O Chamado das Borboletas escrita por Ryskalla


Capítulo 36
Capítulo 35 - M de Moros


Notas iniciais do capítulo

Demorou mais saiu, esqueci completamente dos dias da semana! Passou tão rápido que quando vi já era sexta, tipo, como? Passei a madrugada acordada pra terminar esse capítulo x_x Irei viajar e devo voltar apenas na quinta, aí tentarei correr com o próximo capítulo e com os comentários. Até cogito responder pelo celular... Mesmo que odeie digitar por lá x.x Bom, quero dedicar o capítulo à linda da Flora com essa recomendação maravilhosa que ela enviou S2 Espero que goste :3 Abraços quentinhos e até quinta provavelmente.



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Era a primeira vez que viajava de navio.

O reino de Carlihoe ficava no mesmo continente, uma exaustiva viagem de carruagem era o suficiente para levá-los até lá. Nunca precisou navegar e, mesmo com a notícia alarmante que recebera de seu irmão há três dias, a princesa exilada não poderia estar mais entusiasmada.

Enzo passou a tarde ensinando à princesa vários termos que os piratas usavam e mostrou cada canto do navio. Sendulum passou a tarde dando serviços ao garoto da pólvora, mas ele sempre dava um jeito de passar mais tempo com o alvo de seu afeto o que, por outro lado, rendia comentários sarcásticos feitos por Leharuin. Entretanto, Enzo ignorava completamente a presença do ladrão o que, sob a perspectiva de Liese, havia tirado todo o prazer que Leharuin sentia. Ela ainda não sabia se ficava orgulhosa ou frustrada com aquela posição do pirata. 

E a cada comentário que Leharuin fazia, uma pequena chama acendia em seu coração. Ora, talvez ele esteja com ciúmes...

A brisa noturna lhe tranquilizava, ao contrário de muitos viajantes de primeira viagem, a princesa não sentiu desconforto algum o que era um claro motivo para Enzo fazer comentários esperançosos sobre como o destino dela estava em navegar com ele pelo mar. Ele seria o capitão e ela sua princesa. Tais comentários lhe arrancavam sorrisos indesejados, pois podia imaginar com grande vivacidade aquela cena. Enzo de fato era encantador, mas não era ele quem ela amava.

A última visita que recebeu de seu irmão encheu sua cabeça com perguntas. Ao que tudo indicava, seu pai havia enlouquecido e o rei de Carlihoe queria matá-la.

— O que você fez foi uma grande desonra para a família real de Carlihoe... papai não queria permitir, mas parece que ele perdeu a cabeça. Não para de repetir que você será a princesa de Moros, a princesa que Moros escolheu para guiar a humanidade pro lugar. — Como ele havia crescido! Ela quase se esquecera de como as mãos dele tremiam ligeiramente sempre que Alexis ficava nervoso. — Estão tentando esconder que você foi deserdada... papai não quer voltar atrás. Eu não entendo... como ele pode dizer que você será a princesa de Moros se você já não possui mais esse título?

E agora, ao que tudo indicava, estava indo encontrar com o deus que fora responsável por todas as desgraças em sua vida. Não conseguia odiá-lo... se ele era o responsável pelas coisas ruins, também seria responsável pelas boas.

— No que está pensando, princesinha? — Deu um salto, assustada. Não era a voz de Enzo e sim de Leharuin. Virou-se para encará-lo e ele lhe sorriu docemente. — Desculpe, costume.

— Em Moros. — O ladrão torceu o rosto e ela sorriu. Não queria contar sobre a conversa com Alexis, era um segredo que ela gostaria de manter. — Todos parecem culpá-lo por tudo de ruim que acontece... porém poucos são os que agradecem por tudo de bom que ocorre. Ele deveria ser o responsável pela sorte, não é?

— Prefiro culpá-lo. Foram poucas as coisas boas em minha vida. — Os olhos dourados encaravam algum ponto distante no mar. Seu rosto estava meio abatido, o que Liese considerava ser engraçado. Um filho de sereia que se enjoava no mar. — Ainda assim, creio que seja mais fácil culpar alguém além de nós mesmos. É mais agradável acreditar que não é nossa culpa. Culpei Moros por tempo demais pela morte de Clara, mas sei que a maior parte da culpa é minha, por tê-la abandonado.

— Não pense assim... deve haver uma razão — murmurou em tom infeliz, o fantasma mudo voltou a assombrá-los. Era um dos motivos para odiar a si mesma... pensar em Clara como um fantasma desagradável.

— Cecille costumava dizer que Moros é um deus injusto. Pois ele levará crédito por qualquer coisa que façamos direito e tudo o que fizermos de errado... bem, foi um castigo que ele nos lançou. — E como se adivinhasse que Liese não conseguia se recordar do nome, ele explicou com um sorriso. — Cecille, a boneca de pano. Em teoria deveríamos chamá-la de princesa Gisele... Não sei como está aquela cabecinha de vento agora. Ela passou por muita coisa.

— Liese, está na hora da laran... — A frase do jovem pirata apaixonado morreu em sua garganta. Lançou um olhar furioso para o ladrão que lhe sorriu debochadamente.

— Obrigado pela laranja. — disse enquanto a roubava de sua mão. — Agora a criança deixa os adultos conversarem.

— O capitão tem pego muito no meu pé, mas estou na minha folga. — Evidentemente, o ladrão não poderia ignorar tamanha falta de educação, veja só. Segurou a cabeça loira de Enzo e tentou forçá-lo a se virar. — Mas que merda, sereiano! Tira a mão de mim.

— Eu disse que a criança deve deixar os dois adultos conversarem. — Liese suspirou, nessas horas ela não saberia dizer ao certo quem era a criança ali. — E já é tarde, não está na hora de procurar o capitão para pegar outra parte do seu corpo?

— E não está na hora de você correr pro seu travesseiro para chorar pela pobre mudinha que você abandonou? — A princesa conseguiu segurar o ladrão no momento certo. Lançou um olhar ofendido a Enzo, que pareceu minguar. — Não entre em batalhas que não pode ganhar.

— Isso vale para você também, imagino. Essa sua batalha já está perdida. — Leharuin respondeu em tom divertido. — Sempre será o garoto do capitão, Faísca.

— Não se eu conquistá-la. — Suas palavras saíram entredentes, a princesa nunca vira ninguém com tanta raiva antes, talvez Eruwin, mas não havia como ela ter certeza.

— Não vai conquistá-la. Ela não é um prêmio ou uma terra sem dono. Você mal a conhece. — O tom do ladrão ia pouco a pouco perdendo a diversão. Seus olhos estavam sérios e por alguma razão a princesa sentiu seu rosto corar violentamente. — Pare de importuná-la com seu romantismo barato. Ela já disse que não quer ficar com você. Se a conhecesse saberia respeitar isso.

— E suponho que você a conheça. — Era como se a presença de Liese tivesse sido completamente esquecida. Os dois se encaravam tão intensamente que parecia que uma briga seria inevitável. Ela não tinha certeza se conseguiria segurar os dois. Avistou Seamus ao longe, mas ele não parecia estar prestando atenção na tempestade prestes a se formar ali. — Se um pirata não pode conhecer uma princesa, por que um ladrão poderia?

— Achei que conhecesse, porque ela sempre foi fácil de ler... — ele desviou o olhar e tornou a fitar um ponto perdido no mar. Ficou um tempo calado, como se estivesse refletindo sobre o que dizer. — Mas ela é mais forte do que eu pensava e é capaz de esconder o que sente quando precisa. O que eu conheço de Liese como minha melhor amiga é que ela nunca me abandonou, nem quando eu mereci. Odeia injustiças ou que tentem dizer o que ela deve ou não fazer. Ela não é perfeita, ela é... humana. E tem sérios problemas em confundir falsidade com altruísmo.

— Você é uma pessoa injusta, sereiano. — As mãos do garoto da pólvora tremiam e a jovem não conseguiu deixar de se lembrar de seu irmão. — Nós dois sabemos que ela é apaixonada por você. Nós dois sabemos que você ainda ama a Clara e que talvez jamais venha a esquecê-la e ainda assim se porta desse modo.

— Eu só não o considero um bom destino pra ela. Não acredito que esse amor que você diz sentir seja verdadeiro. — Mas Enzo estava balançando a cabeça em sinal de negação.

— Não serei eu quem irá magoá-la. Você dá esperanças para ela, sereiano. Esperanças de que um dia irá amá-la. — A princesa deu um passo para trás, porque aquele era um medo que ela tentava reprimir. A lembrança dos lábios de Leharuin tocando sua pele fez com que ela se afastasse outra vez. Podia sentir o quão frágil seu coração poderia ser... não conseguia encontrar a força que o ladrão alegava que ela possuía. — Há um vazio em seu peito e você quer usá-la para preenchê-lo. Só que ela não é a Clara, nunca vai ser. Ela não se encaixa.

Quando percebeu, estava correndo para longe dos dois. O lado ruim de se estar em um navio, era que não havia tanto espaço para fugir de alguém.

Não sentia vontade de chorar, apenas o desespero. Talvez fosse o desespero por não estar chorando e assim não poder aliviar sua tristeza. Cecille entenderia bem e seria uma excelente amiga naquela hora, infelizmente Cecille não estava presente e por isso Liese tinha que lidar com sua dor sozinha. Abraçou seus joelhos finos e escondeu seu rosto pelo tempo que lhe pareceu uma eternidade, até que alguém lhe cutucou e ela ergueu a cabeça. Era o segundo susto que tomara naquele dia, porém não era Enzo, tão pouco Leharuin.

— Quer chorar com um amigo? — perguntou Seamus, solidário.

— Não estava chorando. — Em seu embaraço e desespero, a princesa percebeu o quão rude fora sua voz. Seamus comprimiu os lábios e ela suspirou. — Desculpe, não quis ser rude, eu realmente não estava chorando... por alguma razão não consegui.

— Hmm... — o ruivo murmurou e sentou-se ao seu lado. — Pedi para que Leharuin não viesse atrás de ti e conversei com Enzo, fiz mal?

— Não, creio que tenha sido melhor ficar um pouco sozinha. — respondeu com sinceridade e deu um breve sorriso. — Você ouviu?

— A briga? Não, estava conversando com o Abre-Rolha. Leharuin e Enzo explicaram a situação, os dois pareciam meio abalados... foi a primeira vez que os vi em um consenso. — A voz calma de Seamus de algum modo lhe tranquilizava. Era um bom ouvinte e sabia respeitar seu silêncio. — Embora briguem por você, nenhum deles teve a intenção de te machucar.

— Ninguém briga por mim, ao menos não seu irmão — buscou disfarçar o tom infeliz, contudo não obteve sucesso. Sem nenhum aviso, Seamus pegou sua mão e virou sua palma para cima, passou o dedo indicador pelas linhas e fez uma expressão feliz.

— Uma vez, quando eu era pequeno, conheci uma moça que dizia ser capaz de ler a mão de uma pessoa. É engraçado, não é? Dizia que cada linha era um vestígio do Livro de Moros para que pudéssemos seguir corretamente nosso destino. Meu pai não gostou nada, chamou de adivinhação e que contrariava as leis de Moros. — Ele continuou a deslizar com o dedo pela palma miúda da jovem. Parou então na linha mais próxima aos seus dedos, sorrindo. — Você será feliz no amor, apesar do sofrimento.

— Onde está escrito isso? — Levou a mão próxima aos olhos, buscando por palavras invisíveis ou mesmo se as linhas pareciam formar letras. Aquela atitude fez Seamus rir.

— Não li. Quando a moça leu minha mão, disse que minha carga seria aliviada e que eu não estaria sozinho. Primeiro, interpretei que essa previsão se referia a poder passar mais tempo com meu pai. Hoje vejo que ela estava falando de Lily. — Ao ver o cenho franzido de Liese, ele deu de ombros. — De acordo com meu pai, ela era uma mentirosa e que é impossível ver o futuro apenas olhando a mão de alguém. Se isso é verdade, a previsão dela deu certo para mim, então por que a minha não poderá dar certo para você?

— Obrigada. — sussurrou e continuou a encarar a palma da mão, como se as linhas pudessem lhe revelar algum segredo, como se Moros pudesse lhe dar algum sinal de que as palavras de Seamus pudessem ser verdadeiras.

— Temos um mês de viagem pelo mar e provavelmente outro pela terra. Dê tempo a ele. — Não precisava perguntar de quem ele falava, Liese sabia perfeitamente a quem ele se referia. — Veja Henry e Eruwin como um exemplo.

— Mas ela é uma sereia, cedo ou tarde ele cederia... eu sou apenas... eu. Nem o título de princesa eu tenho para poder dizer que sou alguma coisa. — Novamente o rapaz comprimiu os lábios, ação que a jovem julgava ser uma mania.

— Veja, algo que me dá esperança em relação aquela moça, é isso. — Seamus tentou fechar a mão de Liese, no entanto manteve os dedos levantados para que ela pudesse ver sua própria palma e o que as linhas formava.

— Um M... — ela começou a dizer, mas foi prontamente interrompida pelo filho de sereia.

— De Moros. Se o que ela me disse era verdade, você vai sim ser feliz na sua vida amorosa. Sua linha do amor começa no indicador. — Franziu o cenho, pensativo e então balançou a cabeça em sinal afirmativo. — Tenho certeza de que é esse o significado.

— Lily teve sorte de encontrar você. — Levantou-se com cuidado, o navio estava balançando bastante. — Eu não tenho certeza se quero que as linhas sejam verdade... é cruel porque... é como se Clara tivesse morrido apenas porque elas dizem que serei feliz no amor. Porque sou incapaz de me ver feliz ao lado de qualquer pessoa que não seja ele. Minha sorte dependia da morte de outra pessoa. No fim, a culpa é minha por ter me apaixonado por ele.

Os olhos de Seamus estavam carregados de tristeza e ela não conseguiu sustentar seu olhar por muito tempo. Ninguém poderia consolá-la quanto a isso. Se era da vontade de Moros que ela se casasse com Leharuin, por que havia criado a existência de Clara?

Pensando por esse lado, o ladrão tinha razão. Era bem mais fácil culpar Moros.


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Notas finais do capítulo

Já sabem, qualquer erro ou palavra trocada: Me avisem. Tô meio zoada já, quando fiz a revisão encontrei a pérola "intensavamente" tipo, wat? É o sono, por isso: Avisem, por favor ;n;



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