"I'm coming home to you

Every night...

Coming home to you

Every night...

My mind is made up

Nothing could change that

I'm coming home to you

Every night..."

Every Night - Imagine Dragons 

–Como eu estou? -Eu pergunto pra Melody, não querendo realmente perguntar, mas eu preciso de uma opinião.

Hoje é quarta O que significa que eu já estou nessa cidade visitando Melody há um mês! E eu saí mais cedo do trabalho porque eu vou levar Morgan pra um clube em outra cidade. Ele não sabe porque, mas deve desconfiar já que o aniversário dele é amanhã. Eu não falei que era por causa do aniversário dele, devido ao ódio por aniversários que ele tem, então eu vou fingir que eu não sei de nada. Pra falar a verdade, Morgan não me conta bastante coisa. Eu tento não pensar nisso pra não ficar de mau humor. Mas eu conto TUDO pra ele.

Durante a semana, ele me leva pra almoçar antes do trabalho, sai comigo à noite e compra livros pra mim (Jane Austen, Steph P, e MUITOS livros de poesia. Tantos que ontem eu sonhei com Frank O'hara falando com o sol*) Ele sabe muito da minha vida. Ele sabe sobre meu ex-namorado, sabe sobre Melody e eu contei sobre minhas bandas preferidas e tudo o mais. Eu conto como é meu trabalho e como era na minha antiga cidade, e sobre as coisas que eu estou sentindo, mas ele não fala NADA. Quer dizer... nada sobre ele. Eu não sei nada sobre a vida dele com os pais, ou a mãe dele, o que ele quer fazer quando se formar, NADA. Ele diz que eu sou uma boa ouvinte, mas ele não fala porcaria nenhuma! Ok. Respire fundo, Jazmine.

A gente resolveu ignorar o que tinha acontecido e eu não sei se isso é bom ou ruim. Só Kurt vai ficar meio decepcionado, e eu ainda estou tentando entender o que está acontecendo. Nossa amizade continua a mesma. Mas tem alguns assuntos (como garotos, garotas, etc) que nós nem comentamos. Dá pra ver que ele está fazendo um esforço pra agir normalmente, assim como eu, mas isso não quer dizer que ele tenha que ficar de boca fechada toda hora, não é? Estou confusa. Mas isso não é novidade. Não sei porque eu estou surpresa de estar confusa.

–Use aqueles saltos vermelhos ali. -Ela diz olhando para meus saltos pretos. Ela tem razão. Eles não combinam com o vestido dourado que eu estou usando. Eu comprei ele com o pagamento que Olívia me deu adiantado (que eu suspeito que ela me deu só para eu poder comprar um vestido bonito mesmo) e os saltos pretos ficam esquisitos. Eu faço o que ela pede e me olho no espelho.

–Não ficou tão ruim. -É claro que eu não ia admitir que ela tinha razão. Mas ela parece satisfeita já, então eu não falo mais nada.

Estou gata. Até eu sei disso, apesar de não falar em voz alta toda hora. É uma raridade eu me achar bonita, então tenho que aproveitar esses momentos pra apreciar completamente. Meu cabelo está bonito. Ele está solto, e surpreendentemente ondulado, que nem era quando eu era pequena. Não que nem palha, como todos os dias (se quem que não existe palha morena...) mas está legal assim. Minha pele está bronzeada por causa do sol do fim de semana e é legal ver minha aparência um pouco diferente. Ruby fez minha maquiagem antes de cair na cama e conseguiu me deixar bonita mesmo. Eu estou bem. É a primeira vez que eu faço isso na minha vida. Nem com meu ex-namorado eu saia assim, pra ir aonde eu e Morgan vamos, sozinhos essas coisas. Estou tentando NÃO pensar nisso como um encontro. Mas agora, desde que eu e Morgan quase nos beijamos, eu sinto que toda vez que a gente sai é um encontro. Tudo bem, nós saímos toda hora, principalmente à noite, mas agora é diferente. Antes, eu nunca tinha pensado nas nossas "aventuras" como encontros... a gente só era dois amigos se divertindo no verão. Mas agora, as coisas estão diferentes. Deve ser por isso que Morgan não me conta nada... ele está com medo de... abrir seu coração? Será que eu imaginei coisas quanto eu pensei que ele gostasse de mim? Meu Deus e se eu estiver imaginando coisas e ele não estiver nem aí? Talvez ele ainda goste de Jessica. O que eu vou fazer?

E então eu me toco. Eu nunca realmente pensei nisso, mas é agora que a ficha caiu. Eu gosto dele. Ah, meu Deus. Eu gosto do Morgan. É isso ou estou completamente viciada em assuntos amorosos. Agora eu estou FERRADA DE VEZ. Será que sair com ele vai ser uma boa ideia? E se alguma coisa der errado? Eu NUNCA vou abrir a janela do meu quarto outra vez se eu ferrar com tudo. E se eu passar o resto do verão miserável se alguma merda acontecer?

Calma. Eu só estou... pensando demais.

A campainha toca e Melody desce devagar, por causa da barriga, pra atender. Eu escuto Morgan falando com ela e então ela grita:

–Jazz, acho que está na hora!

–Já estou descendo! -Então eu pego minha bolsa e corro escada abaixo, o mais rápido que os meus saltos permitem. Morgan me olha da cabeça aos pés e eu quero morrer de vergonha. Mas, em vez de falar alguma bobagem, eu analiso ele também. Se eu estou gata, ele está INCRÍVEL. Com jeans, uma blusa de gola v colorida, e uma jaqueta. Acho que a gente fica alguns segundos se encarando, e provavelmente ficaríamos mais, se não fosse a Melody falar alguma coisa.

–Er... se divirtam. Jazz, não volte tarde, você tem que trabalhar amanhã a tarde, lembra?

Melody... sempre soube como ESTRAGAR O MOMENTO.

–Claro. Vamos lá? -Ele assente e nós vamos para o carro dele. Eu paro um segundo, hesitando em abrir a porta do passageiro.

–O que foi? -Ele pergunta.

–Posso dirigir? -Ele parece surpreso.

–Você tem carteira?

–É claro! Porque tanta surpresa?

–Eu nunca vi você dirigindo. -Eu reviro os olhos.

–Eu só não tive muitas oportunidades. Por favor? -Ele me joga as chaves mas levanta um dedo pra mim.

–Se você estragar meu carro, eu vou te matar.

Eu não tenho tempo de ficar ofendida, porque ele entra no carro pelo banco do passageiro e eu dou um pulinho de vitória antes de sentar em frente ao volante. Mas, é só eu sentar, que eu congelo.

Apesar de tentar bloquear as lembranças da minha mãe, elas continuam aparecendo, pra estragar pequenos momentos do meu dia. E aqui, é um desses momentos. Foi minha mãe quem me ensinou a dirigir. Foi difícil, já que ela sempre gritava comigo por alguma coisa, mas as cenas, da gente andando de carro, dela me mostrando as direções, ou dela quase atropelando a Ruby voltam a minha cabeça. Ruby quase matou ela. Não por quase atropelar ela, mas por quase quebrar o carro novo da minha irmã. Eu não dirijo desde que ela morreu, agora eu sei porquê. Eu quero chorar, mas não vou. Não vou estragar a noite de Morgan com problemas meus, então eu só respiro fundo e ligo o carro, sem olhar para Morgan, e sem falar nada, já que eu sei que eu só preciso de algumas palavras pra explodir em lágrimas. As cenas continuam na minha mente, enquanto eu dirijo, mas eu estou disposta a fazer elas saírem da minha cabeça.

–Está tudo bem? -Morgan pergunta, depois de alguns minutos de viagem em silêncio.

–Sim, só estou concentrada. -Em parte é verdade. Ele não diz mais nada e liga o rádio, pro tempo passar mais rápido. Umas músicas legais começam a tocar e ele canta baixinho a letra delas. Demora um pouco pra gente chegar, já que tivemos que sair da cidade pra vir, mas quando nós chegamos, não são nem onze horas ainda. Eu estaciono o carro e jogo as chaves pra Morgan, depois a gente entra no clube.

Ninguém sabe o nome desse lugar, mas é incrível. Não é uma daquelas boates com gente que se pega até engravidar ou com gente bêbada. É um clube onde as pessoas vem aqui pra escutarem bandar da região tocarem as melhores músicas que a gente já ouviu. A maioria são originais, mas eles fazem bastante cover também. O palco está a alguns metros e a banda já está tocando para a platéia elétrica. Do lado, eu vejo o bar das bebidas, mas nós não vamos pra lá hoje. A pior coisa é passar o aniversário bêbado, pra depois não lembrar de nada. Então eu só vou no bar, deixando Morgan em uma das plataformas cheias de gente, pra pegar energéticos. Quando eu termino de pagar, levo para ele. Esse lugar cheira a bebidas, goma de mascar e suor, mas não é nada que nem eu, nem ele já não estejamos acostumados. Ele começa a pular e a beber e eu também. Ele faz umas dancinhas malucas e vergonhosos, e eu danço estilo anos 80 quando umas músicas velhas começam a ser tocadas. A gente sabe a letra de todas, de cor. Até das originais, porque eu descobri que ele também conhece "Hazel Eyes", que é o nome da banda de hoje. "Night Keepers" começa a tocar, e nós gritamos. Pego meu celular pra ver se tenho alguma ligação perdida, mas o que me chama atenção é o horário. É oficialmente o aniversário dele. Puxo ele mais perto, pra falar no ouvido dele:

–Feliz aniversário! -Ele dá um sorriso sem graça, e quando eu vou me soltar dele, pra poder dançar nas partes legais da música, ele me beija.

Ele está me beijando. Forte. Não que nem um bêbado faria, mas com vontade. Eu fico na ponta dos pés, porque ele é mais alto que eu, e ele me puxa pela cintura também. O mundo deve ter parado de girar. Meteoros podem estar caindo na terra, minha irmã pode estar tendo o bebê e Ruby e Chick podem estar se casando secretamente, que eu não ligo. Eu gosto de ficar aqui beijando Morgan. Eu gosto do Morgan. Meu coração está indo a mil, principalmente quando nós interrompemos o beijo e ele me olha. Rapidamente, eu procuro alguma coisa pra falar, pra não ficar sem graça pelo que acabou de acontecer.

–Isso foi melhor que um "Obrigado". -Eu digo, no ouvido dele de novo. Ele não diz nada, só me beija de novo, como na primeira vez, só que agora segurando meu rosto. Ah, meu Deus. Ele fechou os olhos. Se isso não é meu CORAÇÃO EXPLODINDO, eu não sei mais o que é. Quando a gente se separa, eu brinco. -O que esse quis dizer agora?

–Que eu estou provavelmente apaixonado por você.

E ele me beija de novo e de novo e de novo ao som da minha música preferida.