O silêncio era perturbador.As únicas coisas que podia se ouvir era as respirações de Annabeth e Richard e a copa das árvores balançando ao vento.

-Em outras circunstâncias eu não colocaria as mãos em você- recomeçou Richard sem tirar os olhos da garota enquanto desembainhava sua espada- Mas você vai dar com a língua nos dentes e eu não posso permitir.Meu plano seria inútil se desse errado...tanto trabalho pra nada.

-Você devia se envergonhar- Annabeth desembainhou sua adaga- Você não vai colocar as mãos em mim,não outra vez.

-Concordo.

Percy atravessou o espaço entre Richard e Annabeth levando sua espada nas mãos.Ele estava sério e não parecia nada feliz.

-Achei que você fosse só mais um idiota querendo atenção.- comentou ele- Mas nenhum idiota é tão babaca quanto você.

Richard riu entre os dentes.

-Era de se esperar –Ele rodopiou a espada entre as mãos e a arremessou no ar.Com uma cambalhota ele rolou e se pôs de pé há tempo de pegar a espada ainda em movimento- que você trouxesse alguém para brigar por você.

O sangue de Annabeth ferveu.Ao seu lado Percy parecia da mesma maneira.

-Você fala demais- rosnou Percy

O vento ouviu e dessa vez o som de raios pestanejaram no céu por nuvens trazidas pela ventania.

A chuva caíra sobre os eles,como se não houvesse momento mais impróprio para chover.

-Sorte de vocês...não gosto de chuva.Nos veremos em breve Chase,e não esqueça de trazer seu namoradinho para a festa.

Percy e Annabeth o encararam,até que Richard saiu de cena rodopiando a espada no ar enquanto a chuva deixava seus cabelos ainda mais escuros e escorridos.

Não havia muito o que fazer nessas circunstâncias.O garoto assumira a culpa pelo acidente e isso já era o suficiente para entregá-lo.

Durante o caminho até a casa grande, Percy e Annabeth não trocaram palavras,mas era muito fácil de se perceber que estavam em harmonia.Eles pensavam da mesma forma: Iriam de qualquer maneira contar sobre o acontecido mesmo que o diretor do acampamento não acreditasse.

Eles subiram os degraus da casa grande e abriram as duas grandes portas do hall de entrada.

Então algo os surpreendeu- ou melhor: alguém.

No sofá de dois lugares de costas para eles, havia uma mulher de densos cachos negros e brilhantes,sua jaqueta jeans estava suja de sangue e as pontas eram totalmente bifurcadas.Sua calça caqui militar fazia uma ótima combinação com os coturnos de couro com spikes.

A mulher se servia de uma xícara de chá enquanto conversava com senhor D.Eles pareciam estar se divertindo.A julgar pela cara de entusiasmo do diretor,a mulher parecia uma ótima comania.

-Voltaremos mais tarde- sussurrou Percy para Annabeth.

-Não se deem trabalho.Faço questão que participem de nossa conversa- intrometeu-se Nemesis,assim que Percy e Annabeth atravessaram a soleira da porta- Deve ser algo muito importante...-Nemesis se virou para os olhar.Seus olhos âmbar eram perdidamente belos e arrogantes.- Não é mesmo?

Percy tentou sorrir- Preferimos não interromper a conversa.

Nemesis deu mais um gole em seu chá- Não me lembro de ser tão educado desde a última vez que nos vimos,Percy Jackson.

-Não consigo me lembrar...- Percy coçou o queixo- Quis esquecer desse episódio.

A deusa pousou sua xícara na mesa de centro.

-Interessante...

Senhor D. pigarreou

-O que querem- bufou ele

-Queremos falar sobre o acidente que me mandou duas semanas para a ala hospitalar junto com Clarisse.

-Duas semanas?Exatamente o tempo que mandei que ficasse em seu chalé.Parece que nenhum de nós quis dar atenção.

Annabeth rangeu os dentes.

-Tenho provas que indicam perfeitamente o culpado.

Annabeth entrou;contornou os sofás da sala de visitas e se parou em frente ao diretor.

-Vai me ouvir ou vou ter que procurar alguém no Olimpo?

Senhor D. mordeu os lábios,furioso.

-Está me ameaçando?

-Só queremos uma resposta -interrompeu Percy- Podemos explicar?

Senhor D. bufou,contrariado.Não tinha como escapar.Annabeth estava totalmente convencida de que precisava contar a verdade com ou sem a companhia de Nemesis.

A deusa sorriu para a garota como se soubesse o que ia fazer.

-Você se saiu muito bem,Annabeth.- comentou ela- Mesmo hospitalizada e ferida encontrou muito mais do que qualquer um.Tenho eu admitir,você fez um bom trabalho.

Senhor D. deu um longo gole em seu vinho,então disse:

-Estávamos ocupados com o pós festa.E ainda temos que nos organizar para o término das férias- ele estendeu as mãos para cima em forma de agradecimento- Mas em todo caso.As duas sobreviveram,vamos encontrar o culpado assim que as coisas tomarem seu devido lugar.

-Você quer dizer quando formos embora?

Senhor D. xingou,mas foi silenciado pelo rugido da cabeça de leopardo empalhada na parede.

-Quando as coisas se tornarem mais calmas- respondeu ele,com esforço evidente para se manter educado.

Nemesis se levantou e contornou a sala.Ela parou diante de uma das grandes janelas e se debruçou,contemplando a vista do acampamento sob a chuva.

-Você fez um bom trabalho- repetiu ela- Mas nada se compara ao trabalho de meu filho.Ele fez exatamente o que queria.-ela se virou para os semideuses e o deus na sala- Mas você,querida,não tem motivos para reclamar.Afinal,se não tivesse entrado na clareira no momento errado,não teria sido ferida e empurrada para dentro do buraco.- A deusa sorriu maligna,seus olhos penetraram em toda a sala,deixando o ar pesado,como se mil velas tivessem sido acessas.

-Como é?- espantou-se Senhor D.

Annabeth contou sobre as coisas que descobrira sobre seu acidente.Sobre Richard ter confessado e ter usado Patty como ajudante.

Nemesis sorriu durante toda a explicação,enquanto dava goladas em seu chá que parecia não ter fim.

-Um ótimo trabalho- repetiu, assim que Annabeth terminou

Senhor D. a observou por instantes, então disse:

-Confirma isso? Tal absurdo dentro do meu acampamento?!Impossível!

-Entendo a preocupação, Dionísio.Mas foi exatamente do jeito que a garota contou.Visitei o sonho de Richard inúmeras vezes, o encorajando a terminar com esse sofrimento causado por uma garota que adora tomar vantagem sobre os outros.-Nemesis pousou sua xícara sobre a mesa,finalmente fazia- Também fiz com que Annabeth tomasse conhecimento que eu também cuidava para que ela soubesse dos acontecimentos.Adorei ver a intensidade com que ela se preocupou em se vingar de...

- NÃO!-berrou Annabeth,forçando a deusa a parar com o discurso- Na mesma manhã que tive o desprazer de tê-la em meu sonho,percebi o verdadeiro sentimento em relação á Richard e a Patty.Eu queria justiça.Queria poder mostrar que mesmo sobre intermináveis interrogatórios e vigilância existia justiça,que mesmo onde não se espera,sob circunstâncias indesejáveis e inimagináveis,sempre vai existir alguém que faça as coisas do jeito que elas devem ser.A verdade prevalece.

A deusa aplaudiu,sínica e arrogante.

-Bom uso de palavras.Receio que tenha lido muitos livros,mas francamente.... Acha mesmo que a justiça é como o sol das manhãs?De que livro tirou um discurso tão irracional e idiota?

-Não é preciso discurso quando se sabe exatamente o que dizer,quando se tem caráter.Coisa que você se seu filho desconhecem.

-Colocando as garras para fora,filhote de peixe? Devíamos ter votado para acabar com você quando tivemos tempo.

Quíron pigarreou enquanto rodava sua cadeira de rodas para o centro da sala.

-Não vamos transformar essa conversa tão amistosa num ring de combate,certo?Creio que esses dois jovens tem muito a dizer e gostaria de podê-los ouvir em particular...Se me derem licença.

Quíron sinalizou para os semideuses,que o seguiram para dentro da sala do diretor de atividades.

-Não precisam dizer nada- informou ele,assim que fechou a porta- Tomei a liberdade de escutar tudo de dentro de minha sala.- Quíron comentou como se estivesse envergonhado- No entanto,estou muito orgulhoso de vocês e... puxa,vocês estão ensopados.