15 Contos Sobre Percabeth escrita por AnnaSun


Capítulo 14
Meias lembranças


Notas iniciais do capítulo

Semideuses! Oioi, tudo bem com vocês? Como começaram o ano? Estão todos bem? Deixo com vocês mais um capítulo, este inteiramente dedicado a Taisa Alcantara, que deixou para a fic uma recomendação linda e emocionante! Obrigada Taisa, pelo carinho, pelos elogios e por ler essas estórias que escrevo com tanto amor. E claro, por acompanhá-las a tanto tempo. Você foi uma das minhas primeiras leitoras ♡ Então, sem mais, espero que gostem desse novo capítulo :D



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A brisa fria e doce do mar chacoalhava suavemente os cabelos escuros de Percy, como se fosse um afago. Um afago de seu pai, talvez. Os raios do Sol claro da manhã tocavam seu rosto de maneira calorosa, reconfortante. O dia estava bonito como todos os outros naquele acampamento de verão. Tudo alí era fora do comum, mas era delicioso acordar todos os dias e ver as aves cantando, as ondas do mar quebrando normalmente na praia e o Sol animar toda aquela colina com seu brilho fraco e belo ao mesmo tempo.

Todos os dias no Acampamento Meio-Sangue eram assim: bonitos e calorosos, como um grande abraço materno. Como acordar todos os dias em um chalé de verão e saber que tudo naquele dia seria tranquilo, como chá com biscoitos. A única diferença é que... as coisas por lá não eram tranquilas. Tranquilo é a única palavra que não se pode esperar de um acampamento de verão para adolescentes meio-deuses. Ainda assim, aquele era o único lugar no mundo onde Percy se sentia inteiramente bem.

Aquela manhã, em especial, parecia ter sido feita para ele, muito embora sentisse algum tipo de aperto dramático em seu peito. Uma sensação diferente. Não era ruim. Era só um sentimento estranho, como a preguiça misturada com a vontade de fazer algo. Desde que acordara, Percy matava suas aulas. Não se orgulhava disso, mas sabia que não estava cometendo nenhum crime. Principalmente pelo motivo que o fez faltar as aulas do dia no acampamento. Muito normal que um filho de Poseidon desista de suas tarefas matinais para admirar o mar. É como um filho de Hermes roubar. Um tanto errado, mas não incomum, não inaceitável. De qualquer modo, ninguém sabia onde ele estava. Pelo menos, não contara para ninguém. Procurava um momento seu. Aquele dia parecia ter feito só para que ele organizasse seus pensamentos. E não havia lugar melhor para fazer isso do que em frente ao mar, não?

O horizonte à sua frente parecia incrivelmente chamativo. O azul anil se estendia sedoso, como uma longa manta pronta para envolvê-lo. O garoto não pôde deixar de invejar as aves diurnas, que esbanjavam toda a sua glória passeando por toda aquela imensidão.

– Essas coisas não são muito comuns para mim... - disse o semideus, observando a areia sob os seus pés, rabiscando-a com um graveto de madeira que logo seria abandonado - quero dizer, pensar assim. Normalmente estou ocupado demais pensado em soluções. Para o que quer que seja, mas é verdade. Soluções.

Qualquer um que o visse, poderia simplesmente pensar que aquele garoto, que Percy Jackson estaria ficando louco. Até mesmo ele se repreendia de vez em quando. Mas na verdade... no fundo no fundo... ele sabia com quem estava falando. E esperava que esse alguém também soubesse quem estava falando. Mesmo que não pudesse responder na grande, grande maioria das vezes, de vez em quando Percy confiava na expectativa de que o seu pai poderia estar ouvindo.

– Não entendo como pode ser tão difícil ser deus de algo tão sereno quanto o mar - Percy mirava com seus olhos verdes a imensidão de líquido azul à sua frente - mesmo que não seja algo tão sereno sempre, é assim que sempre o vemos, não é?

Ele gostaria de ser respondido. Realmente gostaria. Mas o único barulho que chegava aos seus ouvidos eram os dos cantos dos pássaros e das ondas azuis chegando ao fim. Fora isso, só podia ouvir a própria respiração.

Infelizmente as horas se passavam. Ou talvez felizmente. Não importava tanto. Àquela altura já deviam passar das oito da manhã. Todos já estavam bem acordados, fazendo tudo o que faziam numa quinta-feira comum. Todos estavam sim, trabalhando, se esforçando, gastando seu suor em algo para o "bem mundial". Todos exceto, claro, Percy. A beleza convidativa do clima, do mar e do céu eram glamorosas, sim, mas ele não conseguiu evitar uma certa culpa. Respirou fundo o frescor da ventania uma última vez e se levantou, virando-se de costas e dando, quase que de cara, com Annabeth.

A garota estava vindo em sua direção, a alguns ainda cinco metros. Annabeth... Seus cabelos encaracolados estavam presos em um perfeito rabo de cavalo, e sua faca estava presa, como sempre, no cinto marrom sobre a blusa. Não fosse pelo formato suave do rosto e da boca, Annabeth pareceria uma adolescente briguenta e calculista. Seus olhos cinzas colaborariam com toda certeza para o papel.

Mas ainda que fosse, jamais poderia assustar Percy. Sim, claro que quando se conheceram ele não pôde evitar sentir um pouco medo, afinal Annabeth sempre parecera um pouco séria e fria demais. Porém nos últimos meses - é, talvez anos -, ele simplesmente não conseguia enxergá-la mais daquela maneira.

– Imaginei que estaria aqui, cabeça de alga - seu olhar demonstrava um tom de preocupação, muito embora sempre parecesse um tanto pensativo. Ela ficou de frente ao namorado.

– Hum, sim - respondeu Percy, buscando algum em especial nos olhos daquela garota - eu precisava respirar um pouco.

Erro. Se antes havia achado um tom de preocupação nos cinzentos olhos de Annabeth, agora percebera aquela dúvida se alastrar como fogo.

Annabeth franziu o cenho.

– Está com algum problema, cabeça de alga? - perguntou Annabeth - Se estiver precisando de algo, ou...

– Ei, está tudo bem - ele pegou suas mãos e as apertou, como se aquilo desse algum tipo de apoio, certeza ou seja lá o que fosse - eu só queria ficar aqui um pouco. Não há nada de especial acontecendo.

A garota ergueu uma de suas sobrancelhas louras.

– Certeza?

Percy confirmou com a cabeça e um sorriso. Logo olhou ao seu redor e voltou-se novamente para Annabeth.

– Alguém está precisando de mim por lá?

– Não seja tão convencido, cabeça de alga - respondeu Annabeth, tentando não sorrir - só estava querendo saber onde você estava.

– Isso significa que você precisa de mim, não é? - um sorriso formou-se no canto de sua boca.

– Que tipo de ideia é essa? Só queria saber se meu namorado não estava correndo atrás de alguma ninfa por aí - Annabeth retirou as mãos das de Percy, assumindo a postura mandona de sempre, a qual ele odiara até os... Até descobrir que gostava daquela semideusa, assim como gostava de todos os seus olhares sérios, de todos os seus sorrisinhos birrentos, e de seu comportamento senhora-responsável-mandona-irritante-ao-extremo.

– Ninfas? Não está me confundindo com outra pessoa?

Outra pessoa. Não era essa a ideia, mas assim que terminou a segunda frase, um pensamento veio até a sua cabeça, trazendo todas as lembranças que tinha dos velhos tempos. Grover. De acordo com o brilho que se formou nos olhos de Annabeth, a garota também havia tido o mesmo pensamento. Em questão de alguns segundos, todo o seu passado voltou à tona: o dia em que derrotara o Minotauro, a primeira vez que vira aquela menina irritante de olhos cinzas, o momento em que descobrira que seu melhor amigo era um sátiro, e muito mais. Aquilo acentuou ainda mais a sensação que sentia no peito. Talvez fosse realmente aquilo que estava sentindo desde que acordara. Nostalgia. A saudade dos momentos curtos que passara com seu pai, o abraço de sua mãe, o pequeno apartamento em Manhattan. E agora... as primeiras missões para o Acampamento Meio-Sangue.

Se antes estava decidido a voltar para as suas tarefas matinais e continuar o dia como sempre fora, agora não sabia mais o que era isso. Percy deu meia-volta e novamente sentou-se na rocha que lhe dava uma vista plena para o mar.

Ele suspirou.

– Lembra-se daquele tempo como eu? - perguntou, buscando algo em que se apoiar na vista à sua frente.

Annabeth assentiu, sentando-se ao lado do semideus.

– Isso é confuso - Percy continuou - sim, claro, enfrentávamos situações mais simples, mas também éramos crianças, mal sabíamos o que estávamos fazendo e a gente poderia... sei lá, com a idade que tínhamos na época, a gente deveria estar fazendo outras coisas menos... fatais.

Foi quando, para a supresa de Percy, Annabeth riu. Ele a olhou como se a garota estivesse fazendo algo estranho, mas isso só a fez rir mais. Por que essa crise de risos agora?

Do que está rindo?

Annabeth balançou a cabeça, para segurar mais uma risada.

– Eu não sei, você tem razão, é - Annabeth soltou mais uma risadinha - a gente era bem infeliz na época eu sei, mas houveram alguns momentos que... você sabe, eu não consigo esquecer.

– Como o que?

– A ilha de Circe - Annabeth disse finalmente - No momento em que ela o transformou em um...

– Ah, tudo bem, já entendi.

Ele a cortou antes que Annabeth pudesse terminar a frase. Percy bufou. Odiava ser lembrado daquilo. Não parecia muito digno para a estória de um herói ser transformado em porquinho-da-índia. A experiência havia sido terrível para ele, e mesmo depois de tantos anos, Percy ainda não havia esquecido o quão doloroso fora ter todos os seus sentidos reduzidos aos de um simples... porquinho-da-índia. Felizmente, poucas pessoas sabiam disso, mas ainda assim, o garoto sentia-se completamente envergonhado apenas em lembrar.

Annabeth respirou fundo e forçou uma expressão séria.

– O que quero dizer, cabeça de alga, é que não é tão terrível assim - continuou Annabeth - sim, passamos por muitos momentos ruins, mas alguns não são tão terríveis de lembrar hoje.

– Ah, claro, disse a garota que foi transformada numa verdadeira princesa enquanto o namorado era um porquinho da índia.

– Sim, sim, eu sei, mas convenhamos, isso não te dá vontade de rir?

– Nem um pouco - Percy respondeu, sem nem ao menos precisar pensar. Logo se arrependeu de ter soado tão frio, mas Annabeth apenas respirou fundo.

– OK, tudo bem. Não foi divertido para você - ela piscou - mas você com certeza se lembra de Gladiola.

Um sorrisinho formou-se nos cantos da boca de Percy. É, ele se lembrava.

– Não é todo dia que você é obrigado a cumprimentar um poodle tingido de, hã, rosa.

Annabeth assentiu.

Ele estava conseguindo compreendê-la. Annabeth estava buscando um ponto positivo em todos os momentos terríveis que eles enfrentaram juntos. Ele se lembrou das vezes em que lutou ao lado de Grover e da namorada, que na época era para ele apenas uma garota birrenta e bonita. Ta bom, uma garota birrenta muito bonita. Mas aquilo não importava na época. O trio passou por tanta coisa junta que era bastante complicado não lembrar daquilo como algo ruim... Mas recordar tudo aquilo alí, juntos, tranquilos, em um lugar tão querido como o Acampamento Meio-Sangue... Era um presente para seguirem em frente certos de que tudo ficaria bem. Tinha que ficar.

Percy passou seu braço ao redor dos ombros de Annabeth, puxando-a mais para perto. A garota encolheu as pernas e deitou sua cabeça no ombro do namorado. Talvez aquele fosse o motivo de ter sido "chamado" para a praia, naquele dia, naquela hora. Como se tudo houvesse sido combinado de uma forma bastante detalhada. Percy desceu a sua cabeça um pouco mais e a beijou.

Assim que seus lábios se afastaram, o semideus mirou o grande mar azul à sua frente, que reluzia melodiosamente.

Se aquele dia havia sido feito para ele organizar os pensamentos, Percy queria fazer isso ao lado de Annabeth.

Obrigado, pai, pensou. Para nós o mar sempre estará sereno.


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Notas finais do capítulo

Para compensar a falta pessoal do casal no último capítulo, este foi bem amoroso, não? :3 Gente... penúltimo capítulo. É, perceberam? Dos 15, já estamos no 14... Como estão se sentindo com relação a isso? Deixem seus reviews e se preparem para o final... o final de uma longa jornada de muito carinho, atenção e Percabeth! Mas então, o que mais gostaram no capítulo? Comentem ♡



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