Universo Em Desequilíbrio escrita por Mallagueta Pepper


Capítulo 28
O plano ardiloso




Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/334247/chapter/28


- Ai, fofa, por que você não quer vir na minha festa do pijama? Vai ser tudo de bom! – Carmem tentava a todo custo convencer Mônica.
- É que eu ainda preciso ensaiar muito no piano, aí meus pais não querem deixar eu sair. – ela mentiu. Na verdade, Mônica não queria ir na casa da Carmem de jeito nenhum. Embora gostasse de festas do pijama, ela preferia com suas amigas de verdade, não com aquele bando de patricinhas fúteis.

Carmem desligou o telefone frustrada por seu plano não ter dado certo. Que coisa, era tão importante que ela descobrisse a verdade! DC ia ficar muito feliz e isso ia lhe dar uma boa chance com ele. Bem, se aquilo não funcionou, então ela tinha que pensar em outra coisa, o que era difícil dada sua dificuldade em pensar. Levou várias horas até que ela conseguisse bolar o plano da festa do pijama e aquele tinha fracassado.
__________________________________________________________

Mônica desligou o telefone aliviada por ter conseguido se livrar da Carmem. Por que aquela garota estava pegando no seu pé daquele jeito? Todos os dias ela e sua turminha lhe perseguiam pela escola tagarelando sem parar na sua cabeça e tentando a todo custo convidá-la para ir ao shopping ou fazer qualquer outra coisa que Mônica não queria fazer.

Ao olhar o calendário, Mônica viu que era sábado e sentiu calafrios. Será que seus pais iam jantar em casa naquele dia? Se fossem, com certeza iam pedir para que ela tocasse piano e ela não tinha conseguido avançar em nada.

“O que eu faço agora? Por que não consigo lembrar de nada?” sua cabeça dava várias voltas e ela não conseguia sair do lugar. Era muito difícil se lembrar de algo que ela nunca tinha feito ou aprendido em sua vida. Será mesmo que aquele homem do jaleco branco estava certo? Será que ela podia mesmo se lembrar da vida e das experiências do seu duplo? Ela torcia para que sim, do contrário não ia poder voltar ao seu mundo nunca mais.

__________________________________________________________

- Então ela não quis ir a sua festa do pijama. – DC falou mais contrariado que de costume.
- Aff, aquela ali é uma teimosia só, viu?
- Acho que precisamos pensar em outra coisa. Peraí...

Ele relembrou as vezes em que o tal herói apareceu. Apesar de ter sido em apenas duas oportunidades, DC tentou encontrar uma conexão entre os dois eventos e só conseguiu pensar em uma única coisa. A Mônica.

O sujeito tinha aparecido para recuperar o celular dela e depois para defendê-la da Magali e sua gangue. Será que ele tinha algum interesse especial nela ou foi só coincidência? Era algo para experimentar. Para isso, bastava criar alguma dificuldade para a Mônica e pronto. Qual dificuldade?

- ... aí ela falou que precisava treinar com aquela porcaria de piano e os pais dela não deixaram sair, blábláblá... – Carmem falava sem parar na sua cabeça, deixando-o irritado. Será que aquela criatura não sabia ficar quieta só por alguns minutos? Se bem que a última frase dela acabou lhe dando uma idéia. Era só uma possibilidade, mas bem que podia dar certo. Era uma forma segura de colocar a Mônica em dificuldades e aquilo poderia fazer com que o tal herói desse o ar da graça.

__________________________________________________________

- Cebolinha. Cebolinhaaaaa!
- É Cebola, mãe. O que foi?
- Eu tô com fome. Me faz um sanduíche com...
- Fome? A senhora almoçou não faz nem uma hora!
- Mas eu tô com fome e quero comer agora! Anda, vai fazer meu sanduíche!

Ele cerrou os punhos com raiva e encarou a mulher com um olhar decidido.

- Não. A senhora já comeu e comeu muito bem! Agora espera a hora do lanche.
- Como é? – ela gritou. – Seu desnaturado, vai me deixar passando fome? Você não presta mesmo, seu ordinário! Não faz nada pra mim, me deixa aqui largada passando fome e ainda me desobedece?

O rapaz fechou a cara e falou com a voz firme e mais grossa que de costume.

- Mãe, a senhora não tem o direito de falar assim comigo, entendeu? Eu faço tudo aqui em casa, cozinho, lavo, passo, faço tudo que a senhora pede. E nunca te deixei passar fome, nunca! Só que eu não posso te deixar exagerar com a comida desse jeito! Isso tá te matando!
- Deixa matar, e daí? Vai ver é isso que você quer, né? Quer que eu morra pra não ter mais trabalho comigo! Eu só dou trabalho, só isso!
- A senhora é minha mãe, isso não é trabalho. Mas é o seguinte: de hoje em diante, eu vou cuidar melhor da senhora. Chega de ficar comendo essas porcarias que estão te matando.

Ela começou a chorar e xingar freneticamente, mas dessa vez Cebola não se alterou. Não, chega de ser um fraco idiota. Chega de viver sempre abaixando a cabeça só para evitar atritos! Sua mãe estava se prejudicando e ele não podia deixar as coisas daquele jeito. Ela que chorasse o quanto quisesse, mas ele não ia mais contribuir mais para estragar sua saúde.

- Por favor, me dá comida! Eu tô morrendo de fome, não agüento mais esperar! Faz isso comigo não!
- Desculpa, mãe, eu não vou fazer isso. Quando chegar a hora do lanche, eu vou preparar algo legal pra senhora. Antes não. E acho que a gente devia procurar um médico pra te ajudar.
- Eu não quero ajuda, que droga! Eu quero comida! COMIDA!

Cebola saiu da sala, ignorando o choro e os gritos da mulher. Estava na hora das coisas mudarem naquela casa e se sua mãe não queria assumir o comando de tudo, então cabia a ele tomar as rédeas da situação.

No seu quarto, ele colocou fones de ouvido para amenizar um pouco a choradeira da sua mãe e se pôs a estudar seu plano para derrotar Magali e sua gangue.

“Juntos eles são mais fortes do que cada um separado”. Ele lembrou-se daquela frase que Mônica tinha falado certa vez e foi em cima dessa idéia que ele resolveu bolar todo seu plano. Claro, aquilo era tão óbvio! Por que ele não percebeu antes? Durante todo aquele tempo, ele tentava bolar planos para derrotar a gangue como um todo, o que era impossível já que ele estava sozinho. Sendo assim, ele resolveu mudar de estratégia e dividir para conquistar.

Se quisesse derrotar Magali, ele tinha primeiro que desfazer a gangue e deixá-la sozinha.

Enquanto escrevia suas idéias num caderno, ele olhou para seu computador onde havia a foto dela com o seu original. Eles eram tão parecidos que Cebola tinha até a impressão de ser ele abraçado com a Mônica, não aquele idiota bobalhão.

- Seu mané, eu sou muito melhor do que você! – ele falou em voz alta olhando para o rosto do seu rival. – Você é um covarde, mas eu não sou entendeu? Eu não sou como você!

__________________________________________________________

- Calma aí, careca! Faz isso não! – Cascão e Astronauta tentavam a todo custo segurar Cebola que insistia em atirar a cadeira do Zé Luis contra o monitor.
- Se eu não posso ir até lá matar esse desglaçado, então vou queblar tudo aqui! Quem ele pensa que é?

Quando finalmente conseguiram fazê-lo soltar a cadeira, Cebola ainda ficou praguejando contra a Mônica. Foi por causa do descuido dela que seu duplo descobriu toda a verdade e agora ele tinha que aturar os desaforos daquele idiota!

- Olha lá como fala da Mônica, viu seu tosco? – Magali o repreendeu. – Você deve a vida dos seus pais a ela!
- Devo nada! A única coisa que ela fez foi dar coelhada no meu pai, o resto foi sorte! E agora esse bobalhão do meu duplo fica me chamando de idiota! Que ódio, eu devia estrangular esse imbecil!

O clima estava bastante tenso entre eles, mas Cascão conseguiu quebrar um pouco a tensão fazendo uma pergunta.

- Véi, que doideira! Se o Cebola matasse o duplo dele, seria assassinato ou suicídio?

__________________________________________________________

- Tomara que esse planinho besta funcione. – Magali falou estalando os dedos. – Senão o Tonhão aqui vai arrebentar sua cara!
- Vai funcionar sim. Toda vez que ela fica em dificuldade, o tal herói aparece. Então pra ele aparecer de novo, a gente precisa colocar ela em perigo.
- Não seria mais fácil eu pegar ela na saída?
- Em um local aberto? Ele ia fugir que nem fez da outra vez, esqueceu? Não, o ideal é a gente fazer isso num lugar fechado, de onde ele não pode fugir.

A fisionomia dela distendeu-se um pouco. Aquilo fazia todo sentido.

- Então tá, só que vai ter um monte de gente por perto.
- Ué, você não queria dar uma surra nele na frente de todo mundo?
- Isso é. Beleza então, na hora certa a gente vai estar esperando. Vou mandar o pessoal fechar a porta de entrada e aquele mané não vai poder fugir da gente!
- Ó, não esquece que você quer pegar ele, não ela!
- Tá, tá. Desde que ela não invente de me enfrentar, tranqüilo.

DC foi embora do ferro-velho muito satisfeito com seu plano. Inicialmente, pedir ajuda para Magali tinha lhe causado repulsa, mas até que não tinha sido tão ruim assim apesar da cara ruim dos rapazes da gangue, especialmente o Tonhão. Sabendo conversar, era até possível entrar em um acordo com ela. Por que não? No futuro, aquilo podia ser de grande utilidade.


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!