O Chamado das Borboletas escrita por Ryskalla


Capítulo 34
Capítulo 33 - Quebrando


Notas iniciais do capítulo

SIM DEMOREI MUITO, DESCULPEM! Não teve nenhum contratempo extra, acho. Já falei tanto sobre as desgraças que aconteceram esses dias que nem lembro se cheguei a compartilhar com vocês. Creio que falei da minha gata que sumiu, o que seria novo é a falta de luz e a falta d'água. Enfim, tanto azar me fez ficar desanimada e bem, eu não tinha vontade de escrever, ainda mais um capítulo pesado como esse. Não estou exagerando em dizer que fiquei um pouco enjoada escrevendo, sempre tenho a sensação de que poderia ter feito melhor... Bom, isso vocês irão me responder. Quanto aos comentários, eu já nem tenho cara pra pedir desculpas, porém ainda deixo minha promessa de que responderei todos. É isso, queria agradecer a Anya pela super recomendação que ela deixou, e por isso dedico esse capítulo a ti, mesmo que seja estranho. Queria fazer capítulos felizes pra dedicar as recomendações, mas calham de vocês enviarem justamente nos capítulos tensos D: Bom, obrigada gente, por não abandonar a história. É graças a vocês que eu consigo continuar apesar das porradas que a vida tem me dado x-x Abraços fresquinhos!



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Meredith caminhava silenciosamente pela mansão, seus olhos claros já estavam tão acostumados com a penumbra que poderia dizer perfeitamente onde se encontrava cada móvel ou cada vítima infeliz dos acessos de raiva do pobre defunto adormecido lá em cima.

Nossa assassina, que não sabe que estamos bisbilhotando, subiu pela escada coberta por uma grossa camada de poeira. Em seus pensamentos havia questionamentos banais sobre se Aubrey alguma vez tentou colocar o lugar em ordem, chegou à conclusão de que, em algum momento, ele tentou. Porém o desespero o fez desistir, pois percebeu que não havia sentido em limpar uma mansão abandonada. Pensou também em perturbar o corpo do garoto, talvez espetá-lo com uma agulha ou enfiar a faca em seus dedos. Fez aquilo duas vezes, contudo o rapaz era tão cheio de cicatrizes que sequer se deu conta. Era isso ou talvez apenas não se importava com o jeito da jovem.

Quando chegou no quarto, ficou observando as feridas de Aubrey cicatrizarem enquanto amanhecia. O rapaz estava prestes a acordar, ela podia ver suas pálpebras inquietas. Era como se estivesse acordando de um pesadelo para cair nos braços de outro.

Os olhos azuis fitavam o lugar como já fizera inúmeras vezes ao longo dos seis meses. Poderia dizer que havia decorado cada grão de poeira que havia no lugar. Sentou-se na poltrona imunda e desviou o olhar para a janela quebrada. Hoje completaria oito meses desde que revelou a verdade ao pobre garoto.

O ruivo foi embora ao lado de Leharuin, isso ela lembrava, de como eles partiram em um navio pirata e a confusão que se seguiu no reino de Anankes depois. Ninguém queria aceitar a troca da moeda, acreditavam que os impostos triplicariam. O rei, no entanto, triplicou os empregos. Os guardas recebiam mais ouro que o normal, uma vez que ainda havia a ameaça de guerra. O reino de Carlihoe não era conhecido pelo perdão... houveram muitas rebeliões, contudo elas diminuíram consideravelmente. Agora o problema eram os roubos...

— Meri... — A voz de Aubrey a chamava. Odiava ser chamada assim. Respirou fundo e tornou a olhar para o garoto. Os cabelos ressecados que iam até seus ombros escondiam parte do rosto fino. Por quatro vezes Meredith falou para ele que deveria cortar o cabelo, pois sempre seria confundido com uma garota se o mantivesse naquela altura, e ele sempre negava alegando que, por ser ondulado, só iria piorar sua aparência. — Você realmente odeia Moros tanto quanto eu?

— Sim — respondeu exausta. Ele fazia aquela pergunta todas as manhãs e ela sabia o que viria depois daquilo. Em um apelo carente, ele iria pedir para que ela permanecesse ao seu lado, porque ambos foram desgraçados pelo destino.

— Hmmm... — Ora, aquilo era diferente. Seus olhos castanhos estavam queimando em fúria. — Iremos viajar para matá-lo. Sou leve, pode me carregar enquanto eu estiver morto.

— O quê? — perguntou atordoada. Não era possível matar um deus. Moros poderia escrever a morte deles naquele momento.

— Na época em que morri pela primeira vez, o reino de Theamesth ainda existia. Dois anos após minha primeira morte eles entraram abertamente em guerra contra Moros... houveram boatos, naquela época de que o maldito ficava escondido em uma torre. — Sua fala era lenta, não por parecer ter dificuldade em lembrar... não, Meredith suspeitava que o garoto se imaginava chegando na torre e matando o ser que lhe causara tanto mal durante tantos anos. — Essa torre fica em uma ilha na costa do reino. Podemos ir até lá e matá-lo.

— Garoto, eu não tenho certeza se é possível matar um deus. — Aubrey a olhou e pela primeira vez, ela se sentiu desconfortável com aquele olhar. Seu coração começou a bater mais depressa e ela segurou os braços da poltrona com força.

— Não vai querer matar o último? — ele indagou docemente, sua cabeça estava ligeiramente tombada para a direita.

— O último o quê? — Mas ela sabia que não havia sentido perguntar aquilo. De alguma, ele forma tinha conhecimento sobre o seu passado.

— Quantos eram naquele dia? Dez? Quinze? — Ela não conseguia disfarçar o quanto aqueles números a perturbavam. Eles a levavam de volta àquela cena... eles faziam com que ela lembrasse da dor. — Vinte? Dezenove? Dezenove homens... é um número alto, até pra quem é violentada por um único homem a situação já é digna de ser levada a loucura.

— Como... — Sequer pode terminar sua frase, Aubrey já estava atirando o castiçal contra a janela e olhando para ela com fúria.

— Eu estivesse te observando, é claro! A forma como olha para os homens, esse prazer que você insiste em dizer que sente ao matar! Nunca mulheres, apenas homens. Eu conseguiria entender porque o Richard se acovardou. O trauma dele era com incêndios, achava que a família dele tinha sido incendiada... mas não conseguia entender a fobia dele de borboletas. — Começou a caminhar de um lado para o outro, os olhos fixos nos seus próprios pés. — Até que aquele rapaz de cabelo azul apareceu. Foi quando eu entendi, Moros não desgraçou a vida de Richard. Ele o usou para desgraçar a vida de outra pessoa!

A assassina avaliava os movimentos do garoto, sua distração, a forma como parecia se perder em seus próprios pensamentos. Deixou sua mão escorregar pela poltrona e procurar uma das facas escondidas em suas roupas.

— Mas você, Meredith? Não consigo entender como pode ter tanto medo. Aqueles homens te humilharam, te machucaram. Uma doce garotinha que teve seu corpo violado das mais variadas maneiras. — A jovem podia sentir sua têmpora pulsando. Era como se todo o seu corpo pulssasse de raiva e ainda assim não conseguia agir. As palavras de Aubrey a seguravam tal como os homens nojentos a seguraram naquela vez. — Responda-me, eles usaram sua boca? Ainda consegue sentir o gosto deles?

Um tremor violento sacudiu seu corpo e lhe deu coragem para que partisse para cima de Aubrey. Ele não possuía direito algum de falar aquilo, não tinha o direito de brincar com a sua dor.

Contudo, havia algo de errado. Aubrey conseguiu se desviar facilmente do seu ataque. Em seus olhos era possível vislumbrar a diversão que ele parecia estar sentindo. Porque é claro que Aubrey não estava se divertindo, apenas se sentia vitorioso. Devemos lembrar que a mente de Evangeline se tornou algo distorcido demais para levarmos sempre em consideração o que ela tem para oferecer.

— Acha que vai conseguir me matar? Acha que já não tentei morrer logo depois de acordar?! — Aubrey gritou em fúria. — Já acreditei que iria pôr um fim na minha maldição se eu morresse antes do horário estabelecido! Mas Moros se recusa a me matar antes do tempo! Mesmo quando tento me enforcar... As cordas sempre arrebentam!

Novamente tentou golpeá-lo com a pequena faca, porém, de algum modo, ele conseguiu atingir sua perna e derrubá-la no chão. O garoto mirrado apertou seu punho e retirou a faca de sua mão, colocando-a em seguida em seu pescoço delgado.

— Eu te avisei. Não posso morrer até o momento certo. — disse em tom baixo, a raiva parecia estar indo embora. Uma fraqueza sem explicação tomava o corpo da assassina. Não tinha forças para empurrar Aubrey para longe. — E agora seguro uma faca em seu pescoço. Eu poderia fazê-la lembrar daquele dia em que dezenove homens violaram seu corpo. Eu tenho esse poder. Sua escolha é ceder ou morrer, acredito que já esteja acostumada...

— Eu prefiro morrer! — esbravejou tentando se soltar, entretanto ele ainda a segurava com força. Cuspiu na cara do garoto que sorriu de forma maliciosa.

— Mas eu não irei te matar. Porque não vai adiantar de nada resistir, você não vai conseguir me vencer, pois seu desejo assassino fala mais alto. Quanto mais você deseja me matar, mais força eu tenho sobre você. — Deslizou a faca pelo pescoço do que muitos acreditariam ser sua vítima. Aubrey podia ver que a lâmina estava afiada, seria tão fácil cortá-la... Preferiu iniciar uma lenta destruição das vestes da jovem. A faca descia suavemente pelo tecido, que não oferecia resistência. Podia vislumbrar parte do seio pálido da garota que a essa altura não conseguia segurar as lágrimas. — Eu tenho o poder de reviver seus piores pesadelos. A maldição que Moros colocou em mim me deu esse poder.

— Eu te odeio, seu porco nojento! Eu vou te matar, eu vou te matar... — As palavras eram repetidas incessantemente. O rosto que possuía até certa beleza se tornou inchado e vermelho, suas tentativas de se soltar aumentavam ainda mais a visão que muitos homens julgariam privilegiada. Aubrey, no entanto, não tinha interesse naquele belo par. A faca voltou ao pescoço de Meredith, bem próximo a veia saltada. A outra mão passeava livre pelo corpo trêmulo da assassina. Ora passeando pelo seu rosto, ora segurando seus braços com força sempre que ela tentava agredi-lo.

— Consegue lembrar daquele dia, Meredith? Eles foram brutos com você? A dor foi grande? Aposto que não foi maior que a vergonha. Sim, eu sei. — Ela continuava a repetir sua ameaça em forma de prece. Ela gritava e era quase impossível ouvir as palavras do garoto. Aubrey não aumentou o tom, sabia que não importava o quão alto ela gritasse, ela iria conseguir ouvi-lo. — Você não mata homens pelo prazer de matar. Mata cada homem que seja ligeiramente parecido com um deles. Qualquer homem que te faça lembrar de sua desgraça. E você se culpa, porque sabe que no fundo a culpa foi sua... se eles não te achassem bonita, jamais teriam feito isso. Só que você gostava de se sentir bonita, não é?

— Cale a boca! Eu vou te matar, eu quero que você morra, morra! Morra! — Sua voz ia sumindo devido aos gritos recorrentes. Ninguém iria escutá-la.

— Havia algum garoto que você queria impressionar? Parece que impressionou as pessoas erradas... — Seu corpo já não resistia mais, embora ainda tremesse. Seu rosto estava marcado de lágrimas e sua respiração permanecia desregulada.

— Eu irei te matar, nem que eu tenha que matar Moros pra isso. Eu irei te matar permanentemente... — murmurou, sem forças.

— Mataria um deus se fosse preciso apenas para se vingar? — A jovem nada respondeu, mas ele já sabia a resposta. Aubrey jogou a faca em algum canto isolado do quarto e se levantou. O olhar de piedade que ele lhe lançou embrulhou seu estômago. Pirralho nojento, ela pensava. — Desculpe, Meri... Mas eu realmente precisava fazer isso. Eu tinha que te quebrar para que você concordasse em me ajudar a matar Moros.

— E por que eu te ajudaria? — Era apenas uma pergunta retórica, é claro. Aubrey sinalizou para o corpete da assassina, que a essa altura já de nada servia. Desviou os olhos em respeito e contemplou a janela destruída.

— Porque quando matarmos Moros, você terá matado o último responsável pela sua ruína. Porque quando finalmente matarmos aquele bastardo... você poderá me matar permanentemente. — Não tinha palavras para lhe dizer. Usou uma de suas faixas para tentar esconder a nudez. Se Moros era um bastardo sádico, então Aubrey não estava muito atrás. — Posso ir até a cidade comprar um novo. Fique aqui, eu irei voltar em breve... irá mesmo me ajudar?

— Eu não tenho escolha. — sussurrou com ódio e vergonha.

— Sim, temo que não tenha. — respondeu e saiu do aposento, certo de que, eventualmente precisaria torturar Meredith outra vez. Assim que sua fidelidade falhasse, porque em dado momento ela falharia. No meio da viagem, provavelmente. Era o máximo de tempo que Aubrey apostava até que ela se recuperasse, claro que ele estaria atento quando esse momento chegasse. Faria o possível e o impossível para matar aquele bastardo sádico. E se para isso precisasse contar com a ajuda de uma louca, ele o faria. Afinal, quem era mais louco que ele próprio?

O que Aubrey não sabia, era que seu sofrimento não iria findar com a morte de Moros.

Ele apenas se estenderia.


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