Hummingbird escrita por SjolanderGirl


Capítulo 1
Hummingbird - Parte I


Notas iniciais do capítulo

http://www.youtube.com/watch?v=h5Jr4xIc-Zs
Boa leitura! ♥



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                Take what you need, and leave the rest
                            Leve o que precisa e deixe o resto
                               No I don't mind, no I don't mind
                        Não, eu não me importo, não me importo
                                    I'll get this off my chest
                                Tirarei isso fora do meu peito
                            There's nowhere else I'd rather be

                      Não há outro lugar que eu preferiria estar

                                             -X-

Hummingbird - Alex Clare

- Babu, Babu!

Os tapas em meu peito me despertaram, vi o pequeno garoto de olhos castanhos pulando em cima do meu estômago. Ele tinha os olhos dela, essa era a minha primeira observação desde o dia em que coloquei Jack Masen Swan em meus braços.

- Ei carinha. – tirei as mexas de cabelo que caiam sobre meus olhos.

- Surfar, Babu. Quero surfar!

Me espreguicei, puxando-o para meu ombro com um braço enquanto levantava e recebia uma gargalhada contente de volta.

- Qual o lema? – coloquei-o sentado em sua cadeira, indo até a geladeira depois.

- Café primeiro, protetor solar em segundo e pegar ondas em terceiro.

- Isso aí. O que vai querer, carinha?

- Vitamina de papaia!

Bati a fruta com leite e servi em seu copo para vitaminas e mingau, o observando enquanto tomava meu copo de leite com aveia.

- Terminei! – jogou as mãos para cima, restos de vitamina espalhados por seu rosto e mãos.

- Cuidado, Jack. – limpei sua sujeira, puxando-o para fora da cadeira. – Pronto?

- Yeep!

Vesti sua sunga e bermuda, me certificando de ter passado protetor solar em nós depois de me trocar e subirmos na caminhonete em direção a Waikiki. Não demoramos muito por lá, a maré estava subindo e era perigoso para Jack ficar muito tempo na água, apenas pegamos algumas ondas e fomos almoçar no Rose’s & Emm. Emmett era meu amigo desde berço, ele era aquele cara gigante dentro de sua camisa de botões floral ridícula e um sorriso que parecia tatuado no rosto. Rose logo se juntou a ele na entrada, trajando um vestido leve.

- Aloha, Grande Ed, Pequeno Jack.

- Tio Emm!! – Jack se apressou para cumprimentar Emmett com as mãos. Meu amigo era criança o suficiente pra inventar um código só deles.

- Oi, Rose. – acenei, tirando o cabelo dos olhos.

- Quando vai cortar esse cabelo? – cobrou pela primeira de muitas vezes no dia. Isso estava acontecendo muito nos últimos meses.

- Logo, logo. – respondi o de sempre.

- O especial de hoje e suco de abacaxi? – Emm perguntou, levantando Jack por um braço só.

- Sim, suco de kiwi pra mim.

Sentamos em uma mesa perto do pátio de pedras. Jared veio nos servir pouco depois. Me ocupava entre comer, alimentar Jack e limpá-lo da bagunça quando meu filho saltou da cadeira, gritando.

- Mamãe!

Me virei, vendo-a recebe-lo em seus braços. Isabella sempre parecia ser a mesma turista de quase cinco anos atrás. A pele branca demais por tantas horas enfurnada dentro de um escritório, o grande chapéu para protegê-la do sol, o pequeno short jeans cobrindo metade de suas coxas delgadas e a camiseta com os inscritos “Aloha, I’m from NY

Andei pela faixa de areia até chegar à minha caminhonete, jogando minha prancha na carroceria. Franzi o cenho de dor pela fisgada que senti nos ombros, a semana de competições ainda fazia efeito sobre mim. Tirei a toalha de dentro da cabine e amarrei-a na cintura antes de tirar a bermuda e a sunga.

- Olá, desculpe interromper, mas preciso de uma informação. – ouvi a voz feminina atrás de mim.

Não era novidade eu ser abordado por alguém pedindo por alguma instrução, eu passava a maior parte do tempo por essas bandas, e também tinha meu pequeno negócio de aluguel de pranchas.

- Claro. – me virei, dando de cara com a mulher de estatura mediana, os cabelos estavam presos dentro de uma chapéu, mas percebi ser castanho porque alguns fios estavam soltos por seu pescoço e rosto. Soltei um riso disfarçado quando vi sua camiseta: “Aloha, I’m from NY.” 

- Será que pode me dizer onde fica esse lugar? – estendeu um pedaço de papel em minha direção.

Sorri, entregando o papel de volta pra ela.

- Esse quiosque é do meu amigo, estou indo para lá agora. Quer uma carona? – perguntei.

- Claro, estou totalmente perdida por aqui.

Conversamos por todo o caminho até o Rose’s & Emm. Pelo que tinha entendido ela era uma grande empresária em New York e estava em Honolulu por um mês. Férias. E eu me perguntava por que ela estava nesse paraíso completamente sozinha. Isabella Swan apenas me conquistou naquela tarde.

- Babu, a mamãe!

O grito de Jack fez meus pés se moverem até eles.

- Olá, Edward.

Eu me perguntava se algum dia não sentiria mais esse arrepio a cada vez que ela dissesse meu nome.

- Isabella. – acenei com a cabeça.

- Babu, vamos levar a mamãe pra surfar em Waikiki! – Jack se agitou em seu colo.

- A mamãe deve estar cansada, carinha.

- Na verdade eu adoraria. – beijou a bochecha do garoto.

- Yup!

- Primeiro terminar o almoço, Jack. – argumentei.

- Peça ao tio Emmett para colocar mais um prato na mesa. Vou almoçar com vocês. – tocou o nariz de Jack com o indicador.

Ele desceu esbaforido do colo dela e correu descalço em direção ao balcão de atendimento.

- Ele parece tão feliz. – acompanhou Jack com os olhos enquanto ele tagarelava com Emmett.

- Ele é. – murmurei.

- Você parece diferente. – agora seus olhos estavam em mim. – Seu cabelo está maior, bem maior.

- Eu gosto dele assim. – porque meu cabelo curto me faz lembrar você.

Ela ensaiou falar algo, mas se calou quando Emmett veio até nós, colocando um prato na mesa e entregando o cardápio a Isabella.

- Como vai, Emmett?

- Senhorita Swan, vou muito bem. Por que não se senta? – sugeriu gentilmente. - Edward, tem dois caras querendo falar com você sobre as pranchas de padle.

Obrigado, Emmett.

- Filho, senta com a mamãe e vai comendo, tudo bem? Tenho que resolver uma coisa rápida.

- Vamos, mamãe! – puxou-a pela mão enquanto eu seguia no encalço de Emmett.

Ele me serviu uma dose de whisky assim que alcançamos o balcão.

- Por que ela sempre faz isso? Aparece na hora que quer. – resmunguei, sentindo o álcool queimar minha garganta.

- Você sabe o que pensamos sobre isso, mano. Acho até bom que Rose não esteja aqui agora. – me olhou preocupado.

- Está tudo bem, eu só queria que ela tivesse em mente que a cabeça de uma criança é algo complicado de se enfrentar. – passei uma olhada para a mesa onde filho tagarelava e mãe estava totalmente perdida.

- Fale isso a ela. Não quero ver Pequeno Jack magoado pela mulher que chama de mãe.

- Okay, você falou como Rose agora. Preciso voltar ou meu filho pode ser afogado pelo suco enquanto ela compra uma ação milionária.

Emm assentiu, me dando tapas solidários no ombro. Me juntei a eles, tomando um gole do meu suco.

- Você terminou seu peixe? – perguntei a Jack, passando o guardanapo por suas bochechas gordurosas.

- Aham. Mamãe disse que não gosta desse peixe.

- Eu sei, ela apenas gosta de comer salmão assado.

- Vamos lá Bella, uma truta assada é tão boa quanto salmão. Experimente. – levantei meu garfo na altura de seus lábios.

- Você sabe que não pode me convencer disso. – argumentou, apertando os lábios.

- Nós sabemos que podemos nos convencer de qualquer coisa. – sussurrei em seu ouvido, deixando um beijo suave na pele atrás de sua orelha. – Mas, tudo bem, anotado na minha agenda: apenas salmão assado. – fiz uma mimica exagerada anotando numa caderneta invisível.

Ela balançou a cabeça e riu, me beijando com sabor de vinho.

- Podemos ir, podemos ir? Já acabei, babu.

Fui puxado de volta à realidade por uma mão pequena em minha camiseta.

- Pergunte a sua mãe se ela já terminou, é educado de se fazer. – cochichei para ele, que levantou as sobrancelhas loiras em entendimento.

- Mamãe, já terminou de comer?

Observei Isabella, que parecia distraída, direcionar seus olhos para ele.

- Claro, me deixe só... – ela foi interrompida por seu celular. – Um instante. – estendeu o dedo, levantando e se afastando da mesa para conversar em termos que nunca entendi sobre.

- Como não entende, Jim? Estou falando grego ou alemão? Línguas que por acaso você é fluente. Não quero saber a que pé estamos, não me ligue até resolver este problema. - jogou o celular de última geração no amontoado de roupas no chão.

- Você sabe o quão sexy fica dando ordens? - beijei o vale entre seus seios.

- Eu não fico sexy sabendo que estou perdendo milhares por hora porque dois imbecis não podem fazer um plano emergencial de garantia ou um balanço exato para ganhos e perdas em ações.

- Não entendo nada disso, mas se você falasse desse jeito comigo eu trataria de entender rapidinho. - murmurei contra seu seio, deixando minha língua passear à vontade por seu mamilo rosado.

Ela gemeu, puxando meu cabelo.

- Então trate de continuar o que está fazendo, tenho certeza que entende muito bem o que estou dizendo.

Distraí meu garoto fazendo anéis com o canudo do suco enquanto fazia um mantra silencioso para que ela não fizesse o que fez a seguir.

- Vocês podem ir na frente, encontro vocês na praia.

Olhei para meu filho, o beicinho se projetando, os olhos se arregalando. Não.

- Carinha, o que acha da gente passar na oficina e fazer uma entrega? – perguntei, rápido o suficiente para distraí-lo do pequeno choro que viria.

- Eu seguro a nota! – se interessou. Ele amava fazer as entregas das pranchas alugadas.

- Então vamos. – o ajudei a descer da cadeira e Isabella já estava puxando sua bolsa para o ombro e o celular na orelha, acenou depois de beijar o topo da cabeça de Jack e saiu.

Respirei fundo enquanto dirigia para a oficina. Assim que chegamos à praia entregamos as pranchas para um casal de turistas espanhóis, que se divertiram com Jack dando as instruções de cuidados com os equipamentos e então voltamos para onde nossas pranchas estavam. Mais uma camada de protetor solar e sentamos na areia para passar a parafina com calma, sorri vendo-o fazer como o ensinei. Meu garoto. Às vezes eu ainda ficava impressionado como um garoto de quatro anos de idade era tão inteligente. Talvez tivesse herdado isso da mãe, quem fez Harvard e tem uma empresa milionária na cidade que nunca dorme.

A água estava mais tranquila nessa parte da tarde então deixei Jack mais livre para pegar pequenos tubos e ondas até ele tomar um caldo e engolir água. O puxei para minha prancha rápido, tirando seu cabelo molhado dos olhos.

- Está tudo bem? - perguntei, avaliando seu corpo.

Ele assentiu, tossindo.

- Vamos, vamos lavar esse rosto e ver se você joga essa água pra fora. - nos levei até a areia, puxando a garrafa de água mineral da pequena mochila. Molhei seu rosto e o dei para beber enquanto ele ainda tossia, tentando expelir a água salgada engolida. Isabella chegou um instante depois, se ajoelhando na areia.

- O que houve? Ele engoliu água? Você não estava com ele na prancha? - tornou, nervosa.

- Ele surfa sozinho agora.

- Desde quando?

Desde o mês em que você não veio vê-lo por estar em uma festa importante.

- Há quase três meses. Ele está na escolinha de Sam.

- Ei, filho, já aprendeu muitas manobras? - perguntou, jogando as mexas de cabelo dele para o lado.

Jack balançou a cabeça e me abraçou, escondendo o rosto em meu pescoço. Ele sempre ficava chateado quando levava caldo e no fundo eu sabia que também estava chateado pela mãe não ter acompanhado seu surf. Afaguei suas costas, confortando-o e pensei em algo para anima-lo. Isabella apenas percebeu o que estava acontecendo e comprimiu os lábios em uma linha, pensativa. 

- Filho, que tal catar mais conchinhas para colocar no vaso de cerâmica da varanda do tio Emm?

- Ele vai gostar, né? - me olhou ansioso.

Passei uma toalha em seu peito e rosto, para não deixá-lo tomar vento estando molhado. Sorri, lhe passando confiança.

- Ele vai amar. - puxei a mochila, lhe entregando o balde colorido de plástico. - Tome, cate todas que puder.

Ele sorriu, empolgado e correu, procurando pelas conchas espalhadas na areia. Coloquei a mochila nas costas e arrumei as pranchas no case, trazendo-as junto comigo.

- Ele está tão grande. - Isabella falou ao meu lado.

- O médico disse que ele tem uma altura e desenvolvimento acima da média de crianças de sua idade, mas está crescendo saudável. - informei orgulhoso pela parte ocultada onde o Dr. Jenks dissera que eu era um ótimo pai para meu filho.

- Jack é incrível.

- Eu sei. Você... - soltei a respiração pelo nariz. -  Você deveria ter ligado antes de aparecer, ele pode ficar confuso às vezes, embora ele leve isso melhor do que pensei.

- Me desculpe, eu sei, é só que cheguei há dois dias para negócios com alemães e achei que era uma boa ideia vê-lo.

Claro, para que viajar para ver só o filho? Vamos unir o agradável ao útil, sim?!.

- Não precisa se justificar, só quero pedir que apareça para o aniversário. Ele está bastante empolgado com a possibilidade de ter pinguins surfistas gigantes por perto.

- Alice já marcou na minha agenda.

- Claro. Alice.

- Tem mesmo que ir amanhã? - perguntei, traçando caminhos com os dedos por suas costas nua, seus braços, que estavam cruzados sobre o colchão, sustentando sua cabeça.

- Alice marcou na minha agenda. Eu tenho uma reunião amanhã pela tarde.

- Alice também marca a hora que você tem que ir ao banheiro? - brinquei, colocando seus cabelos para o lado, deixando seu ombro livre para meus lábios.

- Não. Ela marca minhas reuniões, eventos e afins. Quem manda na minha vida sou eu.

- E por que está indo amanhã então? Me deixando aqui, quando tudo o que quer é ficar.

- Vem comigo. Posso te conseguir um emprego, um apartamento...

Me sentei na cama, passando as mãos por meus cabelos.

- Meu lugar é aqui, você sabe disso. - murmurei.

- Não vamos discutir agora, temos apenas mais algum tempo. - seus braços contornaram meu peito, os lábios quentes em minhas costas.

- Olha mamãe, essa é grandona e bonita como você. - Jack estendeu uma concha em sua direção.

Ela sorriu, beijando o topo da pequena cabeça.

- Obrigada, meu amor. É linda.

Chegamos onde a picape estava estacionada, coloquei as pranchas na carroceria e Jack no colo para colocá-lo em sua cadeira na cabine.

- Vem mamãe! - chamou, a mão estendida na direção dela.

Isabella hesitou, os olhos em mim, eu apenas dei de ombros, dando a volta para me sentar atrás do volante. Não havia algo que eu poderia negar para o meu filho quando se tratava de sua felicidade, mesmo se isso fosse incluir Isabella.

Chegamos em casa depois de meia hora. Logo puxei Jack para o banho, o vesti com seu pijama e penteei seu cabelo, talvez estivesse na hora de cortar, sua franja quase tocava seus olhos. Ele correu para a sala, onde a mãe estava, assim que lhe liberei, indo limpar a bagunça no banheiro e também tomar um banho para preparar algo rápido para ele comer. Depois de vestir uma bermuda e camiseta fui à cozinha, ainda ouvindo os múrmuros e risadas. Preparei uma salada de frutas e suco de laranja, colocando em sua pequena tigela em forma de estrela do mar e seu suco no copo/mamadeira - até hoje eu não sabia o nome daquilo - e então arrumei uma bandeja com mais uma tigela da salada. Quando cheguei à sala eles estavam no tapete, Jack no colo de Isabella enquanto esta lhe mostrava algo em seu iPad. Esperava realmente que meu garoto não me pedisse um daquele, ou até mesmo que ela o desse um, não era assim que seria sua infância.

- Jantar. - coloquei a bandeja na mesa de centro, me sentando do lado oposto ao deles.

Jack como a criança afoita que era, logo veio se sentar em meu colo, pegando sua colher de plástico para esperar que eu segurasse sua tigela e o instruísse a comer.

- Fique à vontade, Isabella.

Ela se serviu, colocando uma primeira colherada na boca. O gemido de satisfação e seu sorriso me arremessaram no tempo.

- Já está pronto?

Talvez fosse a terceira vez em menos de trinta segundos que ela me perguntava aquilo. Eu estava concentrado na minha tarefa do dia: exibir meu dote culinário fazendo uma salada de frutas, minha especialidade. Bella estava dificultando um pouco meu trabalho, me puxando com as pernas a cada vez que eu me movia pela cozinha enquanto estava sentada em cima do balcão vestida em uma camisa minha. Finalmente finalizei a salada, servindo uma porção numa tigela pequena.

- Voilà! - me encaixei entre suas pernas, estendendo uma colher com salada na direção de sua boca.

Ela arregalou os olhos rapidamente, divertida e abocanhou o doce, mastigando em suspense.

- Vamos lá, Bella. Eu sei que isso não é caviar com champanhe, mas seja razoável.

- Hmmm, acho que está faltando alguma coisa... - murmurou, parecendo pensar.

- Sério? Mas, eu acho que não esqueci de nada, talvez...

Sua boca me calou, a língua doce tocou a minha, suas pernas me puxaram para perto, se apertando em minha cintura. Grunhi em sua boca, subindo minha mão por sua pele, por dentro da camisa. Ela sorriu entre o beijo, quebrando-o.

- É a melhor salada de frutas que comi na vida.

- Achei que nunca mais fosse comer a melhor salada de frutas do mundo. - murmurou, comendo outra porção.

- Tudo o que o papai faz é bom. - Jack disse de boca cheia.

- Eu sei. - sussurrou, a voz em um timbre doce e baixo que eu conhecia muito bem.

Não vai acontecer. 

- Sem falar de boca cheia, cara. - repreendi suavemente, sem encontrar o olhar de Isabella em mim.

- Não quero mais, papai.

- Tudo bem, beba o suco e depois escovar os dentes.

Vinte minutos depois Jack arrastava Isabella para o quarto. Ele tinha um quarto próprio, mas na maioria das vezes dormia comigo, eu sabia que estava estragando essa parte, mas o “Não” era sempre mais difícil do que parecia. Rose achava que eu deveria ser um pouco menos duro comigo mesmo e aceitar que era um pai de coração mole.

- Mamãe, conta uma história maneira.

Rolei meus olhos, Emmett estava ensinando gírias a Jack, que estava se empenhando forte em aprender.

- Estou na sala. - beijei a testa do meu filho e os deixei ter privacidade.

Me servi de suco de maçã e sentei no sofá, ligando a TV para assistir o noticiário local. Mais de uma hora depois, quando o silêncio invadiu toda a casa, decidi voltar ao quarto, encontrando mãe e filho dormindo, abraçados lado a lado. Eu pintei essa imagem por tanto tempo em minha mente que tudo o que sentia agora era o gosto agridoce da pintura real.

A dualidade entre deixar Jack dormir ao lado da mãe e não querer a presença e imagem de Isabella novamente nesse espaço me invadiu.

Voltei ao quarto com o comprimindo e o copo d’água, mas estanquei no lugar quando a vi sem sua camiseta molhada.

- Me desculpe, merda, eu não... você sabe... - me virei de costas quando ela soltou um gritinho de susto.

Caímos na gargalhada logo depois.

- Desculpe, eu não tinha a intenção de olhar.

- Está tudo bem, acontece. Pode se virar agora. - terminou de passar minha camiseta pela cabeça.

Lhe entreguei o comprimido e a água. Ela se sentou na cama, engolindo o antibiótico.

- Como está seu pé?

- Ardendo e latejando. - fez uma careta de dor.

- Os corais tiram as piores dores. Me deixe ver. - puxei sua perna com cuidado, analisando o curativo. - Não parece tão ruim. Sinto muito, a ideia disso tudo foi minha. - levantei meu olhos para ela, engolindo em seco ao perceber nossa proximidade. Eu poderia facilmente lamber seus lábios como desejei toda a semana.

- A proposta era fazer algo que nunca fiz. Posso riscar isso da lista agora.

- Bella?

- Sim?

- Eu vou te beijar agora. - murmurei, desviando meu olhar de sua boca para seus olhos, esperando um consentimento.

Ela piscou, lambendo os lábios entreabertos. Era tudo o que eu precisava para prosseguir.

- Isabella? - toquei seu ombro, sacudindo-a devagar.

Ela abriu os olhos lentamente, se espreguiçando.

- Acho que cochilei. - sussurrou, tirando as mãos de Jack de seu pescoço devagar antes de levantar em silêncio, me seguindo para fora do quarto.

O silêncio na sala se tornou automaticamente constrangedor assim que pisamos no cômodo. Isabella limpou a garganta.

- Estava pensando se você tem uma foto recente de Jack. Quero colocar no meu escritório.

- Claro. - muito óbvio quando se vive para o trabalho e se quer pousar de mãe exemplar.

Peguei um álbum da estante e procurei pela foto que Rose tinha me entregado à uns dias atrás. Jack estava na água, remando com sua prancha. Lhe entreguei a fotografia, tendo um maior interesse em arrumar a ordem dos meus discos.

- Ele está cada dia mais parecido com você.

Assenti, continuando concentrado na minha coleção.

- Vocês estão precisando de algo? Talvez eu pudesse fazer um cheque.

Me virei para fitá-la, tentando não deixar minha raiva vir à tona. Ofereci um sorriso sem humor para ela.

Tateei os lençóis ao meu redor, encontrando o vazio. Abri os olhos rapidamente, me sentando.

- Bella? - minha voz ecoou pela suite gigantesca, sem obter resposta ou sinal.

Levantei, vestindo minha cueca rapidamente e rondei o quarto, a sala e o banheiro. Nenhuma roupa, pertences ou rastros. Vazio. Absolutamente vazio. Me sentei em uma poltrona, minha mente em branco. Batidas na porta me tiraram do torpor rapidamente.

- Serviço de quarto.

Abri a porta, dando espaço para o camareiro entrar com o carrinho de comidas. Me senti constrangido ao perceber que evitava me olhar por causa dos meus trajes.

- Edward Masen? - perguntou.

- Sim.

- A Senhorita Swan deixou as despesas pagas, o senhor pode aproveitar das nossas instalações até o final da tarde. Ela também pediu que lhe entregasse isso. - estendeu um envelope branco para mim. - Qualquer coisa é só chamar o serviço, senhor. Tenha um bom dia. - saiu discretamente.

Me sentei na cama, abrindo o envelope.

Edward,

O voo foi adiantando. Obrigada pelos maravilhosos dias em Honolulu.

                                                                                                                                                                                    B.S.

Puxei o outro pedaço de papel de dentro do envelope. Um pedaço de papel no valor de vinte mil dólares, assinado por Isabella Marie Swan.

- Acho melhor você ir. Está tarde. - murmurei, abrindo a porta.

Ela comprimiu os lábios, dando passos longos até a saída.

- Eu só poderei ficar até amanhã á noite, queria passar o dia com Jack.

- Passe para pegar ele pela manhã.

- Tudo bem. Boa noite. - acenou rápido, antes de sair caminhando pela areia.

Tranquei a porta, soltando a respiração numa lufada pesada.

Acordei com um peso sobre mim. Meu garoto estava assistindo TV acomodado e quieto. Era o que ele sempre fazia desde que aprendeu a andar e me via dormindo no sofá. Eu não gostava de dormir ao lado dele quando bebia, não queria que meu filho visse seu pai atormentado e cheirando a álcool.

- Hehehe, bom dia, Jack! - imitei toscamente o Bob Esponja, fazendo-o gargalhar à vontade depois do pequeno susto.

- Ôôô, vive num abacaxi, ele mora no mar. - ouvi a voz de Emmett vindo da varanda, cantando a abertura do desenho animado.

- Bob Esponja Calça Quadrada! - Jack cantou animado, estendendo os braços para o gigante tio Emm.

- E aí, Grande Ed. - bateu o punho no meu.

- Onde está Rose? - perguntei, me espreguiçando.

- Vem logo aí trazendo as panquecas recheadas e a carne para o almoço.

- Vou lavar o rosto. Jack, escovar os dentes.

- Babu... Bob Esponja... - fez manha, apontando para a televisão.

- Nada de Babu ou Bob Esponja. Banheiro, agora.

- Vitamina de banana? - Emmett perguntou.

- Com ganola.

- Granola, filho.

- Eu sei. - resmungou, numa pose muito crescida.

O ajudei a escovar os dentes e ele me observou fazer a barba, perguntando por que ele não podia fazer a dele também.

Eu não sabia a quanto tempo estávamos parados naquela posição, ofegantes, sob o chuveiro. Suas costas recostadas em meu peito, mãos espalmadas contra o azulejo frio, meu braço direito envolvendo sua cintura, sustentando-nos. Ainda sentia seu interior úmido e quente me apertando, me mantendo atento e deliciosamente dentro de si.

- Sua barba ainda vai me matar.

- Desculpe. - beijei seu ombro molhado, subindo para o pescoço vermelho, inspirando seu cheiro. - A preguiça não me deixa fazer a barba.

- Eu posso fazer para você. - estendeu o braço para trás, tocando meu maxilar barbudo.

- Não vai cortar minha garganta ou coisa do tipo, vai? - sussurrei, mordendo seu lóbulo preguiçosamente.

- Você é bonito demais pra isso.

Rimos antes dela virar seu rosto na medida certa para um beijo.

Balancei a cabeça, sentindo o pequeno corte em meu pescoço arder.

- Porque você pode se machucar. - apontei para o ferimento. - E arde como corte de coral.

Ele fez uma careta junto a um bico, parecendo convencido.

- Não quero barba.

Ri, bagunçando seu cabelo e o arrastei debaixo do meu braço até a cozinha.

- Bom dia, Rose. - beijei sua bochecha, sentando no banco em frente ao balcão.

- Bom dia, Edward. E você, Pequeno Jack, soube que quer vitamina de banana com granola.

- Sim!!

A loira riu de sua animação e colocou o copo de vitamina a sua frente. Meu filho tomou seu café da manhã com o maior fôlego que pôde, parando quando se engasgava ou eu lhe dava uma bronca por isso.

Depois do café Jack e Emmett resolveram brincar no quintal com um bumerangue enquanto Rose e eu preparávamos o almoço. Tive que aprender a cozinha mais e melhor depois de receber Jack em meus braços, e perceber também que cuidar de um bebê é nunca saber o que vem pela frente.

- Ele não para de chorar. - lamentei junto ao choro alto e constante. Ele era tão mole, tão frágil. - Shh, shh, filho...

- Você já verificou a fralda dele? - Rose perguntou, testando a temperatura da solução preparada para bebês de até seis meses.

- Verifiquei a um minuto e... - o sustentei com cuidado contra meu ombro e afastei um pouco a fralda, prendendo a respiração logo em seguida. - Ortch!

- Pequeno Jack fez o serviço completo, Rose. - Emmett gargalhou tomando um gole de sua cerveja.

Fiz uma careta, massageando as costas minúsculas, tentando acalmá-lo dos soluços bruscos, ele poderia se engasgar.

- Vamos lá, carinha. Hora de parar de chorar e limpar essa sujeira.

Mais tarde sentei no sofá, acomodando-o na posição em que os livros e Rose me instruíram, e o observei sugar a mamadeira, mantendo seus olhos em mim.

- Ele tem os olhos dela. - murmurei.

- Edward...

- É a verdade, Emm. E não posso fazer nada sobre isso.

Aquele primeiro ano fora extremamente difícil. Me lembro de passar noites em claro, seja por Jack chorando ou lendo livros que me ajudassem a cuidar de um bebê. Isso me assustava tanto que, nas primeiras noites cuidando do meu garoto, eu chorava junto com ele até que se acalmasse e então eu poderia fazer o mesmo.

Essa fora a época mais estranha da minha vida.

Quando Isabella apareceu depois do almoço, atrasada diga-se de passagem, Rose e Emmett me deram um olhar cauteloso, apenas balancei a cabeça. Eu estava ciente de que nada poderia acontecer sem interferir diretamente em Jack, não havia espaço para recaídas. Arrumei uma pequena mochila, dando-a instruções sobre cuidados com o garoto e os deixei ir.

- Vi ela sair daqui ontem a noite, Edward. - Rose soltou seu primeiro tiro.

- Jack pediu para ela ficar até que ele dormisse.

- Só isso?

- Apenas isso. Acha mesmo que poderia rolar alguma coisa quando a primeira coisa que ela disse depois que o garoto dormiu foi “posso fazer um cheque”?

- Ela se preocupa com ele. - Emmett torceu a boca.

- Ela não se preocupa com nada além dela mesma.

- Ainda não acredito que se envolveu com Isabella Swan.

- Como ele saberia se tudo o que fazia era babar por ela ou pensar em foder ela. - Emm deu de ombros.

- Não foi bem assim. Eu me apaixonei por ela.

- E deveria ter usado camisinha.

- Jack é a melhor coisa da minha vida. - balancei a cabeça. - Era para ele acontecer.

E era a verdade. Eu me arrependia profundamente de ter pensado em renegar meu filho. Mesmo tendo uma mãe como a sua ainda era meu, era uma criança inocente que não escolhera os pais que tinha.

- O que está feito, está feito. Ela não quis criar o filho, então terá que enfrentar as consequências disso. - Rose finalizou.  

- Nem estamos fazendo sentido, vocês sabem disso. Só precisamos parar de ter essa conversa a cada vez que ela aparece.

Eles assentiram. Passamos a tarde conversando e bebendo. Emmett e eu discutimos sobre nossa sociedade, estávamos pensando em abrir uma lanchonete de sanduíches naturais anexa à oficina, uma mão na roda para os turistas que passavam o dia na praia e ainda tinham que procurar um lugar para comer.

Logo depois do por do Sol, sentei na varanda, observando as ondas quebrarem enquanto o vento varria a areia de um lado para o outro. Isabella e Jack apareceram duas horas depois. Ele corria, puxando sua mão enquanto ela carregava a pequena mochila em um dos ombros, gargalhando quando a água gelada atingia seus pés. Eu poderia só por um momento fantasiar que eles teriam passado o dia em um evento para mãe e filho, e então chegariam sorridentes, ela me daria um beijo dizendo que sentiu saudades e meu garoto faria sua expressão de nojo, nos puxando para dentro, empolgado em contar como foi seu dia. Sentaríamos no chão, comendo e assistindo Tá Dando Onda até que Jack dormisse, e então depois de deixá-lo em seu quarto faríamos amor até cansarmos, riríamos por ela não ser tão silenciosa, antes dela deitar sua cabeça no meu travesseiro, como sempre fazia e falaria que me ama.

Era só uma fantasia. Uma fantasia ridiculmente utópica. Bullshit.

Abri meus braços para Jack, que pulou, espalhando o cabelo por todo lado. Ele me mantinha com os pés no chão, meu pedaço de realidade. Isso me bastava.

- Como foi seu dia? - perguntei, beijando sua bochecha.

- Mamãe me levou pra uma casa gigante que tinha piscina e uma cama bem mais grande que a sua. E eu tomei sorvete, e fiquei nadando e a mamãe nadou... - tagarelou mais e mais sobre como a mamãe deixou ele mexer no computador, e também como eles comeram coisas diferentes.

- Aqui está sua mochila mocinho. - ela colocou a mochila perto da porta.

- Vá dar tchau à mamãe, ela tem que ir pra casa. 

- Eu não quero que você ir, mamãe. - choramingou, abraçando o pescoço alvo.

- Eu também não queria, meu amor. Mas a mamãe tem que trabalhar.

Rolei os olhos mentalmente. Ela deveria ser mais convincente.

- Tudo bem. O babu cuida de eu.

- Ele cuida sim. Dá um abraço bem gostoso na mamãe agora.- ela apertou seus braços ao redor dele, beijando as bochechas gordas logo depois. - Edward, quero falar com você.

- Jack, liga a TV, já vai começar o programa com o Kelly. Babu já vai.

- Tá. Tchau, mamãe. Te amo.

- Também te amo, fique bem.

- O que quer? - eu não queria soar rude, mas acabou sendo sem querer.

- Jack me disse que não frequenta uma escola. É pelo dinheiro? Porque se for...

A interrompi.

- Por que sempre acha que tudo é por causa do dinheiro? Já parou para pensar que se ele não vai para a escola é por minha decisão?

- Me desculpe, eu não...

- Eu tenho a oficina, Emmett e eu estamos numa sociedade e ganho o suficiente para sustentar meu filho tranquilamente.

- Eu não quis ofender...

- Eu sei, é só que pra você seria muito mais fácil ter um filho com um milionário.

- Não é assim. Não escolhemos ter um filho, ele veio por acidente, mas ele é nosso e eu o amo.

- Acidente e você o ama? Ok. - cruzei meus braços, balançando a cabeça com sarcasmo.

Ouvi seu suspiro alto e cansado. 

- Eu só quero que tudo aconteça da forma certa para ele e para você também.

- Estamos indo bem. - murmurei. - E não faça essa besteira de oferecer dinheiro, sabe que nunca aceitei e nunca vou aceitar.

- Me desculpe mais uma vez. - sua voz falhou um fio.

Meu coração estremeceu. Seria sempre assim mesmo?

- Rose e eu ensinamos coisas básicas para ele durante a semana. Quero que ele esteja bem maior para a pré-escola. Aqui aceitam eles com seis anos, é melhor assim.

- Você sabe o que faz. - balançou a cabeça em concordância antes de seu celular tocar. Ela deu uma breve olhada antes de voltar sua atenção à mim de novo. - O jatinho está esperando. Tenho que ir.

- Não falte no aniversário. Ele pode ter quatro anos, mas é mais esperto que a maioria, você sabe disso.

- Nos vemos daqui a três meses.

- Nos vemos. - sussurrei quando ela já estava longe demais para ouvir.

        Like a hummingbird in flight you are
       Como um beija-flor em voo, você é
           Hovering, hovering 'round me
        Pairando, pairando em minha volta
          And I move near, you fly away
         Me aproximo, e você voa pra longe

    -X-


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Notas finais do capítulo

Acho que você perceberam que essa Bella não é lá um exemplo de mãe, certo? E Edward é muito dedicado ao filho, mas tem coisas mal resolvidas por aí. Comentem, deixem seus reviews, quero saber o que pensam sobre isso!
A próxima parte será posta em breve!
Obrigada pelo carinho e pelo tempo gasto para ler a fic! xx