Indesejados escrita por Joker Joji


Capítulo 1
Nuvens disformes.


Notas iniciais do capítulo

Em negrito, flashbacks, com POV do Kyouya. No mais, POV em terceira pessoa.



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Sozinha, ela desenhava o céu na rua. Aquela criança estava ali desde cedo, sem se cansar, ignorada por quase todos que passavam. Acho que, à exceção de mim mesmo, ninguém se importava com sua presença. Meu olhar furtivo vinha da brecha da janela, e conforme o tempo arrastava-se, mais interesse eu adquiria por aquele pequeno perdido.

 

          Um garoto da minha idade, enfeitando com nuvens disformes a terra pisada. Ainda assim, ele parecia divertir-se bem mais do que eu. Por que o garoto continuava sorrindo, mesmo parecendo uma tarefa tão entediante? E por que então eu continuava encarando-o?

 

~~~~~~

 

 

13 de agosto, 1789

Hiroshima, Japão feudal.

 

          Um garoto de dezessete anos estava parado à frente de uma loja movimentada, analisando os diversos tipos de tecido expostos. O auge da elegância, o topo da moda formal, tudo aquilo a seu alcance financeiro: Ootori Kyouya pertencia a uma das mais importantes dinastias da época, já que seus antecedentes (incluindo seu jovem pai) eram responsáveis por importantíssimas decisões para o futuro do país. Politicamente, exigiam respeito; economicamente, possuíam o maior poder das províncias ao leste japonês.

 

          Enquanto o jovem filho sentia aqueles tecidos com a ponta dos dedos, analisando a textura e qualidade dos panos, pensava nas inúmeras consequências de seus futuros atos. Kyouya era o Terceiro Filho dos Ootori, algo quase tão imperdoável como ter uma filha. Seu poder dentro da família era próximo ao nulo, e seu valor era unicamente aumentar o número de descendentes de seu Pai; Kyouya não levara muito tempo para aceitar seu destino, levando-se em conta que era um garoto educado e obediente. Portanto, conformava-se, deixando os questionamentos para outra hora.

 

          Porém, agora, uma nova oportunidade estendia-se a seus pés e o garoto sentia que seu destino estava incrivelmente frágil, como um vidro fervente esperando para ser moldado. Kyouya sabia que sua reputação – talvez até sua sobrevivência – dependeria daquilo. Ele não queria, no futuro, ser conhecido como “a perdição da família Ootori” ou qualquer denominação tão desrespeitosa; não, Kyouya via em seu futuro uma linda e influente esposa, responsável por sua ascensão e felicidade. Fora o que seu jovem Pai dissera, o futuro de um Terceiro Filho sempre seria determinado pelo valor de seu casamento. E assim ele aceitou. Sem reclamações.

 

          Assunto encerrado.

 

          Ou não?

 

          Não, não era assim tão simples. Kyouya procurava, na realidade, argumentos no meio de todos aqueles panos, andava para lá e para cá na loja, sem achar algo que pudesse firmar a decisão em sua mente. Nada o inspirava, sua incrível capacidade de raciocinar parecia adormecida, as dúvidas consumiam o garoto aos poucos, mesmo que ele clamasse por ajuda a todas aquelas nobres estampas. Embora soubesse a razão daquelas indagações, não podia sentir raiva, não quando estava discretamente satisfeito por estar avaliando todas as possibilidades.

 

          Por quê ele tinha de ter uma irmã mais velha? A desgraça da família, mas, em muitos casos, a salvação dos Ootori. Sempre graciosa e companheira, além de obediente, características fundamentais a qualquer mulher japonesa, o mínimo para não tacá-la numa correnteza. Nenhum ser do sexo feminino era bem visto naquela sociedade onde os homens detinham o poder, o dinheiro e a energia, só eram necessárias para procriar e cuidar da casa e filhos. Aquilo também era notado na família Ootori, mesmo que detivesse maior parcela de cultura e informação. Ootori Fuyumi era tão mal vista pelos parentes como qualquer outra filha mulher em qualquer outra família japonesa.

 

          Ainda assim, Kyouya supria um sentimento especial pela irmã, talvez pena, talvez similaridade, talvez meramente se compreendessem como irmãos. O fato é que havia uma proximidade entre os dois e essa relação (repugnante, na opinião dos pais) acabou por destruir os momentos que antecipariam o casamento do Terceiro Filho.

 

~~~~~~

 

          - Irmão, você sabe muito bem o quanto te amo. – Entoou Fuyumi-chan. Provavelmente, sua doce voz viria apaziguar meu coração e minhas angústias, já que meu casamento se aproximava e eu sequer conhecera minha noiva. Não dessa vez; embora a voz de minha Irmã permanecesse carinhosa, tudo o que ela me diria só iria aumentar minhas preocupações. – E por isso mesmo, quero perguntar-lhe algo, antes que seja tarde demais. Você sabe que sou uma filha tradicional, mas não posso deixar de questionar alguns de nossos valores.

 

          - Irmã, sabe que isso pode trazer-lhe inúmeros problemas e complicações, não sabe? Ainda mais agora, próximo a meu casamento...

 

          - Escute, Kyouya-kun. Você me ama, não ama?

 

          - Sim, amo, como qualquer irmão deve amar a seu igual.

 

          - Então sabe o que é amor. O que acha desse sentimento?

 

          “Amor”? Lembro-me da confusão que passou pela minha cabeça quando fui indagado sobre ele. O amor de filho, o amor de irmão, o amor de garoto; eram diferentes, não poderiam ser vistos como uma única coisa.

 

          - Eu não entendo, Irmã. O amor é algo que se constrói, baseando-o em experiências adquiridas com o tempo. Por exemplo, eu a amo, pois vivo há dezessete anos com sua companhia.

 

          - Não acredita que possamos amar alguém de fora? Não acredita que possamos ficar com alguém que amamos?

 

          - Irmã, aonde quer chegar? Por que diz isto em dias tão próximos a meu casamento?

 

          Nessa hora, ela abaixou-se e colocou suas mãos em meus joelhos. Como uma serva, ela me encarou; como se fosse surpreendentemente inferior a mim, ela me suplicou com o olhar. Eu não pude fazer nada a não ser ouvi-la com toda a atenção que possuía.

 

          - Irmão, você nunca se apaixonou. Você não sabe a alegria de amar alguém e desejar o olhar dessa pessoa, almejar cada parte de seu corpo, querer dividir cada um de seus sentimentos, seja ele amargo ou alegre. Eu espero que não seja tarde demais, mas eu gostaria que você fosse feliz. Você, que nasceu como um Terceiro Filho, indesejado, merece mais do que todos nós mudar seu destino completamente, e explorar caminhos nunca antes encontrados.

 

~~~~~~

 

          Depois daquela conversa, Kyouya jamais teve certeza do que queria. E se encontrasse o amor? E se ele realmente existisse? Cativar sentimentos por um desconhecido não parecia nem de perto uma idéia atraente, o perigo era incontestável... Mas... E se não tivesse jeito?

 

          A felicidade. Isso sim era atraente, até demais. A Irmã nunca mentia para Kyouya, e isso o confundia ainda mais. Como, então, ninguém parecia tomar esse caminho, todos corriam para as ruínas, assinando casamentos e vivendo com alguém distante e tão diferente?

 

          No meio dos tecidos azulados, o jovem não apenas buscava um traje apropriado para a cerimônia, como também estava à procura de alguma referência. Queria perguntar, indagar, pesquisar – atos vergonhosos para um adolescente tão obediente. Kyouya sentia seus pensamentos confusos e as batidas cardíacas aceleradas. Porém, nada tão grave quanto o que viria a seguir.

 

          Cansado e confuso, avisou a sua mãe que iria rapidamente a uma barraca de doces artesanais ali perto. Era seu costume ir ali e comprar algumas frutas caramelizadas, além do delicioso makimono de chocolate que os donos produziam. O sol havia finalmente dado uma trégua, acalmando os ânimos da população de Hiroshima. Respirou fundo algumas vezes, sentindo o cheiro do mel cristalizado, e deu um breve sorriso.

 

          - Com licença... Há algo aqui que eu possa apreciar?

 

          O simples toque pegara Kyouya de surpresa, e a voz comedida ainda mais. O moreno virou-se e, por uns bons instantes, avaliou o jovem que sorria a sua frente. Loiro. Olhos azuis. Pele clara, rosada. Dentes brancos que brilhavam tanto a ponto de incomodar.

 

          - É... Talvez. Aqui há doces caramelizados muito bons...

 

          - Ah, fantástico! – Nem mesmo seus gestos ou o modo de sorrir lembravam algo que Kyouya já tivesse visto. Era indiscreto e chamativo, ao mesmo tempo em que expressava toda sua saudável beleza. Enérgico, assim lhe parecera o loiro. – É algo típico da região?

 

          Por que ele teimava em puxar assunto? Seu sotaque era indisfarçável e provocava Kyouya, que jamais admitiria estar se divertindo numa situação daquelas. Mesmo que quisesse evitá-lo, não havia jeito, a fila era óbvia e sua dignidade não permitiria que o garoto simplesmente o ignorasse.

 

          - Na verdade, tirando-se essa barraca, não vai ser fácil encontrar esse tipo de doce por aqui...

 

          - É uma raridade, então? Que maravilhoso! Vou confiar em seu paladar, sim, caro...? Perdoe-me, a quem devo a honra?

 

          - Ootori Kyouya. – O garoto reverenciou-se, mesmo que o loiro não estivesse acima de si próprio. Era mera questão de educação. Porém, nesse ato, seus óculos deslizaram de seu rosto e foram parar em qualquer lugar longe de seu alcance. Instantaneamente, a face de Kyouya atingiu tons incríveis de vermelhidão e o garoto perdeu a capacidade de falar.

 

          - Ih! Espere, Kyouya-kun, que eu pego para você... – Kyouya-kun? Mas que atrevimento. Enquanto o moreno curvava-se para exibir toda sua polidez, o outro aproximava suas condições e até os transformava em amigos com o simples emprego de um “kun” no final do nome. O autocontrole assumiu o corpo do garoto e, esperando por seus óculos, resolveu ignorar a atitude reprovante do outro.

 

          Depois de alguns instantes, percebeu que sua visão voltava ao normal, e os olhos claros do garoto ainda sem nome o encaravam com extrema curiosidade. Kyouya começava a incomodar-se com seu atrevimento, resolvendo que também o trataria da mesma forma abusiva.

 

          - E você é...?

 

          - Ah, claro. Suou Tamaki. Pode me chamar de Tamaki-kun, se quiser. – Sorriso. Era quase como se, a cada demonstração de felicidade, seu rosto fosse envolvido por florzinhas púrpuras. – Kyouya-kun, sua vez de fazer o pedido. Ah! Será que pode pedir o mesmo para mim? Vou conseguir alguma mesa para nós, sim?

 

          Rapidamente, Suou entregou-lhe algumas moedas e também alguns tópicos nos quais pensar. Tamaki era, sem dúvida, um nome japonês, embora Kyouya não estivesse tão certo quanto ao Suou. Talvez ele fosse de outra província. Com suas moedas na mão, o moreno chegou a conclusão de que Tamaki também deveria ter boas condições familiares, embora não demonstrasse toda sua educação em público. Talvez fosse apenas uma ascensão inesperada e a família ainda não tivesse tido tempo para adaptar-se aos novos hábitos. Afinal, quem gastaria tanto dinheiro com uma simples barraquinha de doces, sem ao menos conhecê-la a fundo?

 

          Com os doces na mão, Kyouya procurou pelo inquieto conhecido. Não demorou um minuto, o loiro o acenava escandalosamente, pelo que se percebia estava muitíssimo satisfeito por ter “conquistado” uma mesa de madeira num beco próximo. O garoto arrependeu-se de ter armado aquele compromisso, mas sentou-se no banco em frente ao loiro.

 

          - Obrigaaaado, Kyouya-kun! Parece mesmo saboroso! Vamos comer juntos, ande, abra logo seu pacote e delicie-se com o doce sabor...

 

          Tamaki agia como uma criança de cinco anos. Sem problemas aparentes, preenchido em cada lacuna por uma pura e inocente felicidade, parecia realmente que ele estava aproveitando a vida. Aquilo era quase incompreensível.

 

          - Anda, Kyouya. O que houve? Por que não está sorrindo?

 

          Como assim, era parte de sua obrigação sorrir? Kyouya se perguntava exatamente o contrário: por que Tamaki está sorrindo? Aquilo sim era incomum, ter a seriedade estampada na face era mais do que normal em tempos como aqueles. Ninguém estava plenamente feliz ou realizado, não em meio a tantas obrigações, responsabilidades ou tradições.

 

          - Por acaso, tem a ver com seu futuro?

 

          Kyouya soltou os hashis e encarou Tamaki profundamente, sem saber muito bem o que responder ou no que pensar. Aquele era um assunto que só dizia respeito ao próprio jovem moreno e a sua irmã. Não seria correto sair contando suas aflições para qualquer um que visse na rua. Um sinal de fraqueza.

 

          - Na verdade... Tem. – Só aquele “tem” foi suficiente para fazer Kyouya suspirar um pouco mais relaxado. Era um sinal de fraqueza, sim, mas ele era incapaz de contradizer os penetrantes olhos azuis de Suou-kun. Encarou-os mais uma vez. Não queria ir além.

 

          - Não fique assim, por favor. Sabe... Não é fácil pensar no futuro. Mas é ainda mais difícil ignorá-lo. Então, o que você pode fazer é analisar bem o que você faz no presente, ver as consequências, entende. O jeito é conseguir aproveitar muito bem o hoje sem deteriorar o que virá pela frente. Sem se condenar. – Tamaki suportou o contato entre os olhares com um sorriso tranquilo na face. O modo como explicou seu ponto de vista fez Kyouya deduzir que o loiro já pensara muito no mesmo assunto e chegara a essa filosofia. Perante tamanha força de pensamento, sentiu toda sua máscara obediente desmoronar-se, abaixou a cabeça e enrubesceu-se. Era impossível manter sua compostura diante de Tamaki.

 

          - Kyo-kun! Falei alguma besteira? – Sem vê-lo, sentiu as mãos do loiro pousarem em seus ombros, preciosas, preocupadas. Seus olhos estavam úmidos. Sua boca, seca. Sentia que todo o seu passado, todo ele, parecia querer ruir naquele momento; todos os valores, tudo pelo qual lutou toda a vida, nada parecia fazer um mínimo de sentido agora. Prestes a debulhar-se em lágrimas, sentiu uma das mãos de Tamaki retirar seus óculos, enquanto seus cabelos loiros apoiavam-se no ombro esquerdo do moreno.

 

          Aquele toque, tão cheio de carinho. Como era possível? Suou Tamaki era um completo desconhecido. Um estranho que conseguira bagunçar absolutamente tudo dentro dos pensamentos de Ootori Kyouya. Agora, abraçado pelas costas, o mais velho envergonhava-se e sentia algumas incertezas sumirem, acalmando-se progressivamente. Só queria continuar assim por mais um pouco.

 

          Ainda abraçados, Tamaki deslizou pelas costas do moreno e foi sentar-se ao seu lado. Com os dedos suaves, afastou os fios negros dos olhos acinzentados do outro, atraindo seu olhar. Ficaram assim por um tempo, Kyouya perdido, com Suou a compreendê-lo perfeitamente. Os braços de um a envolver o corpo vulnerável do outro, os braços de outro a permanecerem estáticos, assombrados com aquela realidade.

 

          - Eu lembro de quando você me espionava pela janela, quando ainda éramos crianças.

 

          Por um momento, Kyouya não associou aquela frase às suas antigas memórias.

 

          O sorriso.

 

          Os cabelos loiros.

 

          As nuvens disformes que lhe traziam tanta felicidade.

 

          - Reconheceu?

 

          Kyouya continuou a encará-lo, agora enormemente surpreso. A uma ínfima distância, reconhecia-se incapaz de quebrar aquele contato, assim como também não conseguia acreditar que fora tão insensível ao não reparar. Suou Tamaki-kun. Seu vizinho de uns treze anos atrás. A família de imigrantes ilegais. A felicidade incompreensível.

 

          - Agora, você também sabe um pouco de meu passado, presente e futuro.

 

          Sem dúvida, Kyouya entendeu instantaneamente todo o sofrimento pelo qual o garoto e sua família haviam passado. O Japão estava fechado para imigrantes há mais de algumas décadas, de modo que descendentes de ou os próprios estrangeiros eram tão indesejados como filhas mulheres ou Terceiros Filhos. Talvez até mais. Um impasse percorreu rapidamente a cabeça de Kyouya. Tamaki, envergonhado, retirou vagarosamente o seu braço dos ombros do amigo, afastando-se ao longo do banco.

 

          Um imigrante ilegal.

 

          Um Terceiro Filho, com um status apenas um pouco melhor que o do imigrante.

 

          O casamento que se aproximava, ameaçando mudar para sempre o destino deste segundo.

 

          As palavras de uma Irmã.

 

Aproveite o hoje... Sem se condenar.

 

          Tamaki levantou-se do banco, tampando a boca com uma das mãos e, agora, na mesma situação de Kyouya há minutos atrás, envolvendo a si próprio com um dos braços. A humilhação suprema fez seu corpo encolher-se por proteção, imprimindo-lhe calafrios. Preparava-se para ir embora e esquecer aqueles momentos felizes para sempre, quando sentiu uma mão puxando um de seus braços, um movimento brusco e passageiro. Logo depois, Kyouya tinha seus dois braços cruzados na cintura de Tamaki, abraçando-lhe pelas costas do mesmo jeito que o outro fizera minutos antes, só que, dessa vez, com firmeza e determinação. Encostava seus pescoços. Apertava-o como se fosse o único meio de fazê-lo se sentir melhor.

 

          - Não se sinta assim. Por favor, Tamaki. Posso não ser nada demais, apenas um adolescente mimado que come doces caramelizados para se esquecer da dura realidade... Mas hoje, ao menos dessa vez, eu me senti diferente. Mais forte. Amado. Nenhum preconceito é capaz de destruir minha gratidão. Por favor, não sofra, pelo menos não enquanto eu estiver lhe abraçando.

 

          Ele não fazia ideia de onde aquelas palavras brotaram, só sabia que não tivera tempo de lapidar ou consertar qualquer pensamento que o invadira subitamente. Falara alto demais. Falara tudo. Se era para haver mal entendidos, que houvesse. Mas Kyouya ainda o abraçava, forte demais, com vontade demais, sem medo do que poderia ouvir ou sentir.

 

          Aos poucos, o loiro se virou, ainda envolto pelos braços claros do moreno. Seu abraço era tão forte que a distância era mínima entre seus rostos. Tamaki mal conseguia respirar ou digerir todas aquelas palavras do garoto. Nenhum dos dois compreendia o que estavam fazendo. Abraçados por palavras sinceras, unidos por sentimentos profundos, os dois se encaravam mais uma vez naquele beco escuro, no barulho surdo dos corações em compasso.

 

          Ele sorriu. E, com todo aquele gosto de inocência, encostou seus lábios nos de Kyouya. Nenhum dos dois esperava que aquilo fosse realmente acontecer. Um beijo, um beijo simples, um gentil roçar de lábios, um carinho perdido na escuridão entre paredes solitárias. Tamaki agradeceu em silêncio, dando mais um beijo no moreno, agora em sua bochecha esquerda. Ele não pôde evitar que suas mãos afagassem os fios dourados do outro, apreciando-os muito mais do que fizeram com os tecidos da loja ao lado.

 

          Aquilo era muito mais precioso. Aquele romance nada convencional, mais um pecado à lista de dois pecadores, um ato repugnante vindo de dois seres indesejados.

 

          Suou Tamaki era, sem dúvida, o caminho mais interessante, enigmático e encantador que poderia aparecer em seu destino.

 

          Ootori Kyouya sorriu, ignorando os chamados de sua Mãe no interior da loja. Não fazia mais diferença.

 

          Seu futuro estava ali, em seus braços, sorridente, com lábios caramelizados e olhos azuis da cor da paixão.

        

 

 


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Notas finais do capítulo

Comentem bem ou comentem mal, apenas comentem. Podem criticar, jamais tirarei pontos, pelo contrário. Sou muitíssimo grata aos que leram. Obrigada! *-*