Ana narrando

O lugar não tinha mudado nada, desde que sai dali não tinham mexido em uma agulha, tudo naquele lugar, para mim, era normal nem percebia as coisas que estavam acontecendo a sua volta ou talvez era tão comum que nem olhava, já Thiago olhava tudo com curiosidade, parecia encantado com tudo.

Nós estávamos seguindo o Lucas em um corredor comprido com as paredes verde escuro e o carpete no chão bege claro, ele estava nos levando para a diretoria, eu tinha que falar com a diretora sobre ele ficar la e sobre nosso quarto.

–Você fez de tudo para trazê-lo agora me diz onde que ele vai dormir? Não temos quarto de hospedes para bichinhos de estimação de feiticeiras.

–Ele fica no meu quarto, logicamente.

–Acho que ficar longe daqui fez você esquecer as regras básicas, então vou lhe lembrar de uma: Feiticeiros e feiticeiras não podem domir no mesmo aposento.

Sorri ironicamente.

–Você está muito enganado Lucas, eu lembro das regras, e como você mesmo falou FEITICEIROS e feiticeiras, não tem nenhuma regra que envolva feiticeiras e HUMANOS.

Ele olhou o Thiago com raiva e continuou andando, pisando alto. Thiago segurou minha cintura me fazendo andar bem devagar e ficamos mais afastados do Lucas. Acho que era porque Thiago não queria que ele escutasse nossa conversa.

–Por que ele tem tanta raiva de mim?

–Não é de você Thi... Necessariamente, é mais contra nosso namoro.

Ele me olhou confuso.

–Bem... Longa historia.

Ele continuava me olhando nos olhos, não sei como mas quando eu olhava em seus olhos me sentia hipnotizada, me perdia la dentro.

–Tenho paciência.

Suspirei e mordi o lábio, ele ia odiar saber toda a historia, era ciumento.

–Melhor não.

Ele esperou o Lucas sumir de vista e olhou em volta para ver se estávamos sozinhos e começou a se aproximar de mim.

–Me conta, vai. Você sabe que pode confiar em mim.

Olhei de novo dentro de seus olhos, ele estava tão perto, não consegui deixar de vir a curiosidade. Ele passou a mão no meu rosto.

–Por favor.

–Quando se chega em uma idade no nível de magia, precisamos de um... Protetor. -Estava falando tudo bem devagar- Normalmente esse protetor é alguém da família que também é feiticeiro, mas eu não tinha ninguém e era muito próxima do Murilo...

–Quem é esse Murilo?- Ele me interrompeu e eu vi uma pontinha de ciumes crescendo no seu olhar.

–O Murilo é o irmão do Lucas.

–Continue.

–Bom, ele é quatro anos mais velho do que eu então podia ser meu protetor se eu autorizasse.

–E você autorizou.- Isso foi uma afirmação, e eu pude ouvir pelo tom de sua voz que a coisa não estava mais tão boa.- Ele gosta de você?

–Eu precisava de um protetor e ele era apaixonado por mim então eu aceitei.

Olhei para baixo, envergonhada, mais poxa, na época eu tinha 13 anos .Ouvi ele suspirar.

–O que esse protetor faz?

–Ele devia cuidar de mim, tudo o que eu sinto ele sabe.

–Como assim?

–Se eu estou triste ele sabe, se eu estou em apuros, é como se fosse uma ligação.

–Hum... Ana, olha para mim.- Ele segurou meu rosto me me fez olhar para ele- Ele ainda gosta de você?

–Eu... Eu não sei, faz muitos anos que não nos vemos, sei que ele ficou muito triste quando eu fugi, mas só. O lucas esta mais irritado porque eu estou com um "humano" do que com o irmão mais novo dele.

Ele acenou com a cabeça então escutei passos no final do corredor, quando olhei era o Lucas, parecia mais irritado do que antes por a gente não tê-lo seguido.

–Casal vinte, tem gente esperando por vocês, namorem outra hora.

Segurei a mão do Thiago, novamente seguindo o Lucas. Depois de um bom tempo chegamos em frente a uma porta grande de madeira escura.

Lucas abriu a porta entrando antes de nós dois.

–Dona Virginia, eles chegaram.

–Eles? No plural?

Ela levantou o olhar da mesa e primeiro me observou, depois o Thiago e por ultimo nossas mãos juntas.

–Um humano?

Olhei para ela, sentia que meu rosto tinha mudado, como tinha acontecido quando mandei o Lucas sair do quarto naquela hora.

–O nome dele é Thiago e ele está comigo.

Ela ficou me olhando um tempo.

–Lucas, pode se retirar por favor? Obrigado.

Ele saiu e eu me aproximei das duas cadeiras na sua frente puxando o Thiago comigo para nos sentar.

–Ana, quanto tempo minha querida, como você esta?

Dei uma risada de canto e balancei a cabeça.

–Para de falsidade, você só está feliz pois vão sair do seu pé agora que eu voltei.

–Não diz isso Ana, sabe que é mentira.

Deu uma risada irônica.

–Bom, não vim aqui falar sobre você e sua "preocupação" comigo.- Fiz aspas no ar- Vim aqui porque o Lucas falou que você tem que autorizar o Thiago ficar aqui.

–Você sabe que não pode, além do mais, onde ele ia ficar?

–Comigo, no meu quarto.

–Não é permitido.

Deu um sorriso vitorioso.

–Feiticeiros e feiticeiras é proibido, não feiticeiras e humanos...

Olhei para o Thiago que me olhava, ele parecia... Impressionado? Ele me olhava de um jeito diferente.

–Podemos ir agora Virginia?

Ela não respondeu. Peguei a mão do Thiago novamente o tirando da sala.

–Espere Ana.- Me virei para ela- Quero falar com ele.

–Oi? Sobre o que?

–Assunto particular. Podemos?

Olhei para o Thiago e ele estava apreensivo então abracei ele e sai da sala os deixando sozinhos e fiquei esperando do lado de fora.

O que ela queria conversar com o meu Thiago? Comecei a tremer de leve, não sei se era pelo que ela ia falar para ele ou se era porque no momento estava soprando uma brisa gelada, mas posso falar que fiquei um pouco angustiada com ele la dentro com ela.