Jogo de Espiões escrita por Angel_Nessa


Capítulo 14
CAPITULO 12 – A PRINCESA RUSSA




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E os dias começaram a passar depressa. Pela manhã habitualmente eu preparava o café da manhã, Naruto e eu tomamos café juntos e depois ele saia antes do que eu para a fábrica.


Eu ficara mais cuidadosa em escolher as peças de roupa que eu usaria. Eu deveria seduzir Sasuke; eu não gostava dessa palavra “seduzir”, não combinava comigo, eu preferia dizer que eu tinha que ganhar a confiança dele o quanto antes.


Uma saia verde escura de corte reto na altura do joelho e uma camisa branca com os dois últimos botões aberto pareceram-me ser a roupa perfeita para aquele dia de trabalho.


Ao chegar ao escritório, deixei meu casaco na cadeira e tive o cuidado de bater na porta de Sasuke. Do outro lado do hall Karin me olhava com desconfiança, os olhares de dela a minha pessoa estavam sendo cada vez mais carregados de sentimentos negativos, eu sabia que tinha que ter cuidado com essa garota.


Depois de três batidas escutei a voz de Sasuke me ordenando que entrasse. Eu abri a porta suavemente.


- Bom dia – disse-lhe sorrindo.


Sasuke me olhou por um longo tempo antes de responder.


- Bom dia.


- O que precisa que eu faça hoje?


Sasuke me apontou a cadeira a sua frente. Eu sentei-me.


- Sakura eu preciso que você me escreva uma carta em inglês.


- Para quem é essa carta? – perguntei num tom de curiosidade, no instante seguinte me arrependi de ter feito a pergunta – me desculpe, estou sendo indiscreta.


Sasuke sorriu.


- Não se preocupe, não é uma carta secreta. Eu a enviarei a um amigo americano que mora em Czarskoe Selo.  


- Czarskoe Selo – repeti em voz baixa.


O nome do lugar me pareceu familiar


- Você conhece Czarskoe Selo?


- Não. Eu apenas me lembrei que já escutei esse nome antes.


Sasuke fez uma expressão pensativa


- Hum, por que uma americana conheceria esse nome? – questionou-se a si mesmo – talvez por Anastásia? Os americanos sempre se fascinaram pela história da princesa russa.


Sasuke me ajudou a lembrar de onde eu havia escutado esse nome.


- A última moradia dos Romanov – retruquei me lembrando da história.


Sasuke abriu ainda mais seu sorriso.


- Como eu imaginava – gabou-se.


- Não posso negar que a história da princesa perdida me atraia a atenção.


Sasuke levantou-se e dando a volta na mesa colocou-se atrás de mim.


- Um dia – Sasuke colocou sua mão sobre meu ombro – eu a levarei para conhecer o palácio dos Romanov.


Eu fiquei sem jeito.


- Seria bom.


Eu me levantei e a mão de Sasuke escorregou por minhas costas.


- Eu vou escrever a carta que me pediu – disse-lhe sem virar para encará-lo.


- O que pretende escrever se eu ainda não lhe disse qual é o conteúdo da carta?


Eu voltei a sentar-me. Eu estava bem nervosa com a situação.


- É verdade, eu preciso que me dite...


Sasuke voltou a colocar sua mão sobre meu ombro.


- Não precisa ter medo, Sakura. Eu não vou atacá-la.


Meu coração pulsou forte e eu senti falta de ar.


- Eu não estava pensando nisso... – minha voz denunciava meu nervosismo – e acho que não me importaria se isso acontecesse.


Sem criticas. Eu não deveria seduzi-lo?


A mão de Sasuke apertou meu ombro.


- Me alegro em saber que você não se importa com esse tipo de coisa. Você é mulher muito especial, eu soube disso no momento que a conheci.


- Obrigada.


Sasuke soltou sua mão do meu ombro, e dando a volta na mesa sentou-se em sua cadeira.


- Eu vou ditar-lhe o que deverá escrever.


Sasuke me ditou cada linha da carta pausadamente. Eu não conseguia fazer meu coração se aquietar durante esse tempo; eu havia começado a jogar o jogo da sedução, e agora não havia volta atrás. Ao sair da sala de Sasuke, eu senti-me aliviada.


O resto do dia foi tranqüilo. Sasuke saiu para uma reunião e eu fiquei datilografando a carta que ele me pediu, depois organizei alguns papéis e separei algumas cartas que nada gentilmente Karin me entregou.


No fim do expediente voltei para casa. Naruto ainda não havia retornado, estranhei uma vez que ele era sempre o primeiro a chegar; decidi ir me trocar. Eu não gostava que Naruto me visse com as roupas que eu usava para trabalhar, ele de certo as acharia vulgar.


Fechei a porta do quarto as minhas costas e fui até a janela. A cidade começava a se iluminar.


Rússia... o país de grandes czares agora era dominado pelos comunistas, e inclusive havia mudado de nome e expandido seu território. União Soviétioca, foi assim que os comunistas passaram a chamar a Rússia.


Fiquei me imaginando sendo filha de um grande czar russo; eu governaria todas aquelas frias terras russas.


Naruto bateu na porta me fazendo despertar de meus devaneios.


- Sakura, vamos comer!


Finalmente ele havia chegado e logo viera me chamar para comer! Ele não podia comer sozinho. Furiosa, eu abri a porta.


- Você quer que eu o alimente? – perguntei ironicamente.


- Você não vai comer? – me perguntou Naruto com ar inocente.


Eu desisti de tentar retrucar qualquer coisa.


- Vamos comer.


Naruto abriu um largo sorriso.


Fui para a sala seguindo Naruto.


- Onde esteve?


- Eu fui comprar comida.


Da última vez que fui ao mercado Tsunade estava comigo, sem a ajuda dela eu não saberia o que comprar.


- Você soube o que comprar? – perguntei desconfiada.


Como Naruto poderia saber comprar comida e eu não.


- Basta ver os rótulos – me respondeu de pronto.


Parecia óbvio para Naruto que para se comprar comida bastava ver os rótulos, entretanto eu não havia achado nada fácil reconhecer os produtos com todas aquelas inscrições em russo.


Eu ergui os ombros e baixei-os rapidamente, esse era um claro gesto de incompreensão e pouco caso do assunto.


Os produtos comprados por Naruto estavam sobre a mesa; eu os teria que guardar mais tarde, pois não acreditei que Naruto o faria.


Nós pegamos os ovos mexidos com bacon e alguns complementos alimentares enlatados; comida em lata, uma excelente herança da Primeira Guerra Mundial.


Sentei-me no sofá esticando minhas pernas sobre o móvel, Naruto se sentou no chão a meu lado.


- Naruto, se lembra de nossa visita a Leningrado?


Naruto girou a cabeça para me olhar.


- Que você me beijou?


Não era essa parte da visita que eu queria que ele lembrasse.


- Eu não o beijei... Apenas o salvei de ser descoberto pelos guardas. E... Esqueça!


Perdi a paciência de iniciar alguma conversa.


- Você quer voltar a Leningrado? – Naruto continuou comendo e falando.


Eu deixei meu garfo sobre o prato.


- Eu não quero ir a Leningrado, eu pensei em ir a Czarskoe Selo.


- O que tem lá?


- O Palácio de Alexandre. A moradia preferida dos últimos Romanov.


- Quem foram essas pessoas?


Naruto pelo visto não conhecia nada de história russa. Como não havia mais nada a se fazer, e eu não estava disposta a me deitar tão cedo, decidi contar-lhe a história dos Romanov.


- Antes da União Soviética e o comunismo existirem, esse lugar se chamava Rússia e a capital era São Petersburgo, o lugar que visitamos.


- Leningrado?


- Sim, Leningrado se chamava São Petersburgo e era a capital do Império.


- Como sabe de tudo isso?


Eu olhei-o travessa.


- Eu sempre gostei da história da Rússia Imperial, União Soviética... por isso eu li muito a respeito.


Uma pequena revista comprada no Central Park contava a história da Rússia Imperial.


- E o que tem de especial nessa família?


Ele achava pouco o fato de que Alexandre ter sido o último czar russo?


Eu desviei meu olhar para o balcão que estava fechado, o vento balançava a porta fazendo ruído ao passar pelas frestas.


- Na verdade, eu fiquei fascinada pela história da princesa Anastásia.


- Anastásia? – Naruto pensou um pouco a respeito do nome – Aquela princesa do filme?


Eu ri. Em 1956 nos Estados Unidos lançaram um filme chamado Anastásia. O filme contava a história de Anna Anderson, uma mulher que dizia ser a princesa russa que sobrevivera ao massacre de sua família.


- Na verdade, Naruto, a Anastácia foi morta junto a sua família enquanto eles estavam no exílio. A história daquela mulher, Anna Anderson, é uma grande farsa; ela apenas quer a herança dos Romanov.


- Anastácia está morta? – Naruto parecia surpreso por saber disso.


- Você conhece a história de Anastácia?


Eu já duvidava que Naruto soubesse de fato de quem eu estava falando.


- Não – respondeu-me com sinceridade.


- Então eu vou lhe contar


Naruto seguiu comendo enquanto eu começava a contar a história da princesa russa.


- Anastásia Romanov, era a quarta filha do czar Nicolau II e da imperatriz Alexandra que foram os últimos governantes autocráticos da Rússia Imperial. Seu nascimento havia sido uma grande decepção, pois todos esperavam o nascimento de um herdeiro, que veio a nascer depois de Anastácia.


- Como ela era?


Naruto começava a ficar curioso com a história.


- Segundo contou seu tutor, ela tinha uma personalidade bem difícil, era muito esperta e muito bonita. Aliás, era a mais bonita das irmãs, com cabelo loiro avermelhado, olhos azuis e sobrancelhas negras que quase se juntavam.


- Ela era parecida com você – comentou Naruto.


- Eu não sei de onde tirou essa idéia? Meus cabelos são rosáceos e meus olhos são verdes.


- Mas vocês tem uma personalidade igual – brincou Naruto


- O que quer dizer com isso?


Eu fingi ficar brava, e dei-lhe tapa leve no ombro; ele realmente quis dizer que eu era geniosa?


Naruto riu.


- O que aconteceu com a Anastásia? – perguntou-me num tom de curiosidade.


Parece que Naruto ficara bem interessado na história da princesa Romanov.


- Depois da Revolução Russa, em 1917 a família de Anastácia foi exilada em Ekaterinburgo, nos Montes Urais; foi um tempo difícil para Anastácia. Em 1918,  as forças da polícia secreta Bolchevique sob o comando de Yakov Yurovski mataram a todos da família Romanov.


- Anastácia morreu também?


- Muitas mulheres apareceram dizendo ser a Anastácia, que foi salva por soldados bolcheviques.


- Você acha que ela morreu?


- Por mais que as pessoas gostassem dela, Anastácia foi morta junto com sua família.


- É uma história triste.


Anastácia morreu em exílio sem viver uma vida  plena de alegrias e tristezas, e tampouco conheceu o amor. Em uma carta direcionada a seu tutor inglês, Anastácia escreveu sobre Evelyn Hope, que era um poema de Robert Browning; esse poema falava sobre uma jovem da idade de Anastásia:


 "Quando ela morreu tinha apenas 16 anos. Havia um homem que a amava, sem alguma vez a ter visto, mas conhecia-a muito bem. E ela também tinha ouvido falar dele. Ele nunca lhe conseguiu dizer que a amava, e agora ela estava morta. Mas mesmo assim ele pensou que quando ele e ela vivessem a sua próxima vida, quando isso acontecesse”


- É Naruto, Anastácia teve uma vida triste, mesmo assim ela era capaz de alegrar a todos à sua volta.


Eu não era a Anastácia, eu era uma espiã; Anastásia foi uma princesa e eu era uma espiã.


- Sakura


A voz de Naruto do outro lado da porta me trouxe de volta a realidade.


- Eu gostei dessa história.


Eu me levantei do sofá, o prato com comida ainda estava em minhas mãos.


- Agora eu vou dormir.


- Quer ficar aqui na sala?


- Nem pensar... é bom você nem se aproximar do meu quarto.


Naruto riu e eu fui contagiada por seu riso.


Eu fui para a cozinha deixar o prato, e ao virar-me vi Naruto parado à porta da cozinha com o prato na mão.


- Sakura, você quer ir conhecer esse palácio?


- Não precisa se preocupar com isso Naruto. Um dia nós vamos lá.


Um dia... seria isso possível? Fui para meu quarto e sentada na cama comecei a perguntar a mim mesma: o que acontecerá depois que essa missão termine? Era quase certo que Naruto e eu nos separaríamos... E de uma forma incomum isso me chateava. Em muito tempo, eu nunca estive tão próxima a alguém como estava a ele. Em muitos momentos eu era como a grã-duquesa Anastásia, eu vivia isolada do mundo a minha volta, vivendo apenas em um mundo de realidade e sonhos que se mesclavam com a luz do dia e o por do sol, respectivamente. Eu sonhava viver, porém estava tão ligada a meus objetivos como espiã que pouco me sobrava para dar asas a meus sonhos; é meus sonhos terminavam assim que eu abria os olhos, e no novo dia que começava eu não podia ser uma donzela em perigo nem uma frágil princesa, eu tinha que ser uma astuta espiã.   


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