Segredo escrita por thana
Ficamos na recepção por um tempo até que a Julia apareceu e pediu que a seguíssemos até um corredor, que por acaso eu conhecia, que dava para os quartos dos pacientes.
— Ele realmente fraturou o braço direito _ ela começou a dizer para eu e o Paulo, caminhando pelo corredor _ e sofreu um trauma na cabeça, mas não se preocupe foi muito leve.
Ela parou em frente a uma porta e virou para nós dois.
— Ele está sedado _ a Julia falou com a mão na maçaneta _ ele só vai acordar amanhã agora _ e ela abriu a porta _ mas você pode entrar para dá uma olhada nele _ a Julia parou, franziu a testa e completou _ eu diria para você ficar mais tranqüila, mas você não parece nervosa.
— Pode ir na frente _ o Paulo falou.
Ele me empurrou para dentro quarto e fechou a porta.
Eu fiquei alguns segundos parada olhando para a cama que o Filipe estava. Ele tava com o braço e a cabeça enfaixados, respirava lentamente, mas sem a ajuda de aparelhos.
Fui me aproximando da cama e observei com mais atenção para ver se ele estava realmente dormindo.
Fiquei com muita vontade de pintar o rosto dele de palhaço ou outra coisa do tipo, só para tirar uma com a cara dele. Cutuquei a bochecha dele para ver se ele não ia acordar de jeito nenhum (Ok! Admito que não era uma coisa legal o que eu ia fazer. O garoto tava lá basicamente todo enfaixado, mas eu não tava nem ai para nada).
Ele nem se quer virou o rosto. A demora era só eu achar alguma coisa para riscar o rosto dele.
Procurei em um criado mudo que se encontrava ao lado da cama dele. Abri a primeira gaveta e estava vazia, abri a segunda e tinha uma prancheta com uns papéis presos nele.
No topo da primeira folha tinha o nome no Filipe, tipo, o nome completo: Felipe Alburqueque. Eu me surpreendi com o sobrenome dele. Eu esperava uma coisa mais do tipo " da Silva".
Continuei lendo o papel, era a ficha medica dele: dizia o estado clinico dele, mas o que me chamou a atenção foi o campo que tinha que ser preenchido com o nome da mãe e do pai. Ao contrário do que eu pensava, a lacuna estava ocupado com nomes: Eliza Campelo e Victor Alburqueque.
Nessa hora eu me lembrei vagamente do Filipe falando de ter morado em um orfanato, eu achava que tinha me confundido, que não tinha entendido direito o que ele havia falado.
Eu continuei lendo o prontuário dele. Lá também dizia o tipo sanguíneo, que por acaso era o mesmo que o meu: AB-.
Eu comecei a folhear o prontuário quando ouvi a maçaneta da porta virar. Guardei a prancheta na gaveta rapidamente e me afastei do criado mudo. Fiquei ao lado da cama bem quieta. Quem entrou foi o João.
— Oi _ ele me cumprimento _ O Paulo teve que ir e me pediu para te acompanhar de volta para o seu quarto _ o João explicou e ficou quieto por um tempo _ A Julia disse que ele vai ficar sob observação alguns dias.
Eu continuei calada observando o Filipe dormir.
—Precisamos ir _ ele disse depois de alguns minutos _ a hora de visita já acabou.
Foi muito bom ter saído daquele quarto. Não aguentava mais ficar olhando o garoto dormir, mas eu achei que seria melhor do que ficar de castigo, doce ilusão! Foi tão maçante quanto.
— Ele ta vivo? _ o João perguntou observando o Filipe que ainda estava quieto demais.
— Acho que sim _ eu ergui a sobranselha _ o peito dele ta se mexendo _ eu reparei nas cobertas que se mexiam para cima e para baixo.
— Ta certo _ ele falou colocando o braço no meu ombro e me guiando para fora do quarto _ vamos que já era para você ta no seu quarto de volta.
Eu encolhi os ombros e me deixei ser guiada por ele.
Saímos pelo mesmo corredor até a metrópoles e fomos caminhando até os elevadores. No caminho as pessoas o cumprimentavam como sempre até quem tava de carro deva uma buzinada para dar um alo para ele o que me fez perguntar:
— Você não tem carro? _ tava me cansando ficar andando de cima para baixo a pé com ele.
Ele simplesmente balançou a cabeça positivamente.
— E cadê ele? _ eu perguntei procurando pelo carro ao redor.
— Ta guardado.
— E por que você não anda com ele? _ continuei curiosa, esse lugar é muito grande.
— Eu prefiro andar _ ele me respondeu sem olhar diretamente para mim.
— Serio? _ eu na época até que acreditei naquela história, só que não era bem aquilo. _ Você parece bem popular por aqui. _ comentei.
— Como eu disse antes eu gosto de caminhar _ reforçou ele _ e nessas minhas caminhadas eu conheci muita gente.
Eu dei de ombro e continuamos o nosso percurso.
Quando cheguei ao meu quarto foi quando eu parei e pensei no que tinha acontecido hoje. O Filipe tinha se ferido muito seriamente, e porque ele tinha ajeitado a roda do skate, imagina o que teria acontecido se ele tivesse entrado na pista com a roda danificada. Só que pelo pouco tempo que eu conhecia o sujeito ele praticamente lambia aquele skate, ele não ia cometer um erro tão tosco de deixar a roda bamba. Eu não sabia por que, mas aquilo tava com cheiro de sabotagem. Quem iria querer prejudicar ele? A Brenda tinha dito que ele era muito legal com todo mundo.
Deixei essa questão para lá e me foquei no que eu tinha que estudar, o que não era pouco. Eram matérias tão estranhas, que até hoje eu não sei como eu consegui assimilar tudo aquilo.
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