Universo Em Desequilíbrio escrita por Mallagueta Pepper


Capítulo 41
Dividir e conquistar




Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/334247/chapter/41

Seu olho estava roxo e havia um pequeno corte no lábio inferior. Sem falar que suas costelas doíam um pouco. Apesar da dor, tinha valido a pena. Magali tinha sido suspensa por mais uma semana inteira, tempo suficiente para colocar o restante do plano em ação.

Claro que boa parte dependeu da sorte. Se a diretora não tivesse aparecido justamente na hora em que ela tinha lhe jogado no chão e desferido um chute, além de ter apanhado ainda mais, Cebola veria o seu plano fracassar terrivelmente.

Deitado na cama da enfermaria, ele segurava um saco de gelo contra o rosto e sorrindo satisfeito consigo mesmo. Como ela era idiota! Tão fácil de se provocar e manipular! Ele só lamentava ter deixado a Mônica preocupada, mas com o tempo tudo ia ficar bem.

“Coitada, ela até chorou de me ver caído ali no chão... será que ela gosta mesmo de mim? Tomara! Só que eu não posso pedir ela em namoro agora. Não antes de derrotar a Magali e dar a volta por cima!”

Quando a enfermeira lhe dispensou, ele voltou para a sala e o restante da aula correu sem problemas. Na hora da saída, porém, ele ainda teve que agüentar mais um aborrecimento.

- E aí, seu panaca? Fiquei sabendo que a Magali arrebentou a sua cara! – DC falou após lhe dar um forte esbarrão.
- Me deixa em paz, quelo ir embola! – ele falou escondendo o rosto com o capuz da blusa para que o outro não visse sua expressão de raiva.
- Seu mané. Pensa que eu não tô sabendo?
- Sabendo do quê?
- Que você é o tal herói mascarado. Já saquei tudo!
- Você tá doido? Eu heim!

Aquilo tinha lhe pegado de surpresa. Como DC podia desconfiar dele? Com base em quê?

- Ô DC, deixa ele em paz, que saco! – Mônica falou com as mãos na cintura. – Ele não tem culpa do micão que você pagou na festa da Carmem!

Os outros alunos deram risada, deixando DC ainda mais irritado.

- Pois eu aposto que esse cobaia aqui é o herói e ele tá fazendo todo mundo de idiota!

Os risos aumentaram mais ainda. O Cebola herói? Aquilo era tão absurdo que ninguém sequer conseguia cogitar aquela possibilidade.

- Ai meu santo! Só faltava mais essa! - Carmem falou também dando risada.
- Além de mentiroso, ele é doido! Hahaha! – Irene disparou com todo seu veneno e todos começaram a vaiá-lo, fazendo-o ir embora dali cuspindo fogo e jurando que ia descobrir a verdade a qualquer custo e provar para todos que ele não era nenhum idiota.

Se conseguisse desmascarar o Cebola, talvez houvesse uma chance de ele voltar a ficar por cima de novo.

__________________________________________________________

- Eu não acredito que você brigou na escola de novo, não acredito! – Lili falou pela décima vez, andando de um lado para o outro. Magali estava sentada no sofá da sala com os braços cruzados e aparentemente não prestando atenção em nada. – Que coisa, você só me traz decepção!
- Então troca de filha! – Magali falou cinicamente.
- Olha lá como fala comigo! Eu sou sua mãe e você me deve respeito!
- Então pára de se meter na minha vida!
- Não paro não! Enquanto você estiver vivendo sob esse teto, vai ter que obedecer a mim e ao seu pai! E espera só quando ele chegar, você vai ver só uma coisa.
- Pfff, tô morrendo de medo!
- Como é?

Magali perdeu a paciência e foi para o seu quarto, fechando a porta na cara da sua mãe. Ela estava farta de ouvir aquele discurso sobre ela não ser a filha linda e perfeita que eles queriam. Que droga, por que aqueles dois não eram capazes de aceitá-la como ela era? Aquela garota meiga e boazinha morreu há muitos anos, em parte por culpa dos seus pais que não souberam apoiá-la e compreendê-la. Então eles não tinham o direito de reclamar de nada.

- Ela só sabe reclamar, que droga! – ela falou para Mingau que se aconchegou no seu colo. – Minha mãe só abre a boca pra reclamar de mim, isso tá enchendo o saco!

A moça começou a ficar farta da sua vida. Seus pais sempre falavam com ela em tom de queixa e recriminação. Nunca se preocuparam em saber o que estava acontecendo, em entendê-la de verdade. Não, eram só cobranças e mais cobranças. E depois queixas por ela não conseguir corresponder as suas expectativas. Por que ela ia ter o trabalho e sacrifício para mudar só para agradar aqueles dois? Eles não mereciam.

__________________________________________________________

Denise andava na rua se sentindo leve como há bastante tempo não sentia. As pessoas passavam por ela e não demonstravam aquele receio de ter suas carteiras roubadas. Agora, ela era apenas uma garota normal.

Não havia mais a Magali para lhe dizer o que fazer e nem o Tonhão para vigiar. Os outros rapazes não pareciam estar se importando com o que ela fazia da sua vida, então era hora de aproveitar um pouco. O que fazer? Talvez ir ao shopping? Até que seria bom entrar nas lojas sem ter que suportar os olhares desconfiados dos vendedores.

O toque do seu celular lhe chamou a atenção.

- Denise?
- Fala Cebolinha.
- É Cebola!
- Aff, que seja!
- Tem notícias da Magali?
- Tá trancada dentro de casa. Os pais dela não deixam ela sair de jeito nenhum.
- Beleza! Agola vou colocar meu plano em ação!
- Legal, mas pode falar direito comigo, eu já sei que você é o herói mascarado.
- Como é que você...
- Helow! Depois daquele bafão da festa, achou mesmo que eu não ia desconfiar? Hahaha! No fim das contas, o DC tava certo!
- Sei, sei, só fica de boca fechada, ouviu? Se estragar meu plano, você não vai poder ficar livre da Magali!
- Cruzes, claro que eu vou ficar de boca fechada. Mas vem cá, apanhar dela que nem cão sem dono fazia parte do seu plano? – Ela perguntou em tom de deboche.
- Fazia sim.
- Quêeee?!
- Eu fiz aquilo pra ela levar suspensão e vocês ficarem livres dela uma semana inteira. Agora a gente tem que dar um jeito de fazer o Franja, Titi e Cascão pularem fora da gangue. Sozinha, ela não vai poder fazer nada contra ninguém.

Denise ficou surpresa com a esperteza do Cebola. Depois de ter um gostinho da liberdade, ela tinha certeza de que os outros não iam querer voltar ao que eram antes, levados no cabresto pela Magali.

- Se puder, vai assoprando umas coisas aqui e ali pra eles, incentiva todo mundo a sair. Eu vou dar meu jeito aqui.  
- Pode deixar. Ai, que tudo! Finalmente livre!

__________________________________________________________

Cebola desligou o celular feliz da vida. Por que perder tempo tirando um a um da gangue se era mais eficiente tirar todos de uma vez? Mesmo sabendo que Magali ainda ia causar problemas, ele não se preocupava já que sabia ser capaz de enfrentá-la sozinho.

Como não tinha mais nada para fazer, ele tirou uma caixa debaixo da cama, onde tinha alguns halteres e começou a se exercitar. Era preciso manter a boa forma e mesmo não podendo ir a uma academia, ele vinha se exercitando sozinho em casa há anos. Afinal, não bastava exercitar somente o cérebro e deixar os músculos de lado. O futuro líder mundial precisava estar em boa forma tanto física quanto mentalmente. Ele só precisava usar aquelas roupas bem folgadas e andar encurvado para que ninguém percebesse.

__________________________________________________________

- Uia, olha só aquele tanquinho! – Magali falou com um grande sorriso no rosto e olhando para ele com o mesmo olhar com que ela secava o professor Rubens.
- Segura a onda aí que você tem namorado! – Cascão falou com cara fechada.
- Blé, olhar não arranca pedaço! E aquele ali é um pedação de mal caminho, viu?

Até Xabeu estava com o rosto corado ao ver o físico do rapaz. Antes ele só era visto com suas roupas de sempre. Era a primeira vez que o viam sem camisa e puderam ver que ele tinha um físico bem mais atlético que o do Cebola original.

- Argh, tira isso daí, credo! – Cebola protestou virando o rosto para o outro lado e fazendo careta de nojo.
- Por que, rapaz do cabelo espetado?
- Porque é tosco demais, é isso!
- Você bem que podia seguir o exemplo dele, heim? Olha como ele se exercita!

Eles viram o outro Cebola levantando pesos, fazendo flexões e vários outros exercícios que o original não teria condições de fazer. Aquilo só o deixou ainda mais irritado. E o comentário da Magali também não ajudou em nada.

- Ai minha nossa! Já pensou se a Mônica vê ele sem camisa?

Várias cenas passaram por sua cabeça, fazendo-o quase entrar em pânico. Só faltava mais essa!

__________________________________________________________

Sem Magali por perto para lhe dizer o tempo inteiro o que fazer, Franja resolveu dar uma volta pelo bairro e acabou parando na sorveteria. De onde estava, ele pode ver Marina com as amigas e ficou ali olhando para ela tentando não ser visto. Será que ele nunca ia ter uma chance com ela? Claro que não. Uma garota tão certinha quanto ela jamais iria andar com alguém como ele.

- Fecha a boca senão entra mosquito.
- Denise? Você tava me seguindo?
- Não, fófis. Eu só estava indo pra sorveteria e esbarrei com você aqui.
- Você não devia estar nas lojas roubando coisas?
- Ah, me deixa! Já chega a Magali me dando ordens o tempo inteiro!
- Pois se você não trazer algo de valor, ela vai enfiar a mão na sua cara.

Denise balançou a cabeça tentando afastar esse pensamento.

- Escuta, por acaso você não tá cansado dessa vida não?
- Que diferença faz?
- Faz muita, porque eu também tô!

O rapaz admirou-se.

- Achei que você gostasse de andar com a Magali.
- Tá doido? Você conhece alguém que gosta de andar com aquela criatura? Nem pensar! Eu ando com ela porque não tem jeito, mas eu tô doida pra sair.


Ele deu de ombros.

- Então por que não sai?
- Primeiro, ela vai me perseguir. Segundo, vocês também vão me perseguir. Terceiro, ninguém vai querer nada comigo enquanto ela continuar pegando no meu pé.
- É por isso que eu também não saio.
- Aí, então por que nós dois não saímos de uma vez?

Franja levou um susto.

- Como é?
- Por que não? Se um só sair sozinho, vai dar encrenca. Mas se todo mundo sair...
- Ela não poderá fazer nada contra todos. Até que faz sentido! Só que eu ainda não sei... Como vou me socializar com os outros alunos?
- Heim?
- Como vou fazer outros amigos? Vocês são os únicos que falam comigo.
- Eu também tô com esse mesmo problema, mas quer saber? A gente precisa se jogar de cabeça mesmo, fófis. O resto vem depois.

Eles voltaram a olhar para a sorveteria, onde as meninas continuavam com o seu sorvete.

- Você não quer ter uma chance com a Marina?
- Eu... eu...
- Claro que quer, tá estampado na sua testa! Só que andando desse jeito aí você não vai ter chance nenhuma, fica a dica!

Denise foi para a sorveteria, deixando-o ali sem saber o que pensar. Tudo o que ela falou tinha sentido, ele apenas tinha medo de dar o primeiro passo. Para dar certo, era preciso que todos saíssem. Não adiantava nada somente ele e Denise saírem e depois serem perseguidos pela Magali, Cascão e Titi.

__________________________________________________________

Cascuda estava olhando demoradamente para a garota ruiva de Maria-chiquinha que entrou na sorveteria até reconhecê-la.

- Olha, aquela não é a Denise?
(Marina) – É mesmo! Por que ela tá tão diferente?
(Keika) – Vai ver é porque a Magali não tá perto. Até que ela ficou bonita, viu?
(Aninha) – É mesmo... lembram de como ela era engraçada? Pena que acabou andando com a Magali.
(Cascuda) – Vai ver ela quer voltar a ser como antes.

Elas cochicharam por um tempo até Denise sair levando uma casquinha na mão. Apesar do visual comportado e da aparência inofensiva, elas não tiveram coragem de falar com ela. Apesar de tudo, aquela ruiva ainda andava com Magali.

__________________________________________________________

- Cascão, o Cebolinha tá aqui!
- Quem? – o rapaz olhou para sua mãe por cima do gibi que estava lendo.
- O Cebolinha, não lembra dele?
- Claro que lembro, mãe.

Ela fez com que Cebola entrasse, lhe dando antes uma advertência.

- Não repara a bagunça, tá? Você sabe como ele é...
- Pode deixar.

Cascão sentou-se na cama e ficou olhando desconfiado para o ex-amigo de infância.

- O que foi?
- Por que você não sai um pouco pra praticar aquele parkour?
- Não tô afim.
- Deixa disso, a Magali tá trancada na casa dela e não vai sair tão cedo!
- Alguém pode ver e dedurar.

Cebola olhou ao redor, procurando algo para se sentar e acabou encontrando uma cadeira virada de pernas para o ar escondida debaixo de uma pilha de tranqueiras.

- Eu fiquei sabendo que a Denise tá querendo sair do bando de vocês. – Ele arriscou sabendo que Cascão não era tão fiel assim a Magali para dedurar.
- O que tá segurando ela?
- Medo. Ela tá com medo de vocês fazerem algo contra ela.
- Por mim, eu nem faria nada, só que tem a Magali, o Franja, o Titi...
- O Franja eu já sei que não vai fazer nada. E o Titi é namorado dela, não é?
- Sei lá, o rolo dos dois anda meio cabuloso.
- De qualquer forma, eu acho que se todo mundo saísse de uma vez, ela não ia ter como fazer nada.

O sujinho olhou bem para o rosto do outro, analisou cuidadosamente e disparou saltando da cama.

- Ah, não! Eu conheço muito bem essa cara! Tô sentindo cheiro de plano infalível, tô sim! Você quer que todo mundo saia da gangue pra poder enfrentar a Magali.
- Ué, tem algum problema? Achei que você estivesse cansado dessa vida!

Ele voltou a se sentar.

- Isso é... só que eu ainda não sei se devo confiar.
- E por que não? Olha, eu sei que te deixei na mão uma vez, tá? Foi mal, desculpa! Na época eu tava sozinho, ninguém quis me ajudar! E depois eu perdi meu pai e minha irmã! Pensa que é fácil?

O outro acabou ficando com um pouquinho de peso na consciência por ter esquecido daquele episodio triste na vida do Cebolinha.

- Só que agora eu tô mais forte e pronto pra acabar com o reinado de terror da Magali, só que eu vou precisar de ajuda! Se eu enfrentar ela junto com a gangue, vocês vão limpar o chão comigo. Lembra do dia em que você me bateu com aquela barra de ferro nas costas? Ficou marcado um tempão!
- Tá, tá, não precisa jogar na cara. Olha, se todo mundo sair, eu saio.
- A Denise tá querendo sair.
- Só ela e eu não adianta.
- Ela tá fazendo a cabeça do Franja. Se vocês três saírem, vai ficar a Magali e o Titi. Vai ser difícil, mas acho que deles eu dou conta.
- Ué, você tá mancomunado com a Denise?
- Não vamos entrar em detalhes. Acontece que vocês vão ter uma semana inteirinha livres da Magali. Então pensa bem, cara. Essa é a sua chance e a dos outros também. É agora ou nunca.

Dito aquilo, Cebola levantou-se e foi embora dali para que o outro pudesse pensar. Cascão voltou a se deitar na cama, oscilando entre o medo e o desejo de sair e mudar de vida. Será que aquilo podia dar certo?

__________________________________________________________

- De castigo? – Ricardão perguntou irritado com aquele contratempo.
- É. Aquela maluca deu porrada num manezão lá da escola e levou suspensão. Agora ela tá de castigo em casa e não vai poder sair.
- Porcaria, só faltava essa!
- O que você vai fazer?
- Tá, deixa quieto. Quando ela sair do castigo, a gente pega ela. Por enquanto, vamos tratar de negócios. Tem mercadoria boa chegando e você vai aprender como vender sem ser pego pela policia. tá na hora de botar a mão na massa.

Ricardão começou a dar as instruções e o assunto da Magali foi temporariamente esquecido. Era hora de fazer trabalho de adulto.


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!




Hey! Que tal deixar um comentário na história?
Por não receberem novos comentários em suas histórias, muitos autores desanimam e param de postar. Não deixe a história "Universo Em Desequilíbrio" morrer!
Para comentar e incentivar o autor, cadastre-se ou entre em sua conta.