Night Troopers escrita por loliveira


Capítulo 20
Começo das Mudanças


Notas iniciais do capítulo

MURDER IS A CRIME OK



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"An' oh, when she'll open her eyes

There'll be no surprise

That she'll grow to be

So beautifully

Just like her mother

That's carrying"

Capri - Colbie Caillat 

O pesadelo sempre começa do mesmo jeito.

Eu não sou uma figura concreta, mas eu sei que sou eu andando pela minha antiga casa. Algumas coisas estão diferentes, mas eu sei que é a minha casa. A minha visão está borrada, como se eu estivesse vendo tudo através de um vidro embaçado e eu não tenho plena consciência dos meus pés tocando o chão. Eu estou assustada. Eu estou curiosa. Eu estou com medo. Eu sei que está frio e eu sei que eu estou com um casaco, porque dá pra ver as mangas nos meus braços quando eu olho para baixo.

Tem vento, apesar das janelas estarem fechadas, e eu escuto janelas batendo, estranhamente. Um. Dois. Três passos. Eu entro na sala. As coisas parecem familiares e tem cheio de casa, mas eu posso ver objetos fora do lugar. O quadro, caído no chão, com um vidro quebrado. O sofá rasgado e a cadeira está jogada para trás, fazendo a sala parecer maior.

–Mãe? -Eu pergunto. Minha voz está diferente. Está sem tom nenhum, e não é minha voz, mas sai da minha boca do mesmo jeito. Eu não ouço nada. Então dou mais um passo a frente. Eu sei que eu estou suando agora, porque o calor toma conta do meu corpo enquanto eu tremo de medo. Eu estou sozinha, mas sinto que alguma coisa está errada. Muito errada. Um frio percorre minha espinha e eu puxo o casaco para mais perto. -Mãe? É você? -Eu pergunto, depois de ouvir barulhos vindos de longe. Dou mais um passo para frente.

Alguém rasgou o sofá com uma faca. Dá pra ver ela jogada no fundo do sofá preto, no meio de um dos buracos nele. E eu me pergunto quem fez isso. A visão embaçada me impede de ver claramente o vulto se mexendo, mas eu viro para encarar ele do mesmo jeito. Parece a minha mãe. Com os cabelos soltos e bagunçados, e a estatura baixa, quase da minha altura. A cor do cabelo é igual também.

–Mamãe. -Eu digo, suspirando de alívio depois que eu julgo ser ela. -Quem fez isso?

Ela não responde.

–Está tudo bem? -Minha voz fica mais clara agora, encontrando sua normalidade, mas a visão ainda está embaçada. -Você precisa de algum remédio? -Falo com uma voz suave.

Aquele frio volta. Algo está errado. Minha mãe não se mexe, não fala nada, não demonstra qualquer reação. Não dá pra ver os olhos dela direito, nem sua expressão. Um, dois, três passos. Eu chego mais perto dela. Ela grita, mas eu não me assusto, porque eu já estou acostumada. Ela grita com Ruby toda hora também.

–Calma, -Eu suspiro para ela. -Vai ficar tudo bem.

Tudo de repente, as coisas mudam. E eu quero gritar para minha mãe que eu estou com medo, mas eu não sei exatamente o que eu estou temendo. Então eu não falo nada. Ela grita outra vez e por um segundo eu vejo as coisas com clareza. Minha mãe não é minha mãe. É uma mulher com o rosto parecido com o dela. Talvez igual. Cadê a mamãe? -Eu quero gritar. Mas eu não encontro minha voz. O que fizeram com ela? A mulher igual a ela se mexe tão rapidamente que apenas tenho que esperar por um segundo até ver vermelho. Tudo vermelho. Mas eu estou fisicamente bem. Isso é sangue. Mas não é meu. É o da mulher. Ela está caída no chão. As coisas ficam mais vermelhas. Tudo fica com cor de sangue. Cheira a sangue também. Eu não consigo falar, então corro para a porta, pedir ajuda, mas eu não consigo. Eu não acho a porta. Cadê a porta?

As coisas ficam todas vermelhas. Eu sinto meus pulmões arderem quando eu não consigo mais respirar. Eu estou afogando no vermelho. Eu estou com medo. Eu quero a minha mãe. Ar. Eu preciso de ar. Eu não vejo mais nada. Então fecho os olhos, apertando eles, esperando a imensidão vermelha de sangue sumir.

Começo a gritar.

Eu abro meus olhos e sinto as mãos de Ruby me sacudindo.

–Jazz! Jazz! -Eu paro de gritar. Mas o choro vem. Eu sinto meu coração acelerado. -Foi só um pesadelo. Calma, calma... -Ela me abraça, alisando meu cabelo como ela sempre fez quando eu tinha pesadelos.

–Foi horrível.

–Eu sei, eu sei... -A voz dela é urgente, mas é familiar, me trazendo cada vez mais para a realidade. Foi só um pesadelo.

–Era ela de novo.

–Não foi real. Sh...-Ela diz quando meu choro fica mais forte. -Não se preocupe... -Eu vejo Melody entrar no quarto. Ela não diz nada, como a gente, mas alisa meu cabelo também. Ela sempre alisou meu cabelo melhor que a Ruby, mas eu não lembro qual foi a última vez que ela fez isso. Quem vem me socorrer quando eu tenho pesadelos é sempre a Ruby.

–Calma, Jazz. -Ela fala. -Foi só um sonho ruim, não era verdade...

–Eu vi a mamãe morta. -Eu soluço. -Não parecia ela, mas isso é verdade. -Ela começa a fazer uma trança no meu cabelo, e eu choro forte ainda. Ela não responde, só termina de fazer a trança. Depois, nós três encostamos na parede, e a Ruby entrelaça os dedos com os meus, apertando eles. Eu me sinto segura agora, e eu já tenho consciência de que aquilo foi só um sonho, meu coração está desacelerando também, e a minha respiração normalizando.

Depois de um segundo, eu vejo o meu lençol ficar escuro. Meus olhos se arregalam, ou isso é água ou...

–Melody.

–O quê? -Ela me encara e eu gesticulo para o lençol. Ela dá um pulo.

–Ah...

–...Meu Deus. -Eu termino para Ruby, meu coração acelerando DE NOVO.

–Minha bolsa estourou. -Melody diz, como se não acreditasse. Nós nos levantamos, ajudando Melody a ficar de pé. -Ah meu Deus. KURT! -Ruby sai do quarto, correndo.

–O que eu faço? -Eu pergunto desesperada para Melody.

–Fique calma. -Ela diz, respirando fundo. -E pegue a bolsa do bebê no quarto dele, em cima da mesa. -Eu saio correndo, indo para o outro quarto e indo em direção ao quarto do bebê. Eu pego a bolsa e volto pro quarto. Ela está parada no mesmo lugar, com a expressão aterrorizada.

–Fique calma. -Eu murmuro para ela. Ela balança a cabeça, concordando. Kurt entra no quarto de pijamas e vai ao encontro dela.

–Querida, tudo bem. Calma, respire fundo. -Ela respira. -Jazmine, por favor, você pode ir abrindo o carro para nós? -Ele diz lentamente, tentando conter sua própria ansiedade. Eu desço correndo, abrindo a porta de casa e correndo para o jardim. As luzes do carro de Ruby piscam e eu abro a porta do motorista, correndo para ligar o motor. Eu vejo eles saindo de casa, Ruby com a bolsa e Kurt ajudando Melody a descer.

Eles entram por trás e Ruby vem para o meu lado. Acho que eu vou dirigir hoje. Eu fecho a porta e começo a dirigir.

–Mais. Rápido. -Melody diz pausadamente. Eu estou dirigindo no limite, rezando para que a tremedeira das minhas mãos não piorem em nada a situação.

–Ela está indo no máximo, querida.

–EU QUERO MAIS RÁPIDO. PORRA. -Ela grita e surpreendentemente Kurt solta uma risada.

–Jazmine, você pode ir... um pouquinho mais rápido? -Eu viro a esquina, chegando no hospital. Eu mal termino de estacionar e os dois já estão saindo do carro, em direção a porta do hospital. Eu e Ruby congelamos no lugar.

–Nossa irmã está tendo um bebê. -Ela fala, como se quisesse acreditar.

–Nós vamos ser tias. -Eu respondo. -Eu não sou muito nova para ser uma tia?

–Imagina eu.

–Você acha que a gente...

–Acho. -Ela concorda com meus pensamentos não ditos e nós saímos do carro. Agora que eu percebo que eu estou com um short de pijama de bolinhas e uma blusa qualquer, parecendo um mendigo, mas Ruby não está melhor também. Ruby fala com uma mulher no balcão e nós subimos.

Eu não parei pra pensar como vai ser ter um bebê em casa. Um bebê. Um ser humano que precisa de ajuda para tudo vinte e quatro horas por dia. Até agora ele não parecia real... e é um menino. Como eu vou fazer um um mini-garoto na minha casa? Ou melhor, o que ele vai fazer comigo na casa dele? Será que eu vou conseguir ajudar Melody? Será que as coisas vão mudar? O que eu vou fazer? Eu estou com medo, pela trigésima vez essa noite. Quando nós chegamos no corredor, Ruby sai para encontrar a sala de parto de Melody, mas eu vou mais devagar, porque preciso de tempo pra cair na real. Eu vou virar tia. TIA! Dá pra acreditar? Minha mãe ia ser avó!

Eu olho para o lado e levo um susto vendo... Chick. Ele está correndo no outro corredor e eu imediatamente penso no pior. Algo como: a mãe dele morreu. Eu fico pálida, e a única coisa que eu consigo pensar é em Morgan. Eu não falo com ele há dois dias, desde o que aconteceu na casa dele, mas ele não aguentaria a mãe dele morrendo. Ao invés de ir para a sala de Melody (eles não me deixam ver a operação de qualquer maneira mesmo...) eu corro atrás de Chick.

Quando eu finalmente acho ele, percebo que está chorando e os meus olhos se arregalam de medo.

–Chick! -Ele levanta a cabeça, depois corre para me dar um abraço tão forte que quase me esmaga. Ele está chorando como eu estava quando acordei.

–O que aconteceu?! É a sua mãe?

–Minha mãe? Como assim? -Pausa.

Ele NÃO sabe o que está acontecendo na própria casa?

Outra pausa. Não aconteceu nada com a mãe dele.

–O que aconteceu? -Ele volta a chorar.

–O Shep... ele... morreu. -Ele precisa de todas as suas forças pra terminar a frase.

–O QUÊ? -Eu não devia pressionar ele, até porque ele está chorando, mas eu não posso acreditar no que eu estou ouvindo.

–Motorista bêbado... -E então ele acrescenta: -Os dois.

Eu começo a chorar, abraçada com Chick. Chorar de raiva e de tristeza. Raiva pelo que ele fez. Raiva por não ter ajudado ele quando eu ainda tinha chance, raiva por ele ter batido em outro carro. Raiva por ele ter morrido. Raiva.

Mas a tristeza é maior. Eu não conhecia Shepley do jeito que alguns da banda e Morgan conheciam. Nós só nos divertimos juntos algumas vezes. Mas ele era uma pessoa boa, na maior parte do tempo. Eu só queria que ele tivesse mais tempo para descobrir isso. Chick me abraça bem forte. E eu sinto os soluços dele no meu ouvido. Pobre Chick.

–Você... já ligou para os pais dele?

–Já. Eles estão vindo. O médico vai dar a notícia para eles.

–E para os seus? -Eu pergunto, hesitante. Mas eu não preciso de resposta, porque só Morgan aparece no corredor parecendo exausto e surpreso por me ver. Os pais dele não vem.

Quando Morgan já está perto, eu posso ver os olhos vermelhos por causa do choro, e o cansaço no rosto.

–Por que você está aqui? -Chick pergunta.

–Melody está tendo o bebê.

–Jazz! -Ruby grita, e eu olho por cima do ombro de Morgan para ver ela acenando para que eu vá até ela.

–Eu preciso ir... -Eu aviso, secando as lágrimas. Dou um beijo na bochecha de Chick, e eu olho por dois segundos para Morgan, que está com uma expressão de arrependimento. Mas eu não posso lidar com isso agora. Então, sem olhar para trás, eu vou até o quarto de Melody com Ruby. Kurt e Melody já estão lá, cansados e suados, e eles tem chorado também. Vou deixar pra falar sobre Shepley depois. Eles não merecem ouvir más notícias agora. A enfermeira traz o bebê para nós vermos e eu observo todo mundo se encantar e sorrir bobos para o garotinho. Eu ainda estou triste por causa de Shep, mas eu não contenho um sorrisinho. Ele é lindo, com cheirinho de bebê, sem cabelo, e olhos claros.

–Jazz... -Melody começa.

–Sim?

–Nós estávamos pensando... você nunca teve a chance de escolher o nome para um irmãozinho... então, o que você acha de escolher para ele? -Ela aponta para o bebê e eu abro um sorriso. Eu não acredito! Eles vão me deixar escolher o nome para o bebê!

Eu penso um pouco. Eu podia escolher o nome mais esquisito do mundo como vingança por terem botado meu nome de Jazmine, mas, pensando bem, eu acho que eu sei um nome, apropriado o bastante, e que vai sempre significar mais do que o bebê possa algum dia imaginar para mim.

–Que tal... -Eu digo -Shepley? -Eu termino, com lágrimas de tristeza e alegria saindo pelos meus olhos. Melody sorri e eu sinto que o meu trabalho está feito.


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Notas finais do capítulo

PLZ N ME MATEM gostaram?