Segredo escrita por thana
Eu fiquei parada só o mirando enquanto ele arrumava as suas coisas para a chegada da próxima turma.
_ Algum problema? _ ele me perguntou quando percebeu que eu não tinha movido um músculo para fora da sala.
Eu gostaria de ter gritado: “Sim, dá para, por favor, me dá uma senha descente, sabe, com números?” Mas eu não podia, afinal ele era um professor, então eu só me forcei a balançar a cabeça dizendo que não, pegar a minha mochila, que mais parecia ter chumbo do que livros, e sair da sala. Antes de encostar na maçaneta da porta eu me lembrei que eu não fazia a mínima idéia de onde eu teria que ir, mas no momento eu não me importei muito com isso, minha cabeça tava mais preocupada em descobrir a minha senha, para não ficar andando com aquele peso para cima e para baixo.
Para a minha surpresa quando eu coloquei os pés para fora da sala eu me deparei com o Filipe me esperando.
_ Ah, finalmente saiu _ ele me disse _ qual é o numero do teu armário?
Eu olhei para o lado do papel que tinha o numero do meu armário e disse:
_ 50.
_ Eu sou o 51, é ao lado do meu _ ele respondeu _ o que não é surpresa nenhuma, vem eu te mostro.
Ele nem me deu tempo de dizer que eu não sabia a combinação do armário, já foi me guiando pelo braço. Andamos pelo corredor até chegar a um cruzamento de corredores, viramos à direita e dei de cara com uma parede forrada de armários cinzas, sabe esses que normalmente se encontra em vestiários? Eram armários daquele tipo. Nós continuamos a andar e paramos mais ao final do corredor.
_ É esse aqui _ o Filipe apontou para um armário com o numero 50 pintado em preto no meio da porta dele _ Qual é a sua senha? _ ele perguntou pegando em um cadeado que estava pendurado nele.
Percebi que o cadeado era daqueles que precisa combinações de números, esse cadeado era redondo com um circulo no meio e números de um a doze ao redor, o circulo central se movia de um lado ao outro movendo os números juntos.
_ E ai, qual é o seu segredo? _ o Filipe insistiu.
Eu fiz com ele a mesma coisa que eu fiz com o professor, só fiquei o olhando. O Filipe também só ficou olhando para mim, então como se uma conclusão tivesse surgido em sua mente, ele revirou os olhos e disse:
_ Olha, eu sei que é o seu armário, mas eu sou seu parceiro, você pode confiar em mim para saber sua senha, esse vai ser o seu primeiro passo para demonstrar confiança em mim.
Continuei calada, ela achava que eu não queria dizer a senha porque eu não confiava nele, e sinceramente, eu não confiava mesmo. Como ele viu que eu não ia falar mesmo, mas porque eu não sabia a porcaria da senha, ele continuou:
_ Caraca, você é desconfiada mesmo em? Tudo bem _ ele respirou fundo _ eu vou te mostrar a senha do meu armário, assim você vai confiar mais em mim.
Ele deu um passo à frente, parando no armário 51 e pegou o seu cadeado, que era igualzinho ao meu, igualzinho a todos os cadeados e armários.
_ Escuta _ ele disse fazendo sinal para que eu me aproximasse dele _ a combinação dele é... _ ele praticamente sussurrou _ 10 11 04 07 _ enquanto ele cochichava os números ele ia virando o circulo para deixar os números ditos em pé, na parte de cima do cadeado que tinha uma pequena saliência indicando onde os números deveriam ser posicionados.
Depois que ele posicionou o numero 07 o cadeado simplesmente destrancou sem muito esforço, o Filipe o retirou e abriu a porta para demonstrar que o que ele falava era mais do que verdade.
_ Tá vendo? _ ele perguntou apontando para dentro do armário, que por acaso estava uma bagunça _ pode confiar em mim _ o Filipe voltou para o meu armário e pegou novamente o cadeado _ diz ai a tua senha.
Eu olhei novamente o papel, só que dessa vez no lado que tinha o enigma e o recitei:
_ “Quando inicia a primavera o tempo esquenta, quando o verão acontece o tempo ferve, o outono sempre começa quente, mas no inverno sempre esfria.” _ e olhei para ele _ essa é a minha senha, roda ai no cadeado para ver se ele abre.
O Filipe deu um risinho no canto da boca.
_ Tinha me esquecido da charada _ ele respondeu largando o cadeado.
_ Sorte sua _ eu disse, minha mochila já jazia no chão há muito tempo.
_ Você tem alguma idéia do que seja? _ o Filipe perguntou encostando-se no armário.
_ Bem _ eu comecei a falar olhando novamente para o papel _ eu sei que isso aqui leva a números.
_ Mesmo? _ ele me disse sarcasticamente _ E você descobriu isso sozinha?
Eu ignorei o que ele disse e continuei:
_ Mas quais números?
_ Sinto muito, mas depois você pensa nisso _ o Filipe me disse voltando para o seu armário e o trancando de novo, mas só depois de tirar um livro de lá _ temos que ir para a aula.
Eu peguei a mochila e a ergui um pouco do chão, e comecei a seguir o Filipe que já ia a minha frente.
_ Ei para onde estamos indo? _ eu perguntei quando o alcancei.
_ Para a aula de mapas _ ele respondeu _ a sala fica do outro lado.
Nós andamos, e andamos por corredores e mais corredores e eu ainda arrastando aquele peso.
_ Quanto tempo você demorou para descobrir a sua senha? _ eu perguntei, eu precisava me distrair um pouco para ver se eu não ligava para o cansaço.
_ Uma semana _ ele respondeu quando viramos em mais um corredor _ a minha charada eram nomes de pessoas importantes, sabe, o Antoine Watteau*, Francesco Algarotti*,Hong Sa-ik* e o Alois Hitler*, deu um trabalhão para descobrir a ligação, que era a data de nascimento deles.
Eu nem sabia quem eram esses caras. Assim que ele terminou de falar, parou em frente a uma porta.
_ Essa é a sala de mapas _ o Filipe apontou.
_ Espera _ eu pedi antes dele abrir a porta _ Você carregou esse peso durante uma semana inteira?
_ Não _ ele disse ainda com a mão na maçaneta _ o Derek me cedeu um espaço no armário dele enquanto eu não descobria a senha.
Eu o fique encarando, com uma cara de “e por que você não me deixou guardar as minhas coisas no seu armário?”, mas eu acho que ele não deu à mínima, porque ele simplesmente abriu a porta e entrou e eu fui arrastando minha mochila atrás dele.
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*Antoine Watteau, pintor francês nascido em 10 de outubro de 1864.
*Francesco Algarotti, filósofo, crítico e escritor de ópera italiano.
*Hong Sa-ik, militar japonês, mais proeminente a ser acusado de crimes de guerra relativos a conduta do Império do Japão na Segunda Guerra Mundial.
*Alois Hitler, pai de Adolf Hitler.
Notinha rápida: Assim, por acaso, você conseguiu descobrir qual é a senha da Suzan? Se sua resposta é sim, então deixa ela lá nos comentários,
Mas se você ainda nem sabe para onde vai aquilo, eu vou dá mais alguns capítulos para você pensar. Eu dei uma dica falando sobre a charada do Filipe.
Acho que agora ficou fácil!
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