Eu e Percy voltamos para casa, meu marido começaria a trabalhar efetivamente na marinha, por isso, nós ficaríamos quinze dias afastados, enquanto ele estivesse embarcado. Eu aceitara um projeto para a construção de um museu sobre o vinho, em Napa, Califórnia. Eu e o Cabeça de Alga decidimos nos mudar definitivamente para Los Angeles, ficava mais fácil para ambos. Alugamos, então, um pequeno apartamento com vista para o mar, era simples, mas muito aconchegante. Logo eu me tornaria uma arquiteta famosa e projetaria nosso lar. Meu pai aprovou a decisão, pois eu estaria mais perto dele, já a mãe de Percy... Ela aceitou, mas nós tivemos que prometer passar os Natais e feriados em Nova York. Não dissemos nada sobre as férias, mas Sally sabia que essas seriam gastas no acampamento. No entanto, a ideia de férias estava bem distante da realidade do meu marido, novato na marinha.
- Está nervoso, Cabeça de Alga? Perguntei enquanto o ajudava a arrumar a mala.
- Não mesmo Ele sorriu. O mar é o meu território, acho que vou me virar. Mas e você, Sabidinha, está nervosa?
Ignorei a pergunta. Ficar quinze dias sem meu Percy idiota e impulsivo... Não estava muito feliz com isso.
- Você pode conversar com Dionísio sobre o museu, acho que deve ajudar bastante já que é o cara do vinho...
- Pensei que ele tivesse dito que você não poderia mais chamá-lo assim. Eu ri.
O Cabeça de Alga deu de ombros.
- Acho que ele mencionou...

No dia seguinte, tive que me despedir do meu marido. Como ficaria sem o seu abraço quente me envolvendo à noite? Estava parecendo uma filha de Afrodite, eu sei, mas acabei me acostumando com a constante presença de Percy Jackson em minha vida.
- Eu vou te mandar M.I. todos os dias, prometo. Ele disse depois de um beijo.
- Acho bom mesmo, Cabeça de Alga, ou sofrerá consequências terríveis quando voltar para casa. Fuzilei-o com os olhos.
Ele riu e me abraçou.
- Eu te amo, sua Sabidinha mandona e irritante. Volto daqui a quinze dias... Tente não morrer de saudades.
- Vou tentar. Eu lhe dei um tapa no ombro e revirei os olhos. Convencido...
Percy me deu um beijo na testa e se foi. Fiz piada quando ele me alertou sobre as saudades, mas eu estava, de fato, me segurando para não correr até meu marido e obrigá-lo a ficar em casa. Nossa, eu estava assustada comigo, não podia ficar tão melosa assim... Precisava de algo para ocupar minha mente, ou me transformaria de vez em uma filha de Afrodite.
A resposta para meus problemas foi o trabalho. Entrei em meu mundo de projetos e esboços, senti-me um pouco melhor. Resolvi ir até Napa, para dar uma olhada nas construções básicas do museu. Peguei o carro (agora eu tinha carteira de motorista) e comecei a viagem.
Estava no meio do caminho quando me senti estranha. Tudo começou a rodar, como se eu fosse desmaiar. Uma inexplicável onda de náusea me atingiu. Tive que parar o carro no acostamento, encostar o rosto no volante e esperar. O mal-estar não passava. Suor frio escorria por meu rosto. O que era aquilo? Eu tinha comido algo estragado?
Fiz um inventário de tudo que tinha feito naquele dia. Havia comido uma carne suspeita no almoço, seria isso? Ou eu pegara alguma virose?
A náusea se tornou insuportável e eu saí do carro para não sujá-lo.
O tempo foi passando e eu finalmente senti que o enjoo ia embora.
Como já estava perto de Napa, decidi continuar a viagem. Cheguei um pouco mais tarde que o planejado, mas tudo bem. As pessoas trabalhavam na estrutura do museu, a planta já estava praticamente pronta, eu estava cuidando dos detalhes e do acabamento, planejando tudo.
No fim do dia, quando ia voltar para casa, senti-me mal mais uma vez, por isso escolhi ficar em um hotel de Napa mesmo.
O Cabeça de Alga me mandou uma M.I. como prometera, disse a ele que o motivo de eu ter ficado na cidade era o trabalho. Se eu contasse a verdade, Percy se preocuparia, e o que ele podia fazer estando tão longe?
Já sentia saudades do meu marido. Ficaria tudo mais fácil se ele estivesse aqui. Durante a madrugada, não consegui dormir. O mal-estar me incomodava.
Quando eu melhorei, já eram seis da manhã. Peguei o carro e fui o mais rápido possível para casa, temendo outra onda de náusea.
Chegando em meu apartamento, vi que Rachel deixara um recado na secretária eletrônica.
Ah, Annabeth, me ligue quando chegar, eu preciso muito falar com você. Tentei seu celular, mas está desligado.
Olhei para o aparelho, a bateria devia ter acabado e eu nem percebera. A voz de minha amiga estava esquisita, com uma emoção diferente no fundo.
Enfim, eu preciso mesmo falar com você... Tive uma visão. Deixe para lá, eu te falo quando me ligar.
Visão? Que voz era aquela? Alguma coisa aconteceria a Percy?
Liguei para minha amiga/Oráculo de Delfos, ela atendeu no primeiro toque, como se já soubesse que eu estava ligando... Provavelmente sabia mesmo.
- Alô.
- Rachel? Ouvi seu recado, aconteceu algo a Percy? O que queria falar comigo? Perguntei preocupada.
- Ah, eu só queria dizer... PARABÉNS!
Fiquei confusa... Parabéns pelo que? Rachel estava louca?
- Não entendo...
- Ora, Annabeth, você está grávida! Espera, você ainda não sabia?
Deixei o celular cair, chocada. Grávida? Eu? Grávida?
De repente tudo fazia sentido. Como eu não pensara nisso antes? Fui tão cega! A náusea, a tontura... É claro. E minha menstruação estava muito atrasada.
Eu, Annabeth Chase, filha de Atena, estava grávida.
Uma série de sentimentos estranhos me atingiu, medo e pânico sendo os primeiros. Eu não podia ser mãe, não ainda, não estava pronta para isso! E eu não tinha tido um exemplo de mãe muito maternal.
Depois veio a tristeza, o Cabeça de Alga não estava aqui, ele me ajudaria, saberia o que dizer... Senti-me um pouco desconfortável, um outro ser vivia dentro de mim, fazendo parte de meu corpo, de meu organismo.
Por fim, a felicidade. Eu e o Percy teríamos uma criança. Ele ou ela seria um fruto de nosso amor, uma parte de nós. Queria desesperadamente contar ao meu marido, mas ele estava em alto-mar.
Meu olhos se encheram de lágrimas, eu não sabia se elas eram provenientes dos meus hormônios ou do caldeirão de emoções que me envolvia.
Eu estava grávida.