O Chamado das Borboletas escrita por Ryskalla


Capítulo 37
Capítulo 36 - Após o Final Feliz


Notas iniciais do capítulo

O que tenho a dizer sobre esse capítulo? Amém! Eu irei tentar postar um novo capítulo entre hoje e amanhã, pra pedir desculpas pela demora. Eu ia falar só mais dois capítulos, só que ainda faltam três. Às vezes me pego desejando nunca acabar essa fic, porque tenho leitores tão maravilhosos ;-; Queria manter vocês comigo pra sempre, mas tudo tem um fim, infelizmente :c É isso, abraços quentinhos



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Eis que agora irei mostrar a vocês, meus amigos, o que ocorre após o felizes para sempre.

Há dois tipos de pessoas no mundo: Aquelas que buscam desesperadamente o felizes para sempre, pois acreditam que assim seus problemas findariam e aquelas que sabem que o fim desse livro que chamamos de vida é a morte. Se ela será feliz ou triste, não há como saber. Não existe tal recompensa de que após conquistar uma batalha sua vida será melhor pela eternidade. Imagino que muitos de vocês conheçam Cecille bem o suficiente para saber o tipo de pessoa, ou boneca, ela é.

Logo, a boneca não poderia estar mais desapontada com o rumo do seu destino. Tinha seu mestre de volta? Sim. Conseguira salvar seu irmão? Também. Estava bonita outra vez? Absolutamente. No entanto... do que adiantava ser linda se ela não podia ser ela mesma? Aquela máscara que a obrigaram a usar lhe desagradava terrivelmente Odiava ser a Princesa Gisele e odiava não poder passar tanto tempo com seu irmão e seu mestre. Ambos ficavam horas trancados em uma sala proibida para ela e por mais que ela entendesse que aquilo era importante para o reino, bem, Cecille podia ser egoísta o suficiente para se aborrecer com eles.

Trancada em seus aposentos, seu lugar favorito quando estava triste, Cecille olhava tristemente para sua caixa de tintas. Queria pintar, mas não era permitido... a Princesa Gisele não deveria se sujar e era desgastante para seu mestre limpá-la o tempo todo. Estava proibida de correr todo o tipo de risco, pois seria terrível para todos se sua perna desmontasse e outras pessoas vissem.

Richard frequentemente a visitava e tentava animá-la, as conversas eram agradáveis, mas a boneca sentia falta de passear pelas ruas. Quem poderia imaginar que seu final feliz fosse parecer mais com uma prisão?

— O reino está um caos, Ceci. Eles não dizem porque não querem te ver preocupada. Claro que está bem melhor que tempos atrás, só que as pessoas não se adaptam fácil assim... — O loiro lhe explicava. Ele era o único que parecia lhe considerar importante o suficiente para dizer como as coisas estavam. — Há pessoas... revoltadas. Não aceitam abrir mão de Moros, todos têm medo...

— De que Moros os castigue? — Ora, quem estava revoltada agora era ela! Estava condenada a passar boa parte do seu dia sozinha por culpa dessas pessoas que insistiam em dar trabalho para seu mestre e para seu irmãozinho.

— Não, Ceci, bom... isso também. Houve um tempo em que um reino se virou contra Moros... Ninguém gosta de falar dessa guerra e por isso não sei grandes detalhes. Todos gostam de acrescentar um ponto na história, outros acrescentam uma frase inteira... só que há algo que todos parecem concordar. — ele deu uma pausa e olhou para os lados, como se temesse estar sendo ouvido. — O reino de Themaesth foi extinto. Os themaesthianos morreram, não sobrou nenhum. Foi o castigo que Moros escolheu, dizem.

— Isso é terrível — murmurou, mesmo que fosse incapaz de compreender o quão terrível, de fato, aquilo era.

— Sim, é. Seu mestre quer impedir que isso aconteça com Anankes, mesmo que a ameaça de guerra tenha desaparecido, o clima entre a Tríade não está muito agradável.

Tais palavras faziam sua cabecinha de pano pensar, ela odiava Moros, mesmo que detestasse ter que odiar alguém. Não conseguia encontrar motivos para alguém ser tão cruel. Qual era o problema em fazer as pessoas felizes? Claro, isso até receber a carta.

Foi em uma tarde, a boneca estava em seu quarto com Coraline, a criada. Cecille realmente apreciava sua presença e a considerava uma grande amiga, talvez até mesmo sua melhor amiga. Aquilo era algo que a pobre criatura não conseguia decidir. Coraline possuía uma aparência misteriosa, não parecia pertencer a criadagem. Dizia vir de uma ilha distante, próxima de Delfinos, contudo não a mesma ilha onde moravam os canibais.

— Canibais? — questionou, confusa.

— Pessoas que comem outra pessoas — respondeu com seu sotaque carregado e Cecille ficou abismada com aquela informação, mesmo incapaz de entendê-la.

— Eu sou uma boneca, então não posso comer nada. Acho triste humanos comerem animais, só que eles precisam, não é? Canibais são mais insensíveis que pessoas normais, suponho, mas devem precisar comer outras pessoas, se não tiverem nada além pra comer... será que existem humanos que comem bonecas? — Aquela última pergunta veio carregada de pavor e arrancou uma risada rouca da mulher. Evidentemente, Coraline era a única que conhecia seu segredo na criadagem, mesmo que Rick falasse que não era exatamente sensato contar, a boneca simplesmente não conseguiu evitar. O que a fazia lembrar... — Espere, Richard é canibal? Lembro-me dele falando com Pérola que iria comê-la, só que não vi sentido em tal coisa. Pensei que havia escutado mal.

— Ele estava fazendo brincadeira com Pérola. Dar um susto, o senhor Richard não é canibal. — Por alguma razão, a criada pareceu transtornada com aquilo. Talvez fosse uma das inúmeras namoradas de Rick, assim como Pérola. Recordou a vez que Richard lhe explicou o que era uma namorada, disse ser alguém que você realmente gostava. A boneca não tinha certeza de que ele havia falado a verdade, pois quando lhe perguntou se poderia ser sua namorada, ele logo desconversou e alegou que eram amigos e que amizade era um grau maior que o namoro. Certamente havia algum segredo obscuro, porém Cecille adorava segredos e gostava de guardá-los, mesmo que não fosse muito boa nisso.

Uma das coisas que a boneca adorava fazer com Coraline era pentear seus cabelos negros. Odiava o tom de castanho que o mestre lhe dera e sentia saudade da sua cor antiga. A pele da criada possuía uma estranha cor acastanhada que Cecille adorava. Não era um tom de moreno... era uma cor que beirava o dourado e ela gostava de dizer que Coraline era uma mulher de ouro.

Sim, se não fosse pela presença da criada e de Rick, Cecille provavelmente teria caído numa profunda tristeza. Ainda estava remoendo a informação que recebera a respeito dos canibais quando uma pomba branca pousou em sua janela.

— Duas carta, Alteza — A empregada anunciou e a boneca correu ao seu encontro. Quem lhe enviaria cartas? É difícil imaginar uma expressão mais surpresa quando a boneca descobriu seu remetente.

— Mas veja só! Que atrevimento! — Pessoas normais se questionariam se tudo aquilo não passava de uma brincadeira. Afinal, pessoas sensatas não acreditaram que Moros lhe enviaria alguma correspondência. Felizmente, Cecille era uma boneca e a boneca mais ingênua existente.

Coraline se afastou, para lhe dar privacidade e a boneca sentou-se em sua cama, pensativa enquanto lia as palavras daquele deus que ela acreditava ser tão injusto.

 

Cara Cecille,

Desejo dizer a você que não sou tão cruel quanto pensa, arrisco dizer que adoraria minha existência, se a conhecesse verdadeiramente. Não é usual, para mim, enviar cartas e se faço isso é porque me importo com você e com seus amigos. Se me fosse permitido, nenhuma tragédia abalaria o mundo... mas meu poder é limitado e eu pouco posso fazer para espalhar a felicidade. No fim os próprios humanos são os responsáveis pelas suas desgraças, são livres para tomar suas próprias ações. Não sou um tirano, não castigo quem me desobedece e sim assisto com grande tristeza toda essa confusão.

Até aqui, posso saber que ainda está desconfiada. Está pensando se minhas palavras são verdadeiras e agora está levando a mão até sua boca, por estar espantada. Poderia narrar todas as suas ações nessa carta, contudo o tempo está escorrendo de minhas mãos tal como uma água límpida e preciosa.

Preciso que vá até o reino de Themaesth, falando de maneira precisa, até o castelo real. A segunda carta você irá pedir para que Enzo entregue a Leharuin, que também deverá participar da viagem, maiores detalhes estarão na carta que será entregue a ele. Agora você está se perguntando como fará para convencer o seu mestre de que estou falando a verdade. Quando digo que não estou ofendido com sua falta de confiança, estou dizendo a verdade. Consigo imaginar o quão difícil deve ser acreditar em mim, mesmo para você, que sempre tenta ver o melhor nas pessoas. Tenho certeza que quando reler essas palavras irá me compreender melhor. O desespero em tentar ajudar, o pesar do fracasso, o desejo pelo alívio que as lágrimas parecem oferecer... no futuro isso será de grande ajuda, quando você houver perdido a esperança, lembre-se de que lutei até o fim para lhe dar esse poder de mudar o destino.

Desculpe, estou fingindo do ponto. Minhas palavras seguintes serão para seu mestre, querida Cecille, peço para que o encontre imediatamente. Se sair de seu quarto agora, conseguirá encontrá-lo no pátio, ele estará conversando com um dos guardas. Seja rápida, peço para que pare de ler assim que terminar esse parágrafo. Sei que é uma boneca educada e que é capaz de vencer a curiosidade, acredito em você e com essas palavras eu dou o meu adeus.

Quão grande foi o esforço para conter seus olhos? A boneca respirou fundo algumas vezes, mesmo que não precisasse. Algo em sua cabecinha de pano encontrava sentido naquela ação desnecessária. Ela correu imediatamente pelos corredores, deixando para trás uma confusa Coraline.

O caminho lhe pareceu interminável, no entanto aquilo lhe foi útil. Enquanto corria, Cecille começou a pensar. E se seu mestre brigasse com ela? Uma carta não seria o equivalente a falar com estranhos na rua? Existiam tantas verdades naquelas palavras... como poderia não acreditar? Quando encontrou seu mestre, já não estava tão certa se deveria ou não entregar a carta. E talvez ela jamais entregaria, mas aquela frase... lembre-se de que lutei até o fim para lhe dar esse poder de mudar o destino.

— Mestre... — murmurou, tímida. Sentia-se uma criança ingênua quando lhe entregou a carta. Inicialmente, ele exibiu uma expressão confusa que foi aos poucos desaparecendo até assumir uma expressão de completo terror. Levou algum tempo para que ele visse a expressão preocupada da boneca. Quando viu, deu um leve sorriso e bagunçou os cabelos claros que ela tanto odiava.

Foi só naquele momento que ela teve a segurança de que tudo ficaria bem.

Ah, se Cecille soubesse das coisas que eu sei...


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