Night Troopers escrita por loliveira


Capítulo 2
O Começo da Noite




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"Take me out tonight

Take me anywhere

I don't care, I don't care, I don't care

Just driving in your car

I never never want to go home

Because I haven't got one

Oh, I haven't got one."

There Is A Light That Never Goes Out - The Smiths

Eu sou uma adolescente. Eu deveria dormir assim que encostasse a cabeça no travesseiro, mas aqui eu estou, acordada a uma da manhã, enquanto eu escuto minha irmã roncando no quarto do lado. Eu tentei de tudo. Contar carneirinhos, letras do alfabeto, pensar no meu ex-namorado... de tudo. Mas toda vez que eu fecho os olhos, eu vejo minha mãe. Morta. E a culpa me engole e eu não consigo dormir. Estou com a luz acesa e "Night Keepers" está tocando no rádio, então eu aumentei o som. Estou andando feito uma louca pelo quarto pois eu não consigo dormir. É como estar presa e querer sair. Não dá. A imagem da minha mãe, morta e caída no chão me assombra. Na verdade, é a primeira vez que isso acontece. O que é esquisito porque até ontem eu estava dormindo na mesma casa em que vi minha mãe morta, e só agora, que estou longe daquele lugar, eu ando tendo essas visões da minha mãe. Eu quero gritar, mas isso não é permitido, já que posso acordar os vizinhos. Eu. Só. Quero. Dormir. É tão ruim assim? 

Eu olho para a janela e levo um susto. O garoto de hoje cedo está me encarando, se segurando para não rir. Vejam minha sorte: ter a janela de frente para o quarto dele. Essa casa está ficando cada vez mais interessante. 

-O que você quer? 

-Olá para você também. -Quando eu não respondo, só fico encarando ele, ele respira fundo e diz: -Morgan. 

-Você sempre espiona as pessoas pela janela desse jeito? 

-Eu não estava te espionando, eu olhei pela janela e você estava aí, andando como uma idiota. - Suspirei.

-Não consigo dormir. 

-Nem eu. 

-Azar o seu.

-O seu também. -Ele replica e a gente se encara. -Você ainda não me falou seu nome. 

-Porque eu deveria?

-Porque você é parente da minha vizinha? Por educação? Porque você é legal? -Como ele se acha no direito de dizer qualquer coisa desse tipo para uma pessoa que ele nem conhece? 

-Jazmine. -O rosto dele se ilumina, como se ele tivesse ganhado na loteria.

-A famosa Jazz. 

-Não, - eu digo, tentando controlar a raiva - me chame assim, O.K? Meu nome, é Jazmine. -É óbvio que minha irmã teve que falar sobre meu apelido para todo mundo. Para suas amigas vizinhas, urgh. 

-Ei calminha aí. Muito prazer, Jazmine. -Ele levanta as mãos, rendido. 

-Que seja. -Nós ficamos em silêncio por alguns segundos. Eu tentando pensar em um jeito de dormir e ele pensando em algo para falar, eu aposto. Sento na janela. 

-Não consegue dormir porque? -Ele pergunta, sentando na janela também. O espaço que nos separa é de um metro, no máximo. Eu penso em contar sobre minha mãe, sobre Melody e Ruby e sobre meu ex-namorado, mas não estou preparada pra isso. 

-Muita coisa na cabeça, -Eu digo, e o silêncio desconfortável volta. -E você? -Ele ergue uma sobrancelha e me olha. 

-Meu irmão está tocando com a banda no galpão do Joe. Ele me disse que eu não podia ir, mas eu estou tão louco pra ir. Estou julgando se vou ou não. 

-Acho que você devia ir. -Eu digo, honesta. Ele pensa por alguns segundos. 

-Eu vou. -E então levanta. Eu também levanto, já pensando nos carneirinhos e indo fechar a janela. -Ei! -Ele grita e eu paro, olhando pra ele. 

-Quer vir junto? 

-Eu mal te conheço.

-Mas sua irmã me conhece. Eu não sou um maníaco. Qual é, Jazmine. Eu ouvi você escutando Orange Lemonade, vai gostar deles. -Eu finjo que estou pensando. Só finjo mesmo, já que ele me ganhou no minuto que disse "Jazmine" e "Orange Lemonade". 

-Tá. Vou me trocar. -Eu digo, apontando pro meu pijama. Não é bem um pijama, é só um shorts e uma blusa velha, mas fazem o trabalho de um pijama muito bem. Ele bufa. 

-Vem assim mesmo. 

-Você é louco? Estou de pijama. 

-Pro inferno seu pijama, vamos, pula pra cá. -Eu desisto. Tranco a porta  e vou até a janela. Ele estende a mão para mim, e eu pego enquanto pulo pra janela dele. Eu quase caio, mas ele me segura, e me põe em pé. -Quieta, e na ponta dos pés, O.K? -Eu faço um sim com a cabeça e ele joga um casaco de moletom pra mim. -Você vai precisar. -Depois me dá um par de chinelos, porque eu vim descalça. Como eu sou burra!  Ele abre a porta e como está tudo escuro, eu não consigo ver nada, mas ele me dá a mão dele e eu sou guiada por ele até a porta da casa. Nós saímos e ele saí correndo. Eu sigo ele na medida do possível, já que ele corre muito rápido. -Vem, sua lerda! -Quando eu chego nele, sem querer eu esbarro em suas costas, fazendo os dois caírem. -Além de lerda é desastrada. 

-Você me convidou pra vir junto só pra me insultar? 

-Também. Vamos. -A gente pega um táxi e ele nos leva até o tão chamado galpão do Joe. É um galpão do lado de um campo assustador que não fica tão assustador assim com o monte de gente parado ali com bebidas e coisas esquisitas (drogas). 

Ele pega minha mão e me leva até onde a banda está tocando. 

-Ei, Chick! -Ele grita, e o cara do microfone vem para nosso lado, batendo na cabeça de Morgan. 

-Seu merda! Não disse que era pra ficar em casa? Tem gente drogada aqui, mano! 

-Eu sei, mas que seja. -Ele dá de ombros e então Chick me vê. 

-Sua garota? Porra, cara. Bonita! Nunca vi, é daqui? 

-Não sou a garota dele. Não sou aqui. Que. Seja. -Eu digo, acenando. Ele faz cara de apreciação. 

-Gostei dos nervos, garota. O.K. A gente vai começar a tocar, tomem cuidado porque esse lugar fica uma loucura, tá? Não aceita bebida ou drogas ou sei lá o quê, entendeu garoto? -Ele aponta para Morgan, e eu sei que, apesar dos tapas e a voz assustadora, ele está feliz por Morgan estar aqui. 

-Bom show, mano. 

-Boa pegada, cara. -Ele olha pra mim e dá uma piscadela. Eu reviro os olhos e grito:

-Eu não sou a garota dele! 

-Que. Seja. -Ele repete o que eu digo, depois sai, pra começar a tocar. Morgan fica mais perto de mim, o que eu acho legal, já que tem uns caras nojentos por aqui. Todo mundo conversa e grita.

-Qual o nome da banda dele?

-Cherry Pie. -Eu rio. 

-Legal, muito selvagem. 

-Cale a boca. -Ele diz e a guitarra começa a tocar. E então é assim que eu estou em casa. Não na casa de Melody ou a da minha mãe, mas a casa do meu coração. A verdadeira. A que vai sempre estar lá. As pessoas começam a gritar, e então, esquisitamente, em dois meses, eu me sinto feliz. 


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Notas finais do capítulo

se alguém estiver lendo me diga o que está achando plz agradeço