Segredo escrita por thana


Capítulo 10
Capítulo 10




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Eu senti um frio na espinha como se alguém tivesse colocado um cubo de gelo por dentro da minha blusa e o saltado para que ele caísse pelas minhas costas.


 


_ São eles, os seus pais _ a mãe falou _ Menos o João ele é o seu tio, irmão do Paulo _ ela se corrigiu.


 


Eu olhei novamente cada rosto, que por acaso estavam todos em mim. Cara, imagina! Já deve ser chocante quando você descobre que é adotada e você conhece a sua mãe e o seu pai biológico, imagina quando você conhece quatro mães e três pais biológicos, o que já é estranho você ter tantos pais biológicos assim e de lambuja ainda conhece um tio.


 


_ Espera _ eu falei depois de contar pela terceira vez o numero de homens que a mamãe tinha me apresentado como meus pais _ Eu achei que eram quatro mães e quatro pais _ eu falei olhando para a minha mãe, não que na época eu me importasse com isso.


 


_ O quarto doador pediu sigilo _ a mãe me disse.


 


_ Que seja _ eu falei.


 


_ Então é isso _ ela falou _ Bem, você tá com fome, certo? _ e a mãe me passou o prato que segurava.


 


Eu segurei o prato e fiquei parada, olhava de um rosto para o outro e eles me olhavam de volta. Foi engraçado eu ver meus olhos no Bruno, meu nariz na Julia, meus cabelos, idênticos, por sinal, até o tamanho, na Luisa, o desenho da minha boca no Fabio, as minhas bochechas no Paulo, meu sinal (um que eu tenho no pescoço) na Simone no mesmo lugar e as minhas orelhas na Ana. Será que tem como eu dizer que eles não são meus pais?


 


_ Eh _ o Fabio fez se levantando da mesa _ Eu já acabei, pode ficar com o meu lugar _ ele me disse dando um passo para o lado.


 


Eu fiquei alguns segundos parada até que senti minha mãe me dando um leve empurrão para que eu me movesse até a cadeira, e eu o fiz, coloquei meu prato na mesa e me sentei, todos ainda me olhando.


 


_ Seja bem vinda _ o Fabio me disse enquanto passava a mão pelo topo da minha cabeça, eu ergui minha cabeça para ele, que exibia um sorriso nos lábios que eram idênticos aos meus. _ To voltando para a minha missão _ dessa vez ele falou para todos, e saiu, mas ele não saiu andando pelo caminho que eu e a mãe tínhamos vindo, ele saiu da cozinha por uma porta, que por acaso eu não tinha percebido, que ficava no final da parede perto de onde estávamos.


 


Ficamos em silencio enquanto eu dava a minha primeira garfada no prato, que estava cheio da minha comida preferida, você lembra qual é né?


 


_ Bife com fritas _ falou a Ana quebrando o silencio _ Não é muito saudável, mas você adora _ eu olhei para ela enquanto mastigava.


 


_ Se deixar ela come isso todo dia _ falou a mamãe que ainda estava de pé perto do papai.


 


_ Eu sei _ falou a Ana com um sorriso.


_ Ah gente deixa ela comer o que ela gosta _ falou o João _ Uma vez ou outra não vai matar _ e ele sorriu para mim.


 


_ Eu sabia que você ia dizer isso João _ disse a Simone balançando a cabeça_ Eu já to até vendo ele ti enchendo de mimos _ ela falou para mim.


 


Eu não posso negar, eu gostei de ouvir isso.


 


_ E sua cabeça, ainda dói? _ a Julia me perguntou. Nossa, aquela batida parecia ter sido há séculos.


 


_ Não _ eu respondi assim que engoli a comida.


 


_ Aquele Marcos é um demente mesmo _ disse o Bruno.


 


_ Calma _ pediu a mãe _ ele já foi devidamente punido.


 


Eu sei que não devia, mas eu também gostei de ouvir aquilo.


 


_ Que pena que tiveram que abrir um buraco no seu cabelo para ajeitar o ferimento _ falou a Luisa se levantando e indo para o meu lado.


 


Eu larguei o garfo no prato e passei a mão no local que eu ainda sentia a ferida, por um estante eu senti meu cabelo normal então fui entrando com os dedos pelos fios e senti o machucado e uma região, adjacente a ele, raspada. Juro que até aquele momento eu não tinha percebido, quero dizer, eu senti uma coisa estranha na cabeça, mas eu achei que fosse por causa da ferida, o que em parte era.


 


_ Seus cabelos são tão lindo _ a Luisa falou pegando um punhado deles, os erguendo e os soltando no ar os fazendo caírem como os cabelos das modelos de comerciais de xampu.


 


_ Claro que você acha isso _ falou o Paulo _ eles são iguais aos seus.


 


Todos, menos a Luisa e eu, riram, na verdade ela deu um olhar assassino para ele.


 


_ Bem to indo também _ falou a Luiza descansando um pouco a mão na minha cabeça _ Eu espero te ver mais _ ela disse me olhando, quando eu ergui mais uma vez a minha cabeça, assim que ela começou a dar os passos para sair pela mesma porta que o Fabio tinha saído o Bruno gritou:


 


_ Espera que eu vou com você! _ e ele se levantou e se juntou com ela.


 


_ Eu vou com vocês também _ falou a Simone se levantado também _ Vocês não vêem? _ ela perguntou para o Paulo e o João.


 


_ Eu vou sim _ respondeu o Paulo se erguendo.


 


_ Eu não _ disse o João se espreguiçando no banco _ hoje o trabalho começa mais tarde, então eu vou ficar aqui um pouquinho com a minha sobrinha.


 


_ Você quem sabe _ falou o irmão seguindo para a porta com os outros _ Mas vê se não se atrasa de novo, você sabe que é muito importante você estar lá dentro.


 


_ Relaxa, eu sei o que eu tenho que fazer _ respondeu o João.


 


_ Tchau Susan _ falaram a Luiza, o Paulo e a Simone em coro antes de passarem pela porta e a fecharem.


 


_ Sorte sua que você não tem um irmão mais velho _ ele me falou se debruçando sobre a mesa.


 


_ Mas ele tem toda razão _ disse a Julia se levantando _ você é estritamente importante lá.


 


O João revirou os olhos ao ouvir aquilo.


 


_ Já deu a minha hora também tenho que ir _ falou a doutora e saiu, mas ela seguiu o caminho que eu e a mamãe tínhamos vindo.


 


_ Isso me lembra que temos que falar com o Marcio _ disse a mãe olhando para o pai.


 


_ Ih, é mesmo _ o pai respondeu.


 


_ Suzan, bebe, eu e seu pai temos que ir, você vai ficar bem? _ ela me perguntou quando chegou perto de mim e acariciava a minha cabeça. Será que dava para você me explicar por que eles gostam de fazer isso? Capaz do meu cabelo alisar sem precisar da chapinha.


 


_ Claro que ela vai ficar bem _ o João disse antes mesmo de eu sequer pensar em responder _ ela estará com o tio dela _ e ele deu um tapa no próprio peito.


 


_ Ah, claro _ a mãe fez e se virou para a Ana _ Você fica de olho nela para mim?


 


_ Claro _ a Ana disse com satisfação _ nem precisava pedir.


 


_ Aproveita e fica de olho nele também _ e a mãe apontou para o João.


 


_ Pode deixar _ falou ela com um sorriso.


 


_ Tchau bebe _ a mamãe disse e me deu um beijo na cabeça _ te vejo mais tarde.


 


_ Tchau filha _ o papai se despediu de mim e ele e a mamãe saíram pela porta lateral à mesa.


 


_ Cara, ninguém confia em mim nesse lugar não? _ perguntou o João um pouco irritado.


 


_ Não _ respondeu a Ana seria olhando para ele.


 


_ Poxa _ ele fez antes de deitar a cabeça na mesa.


 


Eu já estava quase terminando o meu prato, quando a Ana falou:


 


_ Vai querer mais alguma coisa?


 


_ Eu quero um suco _ disse o João com a voz abafada e erguendo o braço.


 


_ Eu perguntei a Suzan _ ela explicou para o João, que nesse momento levantou a cabeça.


 


_ Caramba Ana _ ele falou com uma expressão de indignação _ Traz um suco para mim ai, na moral!


 


Eu me engasguei tentando segurar um riso por ter ouvido aquilo. Era estranho, para mim, ver uma pessoa com mais de 17 anos falando “na moral”.


 


O João era mais novo que os meu pais, sei lá, ele parecia ter uns 24 ou 25 anos.


 


_ Tá _ fez a Ana revirando os olhos _ eu pego o teu suco. Suco de laranja né?


 


_ Sim _ ele respondeu voltando a colocar a cabeça na mesa _ Obrigado.


 


_ E você Suzan, que tal uma sobremesa? _ ela me perguntou _ Temos torta de chocolate, você gosta né?


 


_ Adoro _ eu respondi.


 


_ Só um minutinho _ ela me falou e saiu andando pela cozinha.


 


_ A Julia disse que você não queria conhecer eles? _ o João disse levantando um pouco a cabeça para me olhar.


 


Eu fiz que sim com a cabeça.


 


_ O que te fez mudar de idéia?


 


Eu encolhi os ombros, eu não sei por que, mas eu não queria dizer que eu não tinha mudado de idéia.


 


_ Eles são legais _ ele falou se sentando direito na cadeira _ às vezes eles pegam muito no pé, mas... normal, isso significa que eles se preocupam com você.


 


Eu terminei o meu prato e ficamos em silencio esperando a volta da Ana.


 


_ Você precisava ver como eles estavam tristes quando ouviram que você não os queria conhecer _ o João interrompeu o silencio _ Mas que bom que você mudou de idéia.


 


Nesse instante a Ana voltou com uma bandeja que tinha um prato de sobremesa com a torta de chocolate e dois copos de suco, ela colocou a bandeja na mesa e a esvaziou colocando o prato e um copo de suco na minha frente e o outro copo na frente do João.


 


_ Obrigado _ falo o João como se dissesse “finalmente”, a Ana o ignorou.


 


_ Espero que você goste da minha torta _ ela falo _ Bem, eu preciso voltar, porque essa cozinha tá uma bagunça _ a Ana se afastou levando a bandeja e o meu prato vazio.


 


_ Que tal depois que você terminar isso ai _ disse o João _ a gente não dá uma volta para você conhecer o local?


 


_ Pode ser _ eu disse.


 


Eu comi a torta, que por acaso era muito parecida com a torta que a mãe sempre comprava depois do trabalho e levava para casa para comermos depois do jantar, mas pensando bem essa torta deve ter sido feita pela mesma pessoa que fazia aquelas.


 


Depois que eu terminei a torta e o suco, o João bebeu o ultimo gole que restava no seu copo e disse:


 


_ Vamos?


 


_ Tá _ eu falei me levantando, ele fez o mesmo.


 


Andamos até a porta lateral.


 


_ A gente não devia avisar para ela onde estamos indo? _ eu perguntei para o João quando chegamos à porta e ele a segurava para eu passar.


 


_ Não precisa não _ ele respondeu _ Você tá com o seu tio _ e ele deu o tapa no peito.


 


Eu fiquei meio insegura, porque a mamãe e o papai sempre faziam questão que eu dissesse aonde ia, mesmo que eles não estivessem em casa, não que eu saísse muito, mas eu tava com um adulto, que eu querendo ou não, era meu tio.


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