15 Contos Sobre Percabeth escrita por AnnaSun


Capítulo 11
Isso basta para a felicidade


Notas iniciais do capítulo

Hey, peoples! Mais um capítulo para vocês. Demorei mas trouxe. É... Bom, queria agradecer muitíssimo a Juliet Harrison, que recomendou a fic com as palavras mais doces possíveis. Gente, é sério, vocês não sabem o quanto ler isso é bom! Obrigada por todos os comentários incríveis do último capítulo.

Espero que gostem desse novo e obrigada por tudo. Amo vocês!



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Percy Jackson mal abriu os olhos e já começou a sentir novamente aquela dor complicada e fina no cotovelo. Droga. O semideus gemeu com aquela dor perturbadora enquanto deslizava seu braço machucado, enrolado em gaze, para fora da cama. 

Percy já estava acostumado a esse tipo de coisa. Não gostava, mas de qualquer maneira, tivera que se acostumar com as dores que conseguia sempre que empunhava (ou não) sua espada para lutar contra alguém. Mesmo sem a mínima intenção de lutar ou de machucar, era quase obrigação para aquele garoto ganhar pelo menos alguns arranhões pela semana. Ele era um meio-sangue, filho do deus do mar, querendo ou não, estava fadado a isso. De qualquer modo, ainda não era algo que ele conseguia aturar sem perceber o quanto era chato.

Há dois dias atrás, Percy havia se machucado seriamente na caça à bandeira. Enquanto tentava defender o atalho que levava à bandeira do seu time, ele se envolveu em uma luta com alguns semideuses, e como a desvantagem numéria era de três a um, ele acabou perdendo. E você neste exato momento deve estar se perguntando: "Ah, mas ele é Percy Jackson! O Cara do Acampamento Meio Sangue, como pode perder tão feio?!" Mas acredite, não é tão fácil conseguir uma derrota com honra quando se luta contra dois enormes filhos de Hefesto e um de Apolo. Muito menos quando há um enorme galho que faz você tropeçar e cair de uma maneira ridícula e dolorosa sobre pedra grandona. Isso nunca havia lhe acontecido. Mas da maneira que aconteceu, dentro de alguns minutos, os caras o venceram o filho de Poseidon, capturaram a bandeira e Percy estava no hospital. 

"Não é sempre que se ganha algo, cabeça de algas" dissera Annabeth enquanto o garoto mordia os lábios para não gritar muito alto. Ela acariciava os cabelos escuros e desgrenhados do namorado. 

- Sei que para você, perder não é uma coisa muito legal, mas acontece. Tem que se acostumar.  

Percy realmente não gostava muito de perder, embora não assumisse taaaaaanto assim. Até poderia ter ficado bem depois daquela derrota constrangedora, não fosse Clarisse La Rue gritando o tempo inteiro que o via: "Olha o semideus da 'Pedreidon' aí, pessoal!"

***

Depois de levantar-se, o garoto trocou de roupa e se dirigiu até a fogueira do acampamento, apagada, mas ainda com resquícios da noite anterior. Ele havia sido liberado de todas as tarefas do dia, mas ainda assim, sentia-se sufocado. Na verdade, ele odiava era sim passar o dia inteiro sem ter algo para fazer, mesmo que no fundo soubesse que se tentasse erguer qualquer graveto, a dor se multiplicaria. Não era algo grave. Segundo Will Solace, era apenas um uma dor causada pelo mau jeito com que Percy bateu o cotovelo na pedra em que tropeçou e caiu sobre, na caça à bandeira. Mas ainda assim, era ruim o suficiente para que o impedisse de praticar qualquer esforço físico, condenando-o a três sofridos dias tediosos. Não era nada agradável ser um semideus.

Enquanto se aproximava do pátio das cantorias, Percy encontrou Annabeth conversando algo com Quíron, o centauro, e quando ambos o viram, Annabeth veio até ele.

-  Bom dia, cabeça de algas. Estou surpresa que tenha conseguido levantar da cama sozinho hoje. Achei que não acordaria tão cedo. 

- Isso foi uma piada? - Ele ergueu as sobrancelhas, mas a garota apenas sorriu.

- Claro que não. Estou falando sério. É que, pelo jeito que reclamava da dor ontem, duvidei que conseguisse se virar sozinho. Mas vejo não está mais tão mal - ela diz analisando o machucado, enrolado em gaze - Como está se sentindo?

Percy baixou o olhar para explicar.

- Ainda dói um pouco, mas consigo sobreviver - ele diz - essa não é a pior parte.

- E qual é?

- Não gosto de passar o dia inteiro parado, sem fazer absolutamente nada.

Annabeth franziu o cenho. 

- Quem te falou que vai ficar o dia inteiro sem fazer nada?

Ele a olhou.

- Não posso fazer esforço físico. Não posso fazer nada. 

Annabeth se voltou para Quíron e eles trocaram um olhar rápido cheio de informação. Quase que uma permissão para algo. Logo, ela se virou para o namorado novamente. 

- Quíron disse que posso perder algumas, hã, tarefas se você precisar de companhia hoje. A gente pode dar uma volta ou, bom, fazer algo que você possa fazer.

Percy virou-se para o centauro, buscando confirmação. Ele assentiu.

- Sim, Percy, talvez. Annabeth não tem muitas coisas para fazer hoje então pode lhe fazer companhia - ele analisou lentamente o braço do semideus, com os olhos estreitos - vejo que ainda não está completamente confortável com seu braço.

O meio-sangue concordou. Quíron mudou o peso de um casco ao outro e um silêncio tenso se instalou. 

Annabeth se pronunciou.

- É, bom, então, vamos indo. 

Quíron assentiu novamente.

- Sim, você tem razão - ele disse - Daqui há alguns minutos quero que estejam  no refeitório para o café da manhã. Tenho um aviso importante para dar.

***

Meia hora depois, estavam todos no refeitório, cheio de pessoas. Semideuses correndo, discutindo, rindo lotavam o pavilhão a céu aberto. Percy, como sempre desde que Tyson fora embora do acampamento, sentava-se sozinho em sua mesa, e naquela manhã particularmente, as coisas estavam mais complicadas. Após uns cinco minutos depois de todos terem entrado no pavilhão, uma sirene soou e todos ficaram em silêncio. Quíron entrou dando passos lentos.

Ele percorreu seus olhos estreitos pelo salão aberto, visualizando se todos estavam em silêncio. Ou bem preparados para a notícia.

Quíron respirou fundo.

- Bom dia, semideuses. Creio que a maioria de vocês não esperava me ver tão cedo fazendo um comunicado sério. Não faz muito tempo que vencemos as tropas de Cronos e todos vocês já sabem que estou bastante orgulhoso pela vitória cheia de honra que tiveram - ele disse - Creio também que depois de tanto tempo de preparação e luta, ainda não estão completamente recuperados do que passaram na batalha de Manhattan, mas não posso esperar mais tempo para falar sobre isso com vocês.

O centauro parou por um minuto, e então tomou fôlego novamente.

 - Não querendo mais que percam tempo, vou logo ao ponto. Sua luta ainda não acabou. Não quero que se desesperem ou fiquem nervosos, mas que saibam que... uma luta pior está por vir. Contra um inimigo muito mais forte com um exército muito maior. Uma guerra de milhares de anos, que foi sufocada por bastante tempo, mas que agora está mais próxima do que imaginam. E a vitória... não será tão fácil. 

Quíron desviou o olhar, dando baixa para que os campistas começassem a sussurrar pela sala. Sussurros desesperados, nervosos, aos poucos o pavilhão virou um pandemônio.

Percy olhou para Annabeth. Dentre todos os semideuses, ela estava a mais quieta. Talvez não calma, mas quieta. Olhava fixamente para a mesa, com o cenho franzido e aquela expressão que a fazia parecer uma pensadora do século XIX. Mas de alguma maneira, ele também não se encontrava desesperado. Já sabia que uma hora ou outra esse momento chegaria. Percy apenas fechou seus lindos olhos verdes e desejou que as coisas não demorassem mais. Ele ficava cada vez mais cansado das coisas ruins de sua vida.

Quíron levantou a cabeça e bateu o casco no chão do refeitório. Novamente, todos se calaram.

- Mas apenas finalizando o que disse, quero que comecem a se preparar. Não desejo que sejamos pegos de surpresa. No momento, não há necessidade de pânico, mas peço apenas que levem à sério o seu treinamento. O mundo pode estar em risco - ele respirou fundo mais uma vez e trocou o peso do corpo de um casco ao outro - Bom, não tenho mais nada a dizer. Só espero que pensem no que eu disse e... tentem ter um bom dia.

Ele assentiu uma última vez e se retirou do refeitório, o rosto sombrio, a expressão um tanto abalada. 

Ninguém conseguiu ter um bom dia, a partir daquele momento. Todos estavam nervosos, amedrontados com aquilo. Já haviam lutado uma vez, sim, numa grande batalha, mas agora era diferente. Ninguém sabia ao certo quem era o inimigo, mas todos esperavam o pior. As esperanças eram restritas. Durante o restante do dia, todos ficaram com receio de tudo aquilo que ouviram no café da manhã. Semideuses se distraíam facilmente nos treinos, conversavam sobre o que deveriam enfrentar ou até, uns e outros entraram em seu chalé e não saíram tão cedo. Percy não os culpava. O Acampamento Meio Sangue passara por uma grande e difícil fase na última batalha. Semideuses perderam seus irmãos, amigos, namorados. Grande parte do patrimônio sentimental das pessoas foi devastado. Não havia como pensar em lutar novamente, sem lembrar da quantidade de gente que morreu, tentando impedir um fim trágico.

Quando a noite já estava para cair, Percy foi até a floresta dentro do acampamento. Depois de vagar sem rumo por alguns minutos, ele encontrou a pedra na qual tropeçou alguns dias antes. A pedra que lhe causou aquele machucado, e um dia inteiro de "absolutamente nada". Naquele momento, vendo aquela pedra, Percy sentiu uma pontada de raiva. Gostaria de fazer algo contra ela... Se não fosse uma pedra. Ele coçou os cabelos escuros e sem muito a fazer, apenas desabou sobre a rocha. 

Ele estava preocupado. Não queria que seu mundo corresse mais riscos, só queria um pouco de paz. O quão impossível isso poderia ser? Como seria ser Percy Jackson, um cara normal? Ele não conseguia mais pensar na hipótese. Tudo aquilo colocava a vida de todos a quem amava em perigo. Sua mãe, seu padastro, seus amigos. Não era culpa dele, mas porque não poderia viver o que uma pessoa normal poderia apenas por enquanto? 

O tempo foi passando, a noite foi caindo. Ele estava quase quebrando uma regra. Quando ele escutou folhas sendo amassadas. Percy levantou rapidamente e pegou sua espada. Grrr!, ele cerrou os dentes. Se retirasse a tampa da caneta, a dor seria insuportável. Mal conseguia sustentar um caderno com o braço machucado, que dirá uma enorme espada de bronze?

Percy, deu um passo nervoso para trás, quando finalmente Annabeth surgiu no meio das plantas. Ela arregalou os olhos cinzas quando seus olhares se encontraram.

- O que está fazendo aqui?! Não pode ficar aqui até essa hora! Procurei você por todos os lugares deste acampamento, cabeça de alga! Estava prestes a informar um desaparecimento!

Percy baixou o olhar e sentou-se novamente na rocha.

Annabeth respirou fundo e fechou os olhos. Quando os abriu, sentou ao lado do namorado.

- O que está acontecendo? Não vejo você assim, tão triste, há bastante tempo... - Ela o olhou nos olhos, e uma centelha de brilho piscou nos olhos cinzas da sabidinha. O quanto ela podia ser linda para um mero mortal? E para Percy Jackson?

Ele franziu o cenho.

- Como você acha que poderia ser nossa vida sem, bom, você sabe, essa coisa de ser meio-sangue? - Percy perguntou, olhando-a no fundo de seus olhos, buscando ajuda.

Annabeth manteu-se séria.

- Do que você está falando?

Ele baixou o olhar, cansado.

- Se não tivesse tudo isso de Deuses, Titãs e etc. Se não tivéssemos que nos preocupar em lutar com forças maiores ou em empunhar uma arma mortal... 

E diferente do que ele esperava ouvir, a semideusa riu. Riu. De verdade, ela riu. Abriu aquele sorriso branco mexeu nos cabelos loiros e cacheados. Percy virou-se, sem entender aquilo, mas antes que ele falasse qualquer coisa, ela tomou seu lugar.

- Seria incrível. Nós seríamos um casal super comum de adolescentes, que estaria estudando para uma faculdade e nos formaríamos em algo que gostássemos. Nesse exato momento mesmo, nós estaríamos em alguma festinha boba ao invés de estarmos tendo essa conversa sobre as desvantagens de ser filho de um deus grego.

- Então do que está rindo?

Annabeth se inclinou para Percy e segurou firme sua mão. Quase riu ao perceber que ele ficava vermelho.

- Aí está a diferença, cabeça de algas. Não somos um casal "super comum de adolescentes". Somos diferentes. Para que ficar gastando o tempo em festinhas bobas se podemos salvar o mundo, Percy? É muito mais gratificante! É claro, tem suas desvantagens, mas olhe pelo lado bom. Você não é um garoto qualquer de Manhattan, você é Percy Jackson, filho do deus do mar,  que salvou o mundo! 

Annabeth falou aquilo com uma entonação de coragem, cheia de vida. Ele não sabia se ela se sentia realmente assim, ou estava apenas tentando animá-lo. De qualquer maneira, falara aquilo com tanto orgulho, que ele quase teve de concordar. Mas não era tão fácil...

- E quanto a guerra que está por vir? Não está óbvio que somos apenas parte disso tudo?

- Percy, essa guerra não é nossa. Como qualquer pessoa que pode fazer isso, nós vamos ajudar. Sua mãe não precisava, mas ela mesma ajudou na batalha que tivemos em Manhattan. 

Por um minuto, seu pensamento se voltou num flashback. Percy viu sua mãe e seu padastro, Paul Blofis arremessando tudo o que fosse possível em qualquer monstro que vissem pela frente (ou não vissem, no caso de seu padastro). Se não fosse o risco que correram, a lembrança poderia até ser divertida.

- De qualquer maneira, - continuou Annabeth - a gente tem que ajudar. Fazemos parte disso, mas a luta não é nossa. E de qualquer maneira, se morrermos, tudo vai se acabar. Não seremos os únicos.

Sem conseguir evitar, o semideus deixou escapar uma gargalhada. Wow!

Annabeth também exprimiu um sorriso.

- Do que está rindo?

Percy olhou em seus olhos.

- Você tem uma maneira única de encorajar alguém.

Ela baixou o olhar e riu também, aos poucos, manchinhas de vergonha se formando em suas bochechas. O silêncio tomou conta por alguns segundos, enquanto os grilos cantavam e as folhas eram remexidas pelo vento. Annabeth se levantou.

- Mas precisamos ir. De verdade. Se nos pegam aqui, não vai dar muito certo. A gente pode ganhar um ótimo castigo. Vamos.

Ela estendeu sua mão pequena, mas ao invés de segurá-la, Percy a puxou para perto e a abraçou. Um abraço longo, forte e quentinho. Ele poderia não mais soltar. Nem ela. 

Sim, ser semideus tem diversas desvantagens. Você põe sua vida em risco, e enquanto não morre por coisas que nem dependem de você, passa a vida inteira se preparando para isso. Ser semideus requer bastante coragem, esforço e vontade. Acima de tudo, requer paciência. E talvez ser quem é, ser Percy Jackson não seja algo necessário. Definitivamente não, ele poderia desistir. Não fossem as coisas boas que descobriu nessa vida. Um exemplo? Annabeth Chase, a namorada loira e semideusa mais incrível do mundo.


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