Para Sempre Lidinho escrita por Érica, Mariana R


Capítulo 46
Amigos e nada mais?


Notas iniciais do capítulo

"Se você conseguisse sobreviver tentando não mentir, as coisas não seriam tão confusas. E eu não me sentiria tão usada. Mas você sempre soube... Eu só quero ficar com você, mas estou tão envolvida. Você sabe que sou uma grande boba por você. Você me tem em volta do seu dedo... Ah, Você tem que deixar isso se prolongar?"... (The Cranberries)



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“Vírus são seres acelulares...”.

                Larguei a apostila que lia insistentemente há horas e esfreguei os olhos com os dedos. Não sei onde estava com a cabeça quando decidi começar a estudar esses assuntos tão complicados. Mas eu sabia que era preciso. Eu estava correndo atrás do tempo perdido, e meter a cabeça nos livros era o primeiro passo para tentar uma faculdade e um futuro melhor para mim e meu filho. Tudo bem que a ‘questão acadêmica’ nunca foi o meu forte, mas daria o melhor de mim.

                Voltando a atenção novamente a Biologia, ouvi a maçaneta da porta girar e surgir em seguida um Moreno muito lindo com expressão cansada. Ignorei a sua presença.

                “Pensei que estivesse dormindo.”

                Não, to aqui gastando o resto dos meus neurônios tentando entender tudo sobre vírus, células e o escambal!

                “To sem sono.”

                Não tive vontade de compartilhar meus futuros planos com Bruno, pois sei que tudo o que lhe interessava eram os assuntos relacionados ao bebê. Além disso, não queria ser depreciada por ele, afinal pelo que pensa de mim, riria na minha cara caso soubesse que pretendo cursar uma faculdade.

                Bruno se aproximou calado e me entregou um pequeno embrulho. Olhei-o desconfiada, mas peguei o que me estendia apesar de fingir não me importar. Ele foi para o banheiro e sem resistir de curiosidade rasguei o papel.

                Não pude acreditar no que meus olhos viam. Como ele? Como ele soube?

                Nas mãos estava o macacãozinho que havia visto no shopping mês passado quando fui com Lia fazer compras. Naquela época não tinha dinheiro suficiente para comprar e as lembranças que aquilo me reavivou me fizeram desistir de tê-lo. Mas agora estava ali nas mãos, podia sentir o cheirinho gostoso e a maciez do tecido. Rapidamente imaginei um bebezinho vestindo aquela roupa e meu coração ultimamente tão frio se encheu de calor. Uma, duas, três... Lágrimas rolavam por meu rosto sem controle.

“Fatinha tá tudo bem?”

Bruno saiu do banheiro e se aproximou lentamente. Sem pensar no que fazia, pulei da cama e o abracei e foi como se o calor que sentia aumentasse ainda mais.

“Hey, que isso? Por que tá chorando?”

“Por que você é um babaca muito fofo! Mas como você soube que esse, como soube que essa cor...”.

“Alguém me disse que vermelho dava sorte...”.

Olhei seu rosto tão lindo. Ele sabia o que aquilo significava para mim. Ele sabia e se importava.

Após alguns minutos sentindo os braços protetores de Bruno ao meu redor, acabei por quebrar a ligação. Doeu ter que me separar dele, mas era o certo a se fazer. Não podia desistir agora. Não depois de tanto esforço para mantê-lo longe e preservar a minha sanidade mental. Em silêncio segui para a cama.

“Valeu pelo presente. – Passei a mão pelo rosto molhado – Agora eu ando chorando atoa, acredita? Qualquer coisinha que aconteça e eu passo a chorar, sem mais nem menos. Acho que são os hormônios da gravidez que me deixam assim.”

“É, deve ser isso...”.

Notei o seu semblante decepcionado e apesar de me apiedar internamente, continuei com a fachada indiferente de antes. O clima terno de poucos minutos, dissipou-se e um frio instalou-se no local. Olhei mais uma vez para o macacão e desejei que as coisas fossem diferentes. Que não tivéssemos chegado aquele ponto em que parecia não ter volta.

Vai ser sempre assim? Vou ser obrigada a afastá-lo quando tudo o que mais quero nessa vida é dizer que o amo?

Mas eu já disse isso a ele, tantas e tantas vezes. E todas às vezes, no fim, sempre acabava com um coração partido. Por que tenho que me arriscar? Como poderia cometer o mesmo erro outra vez? A verdade é que não posso. Não quando sei que ele não sente o mesmo e que, no máximo, só sente-se responsável pelo que pensa ter me feito. O jeito é tentar seguir em frente, embora, não saiba como.

“Como foi o jantar lá com sua família?”

Perguntei para quebrar o silêncio pesado. O corpo do jovem retesou-se instantaneamente e questionei-me se algo de grave tinha acontecido.

“Foi... Foi proveitoso.”

“Estranho, não conheço ninguém que saia para passar a noite em família e diga que foi ‘proveitoso’. Chato, divertido, entediante, maravilhoso são os adjetivos utilizados para ocasiões como essa. Qual foi o problema? A comida não estava boa ou o quê? Aposto como falaram de mim!”

Sorri. Não acreditava que a ‘digníssima’ família do Moreno tenha perdido tempo falando de mim. Mas para minha surpresa, Bruno me olhou de soslaio e não disse nada. Acho que talvez estivesse enganada e que eu tenha sido mesmo o assunto da noite, só resta saber se isso era algo bom ou ruim.

“Tá tarde, acho melhor a gente ir dormir.”

Estava pronta para rebater a ordem de Bruno, mas um bocejo me fez vacilar e ficar calada. Ele tinha razão, era tarde e como iria acordar cedo no dia seguinte resolvi me deitar. Antes, fui ao banheiro, escovei os dentes e vesti uma camisa e um short. Não era lá nada muito sexy, mas não tinha outra opção. A barriga já estava um pouco grande e preferi optar por conforto a sensualidade. E para que, né? Não tinha ninguém para apreciar o meu figurino... Voltei para o quarto e vi Bruno já deitado no colchonete. De costas para mim, com o lençol ate a cintura e o resto do corpo nu, parecia ter pegado no sono. Meu coração perdeu um compasso e quase arfei ao vê-lo: O abusado tava sem camisa e a visão dos ombros largos começava a mexer comigo. Para não correr o risco de atacá-lo, apaguei a luz e fui para a cama.

Passei um tempo, me mexendo em busca de uma posição, mas a barriga atrapalhava minha tarefa. Eu era acostumada a dormir de bruços, mas graças ao ‘melão’ que estava preso no corpo, essa ideia estava fora de questão. Olhando para o teto, desisti de lutar e apenas esperei ser vencida pelo cansaço. Tudo ia bem, pelo menos, ate eu sentir algo andar na minha barriga!

“BRUNO!”

Sentei na cama jogando o lençol para longe. As luzes acenderam-se de repente e um moreno ofegante sentou-se a minha frente. Quando gritei, o primeiro nome que me veio à cabeça foi o dele e me recriminei por isso.

“O que foi que aconteceu? Tá sentindo dor? Deus, acho melhor ligar pra um médico! Não, eu vou te levar para um hospital! Vem, levanta! Não, espera: Eu te carrego!”

Bruno disparava perguntas mais rápido que uma metralhadora e de tão atordoada, quase esqueci o porquê de ter gritado.

“Não é nada disso! É que tem um bicho na minha cama!”

“Bicho?”

Perguntou confuso olhando para o colchão sem ver nada.

“Ah, eu não sei. Eu tava deitada, esperando o sono chegar, pois não conseguia dormir. Daí, senti algo se movendo na minha barri...”

Interrompi minha fala ao sentir de novo o mesmo movimento sob a barriga. Não havia bicho nenhum, era o bebê que não ligando para o horário, resolveu fazer um baile funk no meu corpo.

“Mexeu! Tá mexendo, Bruno!”

Instintivamente, levei as mãos ao vente e senti os movimentos desordenados do meu filho. Era tão surreal que mal mude acreditar. Dentro de mim existia um pequenino ser que agora dava mostras de que era uma realidade eminente. Você saber que está grávida era uma coisa, sentir-se grávida era, era... Maravilhoso!

Ergui a cabeça e dei de cara com Bruno, sua expressão vagando ora entre abobalhado, ora admirado. Meu peito estava repleto de tanta felicidade, que, sem medo, quis compartilhar aquele pequeno momento com ele. Segurei suas mãos e as levei ate o pequeno monte. Bruno ficou tão maravilhado quanto eu, um sorriso brotando no seu rosto.

“Ele, ele... Nossa, nem sei o que dizer! Não pensei que fosse assim.”

Em nenhum momento pensei que fosse possível sentir tanto amor. Estava extasiada por poder sentir aquele milagre, que, embora todas as dificuldades, deu a minha vida um sentido maior. E que em breve, aquele pequeno que, se agitava dentro de mim, estaria nos meus braços e traria cor para meu mundo tão cinzento.

“É, eu também... Mas não é cedo para ele começar a chutar?”

O moreno ainda tinha as mãos no meu corpo. E por um instante, quis puxá-lo para mais perto e beijá-lo pelo presente que havia me dado. Resisti ao impulso.

“Não sei. Vou perguntar a médica amanhã quando for fazer a ultra...”.

“Ultra? Você vai fazer um ultrassom amanhã?”

O rapaz levantou de supetão e já de pé, cruzou os braços enfatizando ainda mais o belo físico que possuía. Eu poderia olha-lo a noite toda, mas a raiva que ele emanava me fez desviar o olhar.

Não sei por que, mas disse sem querer que amanhã iria ter uma consulta com a minha obstetra. Nada demais, mas pela forma como ele agia era como se esconder esse detalhe dele fosse um crime imperdoável.

“Relaxa aí, Bruno! Não é nada demais...”.

“NADA DEMAIS?!”

Exclamou com a voz um pouco aguda.

“Você esconde coisas sobre nosso filho de mim e acha que não é nada demais? Sobre mais o quê mentiu? Tá esperando gêmeos?!”

“Não pira, Moreno!”

“Ah, eu tenho todo o direito de pirar! Eu vou pirar toda vez que descobrir algo novo que você, deliberadamente, esconder de mim! Vai me avisar sobre o nascimento? Se é menino ou menina?”

Admito que não foi legal esconder isso dele, mas não pensei que ele fizesse tanta questão em saber sobre algo que era rotina. Não existia nada de excepcional, mas a magoa que ele demonstrava fez eu me sentir um monstro, como se quisesse roubar os momentos com o filho dele.

“Desculpa, eu não pensei que você fosse se interessar por isso. ‘Cê’ anda tão ocupado, que pensei que seria melhor se a Lia ou o Dinho me acompanhasse...”.

“Oh, claro! Nada como um desconhecido no lugar do pai!”

“Eles não são desconhecidos! São meus amigos!”

“E eu sou o pai do seu filho! Custava ter mais consideração comigo? Não é por que você não me suporta que pode sair tomando decisões sem me consultar!”

Bruno marchou para a porta.

“Aonde você vai?”

“Vou para qualquer lugar! Não é isso que quer? Me ver pelas costas? Pois bem, é exatamente o que vou fazer!”

A porta foi fechada com um estrondo que ecoou por todo o quarto. Quis correr e impedir que ele se fosse, mas não consegui mover o corpo. Era como se estivesse presa a cama e fui obrigada a vê-lo indo embora.

Fiquei quase uma hora esperando que ele voltasse, e durante esse tempo, só pude chorar. Ele foi embora vestindo só a calça do pijama e concluí que logo voltaria, mas não. Aos poucos, as pálpebras pesaram e se fecharam lentamente, e por mais que desejasse esperar pela volta de Bruno, acabei vencida pelo cansaço e dormi.

Quando acordei, já era dia claro. Abri lentamente os olhos e me deparei com Bruno sentado numa cadeira perto da cama. Não vi a hora que chegou, mas pela sua cara, dava para notar que não tinha dormido nada.

“A gente precisa conversar – Sentei na cama e ele prosseguiu – Peço desculpas por ontem. Não devia ter gritado com você nesse estado, mas também não queria que tivesse mentido para mim. Eu sei que não deve ser fácil para você me ter aqui e peço desculpas por isso também.”

“Não, fui eu quem errou. Desculpa, Bruno.”

Ele sorriu desgostoso e senti vontade de abraçá-lo tão forte para transmitir todo o amor que sentia.

“Não podemos continuar assim, brigando, sempre em pé de guerra. Eu sou cabeça dura e você não deixa por menos, e vira e mexe acabamos discutindo. Isso não é bom pra você muito menos para o bebê. – O Moreno suspirou – A gente podia tentar ser amigo, né? Por ele.”

Bruno indicou a minha barriga com a cabeça.

Eu não queria ser amiga dele! Eu não queria isso! Olhar para ele e não poder expressar ou dizer tudo o que sinto. E Mais para frente ter que me portar como uma pessoa civilizada que não liga para o fato de ele estar na companhia de outra mulher, porque somos ‘amigos’. Mas se era tudo o que nos restava... Que assim fosse.

“Claro... Amigos, então.”

A garganta demorou a liberar uma resposta, mas por fim, consegui.

“Que hora é a sua consulta?”

“As 10h00min. Por quê?”

“Eu vou com você. Acho que é uma boa maneira de aprendermos a conviver... Vá se arrumar e depois que você comer algo, a gente sai.”

Como um autômato, saí da cama e fui ao banheiro. Tomei um banho rápido, troquei de roupa sem ao menos perceber o que fazia. Meus movimentos eram mecânicos e sincronizados, como se a minha alma tivesse escapado do corpo e agora eu não passasse de uma boneca sem coração. A comida desceu com dificuldade, mas não me importei. Nada mais importava, além do bebê, é claro e assim como ele havia dito, fomos para clinica.

A avaliação da obstetra foi positiva. Tudo corria bem e ao que parecia, a minha seria uma gestação sem problemas. Bruno ouvia a tudo atento, e ao mesmo tempo, distante. Fez algumas perguntas para a doutora Luiza – minha médica – mas manteve-se quieto o restante do tempo. Na hora do ultrassom, ele segurou minha mão um pouco emocionado, e pensei que, talvez, pudéssemos tentar nos reconciliar. Mas para minha tristeza, aquele pequeno instante passou e tudo o que queria foi esquecido. Era o bebê que importava. não eu. Não o que eu sentia e sonhava. Sua postura deixou esse ponto bem claro ao afastar-se do meu contato, restando-me apenas a conformidade.

À volta para casa foi silenciosa, algo por qual agradecia já que ser obrigada a conversar me faria enlouquecer com toda aquela situação. Queria chorar, mas as lagrimas estavam presas nos olhos ou talvez já tivesse derramado todas. Eu venci. Mas não gostei do resultado. O gosto ruim de uma vitória sem sentido, mas eu o afastei. Eu deveria estar feliz, né? Alcancei meu maior objetivo. Então, por que cresceu u, enorme vazio que tomava conta de mim?

“Uma pena não ter dado para ver o sexo, né?”

Falou cordial me ajudando a sair do carro estacionado em frente ao Hostel. Olhei seu rosto, o que foi um erro, pois queria mais que tudo beijá-lo.

“É, mas da próxima vez acho que vamos dar sorte.”

“Vai me avisar? Deixar que eu te acompanhe?”

“Claro, somo amigos, certo?”

“É... Amigos.”

Entrei no Hostel sem olhar para trás ou o Moreno que permaneceu parado.


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Notas finais do capítulo

Capítulo by: Érica!

Algo me diz que vai ser dificil para esses dois ficarem só no campo da amizade... Mas verdade seja dita, melhor amigos do que inimigos, não? Dó da Fatinha com toda essa situação e do Brunito também... Gostou? Comente!

Ps: Como vocês viram, não se sabe se o baby é menino ou menina... Alguém tem algum palpite? :D Quero reviews, hein? Beijos!



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