O Chamado das Borboletas escrita por Ryskalla


Capítulo 38
Capítulo 37 - Sentimento Sujo


Notas iniciais do capítulo

Capítulo conturbado que era pra ter saído bem antes, mas ok ç_ç Eu sou incapaz de fazer capítulos duplos, desculpem ç_ç Mas enfim, espero que gostem ;u; Qualquer erro cês me avisem pelo amor de Moros ;u; Amo vocês, abraços quentinhos s2



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Como se o mar não fosse ruim o suficiente, ainda havia o deserto.

Leharuin sentia o vento queimar seu rosto enquanto refletia se valia mesmo a pena toda aquela viagem. Utilizar asnos como meio de transporte era tão desgastante que o ladrão se perguntava se não seria melhor que fossem a pé. O capitão explicou que, apesar de teimosos, os asnos eram os únicos animais acessíveis para essa tarefa, pois conseguiam aguentar os castigos do deserto.

— Um camelo seria melhor, sem dúvida, mas eles foram extintos desde... bom, você sabe. E acredite, você não vai querer pisar em um escorpião-amaldiçoado. — O ladrão deu um aceno, cansado e frustrado com sua montaria. Eles se tornavam ainda piores quando estavam próximos de outros de sua espécie, o que os obrigava a andarem espaçados. Era uma viagem solitária, não que o ladrão se importasse tanto com o isolamento. Sendulum e Seamus estavam irritantemente entusiasmados, Enzo continuava o mesmo pirralho insuportável e Liese...

O que ele deveria fazer?

As palavras do pirata assombravam seus pensamentos e todas as tentativas de Liese manter um diálogo só o torturavam. Ele não sabia o que sentir. Seus sentimentos estavam tão tumultuados que ele duvidava conseguir encontrar alguma resposta. E aquilo certamente só a machucava. Pensando desse modo, ele quase agradecia ter uma desculpa para andar isolado dos demais.

O que ele sentia por Liese? Vê-la com Enzo lhe desagradava e sempre sentia uma vontade inexplicável de atrapalhá-los. Aquilo seria de fato ciúmes? E se Enzo estivesse com a razão? Se aquilo fosse apenas uma tentativa frustrada de preencher o vazio que havia em seu peito? Sua mente o torturava, relembrando da vez em que atacou a princesa. Como podia ser tão sujo? Seu desespero e culpa eram tão fortes que sentia vontade de gritar, como se aquele ato fosse capaz de assustar esses sentimentos.

O fato, é que nosso querido ladrão já não tinha certeza do que era amar alguém.

— Você está lastimável. — Era Seamus.

— Obrigado — respondeu em um tom contrariado. — Ótimo, agora que essa praga não vai mais me respeitar.

— Tente ser paciente com ele. Pense como deve ser trágico ser obrigado a carregar você. — Leharuin reconheceu a tentativa de Seamus de lhe animar, infelizmente, não estava com humor para brincadeiras. — Está preocupado com que o Vincenzzo disse.

— Eu já nem sei o que é amor. Como posso saber se ele disse a verdade? — A frustração tão presente em sua voz dava força às suas palavras. Ele quase podia sentir aquele sentimento o esmagando.

— Amor é algo que se sente. Não dá para entender. Você não precisa saber o que é o amor, apenas senti-lo.

— Nossa, muito obrigado. Acabou com todas as minhas dúvidas. Muito sábio você, o que eu faria sem a sua sabedoria? — resmungou em tom sarcástico o que, por alguma razão, fez com que o irmão risse. — Eu sequer sei o que sinto.

— Se soubesse não seria amor. — O asno de Seamus parou abruptamente e o ruivo por muito pouco não caiu.

— Viu? Nem o asno gosta das suas respostas — riu e puxou seu animal para longe do irmão, não queria que ele seguisse o exemplo do companheiro.

A viagem seguiu no mesmo ritmo cansativo. Houve um momento onde avistaram um oásis e todos ficaram entusiasmados, no entanto Sendulum informou que provavelmente não passava de uma miragem do deserto. O ladrão bem sabia da existência desses eventos visuais, frequentemente pensava ver Clara caminhando debilitada pelas areias. Felizmente, o capitão estava errado. Pararam para descansar, sempre tendo o cuidado de passar o bastão de madeira pela areia.

— Apesar de escorpiões-amaldiçoados não tenha o costume de ficarem perto de oásis, sempre é bom tomar cuidado — alertou com o cenho franzido enquanto inspecionava a areia..

— Ele realmente parece entender sobre o deserto. — O ladrão reprimiu um suspiro. Liese o encarava com seus olhos prateados, cheios de expectativas. Ele sabia que ela queria sua amizade mais do que tudo e o muro que ele estava construindo entre eles... era notável seu desespero em tentar quebrá-lo.

— É — comentou em tom banal e a frustração permeou os olhos da princesa. — Liese...

— Desculpe. — O tom infeliz daquela simples palavra fez com que ele se odiasse. A jovem se afastou, caminhando para perto de sua própria montaria. Enzo olhava para a cena com grande satisfação e Leharuin não conseguiu reprimir o impulso de mostrar-lhe o indicador. Gesto que o garoto da pólvora retribuiu com maldade.

Passaram a noite naquele pequeno paraíso. As estrelas pareciam ainda mais belas no deserto e nem o frio intenso estragava o prazer que o ladrão sentia em contemplá-las. Ele se perguntava se Liese estaria olhando para elas também, imaginava que a princesa não tinha tantas oportunidades de observar o céu noturno por culpa da vigilância constante e das regras estúpidas de segurança.

Deixou que suas pálpebras repousassem enquanto seus pensamentos corriam para os braços gélidos de Clara. Se o que estava escrito na carta era verdade, então a morte dela não foi algo natural. Só havia uma pessoa que poderia ter feito aquilo... porque o Pianista sempre odiou a Donzela Silenciosa. Agarrou um punhado de areia, numa tentativa de extravasar seu ódio. Não queria pensar em Clara... as feridas daquela perda não haviam cicatrizado ainda. Só em pensar no nome dela doía e ainda assim sua mente não se cansava de repetir.

Clara, Clara, Clara, Clara...

Ele via agora como a presença da princesa era reconfortante. Não havia dor em sua presença... talvez Enzo estivesse certo, talvez estivesse apenas usando Liese como um tipo infeliz de ópio e no fim acabaria machucando-a ainda mais. Não conseguia aguentar sua própria mente o torturando, seus olhos ardiam e seu nariz queimava sempre que respirava. O frio começou a lhe incomodar, pensamentos mórbidos o faziam imaginar o cadáver de Clara repousando acima dele. Virou para o lado, exausto demais para lutar e se permitiu chorar até adormecer.

Sempre temos a ilusão de que nos sonhos nosso sofrimento será substituído por algum sonho leve e feliz, algo que nos fará acordar de bom humor na manhã seguinte. Para a grande infelicidade de todos, não é sempre que somos privilegiados com esse refúgio. Às vezes os pesadelos são ainda piores que nossas próprias lembranças.

Em um mundo escuro, Leharuin ouvia a voz de Clara... e, como é comum nos sonhos, não parou para pensar que tal situação era impossível. Ainda assim, ouvia uma voz e acreditava que ela pertencia à Donzela Silenciosa. Ela gritava e chorava e nada do que o ladrão dissesse era capaz de acalmá-la. É sua culpa, é sua culpa, é sua culpa... Leharuin, por que me fez esperar tanto? Sua culpa, sua culpa, sua culpa...

Tentou correr, no entanto seus passos o levavam para aquela pequena ruela sem saída não importando para onde fosse. Não havia borboletas em seus sonhos... ele estava completamente sozinho com o cadáver dela. Sentiu a mão gélida em sua testa, até que, estranhamente foi ganhando calor. Havia outra voz e a razão começava a voltar.

Manteve os olhos fechados, apesar de já ter despertado. Sentia a mão delicada e pequena de Liese passear por seus cabelos sujos de areia. Ela murmurava alguma música que ele desconhecia, talvez algo que ela ouviu quando criança. Reprimiu a vontade de segurar sua mão, pois temia que ela fosse embora, apenas deixou-se ser embalado por aquela melodia e sem se dar conta de quando, caiu no mundo dos sonhos outra vez. Quando ele acordou na manhã seguinte, não se lembrava do que sonhou na noite passada... na realidade, acreditava que a canção de Liese e seu gesto carinhoso fizeram parte de algum sonho estranho.

Era sobre isso que pensava quando a primeira complicação da viagem surgiu: uma cordilheira. Não havia tempo nem suprimentos para darem a volta e, apesar de asnos se virarem muito bem subindo montanhas, era uma façanha perigosa. No fim, não houve muito em que pensar. Segundo Sendulum estavam com a benção de Moros e nenhum mal lhes afligiria. Quanto à subida, não há muito o que eu possa falar, devem imaginar o quão difícil e exaustivo foi para eles e o quão exaustivo e difícil seria descrever todos os detalhes dessa tediosa parte. Basta saberem que não houveram grandes acidentes, Seamus caiu em uma parte e arranhou a lateral do braço por culpa da sua montaria que, não satisfeito em não derrubá-lo da última vez, obteve sucesso em uma hora importuna.

O castelo ficava pouco após a montanha e levaram apenas duas horas para chegarem lá. Foi um alívio geral ao penetrarem naquelas ruínas.

Bom, isso até perceberem que o lugar não passava de um grande túmulo.

Diversos esqueletos estavam espalhados pelo chão, lembranças de um genocídio que a humanidade desejava esquecer. Algumas pilastras haviam desabado, assim como estátuas e partes do teto. Era uma construção colossal, no entanto... não havia muito para ver, seria perigoso demais sair para explorar e nenhum fruto seria colhido de tal esforço. Ao menos aquela era a opinião de Leharuin a respeito. Enzo, como a boa criança que era aos olhos do ladrão, não demorou muito para sair por aí, se aventurando pelas ruínas. Intimamente, o ladrão desejava que algum acidente lhe acontecesse.

Decidiram que passariam o resto do dia e a noite ali, Seamus e Sendulum saíram para procurar por algum poço com água. Acharam três inutilizados, mas após uma segunda busca encontraram um quarto, onde ainda era possível retirar um pouco d'água.

Enzo ainda não tinha voltado e Liese parecia preocupada. Ao pôr-do-sol, Cecille apareceu no castelo ao lado de um jovem mirrado de cabelos louros e um homem alto com o nariz um tanto torto, ele possuía cabelos castanhos bem escuros e ao julgar pela cor antiga dos cabelos da boneca, Leharuin poderia apostar que aquela estranha criatura havia finalmente encontrado seu mestre.

— Leharuin! — A boneca exclamou e correu para os braços do ladrão.

— Clareou os cabelos agora? — questionou com o tom de voz divertido e Cecille pareceu murchar.

— Não queria... mas meu mestre disse que eu deveria ficar parecida com aquele monstro. Pobre Cecille... — ela murmurou, infeliz. Ela olhou ao redor e sorriu. — Diga-me, quem são todos? Só me lembro do pirata... Sendulum... era esse o nome dele, não era?

— Sim era. Vejamos... esse é meu irmão, Seamus — disse enquanto apontava para o rapaz ruivo com o braço enfaixado. Então seu braço se moveu para Liese, ele sentiu algo dentro de si embrulhar um pouco. — Essa é Analiese, ou Liese, se ela te permitir chamá-la assim.

A boneca correu inesperadamente para perto da princesa, que pareceu se assustar.

— É o cabelo mais bonito que eu já vi! — exclamou encantada. Aquela humana poderia ser confundida com uma linda boneca de porcelana. Sabia que ela não estava de todo arrumada, seus cachos estavam rebeldes e sua pele pálida estava bem vermelha por causa do Sol forte e ainda assim... Cecille conseguia imaginá-la em seus melhores momentos, conseguia imaginá-la arrumada e perfumada. Estava tão concentrada admirando aqueles cachos que quase entrou em desespero quando se deu conta da forma como agira. — Ora, esses não foram os modos que meu mestre me deu! Completamente terrível, veja, não sou sempre mal educada assim. É que seus cabelos... oh, já estou me desviando novamente da boa educação! Um absurdo, você deve estar pensando. Eu me chamo Cecille e é um prazer conhecê-la.

— Ah... pra-prazer. — A pobre princesa estava quase que completamente atordoada. Era uma pessoa realmente estranha, aquela Cecille. Seus olhos encontraram os de Leharuin e ele lhe deu uma piscadela rápida. Aquilo lhe fez sorrir, principalmente porque fora um ato espontâneo do ladrão, que logo desviou o rosto, constrangido.

— Há também o Faísca, um pirralho abusado que sumiu. Com sorte ele caiu em algum poç... — O ladrão começou com o usual tom sarcástico, mas logo foi interrompido por Liese, que parecia chocada.

— Leharuin!

— Como eu ia dizendo, com sorte ele deve chegar logo. — E como se aquelas palavras fossem um ritual de invocação, o pirata loiro logo apareceu, pulando uma pilha de destroços. — Vaso ruim não quebra tão fácil...

— Prazer, Faísca! Meu nome é Cecille e estou encantada em conhecê-lo. — A boneca prontamente se apresentou, contudo, para a sua infelicidade, Enzo não estava com um bom humor.

— Meu nome é Vinccenzo, aberraçãozinha. — Ora, aquilo foi uma ofensa terrível para a pobre boneca e Leharuin, que há muito esperava por uma oportunidade para brigar novamente com o garoto da pólvora, se adiantou e o empurrou no chão.

— Peça desculpas — ordenou, apesar de calma havia uma força inquestionável em sua voz.

— A outra aberração resolveu tomar as dores da bonequinha... — Os olhos do pirata estavam vermelhos e Leharuin se perguntou se o garoto não estaria chorando escondido.

— Leharuin... — Liese murmurou, ela aparentemente também havia notado o estado de Enzo, além do fato de que ela não se lembrava sobre a real natureza da Cecille.

— Vai protegê-lo? — Suas palavras soaram mais agressivas do que gostaria. Liese recuou. — Peça desculpas.

— Não pode me obrigar... — Leharuin conseguia ver a força que Enzo fazia para controlar a voz. O que aconteceu com aquele garoto?

— Peça desculpas... ou direi a todos o lugar de onde você veio. — Aquela frase pareceu surpreender os presentes. Enzo soltou um sorriso debochado e passou a palma da mão no olho esquerdo.

— Porque você adoraria isso. — Sua voz já havia perdido o controle. Ele não era nada mais que um garoto irritadiço agora. — Muito bem, desculpe, Cecille.

A boneca apenas acenou, infeliz e o garoto voltou a se isolar em algum lugar. Mesmo quando Sendulum saiu atrás dele, o pequeno pirata o repudiou.

— Não encoste em mim! — gritou enquanto tornava a se afastar. Ninguém conseguia entender o motivo para tais atitudes.

O capitão e o mestre de Cecille pareceram formar uma sólida parceria, Seamus conseguia manter a atenção de Thierry, ainda que este se recusasse a sair do lado da irmã. A simples felicidade contida na ignorância... pois nenhum deles sabia o quão drasticamente suas vida mudariam em tão poucos dias... na realidade, apenas um deles tinha esse conhecimento, mas essa é uma história que alguém contará em meu lugar.

E por mais que minhas palavras sempre sejam voltadas para os finais, há sempre um vestígio de início. Pois a vida para mim nada mais é que um término cheio de começos. Um ciclo interminável de dor e prazer que se entrelaçam até se tornarem um único sentimento, até se tornarem indecifráveis.

Imagino que queiram entender a confusão na mente do nosso querido ladrão, vejam bem, quando todo o alvoroço da chegada de Cecille e sua família terminou, ele novamente estava entregue aos pensamentos que insistiam em torturá-lo.

O fato é que Liese também queria entendê-lo. Porém não foi ela quem o procurou. Não, Liese estava sentada em um dos poucos bancos sobreviventes no jardim maltratado, que um dia certamente foi muito belo. A princesa estava com a cabeça abaixada e seu corpo tremia ligeiramente por causa do frio. Leharuin acreditou que ela estivesse chorando.

— Liese? — perguntou com cuidado após se aproximar.

— Hm? — ela virou a cabeça, distraída. Arrumou a postura imediatamente após encarar o rosto do ladrão. — Precisa de algo?

— Não... eu achei que estivesse... triste. — Seu olhar fugiu para o refúgio das estrelas. Sabia que deveria enfrentar seus sentimentos conflitantes.

— Ah, eu estava admirando a noite. Gosto das noites no deserto, de alguma forma... elas me fazem lembrar de casa. — Parte dele queria ir embora, a outra parte apenas estava desesperada pela companhia da princesa. — Fico feliz que tenha se preocupado comigo.

— Por que parece surpresa com minha preocupação? — Sentiu seu cenho franzir e tornou a encará-la, confuso.

— Eu fico pensando em você... quero dizer, eu tento te compreender. Não que eu não pense em você de outras maneiras, é que... — ela respirou fundo, o rosto tingindo-se de rosa. — Eu imagino o quão difícil deve ser para você confiar em mim. Às vezes eu penso que talvez no fundo você me odeie, digo, você precisava de um amigo para falar sobre Clara. Henry seria o ideal, porque ele passou pelo mesmo... mas, não foi exatamente assim, não é? Eruwin me contou. Ele tem pesadelos com uma moça chamada Evangeline e Eruwin o fez falar. Foi assim que ela descobriu.

— Eu não odeio você, Liese. — A incredulidade estava estampada em seu rosto. Como ela poderia pensar em tamanha bobagem?

— Então você não poderia falar com o Henry, já que isso só iria machucá-lo. Seamus ainda é como um estranho para você — ela continuou como se o ladrão nada tivesse falado. Ele não conseguia ver os olhos dela. — Eu fui a única que sobrou para te consolar e então fiz a idiotice de me apaixonar... você ficou todo esse tempo sozinho. Não poderia pedir ajuda sem machucar ninguém.

— Liese! — exclamou com firmeza e a segurou pelos ombros. Sol e Lua se encontraram e a Lua chorava silenciosa. — Eu não odeio você. E eu confio em você, é minha melhor amiga. Que ideia absurda é essa?

— Eu não sei se confiaria... — um soluço a interrompeu e aquilo pesou em seu coração. — Você é o filho de uma sereia, não é? É fácil para você acreditar que eu estou apenas encantada. Que o meu amor não é verdade. Ora, nem no amor do Enzo você acredita e...

Um súbito beijo a interrompeu. Era delicado e carinhoso e Liese, que era uma completa inexperiente no assunto, não soube o que fazer. Nenhum dos livros de romance que sua mãe tanto apreciava a ajudaram naquele momento.

A lembrança do garoto do cais foi a responsável por tal ato impensado. Ele não queria sentir-se daquela maneira outra vez. Não queria acreditar que, por ser filho de sereia, deveria desconfiar até do mais puro ato de amor. Porque a princesa tocou exatamente na ferida, mesmo que não fosse o amor dela o alvo de suas dúvidas. Era o amor que ele próprio sentia e estava cansado de lutar contra ele.

— Eu te amo, princesinha... — Palavras que eram quase inaudíveis foram sussurradas assim que seus lábios se separaram. O peso do arrependimento já não existia, apenas a culpa. Como seriam seus destinos se Clara ainda estivesse viva? Ele amava Clara e amava Liese. Eram amores conflitantes que ele aceitou abrigar em seu coração. Não havia sentido, a situação de Henry não servia de exemplo?

Não.

Porque Evangeline estava viva.

Como um sentimento podia ser tão sujo e tão belo?

E por mais que a mente de Liese lhe amedrontasse afirmando que Leharuin apenas sentia pena de sua situação lastimável, por mais que lhe parecesse correto dizer para ele... a princesinha não conseguiu. Ela ansiava pelo carinho presente nos lábios de Leharuin, ela desejava abraçar o egoísmo. Porque naquele momento ela não ligava para Clara e sim para as palavras do ladrão.

Eu te amo, princesinha.

O amor nos torna covardes, foi o último pensamento da jovem antes de se deixar entregar completamente àquele sentimento.


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