Universo Em Desequilíbrio escrita por Mallagueta Pepper


Capítulo 48
Reféns




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- Grrrr! Se você não mandar uma viatura agora mesmo, vai ver só uma coisa! Alô? – Mais uma vez o telefone foi desligado na sua cara e por pouco Mônica não quebra o aparelho com a mão.
(Cascão) – Então é isso, gente, não vai dar pra fazer nada!
(Mônica) – Se a polícia não vem, eu vou entrar lá dentro e buscar a Magali no tapa!

Cebola agarrou a blusa dela, fazendo-a agachar de novo.

- Tá doida? Você vai brigar com homens armados? Nem eu faria isso!
- Então o que a gente faz? A polícia não vai aparecer e se demorar muito, será tarde demais! Então eu vou lá de qualquer jeito!

Ela levantou-se novamente e Cebola viu que não tinha jeito.

- Espera, a gente não pode fazer isso assim não! Se você entrar direto, vão te matar na hora!

Cascão arregalou os olhos.

- Ô, peraí! Vocês vão mesmo tentar entrar no barraco?
- Sim. – Cebola respondeu. – Só que não pela porta da frente. Vamos tentar contornar o terreno e ver o que tem nos fundos. O muro não é muito alto, então vai dar pra pular.

Os dois saíram dali correndo e tentando não chamar a atenção, deixando Cascão sozinho no meio do mato.

- Porcaria, viu? – ele falou consigo mesmo e correu atrás deles.

Eles foram para o terreno onde um barraco estava sendo construído porque tinha mais lugar para esconder. Havia uma pilha de tijolos encostada no muro e eles subiram para ter uma visão do que tinha no outro lado.

(Mônica) - Em que parte você acha que ela tá?
(Cebola) – Tá vendo aquele puxado feito com tábuas? É diferente do resto, que é de tijolo. Então ela deve estar ali.

Cascão também subiu na pilha de tijolos e olhou para o barraco.

- Parece que umas telhas ali estão soltas.
(Cebola) - É mesmo, eu tô vendo. E não é muito alto. Deixa eu ver...

Ele olhou para os materiais de construção e viu ali um pequeno andaime que serviria de suporte.

- Mônica, você acha que consegue colocar aquilo ali no outro lado?
- Consigo.
- Beleza. Vai dar pra subir ali e tirar as telhas.
- Tá doido? E se os caras pegam a gente? – Cascão logo ficou com medo da idéia.
- Se eu não estiver errado, ela deve estar naquele cômodo sozinha. Ali é fechado e parece que não tem janela, então eles não esperam que ela possa fugir.
- E se você estiver errado?
- Pois eu confio nele e vou tentar.

Mônica pegou o andaime sem dificuldade e deu um jeito de colocar no outro lado do muro sem fazer barulho e sem quebrar nada. Por ser mais ágil, Cascão pulou o muro e ajeitou o andaime para que os dois pudessem descer e depois colocaram em baixo da área onde a telha estava solta. O resto seria por conta da sorte.

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Quando terminou o banho, Magali foi jogada de volta para o quarto e assim que a porta fechou, ela correu para o celular e tentou digitar uma mensagem para seus pais. Seu fim estava próximo e não havia salvação. Ela era só uma presa pronta para o abate e não havia ninguém para salvá-la.

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Carlito andava de um lado para outro falando ao telefone enquanto Lili ouvia tudo torcendo as mãos de tanta ansiedade.

- Minha filha? Tem certeza? Então me dá rápido o endereço! – ele anotou no papel e perguntou. – Por que não ligaram para a polícia?
- Ligamos, mas eles pensaram que era trote. – Franja respondeu. – A Mônica, o Cascão e o Cebola estão lá.
- Como é? Num lugar cheio de bandidos? Essa não!

Carlito desligou o telefone e disse para a esposa.

- Parece que três colegas da Magali foram para lá!
- Não acredito! Eles estão em perigo!
- Eu vou ligar pra polícia enquanto você entra em contato com os pais deles. Espero que não aconteça nenhuma tragédia!

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Durante a digitação de uma mensagem, Magali ouviu um barulho nas telhas e olhou para cima com receio. Uma das telhas foi tirada e ela viu ali o rosto do Cebola, fazendo-a deixar o celular cair no colchonete por causa da surpresa. Aquela era a última pessoa que ela pensava em encontrar ali.

- O que você...
- Psiu! Senão eles escutam! – Ele falou sussurrando. Vem, me dá a mão que eu vou tirar você daqui.

Ela não se fez de rogada e segurou as mãos dele, que tentou puxá-la. Apesar de ser magra, Cebola estava numa posição ruim e não conseguiu puxá-la dali.

- Espera um pouco. – Ele saiu dali e segundos depois ela viu a Mônica. Outra surpresa.
- M-mas...
- Vem, eu te puxo. – Daquela vez deu certo e Mônica conseguiu puxar Magali pelo buraco da telha.

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Um dos bandidos estava tomando uma cerveja quando teve a sensação de ouvir algo. Sem se alterar e sem falar nada, ele deixou a cerveja de lado, colocou o revólver na cintura e caiu do barraco aparentando tranqüilidade.

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Foi difícil tirar Magali de lá sem fazer barulho. As tábuas balançavam um pouco e ela esbarrou nas outras telhas, que fizeram um rangido. Quando elas conseguiram descer, Mônica e Cebola levaram o andaime de volta para o muro, onde eles podiam pular para a liberdade.

Magali foi a primeira a subir e quando ia saltar o muro, eles ouviram uma voz grossa falando pelas suas costas.

- Todo mundo quieto aí senão meto bala! – eles olharam para trás e deram de cara com um bandido mal encarado apontando um revólver na sua direção.   

Os quatro ficaram que nem estátuas, não movendo um único músculo. Magali sentiu vontade de chorar de raiva e frustração. Logo quando eles estavam quase conseguindo, aquele monstro apareceu para atrapalhar?

- Fala sério, é uma reunião de pirralhos agora? Todo mundo pra dentro. Desce daí, magrela!

Eles foram em fila e com os braços erguidos tendo o bandido atrás deles.

- O que tá pegando aqui? – outro perguntou ao ver aqueles jovens entrando no barraco, sendo que com eles estava sua prisioneira.
- Eu peguei esses moleques tentando tirar a magrela do barraco, vê se pode?
- Vocês andam vendo muita televisão, heim? Ô dentuço, esse sujinho eu sei que você conhece. E esses dois aí?

Titi ficou sem saber o que responder. Qual era a melhor resposta? Dizer que eram seus amigos ou que não os conhecia?

- Deixa pra lá, pelo menos temos mais uma convidada pra nossa festa. E essa é bem mais bonitinha do que a outra! – ele falou olhando Mônica com cobiça, deixando Cebola bufando de raiva.
- Beleza! – os outros dois comemoraram. – O chefe disse que quer ser o primeirão com a magrela, mas essa gracinha aí vai ficar pra mim!
- Eu achei eles, então vou primeiro!
- Quem manda aqui quando o Ricardão não tá sou eu, então ela é minha!
- Se é assim, vamos tirar no baralho!

Eles mandaram os jovens para o cômodo e trancaram a porta. Quando Ricardão chegasse, ele diria o que fazer com os dois moleques.

- Droga, eu não acredito que isso tá acontecendo!
- Calma, Magali! – Mônica falou tentando lhe animar. – A gente chamou a polícia, eles devem estar vindo!
- Como vocês me acharam?
- Foi graças ao Cebola e o Franja.

Ela olhou para seu antigo inimigo, sem acreditar que ele tinha lhe ajudado após tantos anos de surras. Talvez o Cascão fosse esperado, mas ela nunca imaginou que Mônica e Cebola iam se colocar em perigo por sua causa.

- Por que vieram me ajudar? Achei que todo mundo estivesse comemorando meu seqüestro.
- Ai, não fala desse jeito! Isso não é coisa pra comemorar! Olha, eu falei que queria te ajudar, não falei? Então? Eu sempre cumpro minhas promessas.
- Mas agora você tá encrencada!
- Isso vai passar, fica assim não. A gente vai conseguir.

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O delegado tentava acalmar a mulher que faltava pouco partir para cima dele. Ela estava enfurecida, seus olhos estavam esbugalhados, o rosto vermelho e ele teve até impressão de ter visto espuma saindo da boca dela.

- Eles ligaram e vocês não fizeram nada? Bando de imprestáveis, inúteis, palermas! Se alguma coisa acontecer com minha filha, vou processar todos vocês! – Luisa gritava para o delegado que tremia de medo. Souza tentava tranqüilizar a esposa para que ela não acabasse presa por desacato a autoridade. – É para isso que pagamos impostos?
- Querida tente se acalmar! Agora temos que pensar na nossa filha!
- Minha filhinha, coitada! Tão indefesa, tão delicada! E agora pode estar nas mãos de bandidos!

Os pais do Cascão também estavam muito preocupados e um tio do Cebola teve que ser chamado já que sua mãe não tinha condições de ir até a delegacia.

- Nós já mandamos viaturas para o local que eles indicaram. Fica na periferia do bairro das Pitangueiras.
- Os policiais já foram? Então o que estamos esperando aqui? Eu quero ir buscar minha filha! – Souza falou também muito ansioso!
- Coitado do meu Cascãozinho! – Lurdinha falou também aflita pelo seu filho e o delegado tentou acalmar a todos.  
- Não se preocupem, senhoras! A essa altura eles já devem estar chegando, então nada de pânico nessa hora!

Antes que ele terminasse de falar, Luisa e Souza já estavam quase saindo da delegacia em direção ao carro. Foi preciso que o delegado corresse atrás deles para chamá-los à razão.

- Por favor, não adianta nada vocês irem agora se não sabem onde fica o local do cativeiro! E pode haver tiroteio ali, é perigoso.

Ele não devia ter falado aquilo. Souza quase teve um infarto, Antenor desmaiou, Lurdinha começou a chorar, Luisa não parava de esbravejar e o tio do Cebola soltava imprecações contra o sobrinho irresponsável que tinha se metido em encrenca, arriscando matar sua mãe de preocupação.  

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Dentro do cativeiro, Ricardão olhava para os quatro adolescentes que estavam sentados em cima do colchonete com as costas apoiadas na parede. Eles estavam bem juntos e Mônica procurava abraçar Magali para protegê-la.

- Fala sério, isso aqui virou creche por acaso?
- O que a gente faz com os dois moleques? – um capanga falou.
- Mete uma bala na cabeça deles. Quer saber? Isso aqui tá arriscado demais pro meu gosto, então vamos apagar todo mundo que é pra não ter problemas depois.
- E o dentuço? – o segundo capanga perguntou em voz baixa, já que Titi estava na sala ao lado sendo vigiado pelo terceiro homem.
- Ele também. Não é pra sobrar ninguém.

Cascão começou a tremer de medo, Mônica abraçou Magali com mais força ainda e Cebola tentava desesperadamente pensar em qualquer coisa que os tirasse daquela encrenca.

- Vocês dois levem os moleques mais o dentuço lá pros fundos e resolvam tudo com um tiro na nuca deles. As meninas vão fazer uma festinha com a gente.

Os outros dois deram risadas de satisfação.

- Aí a gente dá um fim em todo mundo e depois que escurecer sumimos com os corpos. Vai ser mel na chupeta.

Eles pegaram Cebola e Cascão pelo braço. Mônica soltou Magali e tentou segurar Cebola junto a ela, só que os bandidos levaram os dois mesmo assim deixando as moças chorando apavoradas sob a arma do traficante.

- Quietinhas aí, garotas! Prometo que vou ser bonzinho com vocês!

Na sala, o bandido apontou a arma para Titi e falou.

- Levanta, dentuço! Você vai com eles!
- O quê? Mas eu...
- Ordens do chefe, anda logo!

Titi começou a tremer nas bases e só conseguiu sair do lugar porque outro capanga o arrastou dali. Quando eles saíram do barraco, o barulho de sirenes chamou a atenção deles e em pouco tempo três viaturas estavam em frente ao barraco.

- Essa não, sujou! Pra dentro todo mundo! – ele bradou empurrando os jovens de volta para o barraco. – Chefe, a polícia tá aí!
- Como é? Fechem as portas e janelas agora! Luizão, bota todo mundo lá no cativeiro e fica de olho neles! Os outros dois ficam aqui comigo!

Os rapazes foram arremessados para dentro do cômodo, junto com as garotas. Mônica tratou de abraçar Cebola.

- Você tá bem?
- Tô. Gente, a polícia tá aí!
- Cala boca todo mundo! Encostem lá no canto e não quero ouvir um piu!

Os policiais saíram das viaturas com as armas em punho e logo perceberam que havia algo de errado com aquela casa. Um deles gritou.

- Nós sabemos que vocês estão aí! Saiam com as mãos para cima que o barraco está cercado e já pedimos reforços!
- Tem cinco moleques aqui comigo! Não venham com gracinhas ou eu mato todo mundo! Tô falando sério! – Ricardão gritou abrindo um pequeno vão na janela e os policiais viram que aquela noite ia ser muito longa. Tudo sempre era complicado quando havia reféns na história.


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