O Chamado das Borboletas escrita por Ryskalla


Capítulo 1
Prólogo - A Bordo da Ruína


Notas iniciais do capítulo

Capítulo betado!



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Esta é uma história difícil de acreditar, mas eu lhe contarei mesmo assim. É sobre o jovem Leharuin e sua ligação com as borboletas. Quem se atreveria a pensar que as borboletas, um abandonado bebê poderiam salvar? A história, meus amigos, começa assim…

Nas proximidades de uma ilha deserta chamada Delfinos, viviam algumas sereias; sereias essas que evitavam os humanos, mas, em raras ocasiões, poderiam unir-se a eles sob a luz do luar. E essa união, por vezes, dava origem a novas sereias.

Entretanto, os filhos de sereias não tinham tanta sorte.

Via de regra dessas criaturas aquáticas, quando davam à luz a uma menina, esta poderia permanecer, pois nascera sua igual, nascera uma sereia. Entretanto, caso fosse um menino, este deveria ser abandonado na terra dos homens e deixados à própria sorte.

Em geral, todos morriam.

Mas houve um, sim, cuja sorte lhe sorriu e a quem as borboletas ajudaram.

Sua sorte começou com uma menina chamada Elizabeth — apenas Beth para os íntimos —, que não possuía mais que seis anos. Essa menina tinha um passatempo incomum: caçar borboletas. E o quão surpresa ficou quando, ao perseguir uma delas, encontrou dezenas de outras voando acima de um bebê solitário que chorava. Como pode chorar, pensava ela, com tantas borboletas ao seu redor?

Foi assim que Beth levou o jovem Leharuin para casa.

— O que faremos com ele? — perguntou a mãe de Beth, na voz um misto de assombração com encantamento. Por que as borboletas perseguiam esse menino?

— Não é óbvio? Teremos que criá-lo. Se nossa pequena Beth o encontrou, foi porque assim o destino quis — respondeu o pai, enquanto empilhava algumas toras de madeira embaixo da escada. Era um homem alto, com barba por fazer e olhos de um azul profundo. Sua esposa dizia que se perdia com facilidade naquele olhar e isso lhe arrancava um sorriso tímido.

— E que nome daremos a ele? — questionou Beth, sorrindo. O bebê brincava pacificamente com uma de suas tranças, talvez encantado com aquele tom de dourado.

— Leharuin — disse o pai com simplicidade, batendo as mãos na lateral da calça com a finalidade de limpá-las.

— Não acho que esse nome combine com ele, querido. Não é um nome… bom. — A mulher olhava para a criança, cheia de receio.

— Já sentiu o cheiro dele? Ele veio do mar, você conhece as histórias e tem consciência do que isso significa. Ele veio a bordo da ruína, por isso deve se chamar assim. Ele é filho de uma sereia, não ignore esse fato.

— Filho de uma sereia? — exclamou Beth, encantada. Crianças não tinham consciência da natureza sombria daqueles seres aquáticos.

— Ainda assim, poderíamos dar um nome que não o lembrasse desse passado. — Os olhos castanhos da mulher estavam carregados de tristeza. Sabia que a criança sofreria com sua aparência exótica, não seria prudente evitar um nome que só lhe causaria mais dor?

— Todo homem deve ter consciência de seu passado, assim como deve saber lidar com ele. É assim que os fortes são criados, e tenho certeza de que Leharuin será um homem forte. — E aquele assunto estava encerrado. Beth continuou encarando o bebê, que agora possuía um nome. A mãe foi para a cozinha fazer o jantar enquanto o pai se preparava para fazer um berço.

— Papai, e as borboletas? — perguntou Beth, desviando seus olhos de Leharuin para encarar aquele abismo que eram os olhos de seu pai.

O homem ergueu o olhar e encarou as criaturas voadoras por um longo instante, nunca vira ou soubera de nada parecido. Borboletas jamais perseguiriam um recém-nascido, sendo ele filho de sereia ou não. Aquela era uma benção de Moros, sim… afinal, foram elas que guiaram Beth até Leharuin. Eram um milagre, mas milagres não são eternos...

— Deixe-as, elas irão embora uma hora. — Deu um suspiro cansado e tornou a prestar atenção aos seus próprios pensamentos, buscava se lembrar de como se montava um berço, uma tarefa que não realizava desde o nascimento de Beth. O homem permitiu-se dar um sorriso: Moros finalmente havia lhe dado o menino que tanto sonhava.

Elizabeth encarou aqueles graciosos insetos que voavam próximos a ela e Leharuin, talvez apenas ela soubesse que aquelas criaturas jamais iriam abandoná-lo — e como era grande a inveja que sentia daquele pequeno ser que atraía tantas borboletas! —; ou talvez seus pais também soubessem, mas não ligassem para isso. Tais borboletas, de fato, não iriam embora.

Elas acompanhariam Leharuin por toda a sua vida.


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