que no meu estado sóbrio eu teria ajudado você, lhe consolado, levado você para casa e ficar o resto da noite tentando lhe animar. Você sabia disso, Fatinha. 
  Não respondi, apenas esperei ela continuar, e a mesma o fez.
  — Todas as minhas palavras, todas, todas... Foram mentira. E eu me arrependo amargamente disso. Você não merecia o que eu fiz para você, e eu estou aqui, superando todos os meus conceitos, para me redimir a você.
  — Você não veio me pedir desculpas depois que já estava sóbria... — Ainda insistia. Eu percebi que ela já estava chorando, e eu, automaticamente levei minha mão até meus olhos. Eles estavam molhados. Estava chorando também.

— Desculpe, Fatinha, me desculpe. Sei que não fui uma boa amiga, mas saiba que todo o dia que eu via você, a minha vontade era de correr e fazer isso que eu estou fazendo agora. 
  — Eu não sei o que dizer... — Admiti. Eu sentia sinceridade na sua voz, e toda a minha raiva por ela havia passado naquele instante. Queria abraçá-la, mas meu orgulho era maior. Eu estava tão confusa, não conseguia raciocinar direito. 
  — Eu entendo. Não quero pressionar você — Ela sorriu fraco e deu alguns passos para trás, entrando novamente no salão, dando-me um “tempo para pensar”. 
  Sentei-me em uma cadeira que estava ali, e fiquei pensando sobre tudo o que ela me dissera. Não fazia sentido eu não a perdoar, afinal, que moral eu tinha perto de tudo isso que ela acabara de me confessar? Já tinham passado alguns minutos, nem Bruno nem Malui tinham vindo me ver. Provavelmente sabiam que eu queria ficar sozinha. 
  Mas logo senti alguns passos atrás de mim e alguém se sentando na cadeira ao lado da minha. Lia.
  Ela respirou fundo, abriu a boca para falar, mas logo a fechou. Repetiu esse ato mais uma vez, e finalmente soltou sua voz.

 — Sabe... Eu li uma vez um livro sobre um escritor brasileiro, Fernando Pessoa, lembrei-me de você na hora — Ela sorriu levemente, e eu a olhei, incentivando-a a me falar — “Quero ser o teu amigo. Sem forçar tua vontade. Nem demais e nem de menos. Nem tão longe e nem tão perto. É por isso eu te suplico paciência. Sem falar, quando for hora de calar. E sem calar, quando for hora de falar. Na medida mais precisa que eu puder. Simplesmente, calmamente, ser-te paz. Nem ausente, nem presente por demais. Da maneira mais discreta que eu souber. Vou encher este teu rosto de lembranças, dá-me tempo, de acertar nossas distâncias. Mas amar-te sem medida e ficar na tua vida, sem tirar-te a liberdade, sem jamais te sufocar. É bonito ser amigo, mas confesso é tão difícil aprender.” — Pausou respirando fundo e voltou a falar — É lindo. E super significativo.
  O que eu podia dizer depois disso? Meu Deus, nem quando eu e Malu brigávamos ela falava coisas tão bonitas para mim. Sorri para ela e a abracei. Ouvi-a suspirar e abraçar-me também.


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