The Secret Weapon escrita por Pacheca


Capítulo 54
Age Of Worry


Notas iniciais do capítulo

Olá, pessoas lindas da madruga. Correria total, mas tamos ai. Bem, espero que gostem. Shippers, non-shippers, todo mundo, aproveitem ♥



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  Acordei tremendo, com cada centímetro do meu corpo doendo. Como naquele dia. Era como se eu fosse olhar para meus braços e eles fossem estar sangrando. Ofegava tanto que acabei me engasgando com ar. Tossi, tirando o cabelo suado da testa.

  Sai praticamente correndo da tenda, ainda sem me trocar, sentindo o frio sobre a pele. Pele intacta. Sadia. A luz da lua permitiu que eu checasse se estava realmente tudo bem. Poucos passos de distância de minha tenda, eu me encolhi no chão feito uma menininha. Acho que no fundo eu não passava disso. Uma menininha assustada.

  O contato de Elrohir foi tão firme, tão reconfortante que não tive coragem de mandá-lo embora. Eu podia detestar me sentir fraca daquele jeito, apavorada com fantasmas do passado, mas detestava mais ainda ter que ficar sozinha com aquilo me sufocando.

  Quis me levantar, entrar de volta na tenda, acabar a noite e acordar como se fosse só mais uma noite normal. Não conseguia. Meus joelhos pareciam travados, como se eu fosse ficar ali sentada para sempre. Até que eu recebi outro conforto, além do de Elrohir.

  Eu devia saber que era ele. Os dedos leves no meu ombro, o silêncio, a calma de quem já me conhecia e sabia o que fazer. Ergui os olhos, o cabelo loiro brilhando quase prateado sob a luz da lua, os olhos verdes escondidos por sombras...

  Elwë parecia ter alguma magia que o avisava quando eu precisava de ajuda.

  – Vai acabar adoecendo, sabia?

  – Eu...

  – Vamos. Ande. – O impulso que meus joelhos precisavam chegou com o auxílio do elfo. Ele passou um braço sobre meus ombros e me levou de volta para dentro, calado.

  Ele me deitou e disse que ia esperar. E eu tentei dormir, mas a presença dele estava me deixando desperta. Até que decidi deixá-lo ir e fingi que estava dormindo. Ele checou antes de deixar a tenda e com os passos silenciosos se afastar. Acabou que Elrohir aproveitou a deixa e me ajudou a dormir de verdade.

  E como se apenas para testar minha sanidade, outro sonho. Diferente, no entanto. Eu não era Eleanor. Era só eu mesma, com o corpete puído, as espadas presas ao corpo, o cabelo preso.

  E Elwë.

  Por algum motivo, nos últimos tempos, Elwë estava próximo e distante, ao mesmo tempo. Ainda éramos amigos. Ele ainda treinava comigo, continuava fazendo as brincadeiras sarcásticas, obedecia minhas ordens, como de costume. Porém, agora sempre com um ar sério e preocupado. Como se aquilo tudo fosse resultar em algo ruim.

  No sonho, ele estava sentado num gramado, cortando alguma fruta. O cabelo ainda curto tinha uma franja que começava a cobrir seus olhos quando ele abaixava o rosto. E mais que nunca, ele parecia um verdadeiro elfo. Com aquela postura sóbria deles.

  Sentei-me ao seu lado, mas ele não disse nada. Olhou para mim, mas voltou a cortar sua fruta. Uma maçã. E, depois de engolir o último pedaço, me estendeu duas sementinhas. Estranhei, olhando para ele.

  – Plante. Volte em algum tempo, veja se prosperou. Se sua for sim, saberá o que fazer.

  Aquele buraco certamente não estava ao meu lado antes, mas não discute e fiz o que ele mandou. Enterrei as duas, jogando a terra por cima com as mãos. O sonho começou a se desfazer. Como se fosse tinta misturada com água. Acordei com a mão fechada sobre o peito. E uma sensação estranha no tórax. Como se algo vivo se movesse ali.

 

  Os dias se passaram, os pesadelos cessaram, pelo menos por um instante. E o elfo continuava longe. Comentei despistadamente com Orun e Sano, mas os dois disseram que ele já era daquele jeito meio frio. Eles não o conheciam como eu.

  Eu sabia quanto fogo tinha abafado naquele gelo. E que se aquilo não queimasse os de fora, queimaria-o por dentro.

  Então o próximo conselheiro: Aidan. O jeito como ele me olhou quando perguntei casualmente de Elwë chegava a ser divertido. Ele respirou fundo e colocou seu cajado de lado, cruzando os braços. Enquanto isso, eu continuava esperando a resposta.

  – Qual seu interesse?

  – Aidan, quando um dos meus homens...

  – Garota, conta essa mentira para quem vai acreditar. Seu coração acelera quando fala no elfo. E sua cabeça me dá até um nó, de tanta coisa que passa por ela.

  – Não sinto tudo isso.

  – Eles se misturam, mas não são todos os mesmos. De toda forma, se puder explicar...

  – Fico incomodada que ele esteja se afastando, se for o caso. Éramos mais próximos do que isso. Desde que ele me encontrou fugindo de Uru’baen.

  – Bom, eu não o vejo muito, você sabe. No entanto, se facilitar algo para você, ele está parecendo um gigante na multidão. São sentimentos muito profundos os dele.

  – Quer dizer logo?

  – Dor é uma delas. E tristeza. E tem os de sempre. Afeição, cuidado, carinho...

  Fiquei pensativo. Se tinha algo acontecendo, eu estava disposta a descobrir. Nem que eu obrigasse Elwë a falar, ele ia ter que se explicar. Aidan parou de falar por um segundo e completou.

  – Mas eu não disse nada disso. Então nem pense em discutir e me colocar na briga.

  – Pode deixar, Aidan. Obrigada.

  Deixei o mago sozinho e fui atrás do elfo. Onde eu sabia que o encontraria. Treinando. O sol logo se esconderia, mas ele poderia ficar mais um tempo. A visão aguçada compensava o crepúsculo. Chamei-o, séria, e fui esperá-lo na tenda.

  – Pois não, Capitã?

  –Elwë, quero lhe perguntar algo.

  – Pois então diga. Não prometo responder.

  – Está acontecendo algo? Você se afastou de repente.

  – Impressão sua.

  – Não ofenda minha inteligência, Elwë. Sei muito bem quando impressões têm fundamento.

  Silêncio. Aquele era o sinal que eu precisava para saber que eu tinha razão. Os olhos verdes consideraram algo antes de voltarem a me encarar e ele começar a dizer.

  – Sabe, Silbena, eu mais que ninguém vi como você cresceu. Em todos os sentidos. A menininha assustada tomou a liderança de um batalhão. A mocinha virou mulher.

  – O que isso tem a ver?

  – Tem a ver que não dá mais pra continuar brincando de amiguinho com você, é isso. Achei que seria melhor se você e Sano se aproximassem. E sei que eu tomo bastante do seu tempo, foi apenas isso.

  Qual era a parte que ele estava omitindo? Porque aquela história faria sentido, se estivesse completa. Cruzei os braços, encarando-o. Ele, por sua vez, suspirou e coçou a ponta da orelha.

  – Não me faça ficar te questionando, Elwë. Sano e eu somos próximos, o que tem nisso?

  – Silbena, posso lhe dever explicações quanto ao acampamento, mas me resta alguma privacidade?

  – Se me envolve, não.

  – Muito bem. Não reclame se o que vai ouvir não lhe agradar. Eu te amo, Silbena. Acredite quando eu digo, meu tipo raramente sente isso, eu menos ainda. Até você aparecer. Eu estava apenas sendo o grande elfo estranho, me escondendo numa vila qualquer, quando te vejo fugindo? Eu precisava ver aquilo de perto. E acredite, quando me capturaram eu tentei me convencer de ter comprado a briga por pura vingança. E foi parte do objetivo, na verdade. Mas eu estava me preocupando com sua segurança.

  – Anos depois me encontrou.

  – Eu duvidava que você tivesse conseguido sobreviver, mas te ver...aquilo foi estranho. Encurtando uma longa história que você conhece...

  – Quando você...

  – Quando me fez me sentir vivo. É sempre quando eu começo a pensar.

  – Em?

  – Vamos supor que você sinta o mesmo por mim. – A forma como ele guiava aquela conversa fazia minha cabeça martelar. Ou seria meu coração, batendo tão forte que reverberava? – O que faríamos?

  – Ficaríamos juntos.

  – Por quanto tempo?

  – Desculpe?

  – Não sou humano, Silbena. Gosto de achar que sou, ajo como se fosse, penso parecido. Menos um pequeno detalhe que não pode ser ignorado, diferente das orelhas. Eu vou viver mais tempo do que dez de suas gerações.

  – Elwë... – Agora eu via o que ele estava tentando me mostrar.

  – Como seria, então? Eu seria obrigado a ver o tempo passar e te perder, para ter que recomeçar apenas dois séculos depois? Você seria obrigada a se ver ficando velha e deteriorada pelo tempo...Os Cavaleiros não são tão imortais assim.

  – Ser feliz não compensa tudo isso?

  – Eu não te mereço, Silbena. Eu me sinto incapaz de te fazer feliz. O jeito que você sorri para Sano, no entanto...

  Ele ficou quieto, eu também. Elrohir apenas observava. Era difícil ter discussões como aquela com um telespectador exclusivo em sua mente. Elwë correu um dedo por meu queixo e ergueu meu rosto.

  – Somos amigos, sabe disso. Preocupo-me com seu bem estar. Não vai deixar de me ver por ai, belezinha.

  Fui obrigada a rir. A decisão de Elwë parecia feita, e ele não era de dar pra trás com suas escolhas. Por mais que doesse nele. E por mais que doesse em mim agora.

  Nunca fora um pensamento real, mas agora era como se eu sempre tivesse aquela ideia? Eu tinha futuro com ele? Era dele quem eu gostava da mesma forma que Roran gosta de Katrina? Ele pediu licença e, sem esperar a resposta, saiu da tenda. Bom, eu precisava daquela solidão. Elrohir quis sair de cena, mas o chamei de volta.

  “Acha que fiz bem em aceitar, Grande?”

  “Não ia adiantar tentar mudar sua decisão agora. É uma preocupação válida, Silbena. Mesmo que nossa conexão prolongue sua vida, não sou imortal. E nem você.”

  “Sim, eu sei. Não me iludo com isso.”

  “Você ouviu o que queria. Agora, dê tempo ao tempo. Espere o futuro, se concentre no presente. Um dia de cada vez.”

  “Tem razão. Obrigada, Grande.”

  “Sabe que estou aqui sempre.”

  Sorri. Ele se aquietou e eu, de novo com pensamentos distantes, sai da tenda e fui observar a lua que começava a surgir no céu.


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Notas finais do capítulo

O que acharam?



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