Universo Em Desequilíbrio escrita por Mallagueta Pepper


Capítulo 5
Admirável mundo novo




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Ela remexeu preguiçosamente na cama, ainda saboreando aquele sono gostoso. Seus olhos abriram lentamente e um longo suspiro foi exalado. Sua cabeça estava coberta e ela via apenas as estampas floridas do cobertor.

“Hummm? Aff. Será que foi só um sonho? Eu heim!” a moça virou-se para o lado e deu uma risadinha, achando graça da situação. Só podia ser mesmo um sonho maluco, já que não fazia o menor sentido ela ter sido sugada por um tornado elétrico.

Imaginando que estava na hora de se arrumar para ir a escola, Mônica afastou as cobertas para se levantar e a primeira coisa que ela viu foi uma pilha de caixas ao lado da sua cama. Aquilo fez com que ela levantasse rapidamente e andasse em círculos pelo quarto como barata tonta.

Aquele não era seu quarto, nem de longe! Que lugar era aquele? Ela olhou para os lados e viu caixas empilhadas aqui e ali e praticamente nenhum móvel no quarto. Somente sua cama estava armada no meio do quarto. Ao se levantar, ela correu até a janela e quase caiu para trás ao ver que ao invés da paisagem de sempre, havia vários prédios.

- Credo, onde eu vim parar? Que lugar é esse? - para seu espanto, ela viu que estava em um prédio que parecia bem alto. A rua dava os primeiros sinais de movimentação e mesmo estando tão alto ela ouvia o barulho que vinha lá de baixo.

O quarto era grande, tinha um banheiro que também havia sido esvaziado. O closet estava vazio e havia somente algumas roupas em cima de uma cadeira, certamente para ela se vestir naquele dia. O restante devia estar embalado nas caixas.

- Será que eu fui seqüestrada? Aposto que deve ser coisa do Capitão Feio! – aquela pareceu a única resposta para sua questão, já que ela não conhecia aquele lugar e não sabia como tinha ido parar ali.

Alguém mexeu na maçaneta da porta, fazendo com que ela ficasse em alerta e vasculhasse o quarto com os olhos procurando qualquer coisa para acertar na cabeça do seu possível raptor. A porta se abriu uma mulher entrou no seu quarto feliz e sorridente.

- Bom dia, dorminhoca! Dormiu bem? – Sua mãe perguntou ajeitando seus cabelos.
- Hã...
- Que bom! Agora troque logo de roupa que a Durvalina acabou de fazer o café.

Antes que ela pudesse perguntar quem era a Durvalina, Luisa pegou as roupas que estavam na cadeira e entregou a sua filha.

- Não demore que daqui a pouco eles virão para buscar a mudança.
- Mudança? Que mudança? Mãe, o que tá acontecendo aqui? Por que a gente não está na nossa casa?
- Porque ela ainda estava sendo construída, ora essa! Eu sei que você está ansiosa para ir logo, mas fique calma lindinha! Daqui a pouco estaremos na nossa nova casa.
- ???

A mulher saiu do quarto, deixando Mônica sozinha e totalmente confusa. Ao ver que não tinha muitas opções, ela resolveu trocar de roupa e ir até a cozinha em busca de mais respostas. A roupa em si já era uma grande surpresa. Seria impressão sua ou aquilo pertencia a uma grife cara e famosa? Desde quando seus pais tinham dinheiro para comprarem uma roupa como aquela? Mais perguntas sem respostas.

Quando foi se olhar no espelho para se pentear, ela pulou de susto quando viu o próprio reflexo.

- Hã? O que aconteceu com meus cabelos? – após conferir seus cabelos cuidadosamente, ela viu que não era nenhuma peruca. Eram mesmo de verdade, mas com um corte diferente sem aquela franja que ela sempre usou. Seus cabelos caiam ao longo do seu rosto e eram curtos na nuca. E também tinham mechas num tom de castanho claro quase loiro, indicando que tinha feito luzes também. Só que ela não tinha feito nada nos cabelos, nem cortado e nem tingido.  

O susto maior, no entanto, foi quando ela reparou nos seus dentes.

- Meus dentes! O que aconteceu com eles?

Olhando mais de perto, ela viu que seus dentes estavam normais. Como aquilo era possível sendo que no dia anterior eles estavam protuberantes como sempre? Ela virou o rosto para um lado, para o outro, passou a língua nos dentes e contemplou seu reflexo vendo a si mesma, pela primeira vez, com dentes normais.

Ela foi apalpando seu corpo, sentindo medo daquelas mudanças. Será que era ela mesma ou trocou de corpo com alguém? O que tinha acontecido ali?

- Mônica, você já terminou? – Sua mãe chamou do lado de fora do quarto e ela não teve outra escolha a não ser terminar de se arrumar rapidamente ir até a cozinha, sentindo-se meio perdida naquele apartamento. O local era bem grande e a medida que ela foi andando, Mônica foi vendo que ali parecia ter quatro quartos ou cinco quartos, ela havia perdido a conta depois do terceiro, uma enorme sala para três ambientes e um banheiro social com hidromassagem. A cozinha também era grande e bem equipada, apesar de a maioria das coisas terem sido embaladas para a mudança. A mesa estava posta para o café da manhã com algumas frutas, bolos, cereal, café, leite e suco. Uma mulher rechonchuda, de pele bem clara e cabelos da mesma cor que os de Denise colocava alguns itens dentro de uma caixa.

- Bom dia, menina.
- Bom dia... er... Durvalina. – Ela cumprimentou um tanto sem jeito.  
- Pronta pra mudança?
- Estou sim...

A mulher colocou um prato com uma colher dentro na frente dela e voltou a cuidar dos seus afazeres. Pouco depois, seus pais entraram na cozinha, fazendo com que seu queixo caísse. Seu pai usava terno e gravata e falava ao celular, parecendo até um daqueles executivos importantes de empresas multinacionais.

Sua mãe usava um terninho bege com calça combinando, uma blusa branca enfeitada com rendas delicadas e um bonito colar com pedras em vários tons de âmbar que dava três voltas ao redor do pescoço. Seus cabelos pareciam ser compridos e ajeitados em um coque elegante sobre a cabeça e ela usava brincos com pedras iguais as do colar.

- Sim, sim. Eu estou de mudança e preciso acompanhar tudo de perto. Nós falaremos sobre esse assunto na reunião de segunda feira, certo? Ótimo. Até lá então. – ele desligou o celular e voltou-se para sua filha, que olhava para eles com expressão abobada. – E como a minha princesinha dormiu essa noite?
- Dormi bem, pai...
- O que foi? Você não parece empolgada com a mudança.
- Eu estou sim... é que...
- Calma, filhinha! – Luisa a tranqüilizou enquanto passava geléia em sua torrada. – Seu quarto ficou lindo e mandei decorar do jeito que você gosta com tudo novinho em folha! Você vai adorar!
- Er...
- Ah, eu sei que falar não adianta. Você vai ver quando chegarmos.
- Mas...
- Não se preocupe, você não terá que arrumar quase nada, só colocar suas coisas no lugar.
- É que...
- Tem até uma prateleira linda só para os seus troféus e medalhas!
- Heim?
- Agora coma tudo que daqui a pouco iremos embora.

Enquanto tentava comer um pouco do cereal, Mônica sentia a cabeça rodando com toda aquela confusão. Ela só não ficou ainda mais apavorada porque aqueles dois eram seus pais, do contrário teria surtado de vez. Ainda assim ela não conseguia entender por que eles estavam morando naquele apartamento enorme e não na sua casa no bairro do Limoeiro. Como eles tinham ido parar ali? Ela não se lembrava e para complicar ainda mais, eles estavam de mudança para outro lugar que ela não fazia a menor idéia. Sem falar que ela ainda estava assustada com aquela mudança em sua aparência e na aparência dos seus pais também.

- Mãe...
- Sim, querida?
- Escuta... o que tá acontecendo aqui? Que apartamento é esse?

Os dois pararam de tomar o café e ficaram olhando para ela.

- Ora, é o mesmo apartamento onde você sempre morou desde criança!
- Quê? Eu sempre morei aqui? Não, a gente sempre morou lá na nossa casa no bairro Limoeiro...

Luiza colocou uma mão na testa da filha para checar a temperatura.

- Você está bem, Mônica?
- Claro que estou! Só que tudo aqui ficou bagunçado!
- É natural, bobinha! Estamos de mudança, esqueceu?

Ela respirou fundo para se manter calma e ainda tentou argumentar.

- Eu acho que vocês não estão entendendo...
- Entendendo o que, Mônica? – seu pai perguntou, também confuso.
- Que a gente sempre morou no Limoeiro, aí eu acordo aqui nesse lugar que eu nem conheço e agora a gente tá de mudança pra outro lugar que eu também não faço a menor idéia!
- Nossa, você cismou mesmo com esse bairro, heim? Você quer tanto assim ir para lá?
- Mas a gente...
- Não se preocupe, lindinha. Nós estamos nos mudando exatamente para esse bairro. Nossa, eu sabia que você estava ansiosa para ir, mas não pensei que fosse tanto!

Estava difícil falar qualquer coisa para eles, que pareciam não entender nada do que ela estava dizendo. O que estava acontecendo ali afinal de contas? Ela tentou buscar alguma coisa na memória para entender como tinha ido parar naquele lugar e a única coisa da qual ela se lembrou foi daquele tornado elétrico que a sugou para dentro dele. Depois daquilo, um branco total e ela não se lembrava de mais nada.

“Será que aquele tornado tem alguma coisa a ver com isso? Xiii... vai ver aquele troço bagunçou tudo aqui!” O som do interfone interrompeu seus pensamentos.

- Melhor você ir arrumar suas coisas, o pessoal da mudança já chegou.
- Tá bom, mãe...

Mônica correu para o seu quarto, fechou a porta com cuidado e começou a remexer suas coisas procurando por um celular. Para sua sorte, ela encontrou a mochila do sansão encostada em um canto e lembrou-se de que quando tinha sido abduzida pelo tornado, a mochila ainda estava em suas costas.

“Deixa eu ver... ah, tá aqui! Vou ligar agora pra Magá e pedir ajuda...” ela discou o número e uma voz eletrônica do outro lado falou que o número não existia. “Hã? Será que eu disquei errado? Não, esse número tá na memória... vou tentar de novo.” Após umas três tentativas, ela desistiu e resolveu ligar para o Cebola.

- Cebola? Não tem nenhum Cebola aqui não!
- Tem certeza? Que número é esse?
- É 9578-2541.
- Ué, então é o telefone do Cebola.
- Ah, vai passar trotes na sua mãe!

A pessoa desligou o telefone antes que ela pudesse dar uma resposta malcriada. “Que porcaria! O que tá acontecendo? Aff! Vou tentar o número do Cascão.”

- Pizzaria Bella Donna, bom dia! Alô?

Ela desligou na hora, confusa e desanimada. Sua cabeça doía um pouco e ela estava começando a ficar com medo. E se aquilo fosse algum tipo de armadilha de algum inimigo seu? Aqueles dois poderiam não ser seus pais de verdade.  

- Mônica? Tudo bem? Os homens da mudança estão aqui para levar as suas coisas...
- Já vou, mãe! Peraí!

Ela colocou o celular de volta na sua mochila e abriu a porta, deixando que os carregadores entrassem e levassem suas caixas.

Durvalina acompanhava os carregadores tomando cuidado para que nada se quebrasse e os pais da Mônica esperavam a filha para que pudessem ir embora.

Na garagem, ela levou um susto ao se deparar com uma bela Mercedes, carro que seu pai jamais teria condições de comprar. E o susto foi maior ainda quando ela viu que do lado da Mercedes tinha uma BMW.

- Dois carros...
- Você vem comigo já que o seu pai tem que levar o material de escritório no carro dele.
- Tá.
- Ai, filha, você vai adorar a nova casa! Seu pai contratou os melhores arquitetos e eu me encarreguei de encontrar decoradores de primeira! Tudo está novinho em folha! Ah, e a garagem cabe seis carros, dá para acreditar? Assim quando comprarmos o seu carro, vai caber com folga.
- Quêeeeee??? Eu vou ter um carro???
- Só quando você completar dezoito anos, mocinha! Até lá, seu pai e eu vamos te ensinar a dirigir. Dizem que as ruas daquele bairro são bem tranqüilas.

Luiza voltou a prestar atenção na direção do carro e Mônica ficou muda. Então seus pais eram ricos? Desde quando? Será que ganharam na loteria e não lhe falaram nada? Sua mãe tinha lhe falado que a nova casa tinha sido construída. Talvez eles tivessem arrumado aquele apartamento como moradia provisória. Ainda assim, nada parecia se encaixar. O que lhe deixava um pouco mais animada era saber que eles estavam indo para o Limoeiro, onde estava sua turma e ela mal podia esperar para poder falar com seus amigos e tentar entender o que estava acontecendo.

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(Cascão) - Vixe! A Mônica tá perdidinha da silva!
(Magali) – Sei não, ela até que reagiu bem... pelo menos não entrou em parafuso.
- Não se preocupem, ela saberá se ajustar a essa nova realidade. Quanto mais rápido ela se ajustar, mais rápido poderei trazê-la de volta.

Cebola ainda estava preocupado com aquilo.

- Peraí, não seria melhor ela saber o que tá acontecendo? Quer dizer, ajudaria bastante se ela soubesse que precisa se adaptar rapidamente pra poder ir embora.

Paradoxo olhou para cima, pensativo, e voltou a falar.

- Isso que você disse faz sentido, rapaz do cabelo espetado. Bem, vou falar com ela então. Além do mais, ela poderá ter problemas se tentar falar com o duplo de vocês naquele universo.

Cascão deu um pulo de tanta empolgação.

- Rapaz! Cada um de nós tem um outro eu nesse universo paralelo?
- Que emocionante! – Magali também batia palmas.
- Sim, todos têm. Acontece que por ser um universo paralelo, muitos eventos não aconteceram da mesma forma que na Terra original, então seus duplos não terão exatamente a mesma personalidade que vocês. E como a Mônica não cresceu naquele bairro, eles não irão reconhecê-la.
(Magali) – Ai, coitada! Então é melhor avisar antes que ela acabe pagando um micão!

Ele pegou seu relógio e falou para todos.

- Não saiam daqui, volto num segundo!
- Detesto quando ele fica aparecendo e desaparecendo desse jeito! – Astronauta falou irritado.
- Eu achei ele simpático.
- Então você precisa fazer exame de vista! – ele voltou a olhar para o computador, ainda irritado com a observação feita por Xabéu. Como ela era capaz de ver alguma simpatia naquele sujeito maluco e irritante?


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