Thiago narrando

estava recuperando meus sentidos aos poucos, senti que ainda estava no chão, que Ana estava ao meu lado, abri o olho tudo ficou embaçado por um tempo até eu conseguir ver ela nitidamente, ela observava algo que se movia, levantei a cabeça e consegui ver Lucas, andando de um lado para o outro do quarto pensativo.

–E então Lucas?Já teve bastante tempo para pensar não acha? Thiago esta recobrando os sentidos e você ainda está ai.

Lucas parou de frente para ela.

–Se não tem outra forma- Ele me olhou com nojo enquanto eu me levantava do chão e sentava na cama- Então seu humano de estimação vem conosco, mas você que fale com eles para deixá-lo ficar lá.

Ana abriu um sorriso para mim e eu a ajudei a levantar do chão. Ela se virou para o Lucas.

–Então nos deixe sozinhos para arrumar nossas coisas, temos tempo de sobra para partir, queremos arrumar nossas coisas em paz.

Lucas ficou de frente para ela, ele era realmente bem mais alto que ela.

–Não posso deixá-los sozinhos, e se vocês tentarem fugir?

Ana mudou totalmente de postura, ela parecia mais madura, encarava Lucas como se ele não fosse nada, nunca tinha visto ela daquela forma, de líder, mesmo com seu 1,60 de altura ela se colocava se uma forma superior a Lucas.

–Não estou pedindo, estou mandando Lucas. Retire-se do quarto enquanto arrumamos nossas coisas.

Ele ficou desconcertado, saiu do quarto resmungando.

–Tenho que sair do quarto também bruxinha?

Em um segundo ela era a Ana séria, madura, que mandava, em outro ela já era a mesma de sempre, ficando vermelha e dando um sorriso lindo.

–Claro que não, você pode ficar, se quiser.

–Pode me explicar o que está acontecendo?

Ela se sentou do meu lado na cama.

–Posso tentar...

Ela começou a falar tudo o que tinha acontecido enquanto eu estava sobre o efeito do feitiço do Lucas.

–Então quer dizer que vou ter que ir com você.

Ela abaixou a cabeça, parecia chateada.

–Devia ter falado com você antes, se não é isso o que você quer pode ir embora, vou ter que ir com ele de qualquer jeito agora.

Levantei o rosto dela para olhar em seus olhos, eles eram tão claros que me perdia la dentro.

–Eu não vou deixar você sozinha nessa, vim com você até aqui, não vou fugir agora que você mais precisa de mim.

Ela me abraçou e ficou um tempo abraçada comigo. Quando levantou percebi uma coisa que não tinha reparado antes.

–Ana, é impressão minha ou a ponta dos seus cabelos está ficando preta?

Ela puxou uma mecha do cabelo dela para frente para ver e suspirou.

–Não é impressão não, realmente as pontas estão ficando pretas.

–Mas quem pinta o cabelo não fica com a parte de cima preta?

Ela se virou para mim, com a cara fechada.

–Você sabe que eu não pinto meu cabelo. Isso é a forma que o poder se manifesta.

–Como assim?

Ela respirou fundo e mordeu o lábio, pensando.

–O poder tem que se manifestar de alguma forma, em alguns o olho muda de cor, a unha cresce muito ou muda de cor e o caso mais raro, que é o meu, o cabelo muda de cor. Então parece que eu pintei as pontas do meu cabelo de preto. Quanto mais poder, mais escuro.

–Que legal.

–Temos que arrumar nossas coisas.

Olhei para ela pensando.

–Você está com pressa de ir?

–Nem um pouco.

Puxei ela pela cintura e nos deitei na cama rindo.

–Thiago?!

–Não estou com nem um pouco de pressa de ir também.

Ela sorriu e passou a mão no meu cabelo.

–Temos que começar a arrumar nossa bagunça, também queria ficar aqui com você.- Ela me deu um selinho- Mas não podemos.

Ela tentou levantar mas eu não deixava, comecei a apertar a cintura dela fazendo cócegas.

Ela conseguiu sair de mim dez minutos depois e começou a arrumar as nossas coisas, levantei e comecei a ajudar.

–Lucas, estamos prontos.

–Ele entrou no quarto encarando tudo.

–Demoraram.

Ela deu um sorriso sínico.

–Eu levo o Thiago, você leva nossas coisas.

–Tudo bem.

Lucas colocou a mão nas nossas duas mochilas e desapareceu. Simplesmente, desapareceu no ar, não é um jeito de dizer, em um momento ele estava la e no outro não estava mais.

–Você está pronto Thi?

–Confio em você bruxinha.

Ela esticou as mãos e pegou as minhas segurando firme.

–Não solte minha mão de jeito nenhum, você escutou? Você pode ficar perdido no tempo e não tem como te resgatar.

Apertei as mãos dela e ela fez uma cara de dor e deu risada.

–Não tão forte.

Ela respirou fundo e fechou os olhos se concentrando.

–Dimitte me in antiquum locum¹.

Como Lucas, em um momento estávamos dentro do quarto e em outro só passava um borrão pela gente, Ana estava com o olho bem fechado concentrada e eu ao mesmo tempo que queria fechar os olhos queria ver o que acontecia a nossa volta, mesmo vendo um borrão preto.

Então paramos em um campo aberto, olhei para Ana e ela observava tudo em volta com um pouco de raiva e nojo. Depois de um tempo segurou minha mão.

–Vamos?

Sorri e a beijei levemente nos lábios.

–Vamos.

1-Me deixe no meu antigo lugar.