Jogo de Espiões escrita por Angel_Nessa


Capítulo 42
CAPITULO 37 - A REVOLUÇÃO HÚNGARA parte 3




Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/33129/chapter/42

Passaram-se incontáveis horas de agonia deitada na cama escutando os sons da “morte”, até que repentinamente esses sons foram gradualmente diminuindo e desapareceram. O beco ficou silencioso. Não ouvimos mais o barulho de disparos dos canhões e armas soviéticas, nem tampouco o grito de desespero e revolta da população; escutávamos apenas ao longe o som das sirenes das ambulâncias e dos carros de bombeiros que circulavam pela cidade.

Apesar da escuridão do quarto, eu consegui ver que Naruto estava me olhando em silêncio. Uma de suas mãos estava na minha cintura e a outra segurava minha mão. Eu fui a primeira a romper o silêncio de horas.

- Obrigado – eu sussurrei.

Eu vi que os olhos oceânicos de Naruto ficaram maiores.

- Sakura, eu...

Eu coloquei meu dedo em seus lábios.

- Não quero que me diga nada agora, senão posso me zangar com você.

Ele sorriu em resposta.

Era incrível ver que nos restava um pouco de felicidade a ser compartilhada.

Naruto soltou meu corpo e se sentou na cama, eu senti uma enorme aflição em meu coração. Eu morria de medo que ele tomasse qualquer atitude que o colocasse em risco, o menor deslize poderia delatar a nossa presença naquele lugar, e ainda que não houvesse mais o som de disparos, eu não sabia se podia confiar que não havia mais soldados soviéticos nas ruas.

- Naruto... – chamei por seu nome desesperada.

Ele pegou a colcha que estava no chão e jogou-a sobre meu corpo. 

- Durma Sakura. Eu fico de vigia – ele disse-me com ternura.

Naruto voltou a deitar-se ao meu lado. Sua mão procurou a minha mão sobre a superfície do colchão, e quando a encontrou a apertou firme entre a sua; inclinando-me eu beijei o dorso de sua mão, e ao sentir o toque de meus lábios em sua pele, ele apertou mais minha mão entre a dele.

- Eu nunca te odiei... Só estava magoada – confessei.

Inclinando seu corpo, ele procurou por meu rosto. Quando o encontrou ele puxou minha cabeça para incliná-la na direção de seus lábios, eu cedi a sua vontade; nós nos beijamos mais uma vez.

Enquanto estivemos deitados ouvindo o som das armas e dos canhões eu pensei no que era a morte. Morrer significativa deixar para trás tudo o que se amava e se queria, significava perder seus os sonhos e esperanças, significava deixar incompleta sua jornada, literalmente morrer ali seria o fim de tudo.

Vendo Naruto ao meu lado, tão junto a mim, eu não pude deixar de pensar também que eu por pouco não havia deixado de desfrutar de sua companhia naquela cama; eu quase o havia perdido, assim como ele quase havia me perdido. Um pensamento mórbido passou por minha mente: e se houvéssemos perdido um ao outro? Não estaríamos juntos ali naquela cama. E se Naruto tivesse sido de fato atingido por aquela bala eu não poderia mais beijá-lo e nem tocá-lo, e eu não queria que isso acontecesse jamais. 

- Sakura...

Naruto ficou me olhando um tempo depois que nossos lábios se separaram. Eu estendi minha mão e toquei seus cabelos.

- Por favor, Naruto, não me deixa – eu lhe pedi enquanto acariciava seus cabelos.

- Eu sempre vou estar com você.

- É uma promessa?

- Sim. É uma promessa para a vida toda.

Uma sirene começou a soar alto pela cidade. Naruto rapidamente saiu da cama.

- Bombas aéreas! – gritou Naruto para mim num tom de preocupação e urgência.

Eu me levantei também.

Naruto colocou a blusa e o casaco e em seguida pegou o revolver e o colocou no bolso do casaco. Escutamos uma forte explosão a poucos metros de distância de onde estávamos.

- Naruto, temos que sair daqui.

Eu agarrei no braço dele.

- Não! – ele gritou em resposta - Seríamos atingidos mais facilmente.

- Se uma bomba atingir esse prédio tudo cairá sobre nós.

Eu senti a adrenalina subir em meu sangue.

Houve uma nova explosão, agora mais perto de nós.

- Naruto...

Eu estava com muito medo... Medo de perdê-lo. Eu não sentia tanto medo de morrer quanto tinha de que Naruto morresse, eu não saberia se seria forte o suficiente para agüentar isso. no fundo, eu não queria mais ficar sozinha.

O som cortante de algo rasgando o ar foi ouvido por nós, o som aumentava à medida que se aproximava. Uma das bombas aéreas atingiu o prédio onde nós estávamos.

- Abaixe-se – gritou Naruto assim que o prédio tremeu.

Eu me joguei no chão ficando com as costas voltadas para cima, deixando o rosto virado para a lateral. Naruto se jogou sobre meu corpo, ficando esticado sobre mim, protegendo-me dos pedaços do teto que desabaram; eu o ouvi gemer de dor. 

 

- Naruto... – chamei por ele num tom de urgência.

- Eu estou bem Sakura – sua mão procurou a minha, e ao encontrá-la segurou-a firme.

Um pedaço do teto caiu sobre meu tornozelo direito, eu mordi meu lábio inferior para não gritar de dor. Depois do desabamento o pó dos pedaços do teto caídos e do gesso tomou o ambiente e entrando por minha boca invadiu minha garganta; senti-me sufocar, numa reação natural eu comecei a tossir.

Naruto virou-me para cima, eu tentei gritar, porém a minha voz não saia, eu apenas tossia sem parar.

- Sakura! Sakura! – ele chamava por meu nome em desespero – Sakura!

Eu lembro-me perfeitamente do momento. O pó que havia entrado por minha garganta não me deixava respirar, elevei minhas mãos à garganta. Naruto apoiou minha coluna e me colocou sentada, eu sentia que aos poucos perdia a consciência, meus olhos começavam a ficar pesados.

- Respira, Sakura! Respira! – eu escutava Naruto gritar desesperado – Por favor, respira! 

Senti os lábios de Naruto pousarem sobre os meus, e eu sentia sua mão quente em cima de meu peito pressionando. O pó havia grudado em toda minha traquéia e isso estava me impedindo de respirar, Naruto jogou sua saliva em minha boca para ajudar a desgrudar o pó da mucosa que revestia a traquéia, e sem mais pó entrando por minha boca eu também consegui produzir saliva para ajudar a limpar a traquéia. Eu fiquei tranqüila em pensar que Naruto estava ali por mim, mais uma vez ele estava me salvando.

Quando me senti melhor, eu afastei Naruto de meu corpo e nossos lábios se separaram.

- Sakura, você está bem?

- Sim... – a garganta ainda arranhava e a voz saiu rouca – Eu devia... Ter fechado a boca...

Eu voltei a tossir forte depois de dizer aquilo.

Naruto afastou uma mecha de cabelo da frente de meu rosto.

Os ataques aéreos pareciam ter cessado e o teto já não mais caia sobre nossas cabeças. No entanto, nós sentimos o prédio balançar.

- Vamos sair daqui... Antes que o prédio desabe – eu disse para Naruto em meio a crise tosse que não me deixava respirar.

Naruto deitou-me novamente no chão, e saiu andando por entre os escombros.

- Nar... – eu tentei chamar por ele, mas a voz dessa vez não saiu. 

Eu consegui me sentar, mas ao realizar o movimento eu acabei puxando meu tornozelo que latejou forte. Era como eu imaginava, meu tornozelo estava machucado, eu não poderia mais correr.

Naruto voltou trazendo nas mãos uma caneca azul com branco cuja boca estava quebrada, ele rapidamente a passou para minhas mãos.

- Beba isso – disse-me enquanto me entregava a caneca.

Suas mãos trêmulas espalhavam a água pelo chão. Eu bebi o conteúdo da caneca em uma única golada, a água aliviou a dor na garganta e ajudou-me a respirar melhor.

- Obrigado... – agradeci.

Agarrei o casaco de Naruto.

- Naruto, você tem que sair daqui.

As minhas palavras o deixaram confuso por um tempo.

- Vamos sair juntos.

Eu coloquei a caneca de lado e olhei para meu tornozelo, em seguida olhei para Naruto.

- Meu tornozelo está machucado. Eu não poderei correr.

- Eu te levo.

- Não! – gritei ainda rouca – Isso te atrasará e... Te deixará lento.

Naruto colocou sua mão sobre a minha. 

- Eu não vou sem você.

Eu abri um discreto sorriso.

- É idiotice morrer os dois juntos.

A mão de Naruto pressionou mais a minha quando eu disse a palavra “morrer”.

- Eu não vou te deixar aqui, Sakura – a voz de Naruto estava levemente trêmula, assim como sua mão.

O prédio balançou levemente.

- Não há tempo para discutir. Naruto eu preciso que você pegue o Nagato por mim – meu tom de voz se elevou - Se você ficar aqui, ele ficará impune.

- Eu não vou sem você!!! – gritou Naruto em resposta.

- Eu te odeio!!!! – gritei toda a força que me restava.

Naruto recuou o corpo um pouco para trás e suas pupilas se dilataram. Ele soltou minha mão, e abriu um pouco os lábios como quem quer dizer alguma coisa, mas a única palavra que ele pronunciou foi meu nome.

- Sakura...

Eu balancei a cabeça num sinal negativo.

- Da outra vez que eu disse que te odiava, você foi embora. 

 

Naruto se levantou e em seguida arqueando a coluna me pegou no colo. Senti uma pontada tão forte em meu tornozelo que por um momento faltou-me ar para respirar novamente.

- Eu vim aqui para levá-la comigo... Eu prometi não te deixar morrer.

As palavras de Naruto me fez perder as forças para continuar discutindo.

- Naruto, me ponha na cama – eu lhe pedi.

- Eu não vou deixá-la aqui.

Eu lhe sorri.

- Eu sei, eu só quero amarrar um pedaço de pano em meu tornozelo.

- Sakura, não há tempo para isso.

- Eu não demorarei muito.

Naruto me colocou sobre a cama. Enquanto ele procurava por meus sapatos, eu rasguei um pedaço da colcha de cetim azul para fazer um torniquete; peguei um pedaço de madeira do teto e apoiei em minha panturrilha, em seguida amarrei bem firme o pedaço de madeira em meu tornozelo.

Naruto virou-se de costas para mim, e eu subi em suas costas. Ele saiu me carregando. Eu procurei me segurar em seu pescoço evitando tocar em seu ombro direito machucado.

Ao sairmos na rua vimos milhares de corpos espalhados, algumas pessoas ainda agonizavam. Eu fechei meus olhos os contraindo bem, eu tentei poupar-me de tal visão infernal; porém tal ato resultou-se inútil, pois o cheiro de sangue e carne queimada invadia minhas narinas.

Aquele 4 novembro de 1956 foi apenas o inicio de uma repressão que durou no país até 1991. Estima-se que nesse período cerca de 20.000 pessoas foram mortas, mas eu sei que houve muitas mais.

Sangue... Lágrimas... Pessoas que viravam corpos, números a serem contados... Sonhos de um futuro destruídos por um ideal nem sempre compartilhado... Isso era a guerra, e vivenciar o horror que ela trazia para a vida das pessoas deu-me mais forças para seguir com a promessa que fiz a mim mesma de não permitir que uma guerra começasse por minhas mãos; o pingente com o microfilme que continha as fotos dos documentos sobre a bomba de nêutrons continuava pendurado em meu pescoço. 


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!


Notas finais do capítulo

nota da autora: Que sufoco que o Naruto e a Sakura passaram, hein! Mas ainda não terminou pq agora eles tem que encontrar uma maneira de voltar para a União Soviética, e para piorar a Sakura está machucada.