Night Troopers escrita por loliveira


Capítulo 24
Epílogo.




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"You can sit in a park or a field
All day long
Feel the sun shining on your face
And forget everything that's wrong

Jump into the car with me
Drive on down to summertime
Jump into the car with me
Drive on down to summertime

Summertime"

Drive On Down - Molotov Jukebox

–Olhem pra câmera! –Melody diz, apontando a câmera para nós, sorrindo enquanto eu enterro meu rosto na curva do pescoço de Morgan, morta de vergonha.

–Melody, é tipo, a centésima foto que você tira. A gente tem que ir. –Eu digo. –Mesmo. –Ruby pega Shepley no colo, rindo da cena. Ela tem estado de bom humor desde a semana passada, porque saiu com o Chick pela primeira vez em alguns anos, e pelo visto ele mudou. Eu nunca vi ela tão feliz na minha vida, e por mais que Chick seja um idiota às vezes, eu estou feliz que seja ele quem esteja deixando minha irmã tão animada.

A mãe de Morgan, agora Ms. Fuller ao invés de Mrs. White está sentada do lado de Ruby, tentando pegar nas mãozinhas rechonchudas de Shepley, só que ele mexe elas de um lado pro outro, dificultando a missão dela. Ela e Ruby começam a conversar sobre creches de bebê e eu volto a prestar atenção no que Melody está falando.

–Jazz. Eu vou te matar se você não levantar essa cabeça. É a última.

–Você disse isso três fotos atrás, querida. –Kurt diz, pegando uma cerveja e sentando na poltrona do outro lado.

–Era pra você estar ME defendendo. –Ela replica, fingindo indignação. –E, Lacey, ótimo trabalho com a maquiagem da Jazz. Ela ficou incrível.

Lacey, Thomas e Chick também estão aqui. Eles têm vindo aqui bastante nos últimos meses. Os três estão sentados no chão apoiados com as costas na parede. Chick nem presta atenção, só olha pra Ruby e eu sorrio. Ele deve ter mudado mesmo. Lacey e Thomas continuam namorando, firme, e às vezes um de nós provoca eles com coisas sobre casamento. Minha irmã disse que já estava na hora, mas os dois ficam vermelhos quando alguém fala isso.

A banda continua ainda, mesmo que sem o Shep as coisas não pareçam as mesmas. Eles estão fazendo sucesso, embora a demo deles tenha sido rejeitada por algumas gravadoras. É claro que isso não impediu eles de tocarem com todo o coração, principalmente Chick, que ficou abalado pelas coisas que aconteceram com Ruby, David Alguma-Coisa e depois a morte de Shep, se tem algo que Chick é bom, é em nunca perder a animação.

Ele entrou pra universidade também. Na mesma de Thomas, e Ms. Fuller não poderia ter ficado mais orgulhosa. E ela também gosta de Ruby, o que faz Chick ganhar alguns pontos com ela. Ele está em um programa de artes, mas voltado para a música, e até agora não teve vontade de largar e sair gritando nem uma vez, segundo ele. E a universidade fica há vinte minutos da de Ruby.

Ela achou um comprador para nossa casa. Há três meses. Agora, ela é o lar de três crianças com uma mãe solteira, lembrando sorrateiramente os antigos residentes daquela casa. Melody sempre faz piada disso, mesmo que não tenha graça nenhuma, só que a gente finge rir. Eu fui visitar a família um tempo atrás com Ruby e apesar de ainda parecer familiar, eu não sinto mais o que eu sentia quando descobri que nós íamos vender a casa. Acho que tem coisas que precisam ir embora pra nós finalmente seguirmos em frente. E a casa era uma delas. E eu estou feliz que agora, ela vai ser cenário de algumas memórias felizes das crianças. E quando eu sinto falta daquela casa, eu penso nisso. E a saudade passa.

O pai de Morgan foi condenado a vinte anos de prisão, e a mãe de Morgan ainda conseguiu um documento proibindo que ele chegue perto dela, ou algo assim. Foi um alívio pra todo mundo, principalmente para Morgan. Ele ama o pai, eu sei disso. Mas a segurança de Ms. Fuller era mais importante do que ferir os sentimentos do pai, e foi um grande ato de coragem a ligação que ele mesmo fez para a polícia, para denunciar ele por violência doméstica.

Ms. Fuller voltou para casa. Ela começou sessões de terapia, por causa de alguns traumas de todos esses anos de casados que ela e senhor White tiveram, mas agora ela está melhor. Ela trabalha como vice-presidente da companhia de rádio de Olívia (o que me faz ganhar uma carona pro trabalho todos os dias) e Olívia tem tempo para achar um bom marido para ela agora, finalmente.

Jessica continua difícil de se lidar, mas as coisas estão melhores entre a gente, depois daquela conversa, seis meses atrás. Principalmente porque nós estamos na mesma escola. Max e os outros também estão e é bom ter amigos em uma escola nova já de cara.

Eu fiz amigos novos, também. Não são amigos tão... “amigos” como Lacey e Olívia, mas acho que um dia nós chegamos lá. Eles também são amigos de Max e os outros. Morgan também está lá, estudando nas minhas salas e me ajudando quando eu não consigo fazer alguma coisa o que me faz sentir como se estivesse vivenciando a experiência completa de estar em uma escola nova. Ele me ajuda a estudar, mas na maioria das vezes nós nos beijamos mais do que estudamos, o que pra mim também é ótimo, mas para as minhas notas... não tanto assim. Mas a gente dá um jeito.

Shepley está dando trabalho. Mas ele tem seis meses, e que criança dessa idade não dá trabalho?

Ele ainda vai nos deixar loucos, porque ele CHORA toda hora e eu não estou acostumada com um bebê. E não acho que vou me acostumar, então eu estou contando os dias até ele crescer. O que eu quero que aconteça muito rápido.

Eu dou um beijo em Shepley, depois na mãe de Morgan (que gosta de mim!) e em Melody. Morgan já está na porta, e um pouco vermelho também, por causa dos comentários sem graça de Melody. Quando nossos olhos se encontram, ele dá um sorriso, depois aponta com a cabeça para o carro e eu faço um sim.

–Até depois.

–Se divirtam! –Lacey grita.

–Se comportem. –Kurt grita e todo mundo faz “hms” de provocação. Eu olho pro chão e seguro a mão de Morgan.

–Digam não as drogas.

–Dirija com cuidado.

–A gente já entendeu! –Morgan grita, porque nós já estamos no carro. Ele abre a porta pra mim, e eu entro, depois ele vai para o lado dele e liga o carro.

Essa semana nós fizemos seis meses de namoro, o que segundo ele é o recorde de tempo de um relacionamento, e pra mim também. E é fevereiro, então caiu bem na semana dos dias dos namorados. Apesar dele já ter me dado um presente – um buquê de rosas MAIS um livro de poesias românticas, o que foi fofinho – nós ganhamos de presente duas entradas pro show do Orange Lemonade que é em outra cidade, então vai demorar bastante, mas eu não me importo. Uma das partes mais divertidas é olhar as estrelas e poder falar do que eu quiser enquanto nós andamos de carro até o lugar do show. Eu sinto uma liberdade que ainda é meio nova para mim, mas para Morgan também é. Ele continua o mesmo garoto que me consolou quando eu chorei pela minha mãe e que me levou para ver o show do irmão sem nem ao menos me conhecer, mas agora é como se um peso tivesse saído do ombro dele e ele também pode falar de qualquer coisa que ele quiser, porque nós não temos segredos. Parece clichê, eu sei, mas é verdade. Ele fala sobre a época de Jessica, eu falo da minha mãe, de Olívia, de Kurt e sobre o que eu penso sobre ele. E, se quer saber, tem sido o paraíso.

Melody diz que isso é estar apaixonada, não fazer ideia de que você estava perdida até achar a pessoa certa e se sentir finalmente com um rumo, mas eu sei que não é só isso. Foram um conjunto de fatores que me fizeram perceber como eu estava perdida. Eu estava quebrada, e tudo que eu precisava era superar e seguir em frente.

É claro, que eu ainda sinto falta da minha mãe. Todos os dias, pensando sempre nela. Mas a terra não para de se mexer toda vez que algo ruim acontece, e nós temos que ser assim também. Eu faço isso por ela. Porque ela até podia ser difícil de se lidar, mas de um jeito esquisito ela amava a gente. Minha mãe só não soube lidar com seus próprios demônios. Minhas irmãs e eu somos mais fortes que ela. A gente sabe disso. E é o que me faz continuar vivendo, dia após dia, e é o que faz as coisas parecerem melhores agora.

–Você acha que a gente esqueceu alguma coisa? Sempre que eu vou num show grande eu esqueço de levar alguma coisa. –Morgan murmura, falando mais consigo mesmo do que comigo.

–Deixa eu ver. –Respondo. –Carteira? De identidade e de motorista? –Ele joga a carteira para mim, e eu abro para ver os documentos ali.

–Checado. –Eu boto no porta luvas. –Garrafinha de água aqui. Casaco... droga, eu esqueci o meu. –Eu me viro para encarar ele. Ele sorri levemente.

–Eu te empresto o meu se você precisar.

–Mas aí, -Eu começo –Quem vai ficar com frio é você.

–Mas aí- Ele diz, usando o mesmo tom que eu usei -Você pode me esquentar. –Ele diz num tom malicioso, mas brincalhão e eu dou um empurrãozinho no ombro dele. Morgan pega a minha mão e deixa-a no seu colo, entrelaçando nossos dedos.

Eu e ele não perdemos nossa “essência noturna”, por assim dizer. Nós continuamos saindo todas as noites, só que com uma frequência menor, porque as aulas começaram. Mas ainda é melhor pra pensar, e conversar sobre aqueles assuntos mais pesados, que nós precisamos parar pra pensar nas respostas. O mundo sempre parece mais silencioso e melhor para “pensar” quando está em completa escuridão, exceto pelas luzes da cidade. A rota de fuga continua a mesma – pela escada da casa dele, e algumas lembranças, boas e ruins, sempre invadem a minha mente, me lembrando daquele verão, onde praticamente TUDO na minha vida começou.

Olhando para trás, eu me sinto idiota por, nem que fosse por alguns dias, ter achado que aquelas seriam as piores férias da minha vida. Mas então, eu não fazia ideia do que me esperava. Eu não fazia ideia de que eu iria achar pessoas maravilhosas em meio as tragédias que tinham acontecido na minha vida. Eu aprendi a amar as pessoas e a me sentir amada também. Eu percebi coisas sobre mim mesma, e as outras pessoas que eu nunca teria descoberto se nós continuássemos com a tradição da minha mãe, de ir para a casa da irmã dela para passar as férias. Ruby estava certa, mudanças assim sempre são boas às vezes. Eu conheci Morgan, que eu realmente acho que possa ser o amor da minha vida. Eu posso só estar extremamente apaixonada para dizer algo assim, mas por enquanto é verdade. E eu não ligo de viver o resto da minha vida pra provar que isso é verdade, se ele também estiver do meu lado.

Eu conheci a banda de Chick, e com ela veio Lacey, e eu nunca tive amigos melhores. Eu aprendi a ser amiga com eles, também. Eu aprendi a viver e um dos melhores momentos da minha vida, eu passei com ELES. Rindo, ou chorando, ou correndo, pulando, gritando e suando também. Mas eu vivi com eles de todas as melhores formas possíveis, e eu vou ser eternamente grata por isso.

As férias não foram um conto de fadas, e as lembranças de Shepley, as brigas com Melody e o episódio com Morgan na casa dele me fazem ter certeza disso. Mas eu não mudaria nada, se nesse momento, eu estivesse onde eu estou agora. Seis meses depois, finalmente me sentindo bem. Completamente bem. Com tudo que eu poderia pedir na minha vida. E mais aquilo que eu não pensaria em pedir, como um cunhado legal chamado Kurt, uma sogra legal e uma casa que eu finalmente possa chamar de lar, que surpreendentemente é mais conhecida como “casa da Melody” – que agora, se chama “Minha casa” também, porque eu não vou esperar até perder ela pra entender que ela é tão minha quanto é dos outros.

–Remédio pra dor de cabeça? –Ele pergunta e eu concordo com a cabeça.

–Minha bolsa.

–Prendedores de cabelo? –Eu olho pra ele divertida.

–Por quê? Você precisa? –Bem, o cabelo dele é meio grandinho mesmo. Ele revira os olhos.

–Nem vem. VOCÊ que vive esquecendo de trazer e reclama de calor o caminho pra casa inteiro. –Eu finjo indignação.

–Isso não é verdade.

–Você trouxe ou não?

–Trouxe. Hmmm, dinheiro?

–Aqui. –Ele diz.

–Celular? –Ele faz um sim com a cabeça. –Tem tudo que precisa? –Eu pergunto, sorrindo um pouco com as minhas próprias palavras, e a resposta dele reflete a minha resposta, e os meus pensamentos. Ele segura minha mão mais forte enquanto diz:

–Tenho.


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Notas finais do capítulo

♥ fim