Universo Em Desequilíbrio escrita por Mallagueta Pepper


Capítulo 51
Noite de estrela


Notas iniciais do capítulo

Aqui está o link da música que a monica vai tocar. Ela se chama you raise me up e é muito bonita. Esse foi o melhor piano que eu achei, então só ignorem a parte do violino, tá?

http://www.youtube.com/watch?v=pmYxzC460XI



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– Ai, vai demorar muito? Meus braços estão doendo! – Mônica reclamou cansada de ficar ali parada por tanto tempo.
– Tá quase, deixa só eu acertar o drapeado na cintura e pronto. – A costureira respondeu dando os últimos retoques em seu vestido novo.

Seu cabelo tinha sido penteado e preso com um bonito prendedor feito de prata para combinar com seu vestido que era branco, um ombro só preso com miçangas prateadas e com detalhes também prateados na barra. Ela também usava brincos e um lindo colar desenhados pela sua mãe.

– Pronto, pode se mexer agora.
– É? Deixa eu ver como ficou. Nossaaaa! Que lindo! – ela exclamou se olhando no espelho, virando de um lado para outro para poder se ver melhor.
– Ai, filhinha, você está linda mesmo! – Luisa exclamou entrando no quarto. Ela estava usando um vestido longo e justo no corpo que abria um pouco em baixo para deixar aparecer a ponta dos sapatos. O vestido era verde-claro, de mangas curtas, tinha um decote discreto na frente e nas costas abria-se em V quase até a cintura. Dois panos presos nas mangas desciam soltos pelas costas até os pés.
– A senhora também tá linda, mãe!

Quando o maquiador terminou de produzir a moça, Luisa a contemplou emocionada e orgulhosa. Sua filha ia brilhar na festa e ofuscar todas as outras moças.

– Minha nossa, meus amigos vão morrer de inveja! – Souza exclamou quando viu sua esposa e filha descendo as escadas. – E vou ter muito trabalho para afastar os atiradinhos da minha filha!
– Seu bobo! Você também está ótimo. Vamos?
– Vamos! – ele falou galanteador, oferecendo um braço para cada uma.

O local onde era o salão de festas estava fartamente iluminado. Seus jardins magníficos adornavam a entrada, encantando os convidados que iam chegando em seus carros luxuosos. Os carros entravam pelos grandes portões de ferro artisticamente trabalhados e seguiam por uma graciosa alameda, em semicírculo, e paravam frente a escadaria de mármore branco.

Criados vestidos com roupas impecáveis recebiam os convidados com muita polidez, conduzindo-os ao grande salão decorado com rosas brancas, lindas cortinas de renda nas grandes janelas que estavam abertas deixando ver o exterior e lustres de cristal que iluminavam o ambiente dando um ar de magia. Toda a decoração tinha sido planejada para as bodas de prata de um importante casal da alta sociedade.

Uma orquestra tocava músicas suaves e no palco havia o piano que Mônica ia tocar, em um lugar de grande destaque onde podia ser apreciado por todos. Garçons iam e vinham levando bandejas com vinhos caros ou refrescos para quem não tomava álcool. Outros carregavam bandejas com queijos finos, canapés com caviar e outras iguarias que serviam apenas para abrir o apetite dos convidados para o jantar principal.

– Olá, sejam bem vindos! – o marido saudou a família de braços abertos.
– Por favor, fiquem a vontade! Estou ansiosa para ouvir a linda música que Mônica irá tocar para nós! – a mulher falou exibindo seu vestido feito por um estilista francês e as jóias encomendadas especialmente para a ocasião.
– E vocês não irão se decepcionar nem um pouco, eu garanto! – Luisa falou inchada de orgulho por sua filha ser o grande destaque da festa.

Eles foram conduzidos a uma mesa onde havia as pessoas mais importantes da cidade, como o prefeito e sua esposa, um grande dono de empresa e também a celebridade do momento que tinha sido convidada para a festa. Todos estavam vestidos com muita elegância e conversavam alegremente.

Mônica sentou-se junto com seus pais, sentindo-se mais a vontade naquele ambiente tão requintado. Um repórter veio tirar a foto da família para aparecer nas colunas sociais e ela não fez a menor cerimônia.

Quando ela tomava uma taça de suco, uma voz estridente falou atrás dela.

– Querida, que bom te ver aqui! – ela olhou para trás e se deparou com Carmem e seus pais. Apesar de sorridentes, ela percebeu que eles se mordiam de inveja por ela e sua família terem se sentado na melhor mesa de todo o salão.
– Oi, Carmem, tudo bem?
– Tudo, fofa! Puxa, eu achei que você não viria hoje! Não depois de todo o trauma que você sofreu!

Luisa tentou manter a compostura para não ser grosseira. Como aquela garota irritante tinha coragem de tocar num assunto tão desagradável naquela hora? Para desviar a atenção que estava depositada sobre a Mônica, Luisa começou a falar sobre sua nova coleção de jóias, o que atraiu mais o interesse da Sra. Frufru. Carmem ouvia tudo em silêncio, remoendo sua inveja. Além de ter destaque na festa, Mônica usava o vestido mais lindo e jóias feitas exclusivamente para ela. Seu único consolo era saber que aquela garota não tinha o cabelo maior que o seu.

Tirando esse pequeno incidente, a festa transcorreu sem nenhum problema. Mônica dançou com alguns rapazes que sempre lhe dirigiam galanteios apesar de ela não se interessar por nenhum deles. Felizmente seu pai estava de olho, o que freou os ímpetos dos mais atrevidos. No ponto alto da festa, após o casal partir o bolo e receber os cumprimentos dos convidados, chegou a hora da Mônica dar o tão prometido show ao piano.

Todos fizeram silêncio e a orquestra parou de tocar. Ela subiu ao palco conduzida pelo seu pai e sentou-se em frente ao piano procurando manter a graça e elegância. Quando se sentiu pronta, seus dedos se puseram a percorrer agilmente as teclas do piano, tocando uma linda melodia que deixou todos comovidos.

(link para a música: http://www.youtube.com/watch?v=pmYxzC460XI )

– É minha música preferida! – a mulher sussurrou ao marido com lágrimas nos olhos. A música era “You raise me up” e ela se apaixonou pela melodia na primeira vez que a ouviu. A escolha não podia ter sido melhor.

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– Snif... snif... acho que tem um cisco no meu olho. – Cascão falou tentando evitar que uma lágrima caísse. Magali, que não tinha nenhum constrangimento, também chorava tendo que enxugar as lágrimas na própria blusa mesmo. Até Astronauta estava comovido com a música embora não demonstrasse nada. O comandante deveria manter a compostura sempre.

Cebola a olhava admirado, nunca imaginando que ela fosse capaz de ir tão longe. Se Paradoxo estava mesmo certo e os duplos eram geneticamente iguais aos seus originais, então dava para ver que ela tinha mesmo potencial para fazer muitas coisas. Sendo assim, ele não podia ficar atrás e precisava trabalhar muito para ficar a sua altura.

Toda raiva que ele tinha dela foi se desvanecendo como fumaça. Como ficar zangado com uma coisinha tão linda? Além do mais, ela tinha beijado seu duplo, seu outro eu. Antes com ele do que com o DC ou qualquer outro garoto. Isso mostrava que em qualquer situação, era dele que ela gostava, então ele não tinha razões para ter ciúmes. Era como se ela tivesse beijado a ele e não outro rapaz. Pensar assim lhe deu esperança de que as coisas iam se ajeitar com o tempo.

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“Queria tanto que o Cebola estivesse aqui...” ela foi pensando a medida que tocava a música. “Depois eu toco de novo pra ele.”

Seu corpo estava leve como uma pluma e ela não sentia nenhum tipo de desconforto. Tudo parecia em seu devido lugar e aquela sensação ruim de deslocamento que ela sentia no início tinha desaparecido por completo. Mônica sentia que tinha se encaixado bem naquele mundo e que apesar dos problemas e decepções que tivera, era possível viver bem ali e ser feliz.

Era uma boa realidade, com pais ricos, amigos que não lhe viam como uma valentona marrenta, um Cebola mais seguro de si que não tinha vergonha de admitir seus sentimentos e naquela realidade ela era uma garota talentosa e admirada por todos. Ela podia se acostumar com aquilo facilmente.

Quando terminou de tocar, ela foi presenteada com uma salva de aplausos entusiasmados e pedidos de bis.

– Lindo!
– Maravilhoso!
– Ela é mesmo uma artista!
– Queria que minha filha tocasse assim!

Ela desceu do palco e foi abraçada por seus pais. Sua mãe tinha borrado a maquiagem com as lágrimas e mesmo assim não se importava.

– Ai, filhinha, que orgulho!
– Você estava fabulosa!
– Obrigada mãe, pai!

E aquela noite foi mágica, como um verdadeiro conto de fadas para ela.

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Cebola dava os últimos retoques na pedra do anel, observando cada detalhe para que não tivesse nenhuma imperfeição. A primeira vista, era um anel de prata bem simples com uma delicada pedrinha vermelha no centro, cercada por uma pequena flor também feita de prata. Não era algo eloqüente ou grandioso como as jóias que a mãe da Mônica confeccionava, mas havia algo de muito especial naquele item.

– Você é esquisito. Por que não comprou logo um anel pra ela e pronto? – Franja perguntou meio impaciente. Já era tarde e ele queria ir logo para a cama.
– A mãe dela é dona de joalheria, esqueceu? Ela pode ter as jóias que quiser. Eu não posso dar qualquer porcaria pra ela.
– Com o dinheiro que você gastou, dava pra comprar coisa boa sim.

Além de ter gasto com o material para fazer aquele anel, Cebola também teve que pagar um aluguel ao Franja pelo uso do seu laboratório, onde havia equipamentos melhores e mais sofisticados. Trabalhar com nanotecnologia não era nada fácil e aquela pequena pedra era feita com seus nanodispositivos que foram dispostos a fim de parecerem uma linda pedra vermelha.

– Pronto, agora vamos ver se ficou do jeito que eu queria. – Ele levou o anel ao potente microscópio do Franja e leu
– “Ser profundamente amado por alguém nos dá força; amar alguém profundamente nos dá coragem.” Ficou perfeito!
– Blé, que meloso!
– Não vem falar de mim não porque eu sei muito bem que você vive escrevendo o nome da Marina nas suas anotações cientificas.
– Ei! Isso não teve graça!

Cebola ignorou o falatório do cientista e se pôs a contemplar a sua jóia. Sim, aquela frase resumia bem o que ele sentia. Foi graças a ela que ele teve força para ultrapassar os próprios limites, sair da sua concha e fazer a diferença. Então ele queria que ele levasse aquilo com ela para onde quer que fosse. Era o seu presente e ele pretendia dar aquilo a ela quando fosse pedi-la em namoro.

– É isso aí, já acabei.
– Demorô, heim! Agora vaza logo que eu preciso fechar o laboratório e ir pra cama.
– Credo, larga de ser mal humorado. Ó, a Marina não gosta de gente ranzinza não, viu? Fui!

No caminho para casa, ele olhou o relógio e viu que passava das onze da noite. Felizmente sua mãe tinha sono pesado e dormia a noite inteira, então era pouco provável que ela desse pela sua falta. Agora sim tudo estava completo e ele pretendia pedi-la em namoro no dia seguinte, depois da aula. Todo o plano tinha sido traçado cuidadosamente.

Na hora da saída, ele ia convidá-la para tomar um sorvete e até tinha um discurso muito bem ensaiado para convencer a mãe dela caso ela causasse algum problema. Então ele pretendia levá-la não para a sorveteria, onde tinha muitos olhos indiscretos e sim para um lugar calmo e tranqüilo. O campinho era perfeito por ser um lugar querido da sua infância e pelo que ele sabia, tinha feito parte da infância dela também. E também era bonito ali, cheio de arvores, muita sombra e por causa do horário, eles iam ter silêncio e privacidade.

Só então ele ia lhe dar aquele anel e lhe pedir em namoro.

– Esse plano é perfeito, não tem como dar errado! – ele falou alto, com um grande sorriso de vitória no rosto. Aquele era o primeiro passo para a sua ascensão. Ter uma linda namorada que lhe dava forças para crescer, depois aperfeiçoar seu projeto, conseguir entrar numa boa faculdade e dali para a frente era só subida rumo ao poder e sucesso. Realmente, aquele plano não tinha como dar errado.

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– Estranho, para onde ele foi? – Xabéu perguntou olhando para os lados.
(Astronauta) - Ele quem?
– O Paradoxo. Ele sumiu e não falou nada!
(Astronauta)- Hunf! Agora ele resolveu sair sem avisar!

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Paradoxo olhava a Terra de cima e todo o espaço ao seu redor. Um pequeno sorriso apareceu em seu rosto. A distorção no espaço em volta da Terra tinha desaparecido por completo, indicando que a situação naquele planeta tinha se estabilizado. Tudo tinha saído conforme o planejado. Aquele universo tinha restabelecido o equilíbrio e o tempo ali poderia seguir seu curso normalmente. Tudo terminado.

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Era quase meia noite quando Mônica entrou no seu quarto ainda se sentindo nas nuvens. Aquela tinha sido a melhor noite da sua vida, onde ela brilhou como nunca e se sentiu uma verdadeira estrela. Seus pais, inchados de orgulho, até resolveram suspender seu castigo por causa do belo show que ela tinha dado. Seu celular foi devolvido, a internet liberada, ela ia voltar a receber mesada e estava livre para sair novamente com as amigas. A tempestade tinha passado e era chegada a hora da bonança.

Ela trocou de roupa e colocou uma camisola confortável para dormir. No dia seguinte, ela teria que acordar cedo para ir a escola encontrar suas amigas e também o Cebola.

– O Cebola... aiai! Que saudade!

A correria nos últimos dias, somada ao castigo imposto pelos pais, lhe impediu de ter qualquer contato com ele. Felizmente o pior já passou e ela não só ficou livre do castigo como também ia reencontrá-lo no dia seguinte. Será que ele ia pedi-la em namoro ainda naquela semana? Aquele beijo que eles deram da última vez pareceu cheio de promessas e dava para ver que ele estava mesmo apaixonado e não escondia isso. Essa era uma coisa que ela adorava nele. O Cebola alternativo não tinha aquela necessidade ridícula de ficar lhe alfinetando o tempo inteiro e nem de lhe desafiar a toda hora pra satisfazer o ego frágil. Ele gostava dela e não tinha problema algum em assumir esse sentimento.

De repente, ela sentiu uma eletricidade estranha percorrendo seu corpo. Um zumbido começou a ecoar em sua cabeça e ela se sentiu atordoada e confusa.

– Ai, o que tá acontecendo? Minha cabeça!
– Acalme-se, isso é normal.

Ela olhou e levou um susto ao ver paradoxo de pé bem no meio do seu quarto, com uma mão no bolso do jaleco e a outra segurando seu relógio.

– O que é isso? Eu me sinto estranha!

Paradoxo deu um sorriso vitorioso e exclamou com a voz alegre.

– Muito bem, mocinha! Você finalmente conseguiu se ajustar a essa realidade e seu duplo acaba de ser criado. Hora de ir embora.

Levou alguns segundos até que ela pudesse entender o que ele queria dizer.

– I-ir e-embora?
– Sim, esqueceu?
– M-mas já? Agora? Nesse momento?
– Claro! Não há mais nada para fazer aqui. Agora que seu duplo foi criado, eu preciso separar vocês duas e te levar embora para casa.

De repente, foi como se ela tivesse perdido o chão sob seus pés, sendo tirada das nuvens e atirada num lamaçal pegajoso. Não, aquilo não podia ser verdade!



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