Segredo escrita por thana
Cheguei ao meu quarto e fechei a porta sem dar nem uma chance do chato se despedir.
Que chato, eu agora tava de castigo, não que eu me importasse muito, mas sabe como é né? Quando você é proibido de fazer algo, por menos que você o queira fazer, é ai que você quer fazer... ok, acho que ficou meio complicado a minha explicação, mas deu para você entender?
Eu estava no meio do meu quarto, fervendo de raiva por tudo aquilo, quando alguém bateu a minha porta, eu realmente esperava que não fosse o chato, porque eu juro que seria capaz de... eu não sei o que, mas acredite seria uma coisa muito ruim.
Respirei fundo voltei à porta e a abri, dei de cara, não com o chato (o que foi sorte dele), mas com a Brenda.
_ Ah _ ela fez em alivio quando me viu _ que bom que você já está aqui _ continuou falando, mas hesitou quando viu que eu não tinha uma expressão muito feliz no rosto _ tá tudo bem?
_ Não _ eu disse ainda segurando a porta _ to de castigo.
_ Nossa, você é atropelada e ainda fica de castigo? _ ela se indignou.
Eu simplesmente encolhi os ombros.
_ E agora eu nem posso sair do meu quarto _ eu completei.
_ Isso horrível _ ela exclamou _ Mas o seu braço tá melhor?
_ Tá sim _ eu falei olhando para o machucado que sinceramente eu nem lembrava mais _ Entra ai _ eu disse me afastando da porta e caminhando até a minha cama.
_ Mas você pode receber visitas? _ a Brenda perguntou com as sobrancelhas arqueadas, ainda parada a porta _ Você não disse que estava de castigo?
_ A mãe disse que eu não podia sair do quarto e não que eu não podia falar com as pessoas _ eu expliquei tentando mais me convencer do que convencer a Brenda.
_ Então tá _ ela disse finalmente adentrando o quarto e fechando a porta.
A Brenda olhava bem ao redor, com muita curiosidade.
_ Senta ai Brenda _ eu disse apontando para uma cadeira que estava perto da escrivaninha.
Ela se sobressaltou como se alguém a tivesse pegado fazendo algo de errado, mas logo ela se sentou enquanto eu me acomodava na minha cama.
_ Brenda _ eu chamei depois que tínhamos ficado em silencio por um tempo _ quem é o teu parceiro? _ eu perguntei, por alguma razão, que eu nem sei qual é, a curiosidade me atacou sobre aquele assunto.
_ É o Hugo _ ela disse.
Aquele nome me era familiar, só que eu não me lembrava onde o tinha ouvido. Ela percebeu que eu tentava me lembrar de algo e continuou:
_ É aquele garoto pardo que eu te apresentei lá no parque.
_ Ah, claro _ eu fiz.
_ E o seu quem é? _ a Brenda me perguntou.
_ O chato _ eu respondi sem mostrar muito interesse.
_ Quem? _ ela disse, e foi ai que eu percebi que a única que o chamava de chato era eu e mesmo assim era dentro da minha cabeça.
_ Eh..._ eu fiz esforço para tentar lembrar o nome dele _ Filipe, acho que é esse o nome dele.
_ O Filipe _ ela repetiu _ é, ele tava sem parceiro mesmo.
_ E então _ eu continuei _ você ficou muito irritada quando você se encontrou com teus pais quando sai do... como é mesmo o nome que você chamou aquele cubículo?
_ Quarto das iniciações _ ela disse _ mas não, eu não me irritei com eles, nem teria como.
_ Mesmo? _ eu me indignei _ Eu fiquei um fera. Seria tão difícil eles terem nos contado o que teríamos que enfrentar?
_ É _ ela simplesmente fez, eu notei um pouco de tristeza no “é” dela.
_ Como é o nome dos teus pais? _ eu perguntei _ O que eles fazem aqui?
Ela não disse nada, só ergueu os ombros.
_ Eles não ti disseram o que fazem não? _ eu insisti, bem que, pensando melhor eu também não sabiam no que os meus pais trabalhavam, eu não sabia a profissão de nem um deles _ é os meus também não me disseram também não, como é o nome dos teus pais? _ eu repeti a pergunta.
_ Eu não sei _ ela me disse olhando para o chão.
_ O que? _ eu perguntei curiosa _ como é que você não sabe o nome dos teus pais?
_ Eu não os conheço _ ela respondeu exibindo um sorrisinho amarelo _ eu fui criada em um orfanato, morei em um até o dia em que me trouxeram para cá.
_ Desculpa eu não... _ eu comecei, me sentando em minha cama, mas ela me interrompeu.
_ Tudo bem _ ela disse me olhando _ eu não me incomodo com isso.
É claro que era mentira, ela devia se incomodar e muito, então eu resolvi mudar de assunto.
_ Como são as coisas por aqui? _ foi à primeira coisa que me veio à cabeça.
_ É ótimo _ ela disse um pouco mais animada _ parece um cidade...
A Brenda falava dos lugares que já tinham se tornado os prediletos dela, das pessoas que por ali passavam e de um treinamento que ela mais gostava, foi ai que eu a interrompi:
_ Treinamento?
_ É _ ela confirmou _ aqui nos temos que estudar algumas coisas que, acredite, você nunca estudaria em uma escola “sob”.
_ Estudar? _ eu indaguei como se não tivesse entendido o que ela falara _ olha, eu não sei você, mas eu to de férias.
_ Você tá de férias da escola “sob” que você freqüenta _ ela explicou _ mas aqui embaixo a gente tem que treinar para ser um agente.
_ E se eu não quiser? _ eu questionei.
_ É obrigatório _ ela me disse.
Eu bufei e deitei na cama, isso realmente era um pesadelo, agora eu ia ser obrigada a estudar nas férias. Quando eu ia abrir a boca para perguntar o que exatamente eu seria obrigada a estudar, ouvimos uma batida na porta e em seguida vimos ela se abrir e minha mãe passar por ela.
_ Ola _ ela cumprimentou nós duas _ tá na hora do jantar é bom vocês irem para o refeitório.
_ Que hora é? _ eu perguntei para ela.
_ Sete horas da noite _ ela disse.
_ Já? _ a Brenda falou.
A mãe simplesmente confirmou com a cabeça.
_ Eu ainda não me acostumei a isso _ ela dizia enquanto nós nos levantávamos e seguíamos a minha mãe até o corredor _ eu acho que é porque aqui não tem sol, por isso que eu fico meio perdida no tempo.
Eu concordei mentalmente com ela.
_ Suzan é do refeitório para o quarto _ a mãe me lembrou.
_ Eu sei mãe _ eu reclamei assim que chegamos ao elevador.
_ Que bom que você sabe _ ela falou _ e seu castigo inclui, não receber visitas _ aqui ela virou para a Brenda _ Sinto muito, mas enquanto ela estiver no quarto de castigo você não vai poder ir lá e falar com ela.
A Brenda balançou a cabeça positivamente, ela parecia nervosa ao lado da minha mãe.
_ Sabia que até em cadeias os presidiários tem direito de receber visitas? _ eu reclamei, mas a mãe me ignorou.
Pegamos o elevador e fomos direto para o andar do refeitório. Jantei em acompanhada da Brenda, que assim que terminou o jantar disse que tinha que se encontrar com o Hugo e os outros garotos que eu tinha conhecido aquele dia e que até me levaria se eu não estivesse de castigo.
Assim que terminei de comer foi me arrastando até meu quarto. Devia ser o que, oito horas da noite? Eu nunca tinha ida para cama tão cedo, mas a única coisa que eu podia fazer agora era isso, dormir.
Por incrível que pareça adormeci antes mesmo de saber.
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