Jogo de Espiões escrita por Angel_Nessa


Capítulo 2
CAPITULO 1 – A MISSÃO




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Eu estava em pé naquele pequeno escritório empoeirado há cerca de 1 hora; já podia dizer de cor cada detalhe daquele pequeno ambiente. A sala era escura, e a pouca iluminação que tinha provinha de uma lâmpada no alto do teto; não havia muitos móveis, apenas uma mesa de mogno combinando com uma estante onde estavam alguns livros de direito e um arquivo de metal ao lado da porta, o lugar tinha um estranho cheiro de cigarro. Eu estava próxima à janela olhando a rua que ficava aos fundos do escritório, essa era uma boa maneira para me distrair de meus pensamentos ansiosos.


A chuva caia intermitentemente, era um final de tarde de outono bem chuvoso em Washington, e poucas pessoas circulavam pelas ruas molhadas e frias daquela cidade; era impressionante como as pessoas que viviam ali não saiam de casa nos dias de chuva, em Nova Iorque, onde eu trabalhava, nem a chuva nem mesmo o frio espantavam o ânimo das pessoas que circulavam pela cidade.      


A monotonia dos pingos de chuva caindo sobre a calçada e formando pequenos riozinhos que se seguiam um curso próprio rua abaixo me fez ficar ainda mais entediada, e por isso comecei a pensar nos motivos que me levaram a estar ali. Eu havia abandonado minha agência em Nova Iorque para vir trabalhar para pessoas que eu nem sequer conhecia; minha vida sempre tão controlada parecia estar seguindo um caminho o qual eu não conhecia, mesmo assim eu desejava trilha-lo, aquela era a minha oportunidade de sair dos Estados Unidos para realizar uma missão internacional.


Escutei o ranger da porta as minhas costas, e virei-me para ver quem entrava na sala naquele momento. Vi a figura de uma jovem mulher de cabelos pretos curtos presos na lateral com uma chamativa flor de pano; a mulher trajava uma capa preta com alguns detalhes em vermelho na lapela. Ela deveria a tal Konan com quem eu deveria me encontrar.


- Então já está aqui.


- Sou pontual.


A mulher me olhou com prepotência, e se aproximou da mesa. Eu fiz o mesmo e me aproximei da mesa.


- Sua missão será fotografar uma fábrica de armamentos bélicos na União Soviética – ela disparou dizendo.


O nome do país onde a missão seria realizada me fez gelar. O ano era 1956, vivíamos em meio a uma corrida armamentista entre Estados Unidos e União Soviética, uma missão a ser realizada na União Soviética era algo muito perigoso, ainda mais para mim que era americana.


- O que há na fábrica? – tentei disfarçar meu medo.


A mulher olhou para a porta que estava trancada, e em seguida voltou a olhar para mim.


- Suspeita-se que nessa fábrica esteja sendo produzida uma bomba nuclear de nêutrons. Uma bomba mais poderosa do que aquela que arrasou o Japão e deu a vitória aos Estados Unidos.


Armas nucleares... no final da Segunda Guerra Mundial apenas os estados Unidos possuía esse tipo de armamento, mas em 1949 a União Soviética conseguiu construir a sua própria bomba atômica. A fim de não ficar para trás da União Soviética, os Estados Unidos construiu em seguida a bomba de hidrogênio, muito mais poderosa do que a bomba atômica que arrasou Hiroshima e Nagazaki. Em 1953, a União Soviética conseguiu produzir uma bomba de hidrogênio igual a bomba americana e assim deu início a uma nova produção de armas mais leves e poderosas.


Era assim que funcionava a corrida armamentista americana e soviética. Estados Unidos e União Soviética, a conhecida URSS, queriam ser os mais poderosos em termos de armas. Anos mais tarde, esse período da história recebeu o nome de Guerra Fria; esse nome foi dado porque não houve um conflito direto entre as duas potências, mas naquela época não sabíamos que esse tipo de coisa não passaria, a bem da verdade temíamos que a qualquer momento pudéssemos ser alvos soviéticos.


- Seu vôo até a Espanha sairá amanhã às oito horas, não se atrase – a  mulher seguiu me dando as instruções – ao chegar na Espanha você tomará um outro vôo até uma cidade próxima a Moscou, a fábrica fica localizada em uma província aos arredores de Moscou, mas você ficará hospedada na capital soviética.


- Como poderei entrar na União Soviética sendo americana?


Essa era a grande dúvida que começara a me atormentar quando soube que a missão seria realizada em solo soviético. A mulher me olhou de uma maneira que fez parecer a minha pergunta boba demais.


- Eu lhe darei uma identidade e um passaporte que provam que você nasceu na União Soviética.


No mundo da espionagem esse era o tipo de coisa mais fácil em se conseguir, porém um detalhe ainda faltava.


- Eu não falo russo.


A mulher se dirigiu até a estante e pegou um envelope oculto em meio a dois volumes grossos de livros.


- Aqui estão os seus documentos falsos.


- Como eu posso ficar num país o qual desconheço a língua?


Decidi questiona-la novamente visto que ela pouco me dera atenção da primeira vez.


- Basta ficar de boca fechada – respondeu-me de forma áspera.


Sem me dar chance de continuar prosseguiu falando.


- Seu parceiro a estará esperando assim que chegar a Moscou.


Parceiro? Eu havia pensado que nessa missão eu estaria sozinha.


- Não preciso de um parceiro – foi minha vez de ser rude - eu trabalho sozinha.


- Não nessa missão. Vocês serão ante todos, marido e mulher.


Eu deveria ser casada com um homem que eu não conhecia. Definitivamente essa idéia não me agradava.


- Ao chegarem a União Soviética vocês encontrarão seus contatos; eles a guiarão até a fábrica.


- Eu não preciso de um parceiro.


- Você vai precisar da ajuda dele para entrar na fábrica. E também precisará dos contatos, pois nem você e nem seu marido falam russo.


Era o que me faltava, além de ser mandada para uma missão num país inimigo, eu ainda tinha que ser casada com um estranho que pouco me serviria.


- Quem contratou essa missão?


A mulher me olhou altiva e onipotente.


- O governo americano – respondeu-me áspera.


Eu pensei por um momento na resposta que ela me dera.


- E por que não enviaram agentes da CIA?


Konan manteve seu olhar sóbrio e frio sobre a minha figura; pareceu-me que ela não queria falar sobre o assunto.


- Eles não querem envolver seus agentes nesse tipo de missão.


Sua resposta me fez sentido, e eu não voltei a questioná-la mais sobre esse assunto. Eu sabia que não era permitido que fosse divulgado o nome daqueles que contratavam a missão, e quando Konan disse que havia sido o governo americano, eu entendi que ela não poderia me dar mais informações a respeito dos contratantes. 


Ao sair do escritório deixei a chuva molhar meus cabelos rosáceos e ensopar minha roupa, pisquei quando uma gota de chuva caiu dentro de meu olho esquerdo. Comecei a caminhar pelas ruas vazias, indiferente a qualquer movimento ao meu redor. Meus olhos verdes que outrora eram tão vividos estavam opacos e vazios. Olhei para o chão e vi um pequeno riozinho de águas correndo rua abaixo sem direção; a minha vida também seguia um rumo desconhecido. Assim como aquela água eu sabia que meu destino estava em encontrar-me um dia com o oceano; embora eu não soubesse o rumo de minha vida, meus pés tinham direção certa a seguir, eu deveria ir até o oceano, o Oceano Atlântico e cruzá-lo; eu estava indo em direção a um país inimigo. Em dois dias eu estaria na União Soviética, uma americana em missão para o governo em solo soviética. Não que eu fosse à pioneira, mas eu tinha certo receio de ser descoberta; na verdade eu estava com medo de realizar essa missão.


Em 1949 os Estados Unidos e o Canadá, juntamente com a maioria da Europa capitalista, criaram a OTAN (Organização do Tratado do Atlântico Norte), uma aliança militar com o objetivo de proteção internacional em caso de um suposto ataque dos países do leste europeu. No ano de 1955 a URSS firmou entre ela e seus aliados o Pacto de Varsóvia para unir forças militares da Europa Oriental.


O conflito entre as duas potências se acirrava mais, e a minha missão envolvia justamente o ponto START dessa guerra. Se a União Soviética tivesse mesmo uma bomba de nêutrons, feito inédito para os americanos, não haveria dúvidas que os Estados Unidos atacariam a União Soviética com medo de ser o alvo primeiro.  


Minha missão internacional poderia mudar para sempre os cursos da história, e ficar para sempre marcada como o início da Terceira Guerra Mundial.


 


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Notas finais do capítulo

Esse é apenas o começo da história...



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