Amonster escrita por Aiwei


Capítulo 1
Lembranças (one-shot)


Notas iniciais do capítulo

Foi isso que eu pensei quando vi o capítulo 10 da Lenda de Korra, inclusive a parte da Toph no final :)
Espero que gostem



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Estava de noite, chovendo. Uma pequena fila de dominadores acorrentados seguia pela ilha do Templo do Ar. Dominadores do Lótus Branco. No final da fila, estava a ex-chefe de polícia Beifong. Lin Beifong.

Sua missão era proteger os dominadores de ar, filhos de Tenzin. Mesmo que para isso precisasse se entregar para os igualitários. Foi o que fez, mas não sem antes destruir as aeronaves para impedi-las de seguir o bisão voador com os dominadores. Lin fez isso, claro, para salvá-los dos igualitários. Mas o motivo maior não era esse. Não, com certeza não era.

Mais um homem perdeu a dominação. A fila andou. A vez de Lin se aproximava.

A ex-chefe de polícia se perguntou onde estaria a família de dominadores de ar. Estariam seguros? Ela arriscou a própria vida para salvar a família de Tenzin. Ela sabia que poderia ter tido uma família com ele, mas mesmo tendo em mente que outra tomou seu lugar, ela os ajudou. Foi por ele que ela fez aquilo. E seria por ele que era perderia a dominação.

Um dos homens caiu no chão. Os outros foram empurrados para mais perto de Amon. Faltavam apenas dois para que fosse a vez de Lin.

Ela imaginou como teria sido se não tivesse deixado Pema roubar Tenzin dela. Talvez não estivessem naquela situação. Talvez Tenzin tivesse a ajudado, ou estaria ali para libertá-la. Talvez ela continuasse sendo uma dominadora. Mas não.

Naquele momento de agonia, Lin lembrou dos velhos tempos.


–Lin.


–Sim?

–Eu tive uma idéia.

–Não gosto quando você diz isso... Eu sempre me meto em confusão.

–Ah, mas dessa vez não vou te meter em confusão.

–E qual é a idéia?

–Seguinte. Você não tem curiosidade de saber o que tem dentro daquela sala trancada no segundo andar da sua casa?

–Sim. Mas não tem como chegar lá sem a minha mãe ver. Ela sabe exatamente onde nós estamos.

–É aí que eu entro. Ela nos vê quando estamos no chão, certo?

–Certo.

–Nós não vamos estar no chão.

–Ahn? Como assim?

–Eu uso dominação de ar para fazer um patinete aéreo e nós subimos sem a sua mãe ver. O segundo andar não é de madeira?

–É, pode dar certo. Mas como vamos abrir a porta?

–Fácil – ele pegou uma pedrinha no chão – você domina a terra e faz uma chave.

–Tenzin, quem olha até acha que você não apronta.

–Isso é bom?

–Sim *risada*.


*****


–Não sei porque, mas achei que esse negócio era mais silencioso.

–Estou fazendo o melhor que posso!

–Você sabe que a minha mãe tem a audição muito aguçada, não sabe?

–Sei, mas ela não vai nos ouvir. Está concentrada.

–Como você sabe?

Tenzin aponta para a janela da casa. Toph está esparramada no sofá, dormindo. E é claro, com um pé no chão.

–Ah, agora entendi.

–Ok, faça silêncio. Vamos entrar.

Tenzin tenta manter a bola de ar grande para caber os dois em cima e para não correr o risco de se desfazer. Lin segura em Tenzin e os dois entram na casa.

O barulho é mínimo, tão pequeno que nem tira Toph do sono. Tenzin e Lin andam lentamente até a escada que leva ao tal quarto. Conseguiram fazer o trajeto sem problemas, mas ao tentar subir, Lin se desequilibrou e se apoiou na parede – que era de pedra. Toph acorda na mesma hora acorda, sentindo a vibração.

–Quem está aí?

Ela se levanta. Mas não sente nenhum pé no chão. Se pergunta se foi só um engano da sua cabeça, mas Toph nunca erra. Ela se concentra em alguma coisa que possa denunciar o invasor. Enquanto isso, Tenzin fica parado no lugar, com medo de ser visto.

Mas Toph sente o cheiro de Oggie, o bisão voador.

–LIN, DA PRÓXIMA VEZ QUE VOCÊ TROUXER O TENZIN PRA DENTRO DE CASA COM ESSA BOLA MALDITA, EU JURO QUE ARRANCO A CABEÇA DOS DOIS.

Assustado, Tenzin deixa o patinete aéreo se desfazer e os dois caem no chão.

–Desculpa, mãe.

–O que estava tentando fazer?

–Eu queria ver o que tem dentro daquela sala lá no segundo andar...

–Quantas vezes vou ter que dizer, Lin? Você só vai poder ver o que tem lá quando completar dezesseis anos.

–Mas falta muito!

–Só seis anos.

–“Só”?

–Você passa o dia inteiro com o Pés Pequenos júnior e não aprende nada sobre paciência? Aliás, tenho que ter uma conversinha com o seu pai, senhor Tenzin.

O dominador de ar engoliu em seco.

–E você, dona Lin, vai ficar sem a sua toupeira por uma semana.

–Porque??

–Por atrapalhar meu sono. Onde já se viu?

Toph deitou no sofá de novo.

–Saiam já da minha vista antes que eu vá tirá-los.

–Mas mãe... A senhora é---

–VOCÊ ME ENTENDEU.

–Ok.

Lin puxou Tenzin pela mão para fora de casa, até um lugar longe o suficiente de Toph para ela não sentir as vibrações dos dois. Então se entreolharam. E começaram a rir.


Suspiros. A amizade dos dois não voltaria a ser como naqueles dias. Pelo menos não por parte de Tenzin.


Outro homem caiu e foi arrastado para longe.

Lin se desesperou por dentro. Era difícil admitir, mas estava com medo. Parecia tão forte, mas por dentro daquela armadura de metal, se escondia uma mulher amedrontada. Ela vinha temendo secretamente Amon desde que ficou sabendo do poder dele. E agora... Foi pega. Uma das coisas que Lin mais gostava nela mesma era a dominação de terra. Sua mãe a ensinou tudo que sabia, desde o mais simples movimento até a dobra de metal. E ela iria perder tudo isso.


–Mamãe! Acorda!


Lin batia o travesseiro na mãe, que ainda dormia, com o cabelo todo no rosto.

–Vai embora...

–Mas mãe! A senhora prometeu que ia me ensinar a dominação de terra hoje!

–Eu já te disse que não sou senhora.

–Anda logo, mãe!

–Hmm.

–Vamos, levanta!

–Me deixa em paz.

Lin puxou o cobertor.

–Aaah, maldita!

–Não vou te devolver – disse, correndo para fora do quarto.



*****



–Muito bem. Está pronta?

–Sim! Estou pronta! Prontíssima! Muito pronta! Estou...

–Não fique tão animada, Lin. Não vai ser fácil pra você.

–Não importa, estou pronta!

–Ok. Venha cá.

Toph virou a filha de costas e amarrou uma venda nos olhos dela.

–Pra quê isso?

–É assim que eu vejo.

–Mas eu não estou vendo nada!

–Exato.

–O que isso quer dizer?

–Quer dizer que você não tem que ver para saber onde está cada coisa.

–Como assim?

–Eu já te falei sobre as vibrações, Lin. Você tem que sentir as vibrações na terra sob seus pés.

–Eu não sinto nada.

–Eu sei. Mas e isso? – Toph fez um movimento com o braço e uma pedra saiu do chão – você sente isso?

–Sim.

–Já é um começo. E você sabe de que direção isso veio?

–Não.

–Tudo bem, não foi exatamente um começo. Vamos lá, você consegue.

Toph fez outra pedra subir. Em seguida outra, e outra, e outra. Lin sentia no chão as vibrações, mas não conseguia saber de que lado vinham. Então só tentava atingir alguma delas com a mão, socando o ar para todo lado. Sem muito sucesso.

Demorou muito até ela acertar.

–Muito bem!

–Não era exatamente isso que eu esperava do treino.

–Eu sei *risada*.

–Quando vai me ensinar a dominar a terra de verdade?

–Quando você aprender a ver com os pés.

–Ah, mãe...

–Vamos, Lin, cadê a animação de mais cedo?

Suspiros.


Lin se deixou sorrir por um instante. Mesmo sendo muito jovem, nunca esqueceria daquele dia.


O último homem caiu.

Era a vez de Lin.

Ela foi arrastada até onde Amon estava e os igualitários a jogaram de joelhos no chão. Lin mal levantou a cabeça, mas Amon sabia quem ela era. E sabia o que tinha feito nas aeronaves. Sabia que tinha ajudado os dominadores de ar e a Avatar Korra a fugir e que tinha prendido muitos de seus homens no dia que eles atacaram o estádio de pró-dobra. E, claro, não tinha como esquecer os estragos que Lin fez no esconderijo subterrâneo onde os prisioneiros ficavam escondidos.

Amon parou na frente dela e se demorou um pouco, esperando que os outros ex-dominadores do Lótus Branco fossem levados para longe.

–Chefe Beifong. É bom te ver.

Lin se conteve para não pular em cima dele e arrancar aquela maldita máscara.

–Diga-me onde está o Avatar e eu não tiro a sua dominação.

Por um momento, ela pensou em dizer onde Korra estava escondida. Apenas por um momento.


–Pai.


–Hmm?

–Conta de novo a história de como você derrotou sozinho os piratas?

–De novo, Lin?

–É! Eu adoro essa história!

–Tudo bem... Senta aí *cruzando as pernas em cima da mesa* Por onde quer que eu comece?

–Do começo.

–Mas a história é muito grande!

–Tá, então da parte que você e o tio da terra roubaram o navio dos piratas.

–Ah, sim. Quando chegamos em Gaolin, a cidade natal da sua mãe, um grupo de nômades do Reino da Terra havia nos pedido ajuda para recuperar as armas que os piratas roubaram deles. Nós, é claro, aceitamos ajudar. Como já tinha experiência com piratas, eu sabia o que tinha que fazer. Eu e Due entramos no navio sem que ninguém visse e recuperamos todas as armas. Mas quando estávamos partindo para Ba Sing Se, os piratas nos emboscaram. Não sabiam que nós tínhamos os roubado, mas estavam lá para nos roubar. Due, com sua boca grande, disse algo como “alguém que nem vê o navio ser invadido nunca iria ganhar de nós numa luta”.

–O tio da terra é tão burro assim? Ele não é professor?

–É *risada* ele tem seus momentos ruins... Então, quando disse isso, os piratas perceberam que nós éramos os ladrões das armas dos nômades. E nos atacaram.

–Aposto que vocês venceram deles!

–Lin, você já sabe o final da história.

–Mas eu aposto que vocês venceriam deles se lutassem de novo!

–Talvez... Naquele dia, estávamos cansados. Havíamos voado por dias seguidos sem parar. Eles me pegaram rápido, mas Due conseguiu fugir. Mandei ele ir atrás dos nômades. Os piratas me levaram para o navio e me ameaçaram dizendo “se você nos falar onde estão as nossas armas, nós não vamos te matar”.

–E o que você disse?

–Eu não disse nada. Eu e Due sempre andamos prevenidos. Tudo que eu precisei foi de uma bomba de fumaça para poder fugir. Se eu tivesse dito onde Due estava, eles teriam me matado de qualquer jeito.

–E depois?

–Depois que eu soltei as mãos, lutei com todos eles ao mesmo tempo. Quando Due chegou com os nômades, eu já tinha acabado com eles.

–Que corajoso – Lin o olhava com admiração – eu quero ser igual a você quando crescer, papai.

–Você vai, Lin. Pode ter certeza.

A menina ainda sorria imaginando a cena que o pai descreveu.

–Não está atrasada para o treino de dominação de metal?

–Aaaaah...

–Achei que gostasse de treinar.

–Eu gosto. Mas eu quero ouvir mais uma história!

–Outra, Lin?

–Sim! Aquela que você e a mamãe derrotaram um monstro do mar!

–*suspirando* Ta bom.


Em uma fração de segundo, a ex-chefe de polícia lembrou da história que o pai lhe cantava anos e anos atrás. E descartou a idéia de dizer onde Korra estava a tempo de fazer parecer que nem tinha pensado. Afinal, se dissesse onde ela estava, Amon tiraria sua dominação de qualquer jeito.


–Eu não vou dizer nada pra você, seu monstro!

–Muito bem.

Ela tinha a voz tão sem emoção que fazia Lin queimar de raiva por dentro. Amon deu a volta e se posicionou atrás dela. Mas ela não tinha bomba de fumaça para fugir. Korra não viria salvá-la. Tenzin também não viria. Era o fim. O fim de uma vida toda de dominação de terra e de toda uma história como dominadora de metal.

Sua mãe ficaria orgulhosa? Seu pai ficaria? E Tenzin? Lin havia dado sua própria dominação para salvar a família dele. Ele estaria feliz por isso? Ou... Triste?

Como se um raio caísse em sua frente, Lin viu uma figura se formando bem próximo dela. Uma figura que surgiu de repente e foi tomando forma de uma pessoa, uma mulher. Após alguns segundos ela reconheceu sua mãe. Mas parecia... Transparente. E brilhante. Seria um espírito? Ninguém mais parecia vê-la.

Ela vestia um vestido longo adornado com desenhos na parte de baixo e totalmente liso na parte de cima, com uma faixa na cintura. Cabelos presos no penteado costumeiro de Toph. Ela sorria para Lin, se aproximando dela sem mesmo mover os pés.

Amon posicionou o polegar na testa de Lin.

E o espírito de Toph colocou o polegar no mesmo lugar.

“Já não tem mais esperança” ela pensou, como que recusando o toque do espírito. Em resposta, Toph disse “sim, há esperança”. Lin sentiu toda a energia de seu corpo fugindo e se concentrando apenas no ponto em que Amon tocava sua testa.

Acabou.

Lin caiu no chão, quase desacordada, sem forças nem para manter o próprio corpo. Viu os pés de Amon e o ouviu dizendo “prendam-na aqui por enquanto. Estou pensando para onde vou mandá-la”.

Antes que fechasse os olhos, ela viu um brilho forte e sentiu o corpo esquentando. “Não acabou”. A voz da mãe ecoou na mente da ex-dominadora por poucos segundos, que pareciam ser infinitos. No meio do desespero, Lin teve um momento de paz.

Ela sabia que não era o fim.


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Notas finais do capítulo

Eu sei que eu provavelmente vou me arrepender de ter postado mais tarde. Mas tudo bem.
Nota: Falei sobre o pai da Lin, mas não falei quem era e nem se ele é dominador ou não ¬w¬ sou malvada.
Eu ia ficar muito feliz se eu recebesse comentários na minha fic... Sintam-se a vontade para xingar (ou não).
Um soco a la Beifong pra vocês :)