O Chamado das Borboletas escrita por Ryskalla


Capítulo 26
Capítulo 25 - Um Final Ideal


Notas iniciais do capítulo

RÁ! Consegui atualizar esse certinho 8D Tananananam! Espero que gostem :3



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Sei que os abandonei na companhia do desespero, que provavelmente desejam me estrangular e asseguro que não são os únicos! Mesmo eu desejo me matar em alguns momentos, mas vejam bem, eu não posso morrer. Pelo menos ainda não.

Irei parar de enchê-los com as bobagens de um garoto velho e irei contar a vocês o que de fato importa. Eis que conto então como a princesa Gisele colocou fogo em Cecille.

Tudo começou quando eles chegaram à Ilha e foram recebidos pelos Guardas Reais.

— Hoje não é dia da coleta do ouro. — Um deles informou com a voz grave, contudo apenas aquilo não seria o suficiente para intimidar a boneca.

— Mas não estamos aqui pelo ouro, senhor! Quero falar com o Rei Thierry. — Ao ouvir tais palavras, os guardas não puderam fazer outra coisa além de rir. Que jovem audaciosa! Como se fosse fácil daquela forma. — Tenho certeza de que ele me receberá! Basta dizer meu nome a ele!

— É Sua Majestade, para você, senhorita. Agora volte para seu barco. Por que acredita que Sua Majestade a receberia? — Quem falara agora era um guarda com o rosto semelhante ao de uma fuinha.

— Porque eu sou a irmã dele! — exclamou, contrariada e aquilo só arrancou ainda mais gargalhadas da parte dos guardas. — Diga a ele que Cecille está aqui!

— Sabe, creio que seja melhor fazer o que a moça pede... — Sendulum começou, em tom vagamente ameaçador. Arrumou suas vestes de Seguidor e os Guardas pararam de rir, no entanto o encaravam sem medo algum. — É o destino dessa boneca encontrar Sua Majestade.

— Moros não tem poder nesse reino, Seguidor. Deixamos de acreditar na existência de um deus desse tipo. Nós acreditamos na liberdade agora. — O da voz grave falou outra vez. O pirata podia ver que ele não era uma má pessoa, apenas era um desacreditado.

— Muitos não acreditam na existência de sereias, acreditam que são mitos do mar, coisa de marinheiro. Isso não muda o fato de que elas nadam livremente pelas águas. — De todas as pessoas que poderiam dizer aquelas palavras, você se surpreenderiam ao descobrir que uma voz melódica as pronunciara. Aquela era a primeira vez que o ladrão se viu defendendo um deus que depreciava tanto. — Não muda o fato de que elas existam. Nem de que sou filho de uma delas.

Os guardas permaneceram em silêncio, apenas o com cara de fuinha ainda exibia o ar zombeteiro no rosto.

— Qual o seu nome? — O com voz grave perguntou e Cecille deu um largo sorriso, completamente feliz.

— Cecille! — exclamou e diante disso o homem se retirou. Os outros permaneceram para vigiar o grupo.

E agora lhe conto o destino daquele guarda.

Ele entrou no castelo em busca do rei, perguntou aos serviçais e até mesmo a alguns guardas. Descobriu que ele estava nos túmulos, como era de costume. Estava virando o corredor que o levaria para as escadas que davam acesso ao subterrâneo quando deu de cara com a princesa Gisele. Ele fez uma breve reverência e teria continuado seu caminho, se esta não o houvesse impedido.

— Por que está fora do seu posto? E aonde vai com tanta pressa? — Em sua voz havia algo que poderia ser confundido com raiva. No entanto era apenas curiosidade. A princesa estava com um excelente humor.

— Há um grupo que deseja ver Sua Majestade, Vossa Alteza. — explicou, temeroso quanto à reação da mulher. — Há uma donzela chamada Cecille que alega ser irmã de Sua Majestade.

Os olhos dourados da princesa faiscaram e seu cenho se franziu. Ela conhecia aquele nome de algum lugar... sabia que tinha alguma relação com seu pai e com Thierry. E então ela lembrou. Ainda era uma jovem de apenas treze anos... foi quando seu novo irmão chegou. Quando seu pai trouxe um novo Thierry para ela.

No fim das contas, ele não era muito diferente do original. Era igualmente inseguro e fácil de manipular, porém havia um problema.

— Sabe, Gisele, um dia minha outra irmã virá. Ela prometeu que viria um dia, que pintaria quadros para mim. Ela pinta tão bem! — Aquela felicidade toda... era algo que a princesa não poderia perdoar. Porque ela era sua única irmã.

— Que outra irmã? — perguntou enciumada, contudo Thierry não percebeu.

— Cecille! Ela é tão linda, sabia? É igual a mim, foi feita pelo meu mestre também. Sempre adorou ler para mim. E ela prometeu que viria. — A garota o empurrou, mesmo que ele fosse mais velho e mais alto que ela. Gisele o faria esquecer daquilo. Afinal, era ela que se portava como irmã mais velha na maioria do tempo.

— Ela não virá. Você não tem outra irmã. Somente eu, ouviu? E se ela vier irei queimá-la! — gritou, carregada de fúria. Podia ver o medo nos olhos de seu novo irmão e gostou disso. Dava-lhe uma sensação de poder. Desde então ela passou a governar aquele boneco estúpido. — E pare de falar desse mestre. Irá magoar os sentimentos do pai.

Aquilo ocorrera há tantos anos! Nunca imaginou que as palavras dele se tornariam verdadeiras. A maldita realmente viera.

— Permita que eles entrem e não diga nada a Sua Majestade sobre isso. — Nessa parte, meus queridos amigos, vocês devem agradecer e muito à pequena Chloe. Pois ela ouvira tudo, escondida e foi ela a responsável por avisar a Thierry que sua verdadeira irmã realmente chegou.

Não nos importa muito a reação do boneco ao ouvir aquela maravilhosa notícia, não com a situação que está ocorrendo no salão do trono, veja bem.

Os homens não acreditaram, mas Cecille não conseguia conter sua felicidade quando o guarda permitiu que eles entrassem. Tanto Rick quanto Leharuin sentiam algo de ruim, a lembrança de um passado pavoroso escondida atrás deles. Eles podiam sentir sua presença, porém ainda não conseguiam vê-la.

— Bem-vindos, queridos. — Uma mulher de cabelos castanhos e cacheados os observava com seus olhos dourados. Não como os de Leharuin, eles eram mais naturais... Da cor do mel, eu diria. — Sua Majestade virá em breve. Agora, aproxime-se, bela jovem! Cecille, não é? Meu irmão falou muito sobre você.

A boneca aproximou-se timidamente, porém a alegria reinava em seu interior. Thierry ainda se lembrava dela! Estariam juntos outra vez e talvez até fizesse amizade com aquela mulher. Ela era tão linda! Estaria cuidado bem de seu irmãozinho? Eram tantas as perguntas que Cecille nem reparou que a princesa estava convenientemente parada próxima a um belo candelabro de ouro. Era tarde demais quando notaram a peculiaridade. O Sol iluminava o salão e ainda assim aquele candelabro estava aceso... quando Cecille se abaixou para fazer uma mesura, a invejosa Gisele pegou o objeto e ateou fogo no braço da boneca, que a princípio não percebeu a perigosa situação em que se encontrava.

— Cecille! — Richard e Leharuin teriam gritado, porém alguém foi mais rápido. Esse alguém era um covarde boneco de nome Thierry. Foi um acontecimento muito rápido, meus amigos, entretanto a vida é desse jeito. Em um minuto tudo estava bem e no outro uma boneca inocente tinha seu braço em chamas. Seus amigos tentavam apagar, no entanto isso não foi o suficiente para salvar o pobre membro de pano. Aquele braço se fora para sempre, toda a atenção estava voltada para a boneca cuja existência quase fora apagada. O boneco não poderia se conformar... sem o seu mestre, Cecille seria condenada a viver sem uma parte do seu frágil corpo de boneca. Com os olhos em fúria ele olhou para sua falsa irmã. — Gisele, o que você fez?

Devo alertar, queridos amigos, que embora coisas boas aconteçam tal qual um conto de fadas, isso não significa que a vida seja sempre assim. Gisele teria respondido que ela o avisara, que se aquela boneca aparecesse ali seria reduzida à cinzas. Entretanto, Gisele estava morta.

Com toda aquela confusão, ninguém viu Chloe e sua tesoura. Ninguém poderia dizer quem foi o responsável pelo assassinato da rainha. Apenas Thierry. Havia um pergaminho ao lado do corpo. 

Eu cortei suas linhas de marionete. Ela não pode mais controlá-lo. Somos livres. 

Ele guardou aquele papel e não mostrou a ninguém, nem mesmo a Cecille.

Lembram-se dos contos de fada? Eu poderia encerrar aqui e dizer que o Rei Thierry devolveu a Coroa de Moros e que Cecille passou a viver com ele, que o prisioneiro foi libertado e ele era ninguém menos que o Mestre de Cecille! No entanto, eles mantiveram a renúncia à Moros como deus... eles acreditavam na liberdade e por mais que Seamus e Sendulum tivessem tentado convencê-los do contrário, os bonecos não poderiam aceitar um deus tão injusto.

Com a morte de Gisele, Cecille se viu obrigada a assumir sua identidade. Não foi um trabalho difícil para seu Mestre transformá-la, contudo, a boneca não aceitou que removessem seu olho transparente. O mesmo passou a ficar escondido atrás da sua franja.

Seria maravilhoso se O Chamado das Borboletas terminasse dessa forma. Mas ainda há Aubrey e Adry. Ainda há a mãe de Leharuin e Evangeline. E devo dizer que, por mais que Thierry e Cecille tenham conquistado seu momentâneo final feliz, isso não significa que suas histórias acabam por aqui. De fato a Coroa foi devolvida e a ameaça de guerra aparentemente desapareceu. Uma nova moeda foi estabelecida e as pessoas voltaram a trabalhar. Seamus se juntou ao grupo que viajou de volta à Herse no navio de Sendulum. Richard decidiu permanecer ao lado de Cecille, ainda não estava forte o suficiente para enfrentar as lembranças de um passado cruel.

Por mais que eu esteja narrando os acontecimentos como se estivéssemos no final da história, isso jamais poderia ser verdade. Volto a dizer que gostaria de encerrar essa maravilhosa aventura aqui, talvez apenas narrando o reencontro de Leharuin e Clara... mas não posso.

Tragédias muito maiores estão a caminho e com elas, bem, a minha morte.


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