Annabeth's POV
  Minha mãe ainda olhava para Percy, que fora praticamente arrastado por Rachel. Enquanto isso, a ansiedade crescia e borboletas voavam em meu estômago. Quando o filho de Poseidon sumiu de vista, Atena disse:
  - Esse peixe. Como deixei que se casasse com ele? Como se eu fosse machucá-las! - Sua voz trazia desprezo e indignação.
  Esperei calada, com Alex segura em meus braços, ela estava inquieta. Será que o motivo era a saída do pai? Percy dizia que isso era imaginação minha, não precisava ter ciúmes, e eu estava quase acreditando. Mas... Balancei a cabeça, não era hora para aquilo.
  -  Mas tive que aceitar esse casamento, não havia escolha. - Continuou minha mãe. - Só assim poderia tê-la por perto.
  - Por perto? - Não consegui controlar o tom de incredulidade em minha voz. - A senhora sumiu por meses! Meses! E nem foi conhecer sua neta!
  Atena cruzou os braços, os olhos cinzas estavam cheios de desgosto e... Seria vergonha?
  - Eu... Sinto muito, Annabeth.- Falou depois de um tempo. - Sei que demorei muito para digerir isso tudo...
  - Digerir o quê? Mãe, a senhora já tinha aceitado meu casamento. No momento que eu mais precisei, só recebi o seu silêncio! - Eu estava com raiva, magoada, ferida.
  - Eu sei, criança. Mas estou aqui agora. - A deusa tocou meus cabelos, mas não relaxei, precisava conhecer o motivo de seu desaparecimento. - Foi difícil para mim. - Continuou. - Imagina como me senti quando soube que teria uma neta que também descenderia de Poseidon? Eu sabia que isso aconteceria, mas foi cedo demais! Minha linhagem misturada à do Barbas de Alga. Inaceitável.
  Olhei-a, sem palavras. Ouvira direito? Não era possível!
  - Tive medo, Annabeth. Medo de que Alexandra herdasse a inteligência do pai. Como seria para mim ter uma neta com algas na cabeça ao invés de um cérebro? Eu não suportaria...
   Trinquei os dentes. Tive de me segurar para não voar em seu pescoço divino.
  - Mas percebi que estava sendo... - Atena fechou os olhos, como se buscando força e coragem para admitir algo duro. - estava sendo egoísta e orgulhosa. Perdoe-me. - A deusa pegou uma de minhas mãos, seus olhos eram sinceros. Os olimpianos podiam ser estranhos, mas eu sabia que Atena me amava, do jeito dela. - Você é minha filha, e Alexandra é minha neta. Mesmo que seja tão cabeça de alga como o pai, continuará sendo família. Prometo não sumir mais, não irei abandoná-la novamente.
  Fez-se silêncio. Choque, raiva, desprezo... Todas essas emoções afogavam-me e eu não sabia dizer qual delas era a mais forte. Por fim, senti alívio. Atena estava arrependida e queria fazer parte de nossa vida, seria bom ter minha mãe por perto. A deusa estendeu as mãos para Alex.
  - Deixe-me conhecê-la.  - Pediu.
  Relutantemente, entreguei minha filha. Atena abriu um sorriso, já tinha sido fisgada pelo encanto de Alexandra.
  - Como é linda... -Disse Atena. - E eu não precisava me preocupar. Veja os olhos dela, Annabeth, como são inteligentes. Lembra-me de você quando nasceu. E então, vai perdoar minha ausência?
  - Eu não devia. - Falei séria. - Seus motivos são péssimos.
  A deusa baixou a cabeça.
  - Mas é a única mãe que tenho e avó de Alex, então... Está tudo bem. - Conclui.
  Minha mãe sorriu e embalou Alexandra.
  - Não suma de novo. - Adverti.
  - Não vou. Quero estar sempre por perto, para você e agora para a menina.
  Levantei as mãos para pegar Alex, mas minha mãe não deu atenção.
  - Parece que terei de me acostumar. Eu e Poseidon somos ambos avós dessa criança.

  Quando meu marido voltou com Rachel, Atena já tinha desaparecido. Percy olhou para os lados, procurando a deusa da sabedoria. Por fim, perguntou:
  - Como foi?
  - Não vamos falar sobre isso. O que importa é que já está tudo resolvido. - Respondi.
  - Ok... - Ele falou desconfiado.
  Alex estava dormindo. Ela dormira no colo de minha mãe antes que a deusa fosse embora.
  - Vamos para casa. - Percy suspirou.

  Chegando ao Acampamento Meio-Sangue, colocamos Alex em seu quarto, ele tinha sido preparado especialmente para ela, ficava ao lado do nosso, na Casa Grande, por isso, podíamos ouvir quando chorava.
  Percy sentou-se em nossa cama e estendeu a mão em minha direção. Joguei-me em seu colo enquanto o Cabeça de Alga massageava meus ombros. Ter um bebê era difícil, mas Alexandra merecia algum crédito, não era muito chorona.
  Meu marido beijou meu pescoço e depois virou-me para que nossas bocas se encontrassem. Nada havia mudado, os toques do Cabeça de Alga ainda me faziam ficar arrepiada, era como corrente elétrica percorrendo meu corpo. Seu calor era aconchegante, quando estávamos juntos eu me sentia em casa. Percy era minha casa.
  Suas mãos percorreram meu corpo, éramos como um. Já estava ofegante quando nos deitamos...
  ... Não durou muito, no entanto. Alex choramingou, devia estar com fome.
  Percy fez uma careta tão dramática e melancólica que eu tive que rir.
  - Não demore... - Ele falou.

  - Volto logo, Cabeça de Alga.
  Depois de amamentar Alexandra, voltei para o meu quarto. Perseu estava dormindo, é claro. Típico.

  Ri mais uma vez.
  Deitei-me ao seu lado. Também estava cansada. Fiquei observando meu marido e lembrando nossas tantas aventuras. Agora as coisas estavam mais calmas, mas não ficariam assim por muito tempo. Era uma certeza dentro de mim. Parecia a calmaria antes da tempestade. Tentei interromper essa linha de pensamento, mas não consegui. Alex... Será que ela também atrairia monstros? Eu queria minha filha em segurança. o Cabeça de Alga voltaria a trabalhar em dois dias, e o que eu faria? Não queria deixar o acampamento, pois eu sabia que nele Alexandra estaria sempre protegida.

  O que eu faria?

  Eu podia ficar por aqui. Mas Percy estaria na Costa Leste, ele não suportaria muito tempo sem ver a filha, e nem eu aguentaria ficar sem o meu Cabeça de Alga.

  Eu precisava pensar... Mas depois. Agora, estava cansada demais para fazê-lo.
  Olhei mais uma vez para Percy e segurei sua mão. Seu calor fez-me sentir segura novamente. Como eu amava aquele Cabeça de Alga. Adormeci sentindo seu cheiro de mar. Meus sonhos foram confusos. Alex, Atena, deuses, monstros... Tinha de proteger minha filha, eu corri, lutei, gritei. Por fim, Percy apareceu, sussurrou meu nome e disse que tudo estava bem. Eu acreditei.