O Chamado das Borboletas escrita por Ryskalla


Capítulo 20
Capítulo 19 - A Verdadeira Evangeline


Notas iniciais do capítulo

É, não tem perdão ou desculpas. Eu sou uma preguiçosa irremediável e podem me matar por isso ): Espero que gostem do capítulo e sabem que, se houver algum errinho bobo podem me avisar que irei arrumar o quanto antes. Eu queria fazer um capítulo maior, só que iria ficar muita informação, digo... Ou melhor, não digo não, leiam XD



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Se não fossemos meros observadores da história de Leharuin, poderíamos até mesmo termos nos apiedado de Henry e lhe contado: Não prenda Leharuin nesse quarto! Ele fugirá pela janela! Imagino que alguns de vocês balançaram a cabeça em negação, afinal, que graça teria a história se nosso querido ladrão continuasse preso?

Veja bem, para aqueles que sentiram pena de Henry, não fiquem preocupados. Ele logo se deu conta da sua estupidez, afinal era um rapaz muito esperto e imediatamente contou suas suspeitas para seu superior. As suspeitas se mostraram verdadeiras, pois só mesmo Leharuin era capaz de fugir por uma janela tão alta. Nenhum ladrão teria tanta coragem, ao menos, talvez, se lembrasse de usar o telhado. Os guardas começaram suas buscas, porém discretamente, pois eles mesmos eram intrusos naquele reino. Tamanha era a concentração deles em encontrar o pobre ladrão, que nenhum pareceu notar o que havia de errado ali. Mas Leharuin notou, ah! Ele sempre nota.

A primeira coisa que o jovem e suas borboletas foram procurar foi uma embarcação que os levaria de volta para casa. Sua busca não lhe deu frutos, pois os poucos barcos e navios que havia ali não estavam dispostos a partir. Foi quando Leharuin começou a notar o que havia de estranho: quase ninguém estava trabalhando. O problema não era a falta de empregos, isso até tinha demais. O problema era que todos os bolsos estavam pesados de dinheiro. Os poucos que trabalhavam, faziam isso com gosto. Ninguém roubava ninguém, o que era muito estranho. Nosso ladrão não descobriu o motivo, contudo irei abusar da minha vantagem de observador e lhes contar: No início, havia muitos ladrões, de fato. Todavia, sempre que roubavam alguém, a pessoa não oferecia nenhuma resistência. “Oh, leve tudo, pois ganharei mais amanhã!” Assim, aqueles que queriam fazer uma fortuna não viram vantagem alguma em continuar naquele reino de tolos. Juntaram o máximo de dinheiro que conseguiram e foram viver em algum outro lugar, onde existiam pessoas que sabiam apreciar o dinheiro.

Pobre e desgraçado Leharuin! Como sairia daquele lugar? Não conhecia nenhuma vivalma daquele reino e sabia que em breve Henry estaria procurando por ele... apesar... talvez... Sim, havia alguém a quem Leharuin conhecia, alguém que ele ajudara há alguns anos. E foi desse modo que nosso ladrão iniciou sua busca por Cecille.

No entanto, meus queridos amigos, algo triste aconteceu. Sim, algo muitíssimo triste. Porque enquanto buscava por Cecille, outra pessoa encontrou Leharuin... e essa pessoa não foi Henry, nem seus colegas. Essa pessoa, hoje, atende pelo nome de Meredith. Se Aubrey tivesse visto o rosto dela, provavelmente vocês teriam gritado para Leharuin: Cuidado! Ela está no telhado! Infelizmente, nenhum de vocês viu: Eu sim, só que eu já aprendi há bastante tempo que de nada adianta gritar. Meredith agora está rindo e sua risada doentia atraiu a atenção do jovem ladrão. Porque certamente não poderia ser ela...

Ele só aceitou o fato quando a garota de cachos dourados caiu bem na sua frente. Os olhos azuis brilhante de um desejo assassino não mentiam. Era ela, sim.

— Evangeline. — Disse com a voz fria. — Então foi pra cá que você fugiu.

— Claro! Depois daquela sua ameaça, como não poderia fugir? Você lembra, Leha? — O tom de voz debochado que seus ouvidos não conseguiam associar àquela imagem. Ela era Evangeline e ao mesmo tempo não era.

— Que se você chegasse perto de Henry, eu a mataria antes que ele pudesse te reconhecer. — Os olhos dourados faiscavam com ódio. E pensar que Henry poderia trombar com ela a qualquer momento...

— Quando você me encontrou e eu jurei matar todos eles. Eu estava tão fraca... e tão assustadora! Você ficou com medo de mim, não ficou? — E a risada doentia novamente foi ouvida. Ela se aproximou lentamente de Leharuin, que permaneceu imóvel com uma expressão de desprezo no rosto. — Eu sabia que você não me vingaria se eu pedisse e também... eu queria ter o prazer de matá-los com minhas próprias mãos. Aqueles desgraçados imundos! Até Henry tentou me ajudar naquela hora. Menos você. Sequer ficou com pena de mim... quando você viu o que eu fiz... seu olhar, foi quase como se eu tivesse merecido tudo o que eles fizeram comigo.

— Foi porque eu não te reconheci. Quando eu voltei, não sabia quem era o verdadeiro monstro. Você não era mais a Evangeline. Tornou-se irracional. — Se as palavras magoaram a garota, isso Leharuin não poderia saber, não podemos culpá-lo por ser sincero. Um sorriso calculado brotou timidamente nos lábios do ladrão. — Isso era porque Henry te amava, ele faria qualquer coisa por você. E eu jamais entraria em uma briga que eu não poderia ganhar. Não havia o que fazer para te salvar, contudo eu poderia salvar Henry e foi o que eu fiz. Fiquei bastante surpreso por voltar e te encontrar viva. Sempre me arrependi de não ter te matado naquela hora. Eu fui fraco, mesmo quando você matou todos eles, mesmo quando eu vi que você achara prazeroso matar e que isso tornaria um vício... eu poderia ter te matado, porém permiti que você fugisse... nunca contei para Henry, porque ele não merecia isso. Não merecia saber como Meredith assassinou a Evangeline que ele tanto amava.

— E esse foi o seu erro, Leharuin. Porque agora eu posso te matar e você não poderá fazer nada para impedir. — Apesar dos braços finos, Meredith tinha muita força. Ela o prendeu contra a parede e colocou a mesma faca que matara Aubrey em seu pescoço. — Ela te amava, sabia? Evangeline. E eu nunca a matei, como você diz. Ela vive aqui dentro comigo ainda, acha desprezível tudo o que eu faço. No entanto ela está presa no meu passado, infelizmente a promessa permanece. Prometemos que jamais mataríamos você.

Um novo som se fez presente. Foi o barulho de uma espada caindo no chão frio e sujo. De todos os guardas que poderiam ter achado Leharuin, Henry foi o escolhido. Sorte do guarda. Azar de Henry, cujo corpo tremia inteiramente. Ele não viu o olhar infeliz de Leharuin, porque seus olhos estavam presos em Evangeline. O rapaz estava ali parado há algum tempo, ouvindo tudo. Sinto por não ter contado antes isso a vocês. É que ele ficara tão paralisado que mesmo eu me esqueci da presença dele. Tão imóvel ele estava, que sua mão adormecera e foi assim que a espada caiu no chão.

— Parece que Henry não pode ser protegido da verdade por muito mais tempo, Leharuin. — A noite chegava carregada de más intenções e Meredith adorava todas elas. — Sabe, Leharuin, você nunca me falou sobre seu irmão.

O ladrão ficou confuso por um tempo, até que julgou a sanidade da jovem. Ela era mentalmente perturbada. O que mais poderia esperar dela?

— Isso porque nunca tive um irmão. — Apenas Beth, ele pensou... há quanto tempo não pensava em sua família adotiva? A imagem das chamas dançantes invadiu brevemente sua mente. Chamas de um passado que ele pensava ter conseguido esquecer.

— Ah! Mas você certamente possui um irmão mais velho, Leharuin! E você irá encontrá-lo essa noite. Ele é bem diferente de você, sabe? Mas as borboletas são as mesmas... Não há como negar! — A garota piscou para Henry e então subiu para o telhado por um pedaço de tecido. Os olhos de Henry já não viam mais nada, contudo Leharuin observava a tudo atentamente. Ele viu quando um garoto (que a princípio ele acreditou ser uma garota) passou por ele. Era tão magro que o mais gentil dos ventos poderia derrubá-lo. Meredith desceu como um raio e agarrou o pescoço do jovem. Porque ela sabia que se não fosse rápida, Leharuin conseguiria salvá-lo. O que ela não sabia, é que não importava a velocidade do ataque, nosso querido ladrão sempre levaria a melhor contra uma mente movida por instintos assassinos.

O que nenhum deles sabia, mas que Meredith desconfiava, era que a vida daquele garoto jamais poderia ser salva naquela determinada hora do dia. Porque as palavras não estavam certas na primeira vez que Aubrey morreu.

O ladrão conseguiu resgatar o rapaz das mãos da assassina. Havia um ar de diversão na expressão dela, algo que o ladrão não conseguia entender. Alguma coisa estava caindo do céu e Leharuin desviou por bem pouco, mesmo que tenha ganhado alguns arranhões.

Porque a possibilidade de um telhado despencar só existia quando o mundo decidia matar o pobre Aubrey.

No entanto, não foi o telhado que matou Aubrey naquela vez e sim Meredith, que se aproveitou daquela distração para castigar Leharuin por nunca ter sido capaz de amá-la. Por não ter tentado salvá-la. Afinal, aquela era uma oportunidade perfeita para partir o coração de Henry. E após matar uma alma inocente, roubou um beijo do nosso querido ladrão e, quando foi jogada no chão sem a maior piedade, gritou debochadamente carregada de frieza.

— E no fim, Evangeline nunca conseguirá deixar de te amar. — Se aquelas palavras eram verdadeiras ou não, jamais saberemos. Pois a consciência de Evangeline foi há muito tempo perdida no mar de loucuras e crueldades que habitavam a mente de Meredith.

Creio que alguns ainda se lembram das palavras de Meredith a respeito do irmão de Leharuin. Aquelas palavras, eu posso afirmar, não passavam da mais pura verdade. Porque na primeira vez que matou Aubrey, ela viu acidentalmente o que ocorreu depois. Escondida em um telhado próximo, ela viu quando as borboletas se aproximaram do cadáver. Claro que Meredith cogitou que fosse Leharuin, afinal... borboletas nunca agiam assim, somente perto dele. Foi então que ele apareceu, um homem vestindo roupas daqueles que escolheram servir Moros. Um homem que em nada se parecia com Leharuin, mas que, em alguma parte que ela não saberia explicar, partilhava de uma semelhança. Olhar para aquele estranho a fazia lembrar do ladrão, mesmo que ela não pudesse exatamente dizer a razão, não eram apenas as borboletas… ainda assim, tal constatação parecia tão certa quanto o nascer do Sol: ele era irmão de Leharuin. Deste modo, Meredith descobriu antes de todos vocês, queridos companheiros, que nosso ladrão não é o único a quem as borboletas acompanham.

Tenho certeza de que ninguém aqui deseja saber como a assassina lunática descobriu sobre ele, mas sim como Leharuin reagiu ao encontrá-lo. Sinto mantê-los esperando, contudo preciso aguardar... ele está indeciso, se deve ou não recolher o cadáver, afinal há tantas testemunhas! Felizmente, para a sorte de vocês, ele não dispunha de tempo para esperar. Porque Aubrey tentou se afastar novamente da mansão.

— Boa noite, senhores. Peço sua licença. — O homem de cabelos ruivos se aproximou timidamente. Leharuin estava ao lado de Henry (que há essa altura estava encolhido no chão) e ignorou a presença do estranho. O primeiro motivo era porque estava preocupado com o amigo e a segunda razão era porque, ao olhar rapidamente para o homem, reconheceu as vestes religiosas daqueles que seguiam Moros. E era um fato que nosso ladrão abominava a todos os seus seguidores. Foi o homem quem reconheceu Leharuin primeiro. — Leharuin?

— O próprio. Perdão, mas eu deveria saber quem é você? — E só com um olhar mais atento ele percebeu a presença das borboletas. Não eram muitas, certamente, pois Leharuin era perseguido por centenas e isso sempre lhe fora um problema até que ele aprendeu a separá-las. Ainda assim, possuía bem mais borboletas que aquele estranho. As palavras de Meredith lhe atingiram como uma bomba e por alguma razão ele sentiu desespero, mesmo que ele desconhecesse o motivo.

Eu tenho um palpite, amigos, acho que o Leharuin temeu que suas borboletas o abandonassem. Porque elas eram as únicas em que Leharuin confiava verdadeiramente.

— Oh! Não, claro que não... é só que fiquei surpreso. Eu me chamo Seamus, sou seu meio-irmão. — Ele balançou a cabeça negativamente e deu um sorriso pacífico. — Acho que falar isso desse modo me fez parecer um idiota. Se o livro de Moros não fosse eterno, imagino que esse seria o impactante final de um capítulo.

— Seria o final porque ninguém saberia como responder a isso. Acho que nem mesmo Moros saberia como nos ordenar a responder algo assim. — Não devemos culpar Leharuin por seu tom sarcástico, afinal... É completamente decepcionante, para o demônio dos roubos, descobrir que seu irmão não passa de um cão adestrado. Ao menos esse era o pensamento dele.

— Ele não saberia, de fato... porque Moros não ordena a ninguém. — Seus olhos eram tristes e tinham um delicado tom de roxo. Foi quando eles se voltaram para o chão que ele pareceu se lembrar do verdadeiro motivo que o levara ali. — Parece que ela te pegou outra vez, não é, Aubrey? Isso é ruim... que Moros abençoe o seu sonho.

— O que está fazendo? — Leharuin perguntou quando viu Seamus recolher o corpo sem vida do chão.

— Estou levando-o para casa... há muitos que odeiam Moros, outro tanto que o segue apenas por medo... infelizmente, apenas aqueles que o conhecem verdadeiramente sabem. Se há alguém que iria até o fim do mundo para matar Moros, esse alguém é Aubrey. — E, abandonando os dois rapazes, iniciou sua corriqueira caminhada até a mansão. Sabia que seu irmão poderia segui-lo, afinal ele iria cobrar respostas que ele merecia saber. Entretanto o outro que o acompanhava parecia estar bastante abalado... talvez até mesmo estivesse ferido. O tempo estava correndo contra Seamus, logo Aubrey descobriria a verdade.. Quando estava longe o suficiente, permitiu-se murmurar tristemente. — Mas isso é algo que eu não posso permitir.


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