Universo Em Desequilíbrio escrita por Mallagueta Pepper


Capítulo 16
O sapo e a estrela




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Era um dia bonito e tranqüilo na cidade. Várias lojas abertas exibiam seus produtos para as pessoas interessadas. Havia desde comida, roupas e calçados até armas, poções, remédios e itens de magia. Mônica andava pela rua olhando cada loja com curiosidade e até tinha comprado alguns acessórios que ela tinha visto na vitrine de uma loja. Era cada coisa linda!

– Oi, Mô! Você quer conhecer minha loja? – Keika acenou de dentro de uma loja com aspecto bem oriental. Ela mesma vestia um kimono curto da cor azul-claro com estampa de flores de cerejeira voando ao vento, alguns pássaros e no fundo um sol nascente. Uma faixa amarrava sua cintura com um grande laço atrás e ela usava aqueles tamancos de madeira nos pés. Os cabelos estavam arranjados em um complicado penteado japonês, com um coque no alto da cabeça preso por várias agulhas e um prendedor de flores de cerejeira caindo ao longo do rosto.
– Menina, você tá um arraso!
– Obrigada. Você não quer dar uma olhada na minha loja? Aposto que vai adorar!

Mônica não só adorou como também resolveu comprar uma roupa nova, um vestido oriental vermelho com abertura dos lados e manga japonesa. A estampa era em dragões dourados e havia detalhes em ouro aqui e ali. Para complementar, ela tinha comprado também sapatos e alguns enfeites para cabelo.

– As outras meninas estão aqui também?
– Mais ou menos. A Marina está na loja de pintura e acho que a Cascuda resolveu viajar até a outra vila junto com a Aninha para comprar alguns itens mágicos que não vende aqui. Então, você está gostando da cidade?
– É muito bonito aqui!

Um som estridente se fez ouvir, chamando a atenção das duas. Keika falou com o rosto triste.

– Puxa, já acabou? O tempo passa rápido demais!
– Melhor a gente ir, senão o Licurgo vai chiar!
– Então tá, mas não esquece de salvar o seu jogo, viu? Senão você perde tudo o que comprou!

Após ela salvar o jogo, as duas se juntaram as outras garotas e saíram da sala de informática comentando sobre o jogo da moda, que era grande sucesso em todo lugar.

(Keika) - Eu adoro esse jogo, não consigo ficar um dia sem jogar!
(Cascuda) – Que pena, eu acabei nem comprando as coisas que precisava! Lá em casa eu faço isso!
(Marina) – Depois você visita minha loja, Mô? Você vai adorar minhas pinturas! Elas também são mágicas e te ajudam a encontrar objetos escondidos.
– É? Que legal!

Depois que todos saíram, Cebola levantou-se para sair também.

“Então ela gosta do jogo? Puxa... bom saber!” ele saiu dali com o rosto escondido sob o capuz da blusa, ocultando seu sorriso de satisfação por ter descoberto seu nome de usuária. Assim ele poderia falar com ela mais tarde durante o jogo. Por que não? No jogo ele era o rei, soberano daquelas terras. Ela nem precisava saber sua identidade verdadeira e assim os dois poderiam conversar a vontade, sem que ela o visse como um pobre coitado digno de pena.

Dentro da sala de aula, as meninas ainda falaram sobre o jogo durante um tempo antes que Licurgo começasse a lecionar.

– Eu comprei outra casa que é um luxo!! - Carmem se vangloriou. - E você, querida?
– Ah, eu ainda não consegui pontos para comprar nem um apê na vila! – Irene falou chateada. Conseguir pontos no jogo executando tarefas até saía de graça, mas era difícil e demorado. Os mais afortunados compravam usando cartão de crédito e podiam ter muitas vantagens no jogo por conta desses pontos extras.

Mônica ouvia as garotas falando empolgadas sobre o que tinham conseguido comprar, as tarefas executadas, se conseguiram ou não pular de fase e outras coisas. Até ela tinha se deixado levar pela empolgação. Normalmente ela na gostava muito de jogos. No seu mundo, ela até tinha tentado jogar durante um tempo e logo perdeu o interesse. Mas aquele ali era diferente, tinha mais recursos, coisas a descobrir e uma grande riqueza de detalhes que dava ao jogo um grande toque de realismo. Era mais divertido e ela até dava muitas risadas.

E como o dinheiro fornecido pelos seus pais era praticamente ilimitado, ela comprava pontos para gastar a vontade como quisesse.

Depois da aula, quando deu o pequeno intervalo, ela resolveu ir conversar com o Cebola. O rosto do rapaz ficou vermelho como tomate quando ela chegou perto com aquele perfume que entrava em suas narinas e lhe deixava totalmente abobalhado.

– Eu te vi lá no laboratório de informática. Você também gosta daquele jogo?
– Mais ou menos... de vez em quando eu jogo.
– Esse aí é trouxa demais pra saber o que é bom! – um dos alunos falou jogando uma bolinha de papel na cabeça dele.
– Ei! Não faz isso!
– Deixa pla lá... não plecisa bligar por minha causa...
– Não é justo todo mundo te tratar assim, que coisa!
– Eu to acostumado...

Quando ela voltou ao seu lugar, ele deu outro suspiro tentando inalar o resto do perfume dela que ainda tinha ficado. Era difícil acreditar que uma garota como ela o tratava como gente enquanto todo o resto só pisava e humilhava.

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– Você não vem, DC? Nimbus perguntou vendo que o irmão continuava parado no portão do colégio.
– Pode ir, eu tô esperando a Mônica.
– Você tá gostando dela, heim?
– Bah, não enche! Ela nem é tão bonita assim! – ele tentou fazer uma cara de desdém que arrancou risadas do irmão.
– Você e essa mania de contrariar... isso não cansa não?
– Ela tá vindo. Vaza logo senão vai estragar meu lance.
– Blé, seu chato!

DC passou a mão nos cabelos e preparou um belo sorriso. Aquela garota parecia bem hesitante, mas era aí que estava o charme. Quando eles foram ao cinema, as coisas não correram como ele queria. Mônica se manteve distante e não deixou que ele passasse dos limites da amizade.

– Olha lá, o DC tá te esperando! – Cascuda falou cutucando a amiga.
– Ah, é...
– Ele é um gatinho, viu? Você tá com sorte porque ele não dá bola pra ninguém. – Marina falou também admirando o belo rapaz.

“Fala sério, esse exibido tá dando nos nervos!” Cebola pensou observando tudo de longe. Ao ver Magali passando com seu grupo, ele se escondeu atrás da moita para não ser visto. Quanta humilhação! Enquanto DC podia circular por aí livremente e ficar xavecando a Mônica, ele era forçado a se esconder como um animal acuado para não apanhar da Magali mais uma vez naquele dia.

De onde estava, ele viu os dois conversando um pouco antes do carro da mãe dela chegar. O que será que eles conversaram? Ele não pode ouvir nada. Pelo menos não tinha acontecido nada demais e ele torcia para que aquele panaca não a tivesse convidado para sair.

Quando viu que tudo estava limpo, Cebola saiu do seu esconderijo e tratou de ir para casa correndo. No meio do caminho, ele foi remoendo sua insatisfação com tudo. Sua vida era muito limitada e ele não podia fazer praticamente nada.

Até então ele estava levando bem, mas alguma coisa pareceu ter mudado quando ele conheceu aquela garota. Será que ele estava apenas encantado por ela tratá-lo bem? Ou será que haveria algo mais? Faz muito tempo desde sua infância que ele não se interessava por uma menina. Se bem que do jeito que as coisas estavam, ninguém ia se interessar por ele.

“Droga! Eu não tô podendo fazer nada, que saco!”

Chegando em casa, ele foi recebido com mais queixas e lamúrias da sua mãe. Todas as guloseimas que ele tinha deixado ao alcance dela foram devoradas e a mulher choramingava querendo mais. Ele não teve outra escolha a não ser correr para a cozinha e providenciar o almoço.

De repente, sua vida pareceu pior do que nunca. Sem amigos, sem vida social, perseguido pela Magali, maltratado por todos e com uma mãe que vivia apenas para comer e reclamar. Ele se sentiu amarrado, preso e sem poder fazer nada. DC, por outro lado, era popular, tinha vários amigos, sobrinho do delegado, tinha algum respeito da Magali e era totalmente livre para paquerar quem quisesse.

“Um dia eu vou vencer, tenho certeza! Vou dominar o mundo e ninguém vai ficar no meu caminho!” ao pensar no seu plano, sua fisionomia distendeu um pouco e ele se sentia mais forte e animado a continuar. Ainda assim ele se ressentia por não ter condições de se aproximar mais da Mônica.

“O sapo e a estrela... que coisa. ah, peraí! Eu não vou ser um sapo a vida toda!” ao lembrar novamente do seu sorriso, sua vontade de lutar e vencer voltou redobrada. Ninguém ia segurá-lo.

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Ela se concentrou ao máximo e tentou novamente. Nada. Por mais que tentasse, Mônica não conseguia ler aquela partitura e tocar algo decente no piano.

– Ai, porcaria! O que eu vou fazer?

Seu estômago se contorceu quando ela se imaginou passando a maior vergonha na frente de duzentas pessoas. Por que diabos sua mãe alternativa foi metê-la naquela confusão. Não... a mulher não tinha culpa, pois só fez aquilo porque pensou que ela fosse mesmo capaz de tocar.

Só que ela não era, não sabia nada de piano e jamais tinha estudado música na sua vida. Como sair daquela confusão?

– Tá difícil, heim? – Durvalina perguntou espanando o pó dos móveis ali perto.
– E como!
– O que aconteceu? Você sempre tocou direitinho!
– Eu... eu não sei... ai, que droga! O que eu vou fazer? Já pensou se eu não consigo tocar na festa, que vergonha?

Durvalina não soube responder, já que não era capaz de entender o que se passava com aquela moça. Ela apenas continuou seu trabalho, já que era sua tarefa manter tudo aquilo impecável conforme D. Luisa gostava.


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