Jogo de Espiões escrita por Angel_Nessa


Capítulo 9
CAPITULO 8 – O PRIMEIRO DIA DE TRABALHO




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Os três dias se seguiram a nossa visita a Leningrado marcaram uma grande distância entre eu e Naruto. Enquanto eu passava o dia presa naquele apartamento, Naruto saia cedo pela manhã e voltava ao atardecer, eu nunca o questionava por onde estivera durante o dia todo.


No dia seguinte ao passeio, eu estava sentada na sala quando ele chegou, como disse, eu não perguntei nada a respeito de seu dia fora de casa, simplesmente me levantei e disse que ia me deitar, ele me disse “boa noite” e eu balancei a cabeça e disse que havia comida em cima do fogão caso ele estivesse com fome, ele me agradeceu e eu fui para o quarto.


Nos outros dois dias, eu estava no meu quarto quando ele chegou ao inicio da noite; sentada em minha cama eu escutava ele mexer nas panelas que estavam sobre o fogão, e inclusive ri quando ele deixou cair a tampa três vezes seguida, nesse dia eu pensei em ir até a cozinha ver o que estava acontecendo, mas ao colocar os pés para fora da cama, recuei. Era melhor deixar como estávamos; a convivência por certo nos aproximaria, e isso não seria bom,quando a missão terminasse, cada um seguiria seu caminho, e se estivéssemos de alguma forma juntos, acabaríamos nos magoando um ao outro. A vida de espião não deixava espaço para se manter vínculos com outras pessoas, e essa era uma lição que eu havia aprendido com meu tutor há muito tempo.


Graças a nossos contatos fomos contratados para trabalhar na fábrica. Se não fossem por eles nossa missão no país não seria mais difícil de ser realizada.


Passados esses três dias, Jiraya e Tsunade nos deram as documentações para podermos ingressar na fábrica; identidades e passaportes falsos nos permitiram ser admitidos como empregados na fábrica, mesmo mantendo nossos próprios nomes, acabamos ganhando novos sobrenomes e nacionalidades. A partir daquele momento éramos um casal alemão refugiado do domínio capitalista de Berlim.


Ser alemão explicava muito bem não falarmos russo, o problema era que tampouco falávamos alemão; entretanto, segundo Tsunade, isso não seria um problema uma vez que o único que podia nos desmascarar era o gerente de vendas, e este era nosso aliado nessa missão. Aliado, não. Eu não podia usar essa palavra na União Soviética, soava negativo, eram as mágoas da Segunda Guerra ainda presente, quem diria que dois países que estiveram do mesmo lado um dia, agora disputavam o poder. O gerente de vendas seria o nosso comparsa.


Que bons eram os soviéticos em acolherem em sua fábrica dois pobres refugiados alemães! Tal fato daria uma excelente campanha soviética contra o domínio capitalista que imperava em Berlim em 1956. Se por um lado os soviéticos não eram nada bons, eu sabia que os americanos não ficavam atrás; depois de bombardearem Berlim, agora vinham como salvadores do povo alemão, mandando suprimentos para as pobres famílias vitimas de um país divido por eles. O jogo de interesses políticos era o preferido dos americanos e soviéticos, ninguém queria perder pontos nesse jogo.


No dia seguinte iríamos começar a trabalhar na fábrica, e isso me dava arrepios apenas em pensar.


Passei a noite em meu quarto, não “nosso” quarto; apenas meu quarto. Aquele lugar era apenas para mim, aquela cama apenas abrigaria meu corpo solitário. Balancei a cabeça para afastar tais pensamentos bobos, eu estava me deixando abalar demais por conta de um simples beijo trocado em meio a uma situação que fugira do meu controle.


Era cada vez mais difícil saber como agir na presença de Naruto, por isso eu vinha preferindo ficar longe dele. Eu estava em meio a uma missão, e tudo com o que eu conseguia ocupar a minha mente era com pensamentos direcionados a ele; e eu já começava a questionar coisas que diziam respeito a sua vida particular. 


A noite se estendeu para a madrugada. Eu mal havia conseguido pregar os olhos, e na manhã seguinte, debruçava sobre parapeito da janela, eu vi pela primeira vez o sol iluminar Moscou. Um espetáculo lindo, digno de ser aplaudido, mas eu não estava com ânimo para ficar contemplando por muito tempo tal espetáculo.


Sai da janela e fui até o guarda-roupa a fim de escolher alguma peça de roupa que eu pudesse usar no meu primeiro dia de trabalho.


Eu seria uma secretária. Parada em frente ao guarda-roupa com as portas abertas eu tentei imaginar quais seriam as roupas que uma secretária usava. O único modelo que me veio a mente foi o das roupas que a secretária da agência de Nova Iorque usava; e confesso que o modelo de roupas que ela usava não eram nada condizentes com a minha personalidade e com o meu jeito de me vestir habitualmente. Saias curtas e blusas com decotes provocantes não eram peças freqüentes em meu vestuário; porém isso não significava que eu não as possuía, compra-las foi a satisfação de um luxo feminino.


Deixando minha moral e qualquer outra coisa que me impedisse de trajar tais peças em uma missão, eu escolhi uma saia curta de linho preto e uma blusa branca de tecido com um longo decote em V que deixava a curva de meus seios à mostra. Olhei-me no pequeno espelho da penteadeira que era alto o suficiente para refletir meu corpo inteiro a começar das coxas.


Num primeiro momento não gostei da minha imagem vestida com roupas tão vulgares, no entanto, ao balançar suavemente meu corpo de um lado para o outro comecei a admirar minhas formas físicas que haviam sofrido grandes transformações nos últimos anos. Meus seios não eram tão grandes como aqueles das atrizes hollywoodianas, eles eram pequenos, redondos e uniformes; meu quadril era largo e minhas coxas grossas, resultado de meus treinamentos de campo e da herança genética de minha mãe. Mesmo não sendo adequada a um padrão de beleza feminino americano, eu até podia me considerar um mulher atraente, pelo menos quando estava bem arrumada, o que não acontecia com muita freqüência.


 Duas batidas secas e suaves me distraíram de meu culto a meu corpo.


- Sakura, você está pronta? – perguntou-me Naruto com um tom de voz que transparecia sua impaciência.


Girei minha cabeça para trás e lhe respondi.


- Estarei saindo em alguns minutos.


Olhei novamente para o espelho e fiquei com vergonha de sair trajando aquelas peças de roupas. Pensei em trocá-las, mas escutei a campainha soar na sala; não havia mais tempo.


A voz de Naruto ressoou alta pela casa, e sua saudação foi claramente audível do quarto. Peguei meu sobretudo preto e o vesti por cima da roupa; calcei os sapatos pretos de salto e saí do quarto.


- k6;l6;k3;ll6;k m1;m0;ll6;! – saudou-me Jiraya com seu habitual sorriso e bom-humor.


Com o tempo aprendi que “k6;l6;k3;ll6;k m1;m0;ll6;!” significava “Bom dia” em russo; porém naquela época eu não sabia disso, e apenas balancei a cabeça num sinal positivo a sua saudação.


- Hoje vocês começarão a trabalhar na fábrica – Tsunade ia direto ao assunto sem demora.


Eu apertei o cinto de meu sobretudo e verifiquei se não havia nenhum botão fora de sua casa; eu não queria que Naruto visse o que eu estava trajando para o meu primeiro dia de trabalho. Minha preocupação em ocultar a roupa por baixo do sobretudo foi notada por Tsunade que não deixou de perguntar-me a respeito disso.


- Sakura, teve algum problema em vestir-se essa manhã?


- Não... não... – fiquei sem jeito, e minha voz nitidamente mostrava meu nervosismo - eu apenas não sabia o que vestir, eu nunca fui uma secretária antes.


Tsunade sorriu.


- Não importa o que vista, ele gostará.


Por tais palavras pude concluir que meu chefe não era um homem exigente com a beleza feminina.


- A Sakura fica bonita de qualquer jeito – elogiou-me Naruto.


Os elogios de Naruto sempre me deixavam encabulada, e eu corei ante a suas palavras gentis.


- Tsunade, talvez quando essa missão termine teremos um casamento – disse Jiraya num tom jocoso.


Até mesmo Naruto corou com a brincadeira de Jiraya, e eu fiquei mais corada ainda.


- Ainda falta muito para essa missão terminar – Tsunade era mais séria quanto se tratava da missão.


- É verdade – concordou Jiraya, e em seguida olhou para Naruto – garoto, você vem comigo, a Tsunade irá levar a Sakura para conhecer o gerente de vendas da fábrica.


- Nós não vamos juntos?


A pergunta de Naruto era a minha, mas ele havia perguntado primeiro, e com maior ênfase do que eu faria.


Jiraya balançou a cabeça, e seu rosto ficou sério.


- Não divulgamos a ninguém na fábrica que vocês são casados, por isso é melhor evitarem ficar juntos enquanto estiverem lá.


Tsunade complementou.


- Na fábrica vocês serão apenas uma secretária – Tsunade olhou para mim – e um agente de segurança – Tsunade voltou seu olhar para Naruto – essa farsa de casamento deve ser mantida apenas para que os vizinhos não desconfiem de nada.


Mesmo sendo casados, na fábrica, eu e o Naruto teríamos que agir como dois completos desconhecidos. Estava ficando confuso.


Olhei para Naruto e algo no rosto dele me fez acreditar que ele havia ficado chateado com a noticia de não poder gritar aos quatro cantos da fábrica que ele era meu marido, melhor assim.


- Nós vamos ficar próximos – eu disse de repente para o Naruto.


Não sei o porquê eu falei isso, acho que eu fiquei com pena da expressão triste em seus olhos oceânicos.


Naruto abriu um sorriso para mim.


- Eu vou estar por perto, caso precise.


- É melhor sairmos para não chegarmos tarde – disse Jiraya se dirigindo a porta.


Naruto logo o seguiu, e eu e Tsunade ficamos sozinhas no apartamento.


 - Você entrará um pouco mais tarde – disse Tsunade virando-se para mim – agora que eles saíram, eu quero ver os trajes que está vestindo por baixo desse sobretudo.


Tsunade sentou-se no sofá; a requisição dela havia me deixado sem reação.


- Ande Sakura, me mostre o que vestiu.


- Eu não acho isso necessário – tentei mostrar firmeza em minha voz.


- Eu estava curiosa em saber o que você iria vestir, eu quero saber se fez à escolha certa.


Eu estava bem preocupada com o fato de ter feito ou não uma boa escolha de vestuário. Pelo menos eu já estava acostumada com as temperaturas de outono em Moscou, e por isso estava certa que com aquela roupa eu não passaria frio. Estávamos no fim do mês de setembro, a temperatura durante o dia ficava em torno de 11a 15 ºC. 


Desatei o cinto e comecei a desabotoar os botões do sobretudo; pensei que Tsunade pudesse me dizer se eu havia acertado em minha escolha, ainda havia tempo de trocar de roupa. Abri sobretudo e a deixei ver a roupa que eu vestia.


- Perfeita! – foi o comentário dela – nunca duvidei que você fosse uma espiã de talento. Poderia vir trabalhar para nós.


- Eu já estou trabalhando para vocês.


- Claro – Tsunade pareceu querer consertar o que dissera – eu quis dizer que você poderia vir trabalhar aqui na União Soviética.


Eu ri.


- Levaria muito tempo para que eu pudesse aprender a falar russo, e mais tempo ainda para eu me habituar a essas comidas daqui.


Tsunade riu.


- Americana – disse Tsunade num tom jocoso.


Ao escutar tal comentário eu me perguntei se Tsunade era ou não americana, entretanto não a questionei sobre o fato. Não me importava saber sua nacionalidade.


- Então aprova a minha roupa? – a dúvida me consumia – eu não sabia se secretárias se vestiam dessa maneira... a saia está um pouco curta.


Para a época uma saia que ficava quatro dedos acima do joelho era considerada uma minissaia, só em 1965 as mulheres conheceram a verdadeira minissaia. Além disso, tinha a blusa decotada uma peça ousada feita pelas mãos de um importante estilista americano; como eu havia dito antes, essas peças eram simples luxo feminino.


- Como eu disse está perfeita. Usar a sedução como arma para se conseguir o que deseja é sempre um recurso válido.


- Sedução?!


Essa ideia não havia passado por minha mente quando escolhi aquelas roupas para trabalhar.


- Sim, quanto mais conseguir atrair a atenção masculina, mais rápido terá as informações que precisa a seu alcance.


Eu comecei a ficar apavorada com o rumo daquela conversa. Tsunade, no entanto, falava tudo com tanta naturalidade que me surpreendeu. De repente olhei os trajes que Tsunade usava, seu sobretudo vermelho não era nada discreto para se usar a luz do dia.


- Eu...


Tsunade me cortou.


- A beleza feminina deve ser usada com sapiência no mundo da espionagem. É uma lástima que algumas espiãs se inibam em usar tais recursos.


Depois dessas palavras eu desisti de tentar replicar algo contra o uso do recurso “sedução” nessa missão. Eu, então, passei a me perguntar como eu poderia usá-lo, sendo eu um dos modelos mais ferrenhos dessas espiãs tímidas citados por ela.


 Tsunade abriu um largo sorriso.


- Acho que podemos partir, é melhor chegarmos cedo no seu primeiro dia. Eu quero apresentá-la pessoalmente a seu chefe, o gerente de vendas da fábrica.


- Sim.


Seduzir meu chefe? Era isso que eu teria que fazer para ter a confiança dele e assim conseguir os documentos? Como eu poderia fazer isso?


 


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Notas finais do capítulo

Nota da autora: a Sakura terá que conquistar o chefe para conseguir a confiança dele... será que ela conseguirá?



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