Capítulo 26

Não era algo que Lena via todo dia e sabia que se o seu Edmundo estava daquela forma, algo muito forte acontecera-lhe. E geralmente era algo relacionada a ela. Se ele saíra do salão no momento que Lena imaginara que saíra, já tinha sua resposta.

- Eddie... - ela chamou suavemente e pode perceber a tensão nos ombros dele no momento em que sua voz chegou aos ouvidos dele.

Por um segundo se perguntou se não seria melhor dar meia volta e retornar pala dentro do palácio. Não queria ter que enfrentar Edmundo, pois ela mesma ainda não sabia o que fazer. Mas não lhe parecia justo que ela desse as costas para ir chorar as próprias lágrimas e esquecer que o moreno estava sofrendo com isso tanto quanto ela. Além disso, eles prometeram enfrentar tudo juntos. Enfrentar Ethan juntos. E era isso que Lena mais queria.

- Eddie, olha pra mim. - ela pediu assim que parou em frente a ele. Como ele se manteve irredutível, Lena agachou-se à sua frente, nivelando seus rostos e apoiando-se nos joelhos dele para que não caísse. - Eu não vou a lugar nenhum.

Ele continuou chorando silenciosamente, olhando diretamente nos olhos dela. Lena sentiu seu coração despedaçar ao ver a cena que jamais pensou que presenciaria. Queria muito dizer a ele que tudo não passava de um terrível pesadelo compartilhado, mas sabia que não poderia dizer algo que ela mesma queria fosse verdade. Qualquer coisa seria melhor do que o que ela estava passando.

- Não vou estar em lugar nenhum que não seja ao seu lado. - ela disse calmamente, como se ela mesma quisesse acreditar nisso. Era o que mais queria, mas se Pedro não arranjasse um plano rapidamente, não haveria outra solução. Ela nunca colocaria a vida de milhares de narnianos em risco.

E Edmundo sabia disso.

Ele a puxou para seu colo, fazendo-a sentar sobre suas pernas e a abraçando fortemente pela cintura fina da garota. Sem conseguir evitar, soluçou em meio às lágrimas que insistiam em descer e enterrou o rosto na curva do pescoço dela. Edmundo sentiu o perfume natural que exalava dela e sentiu que seu coração se apertou ainda mais. Odiava aquela sensação de impotência e se odiava por não poder fazer nada que pudesse mudar. Afinal, era uma escolha dela e não sua. Se pudesse escolher, era mais do que claro que ele iria naquele instante no reino da Calormânia apenas para matar Ethan. Mas não podia.

- Eu não posso te perder... - Lena ouviu-o murmurar, com a voz rouca pelo choro.

Ela sentiu seu coração se apertar ainda mais, amaldiçoando a si mesma por ter dito que não haveria outra escolha a não ser acatar essa ordem de Vinner. Podia sentir no ar que Edmundo estava sofrendo e essa com certeza não era a intenção dela. Era a última coisa que queria.

- Lena, eu não posso te perder! - Edmundo repetiu, tentando converncer a si mesmo de que isso não ocorreria. Não era uma opção muito aceitável, principalmente quando aquilo não deveria ser nem mesmo uma opção considerável.

- Não vai. - garantiu Lena, puxando o rosto do moreno para que pudesse ver fundo em seus olhos negros.

No momento em que viu os olhos vermelhos e inchados, sentiu que seus próprios já voltavam a lacrimejar. Mas ao invés de secar as lágrimas que ameaçavam cair dos próprios olhos, ela passou os dedos pelas maças do rosto de Edmundo, secando o rastro úmido que tinha ali e acariciando as bochechas dele delicadamente. Edmundo sentiu o carinho que ela o tratava e percebeu, mais uma vez, que não poderia viver nunca sem aquilo.

- M-mas... - ele começou, querendo discutir sobre o que ela havia dito antes, mas Lena o interrompeu.

- Mas nada. - ela disse decididamente. - Pedro me fez prometer que eu não faria nada de imprudente até que bolassem um plano.

Por um instante, Edmundo pensou que poderia finalmente estar tudo resolvido, afinal, Lena nunca, jamais, quebrava uma promessa. Mas esse instante passou assim que ele se tocou que uma recusa seria um pedido formal para uma invasão.

- Isso quer dizer que... - ele não queria terminar a frase. Lembrar-se que Lena se recusaria a ficar de fora da guerra não era algo muito agradável para uma mente que analisava todas as consequências de qualquer ato.

- Quer dizer que temos três dias ainda para planejar um contra ataque. Pedro disse vai pensar em alguma coisa.

- Já vou avisando que você não vai participar de batalha nenhuma. - Edmundo disse, repentinamente sério. Ele tinha certeza que Ethan era o tipo de pessoa que pensava "se eu não posso tê-la, ninguém pode" e ele não gostava de imaginar o que aquilo poderia significar na mente de uma pessoa tão psicopata.

Lena revirou os olhos, sabendo que nada que dissesse poderia mudar a opinião de Edmundo sobre isso. Afinal, tentara por quatro anos e não dera em nada.

- Não vou discutir com você sobre isso agora. - ela disse simplesmente. Limpou o que restava de lágrimas no rosto de Edmundo. - Preciso ir ver se Emma e Hailee já tiveram alguma ideia.

Estava pronta para se levantar do colo de Edmundo quando sentiu que os braços dele se travaram ao seu redor, impedindo-a de se mover.

- Não vai. - ele pediu. - Fica aqui comigo mais um pouco.

Lena sorriu fracamente; ao menos o sorriso mais sincero que poderia dar num momento como esse.

- Você me pedindo desse jeito não tem nem como recusar. - ela disse, dando-lhe um beijo na bochecha e o envolvendo pelo pescoço em um abraço apertado.

Edmundo sentiu o choque delicioso ao qual já estava acostumado quando ela o beijou. Era ótimo senti-la tão próxima a si, mesmo que dali a três dias algo assim poderia não ser mais possível. Fechou os olhos, evitando pensar nisso, e apenas aproveitou a sensação magnífica que era abraçar Lena.

A sensação de segurar seu mundo inteiro nos braços.