Night Troopers escrita por loliveira


Capítulo 5
Irmã-Problema




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"And I count my sins

And I close my eyes

And I take it in

And I’m bleeding out

I’m bleeding out for you"

Bleeding Out - Imagine Dragons

–Jazz, lave a louça. -Melody diz e eu não tenho escolha senão fazer o que ela manda. Eu estou com raiva porque Ruby está do meu lado, sem fazer nada, mas quem tem que lavar a louça sou eu. Só que, eu não quero que a gente brigue, então eu levanto e vou lavar.

Antes de Melody ir embora, a gente brigava bastante. Não só eu e Ruby, ou Ruby e ela, porque elas têm a idade parecida, mas todas nós. Nós brigávamos por tudo e por qualquer coisinha, e era quase insuportável ficar naquela casa. Minha mãe achava que era porque nós éramos irmãs e era normal brigarmos, mas eu sabia que não era só isso. Tinha realmente questões emocionais em todas as nossas brigas.

Não sei o motivo que Melody teve pra sair de casa, e eu até hoje tento descobrir porque isso aconteceu e se isso foi bom ou ruim. As brigas pararam, mas também, elas eram a única forma de comunicação entre nós, e ela indo embora simplesmente cortou nossos laços. Eu tinha uns doze anos quando ela foi embora. Eu lembro estranhamente de tudo o que aconteceu naquele dia. Era um sábado e Ruby tinha dormido demais por causa de um show que ela tinha ido no dia anterior, então meu dia começou com os gritos de Melody dizendo que Ruby era irresponsável. Minha mãe gritou uma vez só naquele dia, o que foi um milagre. Ela só disse "Calem a boca." e depois saiu pra pagar o jardineiro. Ruby estava com lágrimas nos olhos quando eu desci para tomar café, e Melody estava no quarto dela. Quando minha mãe esqueceu de fazer o almoço, Melody fez macarrão instantâneo e a gente comeu em silêncio, dava até pra ouvir nossas bocas comendo. Depois Melody subiu outra vez e Ruby lavou a louça, enquanto eu guardava os pratos. Eu não tive a chance de dizer um adeus ou qualquer coisa assim para minha irmã, porque ela esperou até a hora em que estava no banho para pegar o carro e ir embora.

Depois daquilo as coisas ficaram mais silenciosas e esquisitas lá em casa. Minha mãe raramente saia do quarto, e Ruby e eu só brigávamos pra ver quem não ia lavar a louça. Ela teve que crescer um pouco também, porque cada vez mais minha mãe parecia menos mãe, então ela teve que ficar com toda a responsabilidade. Como Melody levou o único carro que a gente tinha - que era realmente dela - nós ficamos sem opções pra nos locomover, então minha mãe usou o salário dela pra pagar uma bicicleta para Ruby e eu. Quando Melody foi embora, foi como se uma parte da nossa vida também tivesse ido. Talvez realmente seja verdade, mas eu sei que depois daquele dia, nem ela, nem Ruby, nem eu e muito menos minha mãe fomos as mesmas.

–Jazz, leve o lixo para fora.

–Já vai!

–Como assim, já vai? Estou mandando você ir agora. -Não é o que ela diz que me irrita, é o tom de voz que ela usa. Como se ela fosse minha mãe. Ou como se eu lavasse a louça e levasse o lixo ao mesmo tempo.

–Não dá pra fazer duas coisas ao mesmo tempo, Melody. -Às vezes, parece que tudo volta a ser como era antes, quando a gente briga, como se ela nunca tivesse ido. Ela para na soleira da porta, e me lança um olhar irritado.

–Então pare o que está fazendo e leve a merda do lixo pra fora, Jazz. -Ela frisa o "Jazz" e eu desligo a torneira, e pego a sacola de lixo da mão dela.

–Só para constar, -Eu digo, sem tentar controlar a voz agora. -Você não é minha mãe, Melody. -Ela fica chocada, mas eu não ligo. Era para atingir bem no fundo do coração mesmo. Eu só quero que ela acorde e perceba que assim ela não vai ajudar nem tornar ninguém mais responsável. Gritar que nem a mamãe não vai trazer ela de volta, mas eu também duvido muito que ela queira a mamãe viva. Eu não sei nem se eu quero ela viva. Eu não sei de mais nada, porque eu começo a chorar, e quando ela abre a boca para falar, eu saio pra jogar o lixo fora. Porque conviver com ela é tão difícil? Porque ela foi embora? Só Deus sabe o quanto eu tive vontade de perguntar isso pra ela, mas alguma coisa me impede. Eu acho que é por isso que as pessoas evitam fazer perguntas: porque elas têm medo da resposta. Eu tenho medo da resposta. Talvez ela não ame a gente, ou não queria mais olhar pra nossa cara quando acordasse, ou talvez ela simplesmente não suportasse a porra das nossas músicas, ou não gostava da comida da Ruby ou da mamãe. Tem todos esses possíveis motivos no mundo e eu nunca vou saber porque eu tenho medo da resposta. Eu tento não deixar as coisas que minhas irmãs fazem me abalar, mas elas cresceram comigo, e meu Deus, é impossível, por mais que eu tente. Eu paro e fico encarando a coisa do lixo. Como é um subúrbio, as lixeiras ficam nas ruas, então todo mundo pode jogar o lixo no mesmo lugar.

Quanta tralha não deve ter ali dentro do lixeiro? Quanta história de quanta gente deve estar ali, indo embora? Talvez isso seja besteira da minha cabeça, e provavelmente só tem aparelhos quebrados e restos de comida, como na casa de Melody, mas não consigo evitar me perguntar isso, do mesmo jeito. O que fez as pessoas jogarem essas coisas fora? Talvez eu precise me livrar de algumas coisas também. Seco minhas lágrimas e me viro para entrar. Vejo Morgan me encarando e um pouco surpreso com os meus olhos vermelhos. Eu só aceno com a cabeça e ele ergue a xícara de café. Faz três dias desde aquela noite que nós fizemos nevar na sala da empresa do pai de Lacey. Eu ainda não consigo dormir, mas eu fico lendo livros e escutando música, já que a janela de Morgan está fechada, porque ele foi alguns dias na casa de um amigo dele. Pelo menos é isso que a Ruby me falou, e ao que parece, ele está de volta. Quando eu entro em casa, pego minha bicicleta e vou para a rua de novo, mas eu paro quando Ruby me chama, quando eu olho para ela, ela vem correndo na minha direção.

–Ei, dá pra comprar Always* pra Melody? -Eu faço cara de idiota, tenho certeza.

–Mas ela está grávida. -Ela revira os olhos, me entregando uma nota de dez dólares.

–Eu sei, mas ela quer estar preparada pra quando o bebê nascer. Ela não quis vir aqui porque acho que vocês brigaram, sei lá, só compra aí.

E então ela  sai correndo. Morgan ainda está parado na porta da casa dele, de pijama e eu estou encarando a nota na minha mão, sentindo meus olhos marejarem. Acho que minha irmã nunca vai mudar. Vai ser sempre assim. Nós brigamos, e ela simplesmente vai embora.


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