Jogo de Espiões escrita por Angel_Nessa


Capítulo 3
CAPITULO 2 – O PARCEIRO




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O que posso dizer da viagem. Foi bem tranqüila. Eu viajei de carro até Baltimore e de lá tomei um avião até a Espanha; segui viagem de trem até a França e, então, tomei um avião particular até a União Soviética. Tudo havia sido programado por Konan, os contatos que me colocaram no avião que me levou até a União Soviética estavam todos lá e em dois dias eu estava em solo soviético. Eu cheguei ao início da manhã.


Ao desembarcar num pequeno aeroporto local, vi pela janela do pequeno avião um homem loiro de olhos oceânicos que conversou com o piloto algo privado demais, e baixo demais para que eu ouvisse; presumi que ele era meu contato que me levaria até meu parceiro, ou, melhor dizendo, “meu marido”.


Peguei minhas malas que estavam na poltrona vazia a meu lado e desci as escadas. Como estava frio! Eu deveria ter vestido algo mais além de simplesmente um vestido de veludo verde-escuro e um sobretudo preto.


O homem olhou em minha direção, mas eu tentei me concentrar em descer as escadas do avião sem tropeçar; seria uma piada ver uma espiã tropeçando, por um segundo ocorreu-me o pensamento que se eles sabiam que eu era uma espiã. Bem, se não sabiam, eu nada diria a respeito.


Senti o roçar de couro em minha mão que segurava firme a alça da mala, olhei para frente e vi o homem loiro próximo a mim, aliás, próximo demais para me fazer sentir confortável; olhei para a minha mão e vi que ele tentava segurar a alça de minha mala, sua mão estava calçada com uma luva de couro preta, pensei que talvez eu devesse ter calçado umas luvas também.


- Oi – falou o homem loiro num inglês sem sotaque russo.


- Bom dia.


Tentei estabelecer a cordialidade, algo que ele não havia feito me saudando de maneira tão informal. Ele sorriu tentando quebrar a minha seriedade, porém eu não o retribuí com um sorriso, como suponho que ele deva ter esperado que eu fizesse.


Ele tomou a mala de minha mão e começou a carregá-la até o carro parado a uns três metros de distância do avião.


 - Seu nome é Sakura, não é mesmo? – me perguntou enquanto caminhava.


Eu caminhava a seu lado.


- Sim.


Limitei-me a dar-lhe uma curta resposta afirmativa.


Ele desviou seu olhar para o lado e voltou a sorrir; eu não entendia a necessidade dele de ficar mostrando os dentes a todo o momento.


- Você é bem séria – seu rosto mostrava uma expressão divertida.


Senti-me mal por estar agindo de maneira tão fria, eu não costumava ser afável com estranhos, no entanto ante a situação decidi ser um pouco cordial.


- Qual é o seu nome?


Um detalhe que ele não havia mencionado nem por uma vez.


 - Eu me chamo Naruto, sou seu marido.


Eu fiquei estagnada, minhas pernas haviam congelado, e não foi por efeito do frio. Era então ele o meu marido, digo, o meu parceiro. Corri um pouco para alcançá-lo.


- Não repita isso.


O meu desejo de ser mais amável com aquele homem a meu lado desapareceu instantaneamente.


- O que? – me perguntando olhando brevemente para a lateral.


Ele pareceu não entender, por isso me olhou de um jeito curioso e cheio de interrogações. Eu abaixei bem meu tom de voz.


- Não quero que repita que é meu marido.


- Mas eu sou – replicou-me sorridente.


Para ele parecia tão natural o fato de que éramos casados, nem ao menos nos conhecíamos.


- Não precisa dizer tal coisa para mim, eu o sei – foi a minha vez de retrucar.


E como eu sabia disso, e como eu pensava nisso. Passei mais de metade da viagem até a União Soviética pensando que eu estava casada com um homem que não conhecia; claro que tudo era apenas um disfarce, nossa união não era legal, mas mesmo assim me incomodava o fato de ser casada com um estranho. Eu nunca fui do tipo de mulher que gostava de devanear sobre casamento, aliás, esse sempre foi um assunto de pouco interesse para mim; sempre coloquei minha carreira de espiã acima de qualquer outra coisa.


Naruto, o meu parceiro, colocou a mala no porta-malas do carro, um Porsche 356 de fabricação alemã, até mesmo eu que não era atenta a essas coisas automobilísticas sabia que aquele havia de ter sido um carro bem caro. A capota do carro estava erguida, com o frio que fazia não seria agradável ter que viajar com o vento batendo em meus cabelos  de fios curtos e fazendo minhas orelhas ficarem frias.


- Vamos para a nossa casa.


Nossa casa... Por que ele tinha que usar o pronome “nossa” para se referir ao local onde ficaríamos hospedados? De verdade, eu não gostava das palavras que ele usava: “nossa casa”; “seu marido”...


Gentilmente ele me abriu a porta do carro, e eu entrei. Eu o vi dar a volta no carro e entrar do lado do motorista.


- Não precisa fingir quando estivermos juntos. Nós não somos casados oficialmente.


Fiz questão de lembrá-lo de tal fato.


- Eu sei – ele respondeu sorrindo enquanto dava a partida no carro – mas eu não me importo em ser seu marido.


Uma resposta grosseria ficou presa em minha garganta, como ele ousara dizer que não se importava em ser “meu marido”?


Naruto continuou.


- Você é muito séria, mas é muito bonita.


Como toda mulher fui vítima de meu ego; e sem dar-me conta, corei.


- Oras, como você diz bobagens.


Virei o rosto para a lateral e fiquei observando a paisagem que passava rápido através do vidro do carro.


A União Soviética não era bem aquilo o que eu esperava. A guerra havia levado a alegria do rosto das pessoas, e o clima de tensão entre os Estados Unidos e a União Soviética podia ser sentido no medo das pessoas que caminhavam assustadas pelas ruas da cidade; no entanto, Moscou tinha a sua beleza estampada nas fachadas de construções pitorescas.


Não tardou a Naruto tentar iniciar uma nova conversa.


- Você é americana, não é mesmo?


- Assim como você.


Eu não estava muito animada a conversar, porém como iríamos passar a viver juntos, pelo menos temporariamente, achei que deveríamos nos conhecer um pouco melhor.


- É verdade. Você mora em que cidade.


- Nova Iorque.


Pelo menos havia sido lá o último lugar que eu chamara de lar.


- Eu moro em Washington, mas nasci em São Francisco.


- Eu adoro São Francisco, pensei de morar lá há 6 anos atrás.


Quando meus pais foram mortos. Esse era um detalhe que Naruto não precisava saber.


- Você mora sozinha em Nova Iorque?


Senti que Naruto começava a descortinar minha vida, no entanto, não vi mal em contar-lhe um pouco sobre mim.


- Sim. Como espiã não há como se ter laços familiares e afetivos.


- Isso não é verdade – ele tratou logo de me corrigir.


Se não era verdade tal coisa, eu desejei ter a resposta de como se poderia ter laços familiares e afetivos quando sua vida era vivida no anonimato e a mentira era parte de suas conversas rotineiras; eu tinha que ocultar até mesmo meus próprios sentimentos. Definitivamente espiões eram pessoas do submundo que não mereciam amar e nem serem amadas, essa era a vida que havíamos escolhido.


Pela primeira vez sorri pensando em como ele podia acreditar que poderia existir algo real em meio ao mundo da espionagem, fiquei intrigada com sua maneira positivista de ver o mundo em que vivia. Ele também sorriu me ver-me sorrir; acho que começávamos a nos entender.


Passou-se um longo tempo de silêncio rompido apenas ao chegarmos a um bairro de Moscou onde iríamos morar, já não me recordo o nome do lugar, sei que era um nome bem extenso em russo e que ficava localizado na região central da cidade. Pela janela do carro vi um amontoado de edifícios de vários tamanhos, mas o que mais me chamou a atenção foi a Catedral de São Basílio, ou em russo Pokrovski Cathedral, era uma construção enorme com abobadas; a Catedral de São Basílio estava localizada na conhecida Praça Vermelha que naquela época era palco das amostras do poderia bélico soviético.


- Sakura, gostaria de visitar o túmulo de Lênin?


Olhei com uma expressão de espanto para Naruto.


- Não, obrigada.


Visitar o tumulo do pai do comunismo não estava nos meu roteiro turístico.


- É um lugar bem interessante.


- Não sei o que pode haver de interessante numa múmia – repliquei de forma áspera – e tampouco me interessa conhecer a múmia de um assassino.


Vladimir Lênin era o pai da União Soviética, ele havia difundido a idéia comunista em muitos partidos políticos do mundo e também havia sido o homem por trás do Terror Vermelho. Lênin havia sido capaz de mandar executar pessoas pelos motivos mais banais, ele fora o pai dos campos de concentração, os chamados Gulags; ainda que tenha sido Stalin a levar o crédito por espalhar o terrorismo, fora Lênin quem o havia iniciado.


- Lênin foi um cara incrível.


- Não me diga que você é comunista! – retruquei espantada.


Naruto me olhou com assombro.


- Não! Eu apenas o admiro por ele ainda ser um homem tão respeito mesmo depois de tanto tempo.


Voltei meu olhar para o exterior do carro.


- As pessoas tendem a idolatrar falsos ídolos, e em nome deles são capazes de cometer as maiores atrocidades.


Naruto estacionou o carro diante de um prédio azul cuja fachada estava bem deteriorada pelo tempo.


- Chegamos a nossa casa.


Novamente ele usava o pronome possessivo “nossa”.


- Aqui!?


- Sim, foi o que deu para comprar com o que sobrou do dinheiro do carro.


Ao analisar melhor a o prédio em péssimas condições de conservação, e lembrar-me que eu havia chegado até ali num Porsche 356 eu tive a certeza de que os céus haviam me castigado ao me mandarem em uma missão com um completo idiota.


- Apenas me esclareça uma coisa – Naruto balançou a cabeça num sinal positivo – você é mesmo um espião?


Naruto pareceu surpreso com a minha pergunta.


- Sim – respondeu com naturalidade.


- Essa não é a sua primeira missão, não é verdade?


- Não.


Era o que eu temia, meu parceiro era um idiota mesmo. Ante a tais respostas, não pude deixar de me exaltar.


- Como pretende morar num prédio caindo aos pedaços quando se tem um carro desses?! – apontei para o carro.


- Você não gostou do carro? – perguntou-me sem compreender o que eu queria dizer.


- Esqueça. Vamos entrar, eu preciso de um banho.


- O apartamento não tem água quente – explicou-me Naruto – pelo menos até que consertem o aquecedor.


Eu saí pisando duro e entrei no prédio. Era simplesmente incrível como alguém que se considerava um espião podia ser tão idiota.


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Notas finais do capítulo

Sakura finalmente conhece seu parceiro... o que será da missão com esses dois?



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