Universo Em Desequilíbrio escrita por Mallagueta Pepper


Capítulo 24
Dura revelação




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Cebola não quis ir ao laboratório de informática daquela vez. Na verdade, ele não queria ver ninguém e resolveu ir ao estacionamento como fazia antes. No meio do caminho, ele foi barrado pela Magali.

- E aí, seu cobaia? Vai passando o dinheiro do lanche e... – antes que ela terminasse a frase, ele tirou o dinheiro do bolso e pôs em sua mão e depois perguntou mostrando visível desanimo.
- Você vai demolar muito com essa sulla? Eu tô com plessa, então bate logo.
- ...

Como ela não respondeu nada, ele saiu dali deixando-a parada no meio do corredor com o dinheiro na mão e sem saber o que pensar.

- Eu heim! Você não vai bater nele? – Denise perguntou estranhando aquela falta de reação.
- Sei lá, vou deixar quieto hoje. Vai que é doença! Vamos comer que eu tô cheia de fome!

Aliviado por não ter apanhado naquele dia, ele se acomodou atrás de um dos carros e tirou o tablet para ler mais uma vez as informações que tinha conseguido. Aquilo não deixava de ser um certo masoquismo, já que ler cada palavra doía seu coração.

Suas máquinas tinham examinado toda a casa da Mônica e não encontraram nada. Quando terminaram, ele voltou para a casa dela sob qualquer pretexto e conseguiu pegar todas de volta e assim levar para analisar os dados. Todo aquele trabalho foi por nada já que não tinha nenhum tipo de máquina ou equipamento naquela casa que pudesse fazer algum tipo de viagem entre universos paralelos.

Outra boa idéia surgiu quando ele viu a imagem da Mônica deitada na cama escrevendo em um caderno com um coelho azul na capa. Olhando melhor, ele percebeu que era um diário. Por que não? Meninas sempre escreviam em seus diários coisas que jamais diriam a ninguém.

Então ele planejou tudo cuidadosamente e aguardou até o dia da aula de educação física para colocar as mãos naquele diário. Com o item em mãos, ele correu para um local seguro e fotografou todas as páginas com seu tablet. Foi preciso fazer isso durante a aula e ainda levou mais dois dias, durante o intervalo, até ele conseguir fotografar tudo. Só então foi possível ler o diário dela na segurança do seu quarto.

Após uma breve procura, ele acabou encontrando o assunto que lhe interessava e no início até ficou alegre e satisfeito por ter conseguido achar mais informações. Então, à medida que foi lendo aquelas páginas, uma sensação ruim foi tomando conta dele. Não, aquilo não era possível! Só podia ser mentira!

No estacionamento, dois dias depois, ele ainda lia aquelas páginas oscilando entre o desespero e a negação. Então ele era o duplo ali? Aquele universo era alternativo?

“Eu não acredito... quer dizer que eu sou só a cópia de alguém? Que droga!”
Cebola até imaginou que ia ficar surpreso, só não imaginou que ia ficar chocado também. Diferente do que ele pensava, aquela garota dentuça das fotos não era o duplo da Mônica. Era a própria Mônica que tinha vindo de outro universo para compensar sua falta naquele.

A explicação estava um tanto confusa, mostrando que nem ela mesma tinha entendido aquilo direito. Mas ele entendeu muito bem. E muitas coisas ficaram bem claras para ele.

“Então é por isso que ela me defende tanto, só porque eu sou o duplo daquele outro! Droga! Eu pensei que ela gostasse mesmo de mim, porcaria! Isso não é justo!”

Aquilo o deixou muito desanimado. Tanto a ponto de ele nem querer mais conversar com ela. Pelo menos não por enquanto, já que era preciso colocar as idéias no lugar e entender tudo aquilo.

“Aqui fala que um duplo dela vai ser criado, aí ela vai embora. Como vai ser esse outro duplo? Será que vai ser a mesma coisa? Tomara!”

Ainda assim uma pergunta continuava martelando em sua cabeça: por que o seu outro eu, que então era o original, tinha uma vida melhor do que a sua? O simples fato de ser o original não explicava aquilo, devia ter alguma outra coisa. O melhor era ler aquele diário desde o início, assim ele poderia ter suas respostas. Como não tinha outra opção, Cebola resolveu começar de uma vez. Assim ele também poderia saber como era a relação da Mônica com o original.

“Meu original... detesto isso! Eu não quero ser cópia de ninguém!”

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Paradoxo olhava o rapaz lendo o diário com um sorrisinho no rosto. Como ele ia lidar com o fato de ser apenas um duplo? Aquela descoberta poderia ter implicações bem interessantes.

- Bem feito pra ele! Ficou achando que eu era o duplo e quebrou a cara!
- Ué, Cebola, tá com birra dele por quê? – Xabéu perguntou sem entender aquela hostilidade repentina.
- Blé, não é nada não. Ele é muito babaca, só isso!
- Liga não, ele tá bolado porque o outro Cebola salvou a Mônica e virou herói dela.
- Cascão! Seu bocudo!

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Ao ver que a Mônica não estava junto com aquele idiota do Cebola, DC deu um sorriso malandro e resolveu se aproximar.

- Oi, gatinho! Como vai? – Carmem perguntou entrando no seu caminho de repente.
- Agora não, eu tô ocupado.
- Sei, ocupado perdendo tempo com aquelazinha ali?
- Não fala assim da Mônica!
- Falo sim! Você fica que nem bobo correndo atrás dela, que prefere o cobaia!
- Ela não prefere o cobaia, tá legal? É só... só... ah, ela tá é com pena dele, só isso!
- Aham... me engana que eu gosto, fofinho. E aí, por que não vem sentar com a gente?

Ele olhou para a mesa onde Carmem apontou e viu ali Irene, Isa e Maria. Onde aquela criatura estava com a cabeça para pensar que ele ia se sentar com as patricinhas mais chatas do colégio?

- Foi mal, mas eu já tenho o que fazer. Fui!
- Ei, peraí!

Como ele não voltou atrás, Carmem foi se sentar remoendo sua frustração.

- É, querida... parece que ele tá de cabeça virada com a Mônica mesmo. – Irene falou venenosamente só para provocar Carmem ainda mais. Maria também colocou lenha na fogueira.
- Mas também, né? A mãe dela é dona da joalheria mais chique da cidade! Vocês viram quanta coisa linda tem na loja dela?
- Lindas e caras, minha nossa! – Isa falou após mastigar sua folha de alface. – qualquer anelzinho mixuruca ali deve custar uns três anos de mesada!
- Pois eu posso comprar as jóias que quiser, é só pedir pro meu pai. – Ela deu uma olhada na mesa onde Mônica estava com Marina e seus amigos. – Hunf, aquela ali tá cansando minha beleza. Onde já se viu?
(Maria) – Você tá com inveja porque o tal herói mascarado a defendeu da Magali, não é?
- Grrrr! Nem me lembre disso, que desaforo!
(Isa) – Ah, eu também adoraria ser salva por um herói bonitão. Será verdade que ele é o DC?
(Irene) – E quem mais nessa escola teria coragem de enfrentar a Magali?
(Maria) – Só que eu ainda não entendi por que ele se fantasiou.
(Carmem) – Coisas de contrariado. Ai, gente, ele ficou um gato naquela roupa, isso sim!

Ao lembrar do herói do outro dia, Carmem suspirou se imaginando como a linda princesa cuidada, mimada e paparicada por aquele sonho de rapaz. Claro, só podia mesmo ser o DC embora ele negasse até o fim. Aliás, conhecendo-o como ela conhecia, não havia mais dúvidas. Se ele negava tanto, então qualquer um podia concluir que era exatamente o contrário e ela pretendia agarrar aquele gato a todo custo.   

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- Você tá tão deprimida, o que foi? - Marina perguntou enquanto elas voltavam para a sala de aula.
- Er... nada não.
- Sei. Você tá assim porque o cobaia não quer saber de conversa, não é? – Keika falou torcendo o nariz.
(Cascuda) – Menina, deixa esse bobalhão de lado, que coisa! Aquele gatinho lindo do DC tá te rodeando e você fica perdendo tempo com o Cebolinha? Eu heim!
- Ah, gente! Não fala dele assim não! Ele é gente boa!
(Aninha) – Esqueceu que foi por causa dele que a Magali...
- Ih, credo! Vocês vão ficar remoendo isso até quando?

Todos a olharam espantados e ela continuou.

- Ele pode ter errado sim, mas isso foi há muito tempo! Se a Magali tá atormentando todo mundo, é por culpa dela mesmo! Ele não apronta mais com ela, mexe?
(Marina) – Er... não... mas...

Não houve como responder de pronto. Ela até que não deixava de ter razão. Há muito tempo Cebola não aprontava mais com Magali, então por que ela ainda continuava daquele jeito sendo que ele tinha parado há muito tempo? Ainda assim elas ainda estavam resistentes quanto a fazer amizade com ele. As coisas não mudavam da noite para o dia.

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Na hora da saída, Magali esperava por DC juntamente com sua turma, pronta para dar uma surra nele. Depois dos boatos que Denise tinha ouvido aqui e ali, ela estava mais do que certa de quem era aquele maluco que a enfrentou outro dia.

- É isso aí, seu palhaço! Tá na hora de apanhar! – ela falou assim que colocou os olhos no rapaz.
- Deixa ele em paz! – Nimbus falou e encolheu-se todo quando Tonhão lhe mostrou o punho.
- Tudo bem, mano. Eu dou um jeito nisso, pode ir.
- Tem certeza? Sei não...
- Numa boa, sério. Depois eu te alcanço.

Ainda que hesitante, Nimbus se afastou dali junto com os outros rapazes torcendo para que seu irmão fosse mesmo capaz de escapar daquela encrenca.

- Você tá achando mesmo que eu sou aquele cara? Se liga!
- Achando não, eu tenho certeza! Quando ele apareceu, você não tava por perto!
- Já falei mil vezes que eu tava no banheiro cagando!
- Cagada é a sua cara depois de levar muita porrada!

Antes que Magali avançasse, ele ameaçou.

- Sai pra lá que o meu tio...
- Eu não tô nem aí pro seu tio, valeu? Tá na hora de mostrar quem manda nessa joça!
- Fala sério, Magali! Desde quando eu preciso de máscara pra te enfrentar?

Ela hesitou um pouco, mas não cedeu.

- Você sabe que eu não tenho mais medo do seu tio e resolveu apelar pra outra coisa!

DC tremia da cabeça aos pés ao imaginar a surra que estava prestes a levar. Então era isso, suas ameaças não surtiam mais efeito. Estava na hora de apelar para outra coisa.

- Não, peraí! Vamos fazer o seguinte: me dá um tempo pra descobrir quem é esse maluco fantasiado.
- E por que eu faria isso? É mais fácil arrebentar sua cara agora mesmo.
- E se não for eu? E se o cara continuar solto por aí te desafiando? Vai adiantar alguma coisa me bater?

O argumento surtiu efeito.

- E você acha que pode descobrir alguma coisa? De que jeito?

Lá longe ele viu Mônica passando com as amigas e teve uma idéia.

- Todo mundo nessa escola tá achando que eu sou aquele cara, menos ela.

Magali pensou um pouco e disse.

- Então ela sabe mesmo? Ah se eu pego aquela vadia!
- Não, isso não. Deixa a Mônica em paz. Eu vou descobrir quem é aquele cara e aí você vai poder acabar com ele.
- E se você não conseguir?
- Eu consigo sim, só me dá um tempo.
- Também não quero mais saber daquela patricinha me enchendo o saco.
- Vou dar um jeito nisso também. Até lá, segura sua onda.

Por fim ela concordou. Se ele realmente cumprisse sua palavra, até que seria um acordo vantajoso para ambos. Ele se livraria de uma surra e ela finalmente ia poder por as mãos naquele atrevido que a enfrentou. E de brinde, aquela patricinha não ia mais lhe encher a paciência por causa do cobaia.

- Tá bom. Só não demora muito não, valeu? Eu detesto esperar.

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“Hoje a gente foi estudar na casa do Cebola. A mãe dele preparou um lanche gostoso e a gente riu muito da Mariazinha que não parava de provocar ele.”

Ele lia e relia aquele trecho várias vezes, tentando através dele imaginar como era a vida do outro Cebola. Depois de ler o diário inteiro, ele descobriu muitas coisas interessantes e várias perguntas foram surgindo na sua cabeça.

- Então é isso, a vida dele é mesmo melhor que a minha! – Ele falou sentindo inveja e frustração.

Embora Mônica não tivesse falado sobre a família dele, aquele trecho provava que sua irmã daquela dimensão estava viva. E se ela estava viva, ele imaginou que o acidente de carro não tinha acontecido e sendo assim, talvez seu pai também estivesse. Aquilo foi o suficiente para fazer a sua cabeça martelar incessantemente tentando entender por que o acidente de carro não tinha acontecido no mundo original, mas aconteceu no paralelo. Aquele diário não tinha essas respostas.

Mas tinha outras coisas e ele pode ver que o relacionamento dela com o seu outro eu era bem complicado e problemático. Que papo idiota era aquele de só reatar o namoro após derrotá-la? Então ele tinha terminado por causa de algo tão ridículo? Qual era o problema daquele cara? Pelo que ele tinha lido no diário, o namoro não foi reatado ainda. A impressão que ele teve era a de que o outro estava enrolando, empurrando com a barriga e não parecia disposto a fazer nada para que as coisas dessem certo entre eles.

Aquilo fez com que Cebola ficasse com raiva do seu original. Que sujeito mais covarde aquele! Ele a fazia sofrer, magoava, flertava com outras garotas e ainda se achava coberto de razão?

- Eu preciso saber mais! Acho que se perguntar com jeito, ela deve acabar falando alguma coisa, vou tentar.

Ele tinha mantido distância por um tempo porque ficou chateado com o que leu no diário dela, mas fugir não era a solução. O seu outro eu fugia e ele não queria fazer a mesma coisa. Ele não queria ser um idiota covarde.

- Aposto que sou muito melhor do que ele!


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