Os Marotos - A Criação do Mapa escrita por Bianca Vivas


Capítulo 23
Terrenos de Hogwarts


Notas iniciais do capítulo

Bem, aqui estamos. Finalmente o último capítulo da temporada. Eu só gostaria de agradecer a todos que leram, comentaram, favoritaram, recomendaram e que, de alguma forma, participaram disso comigo. Queria agradecer pela paciência e fidelidade que tiveram para com a história e agradecer a Maga Clari por tudo (e você sabe o que significa esse tudo). Nos vemos nas notas lá embaixo.
P.s.: como expliquei no capítulo anterior, eu modifiquei a origem da Casa dos Gritos e da passagem pelo Salgueiro Lutador.



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Os quatro amigos deixaram a Capa da Invisibilidade cair novamente pelos seus corpos e saíram correndo da casa abandonada. Desceram a encosta o mais rápido que puderam sem tropeçar na capa. Voltaram à Dedosdemel, fazendo o possível para serem silenciosos. Chegaram até a passagem e, quando saíram do túnel, estavam em Hogwarts novamente.
Tiago puxou a Capa da Invisibilidade e, de repente, todos os seus amigos estavam visíveis novamente. Ele a guardou no bolso e, sem explicar o que estava pensando, disse:
— Precisamos ver a Professora McGonagall. — E saiu correndo em disparada pelos corredores.
Sem entender nada, os meninos o seguiram. Ao chegar na sala da Professora Minerva, Tiago abriu a porta sem bater. McGonagall estava escrevendo algo em um pergaminho. Ela levantou a cabeça e olhou para eles com um misto de susto e preocupação.
— Santo Deus, Potter. — Enrolou o pergaminho e levantou da escrivaninhas. — Não te ensinaram a bater na porta? — E então, olhando para os outros garotos, ela continuou: — E vocês três, francamente! Achei que tinham mais educação também.
— Me desculpe, Professora — Tiago começou. — É que temos algo muito urgente para falar com a senhora.
— Temos? — perguntou Sirius, levantando a sobrancelha, com raiva porque Tiago não explicava nada.
— E o que é, Potter? Espero que seja algo realmente importante...
— É sim! — Tiago sorriu. — Descobrimos um lugar onde Remo pode ficar sem ser na Floresta Proibida.
— Descobriram, é? — perguntou a Professora, intrigada.
— Sim. É... — Tiago estava radiante enquanto contava, mas Sirius o interrompeu.
— Uma casa abandonada em Hogsmead.
— Uma casa em Hogsmead? — A professora começou a olhá-los com severidade. — E posso saber como vocês sabem que existe uma casa abandonada em Hogsmead?
Os meninos se entreolharam sem saber o que dizer. Pedro estava com medo. Remo olhava de esguelha para Tiago, com raiva. Apenas Sirius continuava com a mesma expressão, apesar de Tiago saber que ele não estava tão tranquilo assim. Na euforia de contar logo tudo para McGonagall, se esqueceu que a professora era muito severa. Como não dividiu com os amigos antes a notícia, nenhum deles pôde lembrá-lo desse fato. Agora estavam verdadeiramente encrencados.
— Bem... Nós... — Tiago não sabia o que dizer. — Bem... nos contaram. Um aluno mais velho. Quando foi lá.
Minerva estreitou os olhos para Tiago. Ela comprimia os lábios. Não acreditava numa única palavra do garoto.
— Você sabe o que eu acho, Senhor Potter? — a bruxa perguntou. — Acho que vocês deram um jeito de sair do Castelo sem permissão. 50 pontos a menos para a Grifinória — e acrescentou rapidamente: — de cada um.
Os meninos começaram a protestar. Aquilo totalizava duzentos pontos. Perdidos numa única noite. Tiago já podia ouvir o que Lílian ia dizer. Ia reclamar pro resto da vida quando descobrisse sobre isso. Ele fechou os olhos, desejando que tudo aquilo fosse um pesadelo.
— E estão de detenção — ela anunciou. — Vão passar a noite na Floresta Proibida.
— Mas é proibido entrar na Floresta Proibida — a voz fina de Pedro guinchou. — Por isso que se chama Floresta Proibida.
Minerva nem deu ouvidos a ele. Ela levantou e fez sinal para que eles a seguissem. Os meninos cochichavam às costas dela sobre o que iriam fazer quando chegassem lá, quando fossem obrigados a entrar na Floresta Proibida. A Professora fingia que não estava ouvindo. Seguia pisando firme rumo à cabana de Hagrid. O guarda-caças de alguma forma já sabia que eles estavam indo, porque esperava do lado de fora, segurando um lampião.
— Pode deixar que assumo daqui, Professora McGonagall — disse Hagrid, dando um tapinha nas costas de Sirius.
A bruxa assentiu e voltou para o Castelo. Os meninos então abraçaram Hagrid. Estavam aliviados. Se o guarda-caças estivesse com eles, não seria tão ruim.
— Então Hagrid, o que vamos fazer? — perguntou Tiago, em parte curioso, em parte para ninguém começar a brigar com ele por causa dos pontos perdidos.
— Bem, vamos comer alguma coisa e depois vamos levar Caniço para passear — disse o guarda-caças entrando na cabana.
— Ah, só isso? — Sirius se jogou num canto, entediado. Achava que seria algo mais legal.
— Só isso? — repetiu Pedro Pettigrew. A raiva começava a tomar conta dele, seus olhos estavam vermelhos e suas mãos tremiam. — Só isso nada! É a Floresta Proibida! Tem animais horrendos lá dentro, a gente nem sabe o que vai encontrar!
— Estamos com Hagrid — disse Tiago, passando as mãos pelo cabelo e tentando transmitir coragem. — Vai dar tudo certo.
Tiago sorria para o guarda-caças, mas fechou a cara quando sentiu o olhar de esguelha de Lupin. O lobisomem estava sério e silencioso, sentado num canto afastado. Desde o início sabia que aquilo podia acontecer e só não falava nada porque não queria discutir com Tiago.
— Então — Hagrid tentou mudar de assunto —, o que fizeram para ganhar essa detenção?
— Fugimos de Hogwarts e fomos até Hogsmead.
Hagrid se espantou. Não estava acreditando naquilo. E então Sirius começou a contar toda história do início. Tiago e Pedro o ajudavam. Apenas Remo continuava quieto, como se não existisse. Se recusava a tomar parte naquela conversa. Quando terminaram de contar tudo o que havia acontecido, Hagrid arfou.
— Pelas barbas de Merlin, crianças, não deveriam ter feito isso. Foi muito perigoso...
— Eu avisei — Remo alfinetou de repente. — Falei pra gente não ir, mas Tiago sempre quer se mostrar.
— Ah, qual é, Remo? Vai dizer que não gostou de ter ido? Que preferia ter ficado na Sala Comunal a noite toda? — perguntou Tiago, se exaltando também.
— Eu preferia não ter levado uma detenção ou perdido aquele tanto de pontos! — Remo gritou e se levantou. Tiago o imitou. Os dois garotos ficaram se encarando.
— Meninos, meninos, agora já foi. Brigar não vai adianta de nada.— Hagrid tentou intervir, mas eles só se acalmaram quando Sirius puxou Tiago para o banco.
Se abateu sobre a cabana de Hagrid um breve silêncio sufocante. Tiago e Remo evitavam se encarar. Lupin estava muito chateado pelos danos que o amigo causara à Grifinória. Já Potter, não conseguia acreditar que um de seus melhores amigos havia dito que ele “gostava de se exibir” — como se isso fosse verdade! Pedro fitava os joelhos e Hagrid se levantou, com a desculpa de que ia acender o fogo e preparar biscoitos. Sirius, não aguentando aquele clima, chamou Hagrid, que veio prontamente falar com ele.
— No nosso passeio em Hogsmead encontramos uma casa abandonada — ele começou e os outros perceberam onde ele queria chegar, mas não deram importância. — Encontramos uma passagem secreta lá, achamos que ela dá aqui, em Hogwarts, mas estava fechada por magia.
— E por que acham isso? Poderia dar em qualquer lugar — Hagrid perguntou, cauteloso.
— Porque não faria sentido ela acabar em algum lugar de Hogsmead e ninguém cria passagens secretas para lugares distantes demais. É mais fácil aparatar. — Remo quebrou o silêncio, falando como se aquilo fosse bem óbvio.
— Certamente, mas mesmo assim... — Hagrid parou e então completou ferozmente, tentando dar uma bronca: — Vocês não deveriam ficar olhando essas coisas, vão entrar em confusões piores se continuarem desse jeito!
— Olha, Remo, alguém concorda com você — Tiago falou baixo para Hagrid não ouvir, mas alto o suficiente para os outros Marotos escutarem.
Remo fulminou Tiago com os olhos. Era a primeira vez que ele via o amigo tão furioso. Sentiu uma pontada de medo de depois eles não fazerem as pazes, mas afastou o pressentimento com um tapa leve. Isso era impossível de acontecer. Remo era um de seus melhores amigos. Seriam amigos para sempre.
— Ah, cala a boca, Tiago — disse Sirius, dando um tapa na cabeça de Potter e voltando-se para o meio gigante que ainda estava de costas. — O caso, Hagrid, é que achamos que, como querem capturar o lobisomem que vive na Floresta Proibida, podíamos mudá-lo de lugar. Poderíamos colocar o Remo nessa casa abandonada em Hogsmead!
Sirius estava todo animado. E, apesar de estar quase sem fôlego, continuou:
— Você podia falar com Dumbledore sobre isso! Tenho certeza de que ele ouviria sua opinião.
Ao ouvir o nome do diretor, Hagrid começou a rir. Segurando uma bandeja de biscoitos recém-saídos do forno, ele se sentou na mesa. Deu um tapinha em Sirius, que quase o derrubou no chão, e disse:
— Ah, Sirius, Dumbledore já está cuidando disso, ele já está providenciando tudo.
— Foi o que a McGonagall nos disse — lamentou Pedro, e estava bem mais calmo.
— Mas mesmo assim, seria bem mais seguro Remo ficar em Hogsmead ao invés de ficar aqui — Tiago veio em auxílio de Sirius.
— Eu já disse que Dumbledore está cuidando de tudo. Agora parem de colocar os narizes aonde não são chamados — Hagrid deu outra bronca e se levantou. — Vou pegar água para o chá.
O meio gigante pegou uma chaleira grande demais e saiu, com Caniço em seu encalço. Tiago, aproveitando a ausência de Hagrid, curvou-se mais para frente e disse, olhando para Remo:
— Olha, eu sei que você gosta dele, mas Dumbledore já está ficando meio gagá — começou o garoto — e eu duvido que já tenha achado um lugar para você ficar.
— Odeio ter que dizer isso, Tiago, mas acho que você tem razão. — Remo tentou sorrir e se aproximou deles.
— Eu concordo com Tiago, mas parece que ninguém escuta a gente. Só sabem dizer que Dumbledore está cuidando de tudo o tempo todo! — Sirius se exaltou e bateu na mesa, frustrado.
— A gente precisa te mandar pra aquela casa em Hogsmead — Pedro concordava com os outros.
— Mas o que vamos fazer? Ninguém escuta a gente e não sabemos desfazer o feitiço que lacrou a passagem.
Tiago sorriu e, certificando-se de que Hagrid não estava vindo, tirou a Capa da Invisibilidade do bolso.
— Vamos falar com Dumbledore nós mesmos.
Ele jogou a capa sobre ele e seus amigos. Devagar, abriram a porta da cabana de Rúbeo Hagrid e saíram. Atravessaram correndo todo o caminho da cabana de Hagrid até o Castelo. Toparam com Pirraça logo no saguão de entrada, mas o poltergeist estava cantarolando feliz e não ouviu as vozes abafas por baixo da Capa. Respiraram aliviados quando ele começou a implicar com o fantasma de Nick-Quase-Sem-Cabeça.
Estavam no segundo andar quando notaram que havia uma grande quantidade de água no chão. Sirius começou a segui-la, mas Tiago o puxou pelo braço.
— Temos que falar com Dumbledore primeiro.
— Nem vai demorar — Sirius protestou e saiu de debaixo da Capa, seguindo o rastro da água.
Tiago suspirou e Remo o encarou.
— Que foi?
— Não vamos atrás dele?
— E correr o risco de não falar com Dumbledore?
Lupin revirou os olhos e puxou os outros dois. Foram seguindo pelo mesmo caminho que Sirius. Black iria se meter em confusão se fosse lá sozinho e todos sabiam disso.
Quando chegaram, perceberam que se tratava do banheiro feminino. Mas como ele estava todo alagado, constataram que não teria ninguém. Eles entraram. Lá dentro, além da quantidade enorme de água que jorrava de todas as pias, deram de cara com uma fantasma sentada numa das bancadas de mármore. Ela usava o uniforme de Hogwarts e óculos grandes e grossos. Tinha um sorrisinho estranho no rosto. Tiago a reconheceu imediatamente. Já ouvira falar dela, era Murta-Que-Geme, a fantasma que assombrava o banheiro feminino.
Outra surpresa que tiveram naquela noite foi Sirius. Ele estava pálido e segurava a varinha bem erguida. Tinha um olhar de valentia no rosto, mas quem o conhecia de verdade, sabia que ele também estava com um pouco medo. Ninguém entendeu, porém, o motivo de Sirius ter sacado a varinha sendo que a única coisa naquele banheiro era uma fantasma esquisita. Até que olharam para o outro lado. Com roupas da Sonserina, os cabelos louros esvoaçando pelas costas e a varinha apontada para o primo, estava Narcisa Black.
— O que estão fazendo? — perguntou Pedro, o mais baixo que conseguia.
Ninguém respondeu. Tiago tentou tirar a Capa, mas Remo o impediu.
— Responda! — Narcisa gritou, num tom imperativo. — O que está fazendo aqui?
— Por que? — Sirius respondeu, zombando dela. — Estava fazendo algo que ninguém deveria saber, priminha?
— Ah, pode apostar que ela estava — disse a Murta, com um risinho abafado.
— Calada! — Narcisa gritou para a fantasma, que voou para cima e se afundou num dos vasos sanitários, desaparecendo do banheiro.
Em seguida, tudo aconteceu muito rápido. Jatos vermelhos saíram da varinha de Narcisa em direção a Sirius. O menino correu e se escondeu embaixo de uma das pias. Tiago saiu da Capa da Invisibilidade e atirou uma azaração contra Narcisa, que começou a dançar sem controle. Quando o efeito do feitiço passou, jatos começaram a sair da varinha dela e os dois tiveram que sair correndo. Se escondendo atrás de boxes e embaixo de pias. Remo e Pedro continuaram protegidos pela capa, mas começaram a jogar feitiços contra ela. Porém, a menina parecia que tinha a sorte grudada no corpo, nenhum a atingia.
Não demorou para a Murta reaparecer no banheiro. Enquanto Tiago e Sirius travavam um duelo com Narcisa, a fantasma saía gritando e atirando ao ar palavras de incentivo a Black. Os dois achavam aquilo esquisito, mas estavam muito mais preocupados em salvar as próprias peles dos feitiços que Narcisa jogava aleatoriamente do que com as esquisitices de uma menina morta.
Eles se esconderam entre a porta de um dos boxes. Remo e Pedro estavam agachados debaixo da pia, onde tinham visão perfeita de Narcisa e ficavam protegidos dos feitiços que a bruxa lançava. A menina olhava para todos os lados, esperando que um dos dois saísse de seus esconderijos. Os meninos esperavam que ela se distraísse.
O momento veio quando Remo bateu a cabeça num dos canos da pia e gemeu de dor. Narcisa, ao ouvir o barulho, virou o corpo para trás, procurando o que o causara. Remo e Pedro se encolheram ainda mais na Capa da Invisibilidade de Tiago, torcendo para Narcisa não chegar perto. Sirius aproveitou e saiu, pronto para jogar algum feitiço, qualquer um contra ela. A prima, entretanto, estava com os sentidos aguçados demais. Ela virou-se rapidamente para ele.
— Estupefaça! — gritou e Sirius foi atirado para trás, bateu a cabeça na parede e escorregou inconsciente para o chão.
— Não! — Tiago saiu gritando para o corpo inerte do amigo. — Você vai pagar! Você vai pagar! — ele berrava para a prima de Sirius, enquanto grossas lágrimas caíam de seus olhos e molhavam a roupa de Sirius.
Remo e Pedro estavam prontos para sair da Capa da Invisibilidade e ir socorrer Sirius, mas foram interrompidos pelo grito estridente da Murta-Que-Geme. Ela puxava o cabelo e submergia e emergia novamente das privadas e pias do banheiro, inundando ainda mais o local.
— Assassinato no banheiro, assassinato no banheiro — ela choramingava enquanto gritava.
Não demorou muito e Filch apareceu, acompanhado de sua gata, a Senhora Indra.
— Crianças fora da cama, crianças fora da cama — ele ralhou um de seus famosos bordões, mas ficou mudo assim que viu Sirius inconsciente no chão e Tiago chorando sobre seu corpo.
Segundos depois, apareceu dentro do banheiro, a Professora McGonagall. Ela estava vestida em seu robe de seda e carregava a varinha na mão.
— Mas que escândalo é esse, Filch? Perdeu o juízo? — ela ia dizendo, mas sua voz sumiu quando viu Tiago, Sirius e Narcisa. — Por Merlin! O que aconteceu aqui? — Ela olhava de Sirius caído no chão para Narcisa, ainda parada segurando a varinha. — E não era pra você e o Sr. Black estarem cumprindo uma detenção, Potter?
Tiago não respondeu. Não tinha forças. Apenas chorava. Estava preocupado com o amigo. Nesse momento, Remo achou que já era hora de se mostrar e puxou a Capa de cima dele e de Pedro.
— Desculpe, Professora. Foi ideia minha fugir de lá — Remo disse, saindo de debaixo da pia e assumindo a culpa. Pedro estava ao seu lado, fitando o chão.
— Santo Deus! Nunca esperaria algo assim de você, Lupin — murmurou a Professora, levando a mão ao coração. — Vá buscar o Professor Slughorn e o Professor Dumbledore. E traga a Madame Pomfrey também. Agora! — disse ela para Filch, que não esperou para ouvir a ordem outra vez, e saiu correndo.
A Professora McGonagall se recusou a ouvir qualquer explicação dos alunos antes que os professores Slughorn e Dumbledore chegassem. Conjurou uma maca para Sirius e Pedro e Remo correram para o amigo. Narcisa agachou-se no chão e engatinhou até a pia. Deixou a varinha cair no chão e olhava vidrada para Sirius. O que estava passando na cabeça dela, ninguém sabia.
A Murta-Que-Geme se juntou aos amigos de Sirius e o observava choramingando também. Repetia que havia sido um assassinato e depois sorria, como se imaginasse os dois juntos num pós vida. Tiago, a intervalos regulares, gritava que Narcisa ia pagar por aquilo.
— Ah, por favor, Potter, cale a boca! Ele só está estuporado! — a Professora McGonagall disse, quando não aguentava mais a ladainha de Tiago.
Tiago calou-se bem a tempo de ver o Professor Slughorn e o Professor Dumbledore chegarem. Logo atrás deles, vinha Filch e Madame Pomfrey. A reação de cada um veio lentamente. O Professor Slughorn levou as mãos a boca, espantado. Não sabia o que dizer. Olhava dos meninos para Minerva e desta para Dumbledore. Estava completamente chocado. Madame Pomfrey levou o mesmo susto que Horácio, mas logo se recuperou.
— Não toquem nele! — ela gritou para Tiago, Remo e Pedro que estavam praticamente debruçados sobre Sirius. — Enervate — ela pronunciou, e Sirius começou a se mexer na maca, mas não acordou. — Esse menino precisa de cuidados — constatou.
Ela encantou a maca e saiu do banheiro sem falar com ninguém. Dumbledore a observava calmamente, como se observa uma coruja trazer uma carta. Ele logo dispensou Filch, com um aceno de mão. O zelador protestou, mas Dumbledore não deu ouvidos. Olhou para Narcisa, ainda agachada perto da pia e, em seguida, para Slughorn.
— Horácio, por favor, conduza a Srtª Black para a Sala Comunal da Sonserina — e, vendo o estado da menina, acrescentou: — e dê alguma coisa para os nervos à ela.
Narcisa saiu acompanhada de Slughorn, que parecia não saber o que fazer. Dumbledore então se dirigiu à Minerva:
— Professora McGonagall, veja se Sirius Black já está bem e, se estiver, mande-o para minha sala — ele disse, e Minerva saiu imediatamente. Dumbledore então olhou para os três e disse: — Me acompanhem, por favor.
Os meninos se apressaram a seguir o diretor. Ele os levou até seu gabinete. Os meninos se impressionaram com o local, como sempre acontecia quando um aluno ia ali. Dumbledore foi para trás da escrivaninha. Olhou para os meninos por sobre os oclinhos de meia-lua. Seus olhos azuis, sempre muito bondosos, davam a incômoda sensação de ler a alma dos garotos.
— Certamente vocês querem esperar o Sr. Black antes de começarmos, não é?
Os meninos prontamente assentiram. A sala de Dumbledore ficou em silêncio até Sirius entrar, escoltado pela Professora McGonagall e seguido pela Madame Pomfrey, que ainda reclamava da saída do garoto da enfermaria.
— Ele ainda precisa de cuidados, estava desacordado quando cheguei, não sei o que o Dumbledore tem na cabeça... — ela murmurava enquanto corria atrás de Minerva tentando levar Sirius de volta.
— Francamente, Papoula, o menino foi estuporado, não recebeu uma Maldição Imperdoável — ralhou Minerva irritada e fechando a porta do gabinete de Dumbledore.
Dumbledore pareceu esboçar um sorriso e seus olhos encontraram os de Black.
— Como está, Sirius?
— Bem, professor — respondeu Sirius e então olhou para a porta por onde sairam Papoula e Minerva. — Só acho que a Madame Pomfrey leva o trabalho dela a sério demais.

— Ela sempre foi uma enfermeira muito cuidadosa — disse Dumbledore e seus olhos percorreram toda a sala antes de se cravarem nos meninos a sua frente. — Algum de vocês poderia me explicar o que aconteceu? Do início?
Os quatro se revezaram para contar a Dumbledore tudo o que ocorrera naquele dia, desde o momento em que decidiram sair da Sala Comunal mais cedo naquela mesma noite. Tiveram todo o cuidado de esconder os duelos que faziam às escondidas. Sirius contou que quando chegou Narcisa já estava no banheiro, insultando a Murta-Que-Geme, e ele defendeu a fantasma.
— Foi nojento — finalizou Sirius, fazendo uma careta.
— Sim, foi — concordou Dumbledore. — Algumas famílias bruxas de sangue puro se acham superiores aos nascidos trouxas, até mesmo quando eles já estão mortos. — Dumbledore olhou para Sirius.
O menino abaixou a cabeça, se lembrando de toda a sua família e de como eram preconceituosos. Então olhou para Tiago. Um menino que tivera uma criação totalmente diferente da dele, com pais extremamente tolerantes.
— Mas, é claro, em algumas gerações, nascem algumas exceções e o resultado se encontra à minha frente. — Dumbledore olhou para Sirius novamente e, desta vez, estava sorrindo. — Você e seus amigos foram muito corajosos lá dentro, Sr. Black.
— Obrigado, senhor — os meninos responderam em momentos diferentes, meio envergonhados.
— Agora, quero que sejam muito sinceros — começou Dumbledore, muito sério. — Tem alguma coisa que queiram me contar?
Sirius, Tiago, Remo e Pedro se entreolharam. Escondiam tantas coisas de Dumbledore. E o diretor parecia saber de todas elas. Olhava para eles como se tivesse esperando a confissão de tudo o que andaram fazendo durante a maior parte do ano. Não sabiam o que fazer até que Remo abriu a boca.
— Na verdade, senhor, há uma coisa — disse o menino, para espanto de seus amigos. Tiago e Sirius olharam para ele, tentando pedir que calasse a boca, mas ele pareceu não entender. — Enquanto estávamos em Hogsmead, naquela casa abandonada, encontramos uma passagem e achamos que ela pode nos trazer até Hogwarts.
Os Marotos suspiraram aliviados, porque achavam que Remo ia contar sobre os duelos ou sobre o mapa.
— Acharam corretamente — disse Dumbledore corretamente. Ao ver que os meninos arregalaram os olhos, o diretor começou a explicar: — Aquela passagem existe há muito tempo. Alguns alunos a descobriram e começaram a usá-la para fugir de Hogwarts. Obviamente, tentaram manter segredo sobre ela à todo custo — então Dumbledore deu um sorriso bondoso —, então, é claro, a escola inteira ficou sabendo.
“Quando a notícia sobre uma passagem secreta que levava de Hogwarts à Hogsmead caiu nos ouvidos do Professor Dippet, então diretor de Hogwarts, ele pediu minha ajuda para lacrá-la. E está assim desde então”.
Remo assentiu. Tiago e Sirius se olharam surpresos, nunca imaginaram que Dumbledore poderia saber sobre aquela passagem. Quantos outros segredos do Castelo o diretor conhecia?
Como se tivesse lido os pensamentos deles, Dumbledore disse:
— É claro que esta foi a única passagem secreta que encontrei em todos os anos que estive em Hogwarts — e então se justificou: — Sempre achei as aulas mais interessantes do que o Castelo em si. Mas vocês não querem ouvir as lembranças de um velho como eu. O que ia dizendo, Sr. Lupin?
Remo ficou momentaneamente sem palavras. Sempre achara Dumbledore meio excêntrico, mas também sempre supusera que como diretor, ele sabia tudo sobre Hogwarts. Obviamente, estava enganado.
— A verdade é que nós queríamos saber se o Remo não podia ficar na casa abandonada quando se transforma — Pedro falou, já que Lupin demorou demais. — Com certeza é bem mais seguro que a Floresta Proibida e não corre o risco de ninguém achá-lo, a não ser que encontre a passagem secreta.
— Coisa que certamente não fariam, porque ela fica embaixo do Salgueiro Lutador — informou Dumbledore, como se tivesse dando o boletim do tempo. — Mas, meu caro Pettigrew, como sabe que já não estou providenciando para que isso aconteça?
Os meninos boquiabriram-se. Dumbledore apenas riu.
— Desde que Lupin chegou aqui eu pretendia tê-lo colocado lá, mas a passagem ficou lacrada durante muito tempo e eu não sabia se ainda era segura. Quando encontrei Narcisa atrás de você na Floresta Proibida — ele apontou para Remo —, decidi que tinha de sair de lá e comecei a preparar a passagem para que pudesse ser utilizada novamente. — Como os meninos não tinham entendido, Dumbledore explicou: — Ela havia desabado.
Os Marotos concordaram com a cabeça, sem saber o que dizer.
— Então, eu irei ficar na casa abandonada agora? — Remo perguntou de súbito.
— Quando ela estiver segura, você irá — confirmou Dumbledore. Então o diretor olhou o relógio e soltou uma exclamação de surpresa: — Já é bem tarde, vocês precisam descansar e eu já os prendi demais. Acho melhor irem indo, boa noite.
Os meninos levantaram, um pouco confusos com o fim repentino da conversa, e estavam descendo às escadas quando Dumbledore disse:
— Não esqueçam de pedir desculpas a Hagrid pelo desaparecimento da detenção, ele ficou bastante preocupado.
Eles concordaram e foi então que Remo se lembrou de algo. Subiu as escadas novamente e, quando chegou no topo, arfava.
— Professor Dumbledore, professor Dumbledore!
— Sim, Remo...
— Lá no banheiro da Murta-Que-Geme, enquanto Tiago e Sirius duelavam contra Narcisa, eu e Pedro tentávamos ajudá-los lançando feitiços nela, mas todos pareciam se desviar. Por quê?
Dumbledore pareceu analisar se deveria ou não contar aquilo a Remo. Por fim, deve ter decidido que ele era confiável porque começou a falar:
— A Murta-Que-Geme me confidenciou que Narcisa Black estava indo com certa regularidade ao banheiro dela e preparava algo em um caldeirão. Uma Poção, que ela me descreveu como sendo cor de ouro derretido e de onde saltavam enormes gotas à superfície.
— Uma poção? — perguntou Sirius, surpreso. — Para deixá-la melhor em duelos? Porque foi a única coisa que aconteceu.
— Talvez, Sirius, talvez — respondeu Dumbledore e os dispensou novamente.
Voltaram para a Sala Comunal da Grifinória protegidos pela Capa da Invisibilidade e, ao chegarem ao dormitório dos meninos, logo adormeceram. Estavam muito cansados. Tiago só foi perceber que ainda estava com as vestes de Quadribol quando se deitou na cama.
Acordaram no dia seguinte e foram logo pedir desculpas a Hagrid e contar o que havia acontecido. O guarda-caças ralhou com eles, dizendo que um dia iriam entrar em uma confusão da qual não sairiam e, em seguida, deu um abraço de quebrar as costelas em cada um deles, feliz por todos estarem bem. Depois do café-da-manhã, a Professora Minerva foi procura-los. Ela entregou a detenção que iriam cumprir. Passariam um mês ajudando a Madame Pince a arrumar a biblioteca. Convencidos de que poderia ter acontecido algo pior, não reclamaram. Ficaram apenas um pouco irritados, porque, pelo que parecia, Narcisa não levara nenhuma punição.
Então, todos os dias depois das aulas, eles iam para a biblioteca ajudar a bibliotecária de Hogwarts. Tiago só era liberado quando tinha treino de Quadribol (e apenas porque a Professora McGonagall levava o esporte muito a sério). Mesmo sendo puxado, os meninos até que achavam a detenção divertida. Raras vezes, o tédio os acometia e eles viam as horas se arrastarem por eles.
Num desses dias, Remo chegou com um grande pergaminho na mão e um sorriso no rosto.
— Consegui terminar de desenhar o mapa de Hogwarts — anunciou. — Ou a maior parte dele. — Ele fez uma careta, porque sabia que faltavam partes, mas eram partes desconhecidas, então não fazia muita diferença.
— Sério? — Pedro se animou e foi conferir o pergaminho. Quando terminou de olhá-lo o entregou a Sirius e Tiago.
— Então o que estamos esperando? — perguntou Sirius. — Vamos logo usar o feitiço do Tiago.
O sorriso de Lupin de repente murchou. Agora parecia mais que ele tinha levado um soco no estômago.
— Não sei não, Sirius. Não acho que aquele feitiço seja seguro.
— Ah, essa história de novo? Me poupe — disse Tiago, revirando os olhos. — Me dê esse mapa aqui. — Ele puxou o pergaminho da mão de Remo e sacou a varinha. — Homonculous! — disse Tiago, com a varinha apontada para o mapa.
Quando Tiago terminou de pronunciar o feitiço, fez-se um estrondo muito alto. Os quatro Marotos foram atirados para trás e alguma livros caíram da prateleira. Ouviram a voz da Madame Pince gritando “O que foi isso?” e eles responderam que nada havia acontecido.
— Viu? Eu disse que não era seguro — falou Remo irritado, mas Pedro chamou a atenção deles:
— Vejam! — Pedro apontava para o mapa que havia caído no chão quando a confusão aconteceu.
Todos olharam para o mapa a ponto de conseguirem ver pequenas pegadas aparecendo no pergaminho. Quando procuraram pela biblioteca, puderam identificar os próprios nomes e o da Madame Pince vindo em direção a eles. Mas tão subitamente quanto apareceram, as pegadas desapareceram. E, na frente deles, estava uma Madame Pince bem chateada que pegou o mapa deles alegando que aquilo deveria ser mais um objeto criado para perturbar a paz dos outros.
Nenhum deles, entretanto, ligou para o confisco do mapa. A única coisa que conseguiam pensar, especialmente Tiago, era que o único feitiço que conheciam não havia dado certo. O Mapa do Maroto talvez nunca chegasse a existir.


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Notas finais do capítulo

Bem, espero que tenham gostado e obrigada por lerem tudo. Nos vemos no Epílogo.



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