Para Sempre Lidinho escrita por Érica, Mariana R


Capítulo 39
Pela manhã


Notas iniciais do capítulo

"E te amarei amanhã e outros dias mais. Mais do que qualquer outra pessoa poderá te amar. Agora não me importo de fingir, você sabe ler meu olhar. Há coisas que você não sabe esconder, há coisas suas pelas quais não sei chorar. Como gostaria de poder perder sem me render uma e outra vez mais. Mas o medo não existe... e os erros não existem."... (Tiziano Ferro)



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Detesto quando pegam no meu cabelo. E essa era a terceira vez que a pessoa ao meu lado fazia isso.

Pessoa?!

Minha cabeça rodava e não conseguia distinguir os acontecimentos de ontem. Lembro-me de ter bebido e ter sonhado um sonho estranho. Pensei que fosse ilusão da minha mente não tão lúcida, mas ao abrir os olhos deparei-me com a realidade. Lia estava deitada abraçada a mim dormindo como um anjo.

“Lia...”

Seu nome foi um sussurro rouco que escapou dos meus lábios. Tentei me desvencilhar, mas ela agarrou-me mais forte suspirando enquanto aconchegava a cabeça no meu peito. Não podia acreditar no que havia feito. Fiquei tão bêbado que acabei indo, clandestinamente, ate a cama dela. E conhecendo-a como a conheço, a minha ‘invasão’ seria mais um motivo para brigas.

Tirei seus braços do meu corpo, sentindo-me mal pelo gesto, mas aos sentar-me na cama senti a cabeça latejar de dor.

“AI...”

Praguejei baixinho e isso a despertou. Os imensos olhos verdes me miravam, porém não furiosos... E sim preocupados.

“Você tá bem?”

Lia preocupada comigo... Será que eu ainda estou sonhado?

“Estou...”

Outro gemido de dor me desmentiu. Ela pulou da cama e saiu do quarto, retornando depois com dois comprimidos e um copo com água.

“Toma, bebe! Vai fazer a dor passar.”

“Eu não sei como cheguei aqui... Acho que bebi demais. Sinto muito.”

Peguei os comprimidos e os engoli junto com a água.

“Sente? Pelo quê?”

Olhei-a de solaio. Parecia tão confusa quanto eu com essa situação.

“Por ter vindo, durante a noite, para sua cama. Eu não sabia o que tava fazendo.”

Ela sorriu. Não me bateu, xingou ou qualquer outra coisa mais previsível. Apenas sorriu.

“Você não veio, eu te trouxe.”

Não foi uma alucinação... Era ela.

“Eu pensei que fosse um sonho... Não me lembro de nada do que aconteceu só que algo me molhava, mas não chovia. Eu não entendo.”

Coloquei a mão na cabeça na tentativa de organizar os pensamentos.

“Eu fui à cozinha beber água quando vi você sentado no sofá. Quando me aproximei você não respondeu, parecia ter desmaiado... Fiquei preocupada. Daí, você abriu os olhos e disse algumas coisas sem sentido...”.

“Que coisas?”

Gemi pelas possíveis barbaridades que podia ter dito.

“Que me amava, mas que sentia muito.”

“E você me trouxe pra cá? Não me bateu nem nada?”

Sorri contrariado, mas ela fechou a cara.

“Nossa, eu não sou tão ruim assim, sabia? Eu te trouxe porque quis!”

Ela levantou-se. Mesmo sofrendo com a ressaca, detive-a segurando lhe o braço. Lia tentou escapar, mas não permiti.

“Por quê?”

“Ah... eu não sei! Tive vontade ou algo do tipo, ou talvez tenha tido pena de você lá. Não me lembro de você beber tanto...”.

“É... Não bebia. E você não sabe muitas outras coisas sobre mim... Eu mudei!”

Soltei-a e saí da cama. Fui ate o banheiro e tirando as desconfortáveis roupas, entrei embaixo do jato de água gelada. Mais uma vez fui rude com ela, e mais uma vez o arrependimento me corroia. Não que eu vá pedir perdão, mas to cansado de sempre brigar. Embora seja mais fácil, cansei dessa guerra.

Voltei ao quarto, mas ela já não estava. Fui ate a sala e encontrei Lia sentada no sofá.

“Eu vou voltar para o Hostel. Se acontecer algum problema, pode me ligar no celular... Bom dia.”

“Espera!”

Detive-me rumo à porta e olhei em direção a roqueira.

“O que foi?”

“Eu tenho uma coisa pra te dizer.”

“Lia, a gente já falou tudo o que tinha pra falar, o melhor a se fazer é manter um pouco de distância. A gente conversa depois.”

“Não, o que eu tenho pra dizer não pode esperar. É sobre a gente...”.

Sua respiração estava ofegante. Os olhos marejados, mas não chorava. Ela me olhou tão intensamente que pude sentir na pele as emoções conflitantes no seu interior. Não compreendia o porquê disso agora, mas estava disposto a escutar. Que diferença faria?

“Primeiro queria pedir desculpas por ontem. Pelo o que eu disse sobre você e o Vitor...”.

“Lia, já não importa. Se isso é tudo...”.

“Não, por favor, me escuta!”

Que droga tá acontecendo aqui? Ontem ela não queria me escutar e agora resolveu conversar sobre nós dois?!

“Quando você foi viajar... Lembra-se do Lobo?”

“Lembro, mas o que isso tem a ver com a gente?”

“Lá no estúdio quando a Ju me salvou, nós duas nos acertamos. Ela veio aqui em casa depois e eu disse que se ela quisesse... Eu terminaria o nosso namoro.”

O tempo havia parado. Não como quando a beijei num instante mágico e único. Mas sim como quando nós sabemos que morremos. Não no corpo, mas na alma.

Ouvi algo se quebrar, distante, um som oco e profundo de vidro se estilhaçando, mas tudo no apartamento permanecia intacto, menos nós dois.

“E você... Você tá dizendo isso agora por quê?”

A voz falhava. Eu era o errado, fui eu quem estragou tudo... E se não o tivesse feito, não estaríamos juntos da mesma forma.

“Eu... Bem, eu tenho jogado sobre você a culpa do fim do nosso relacionamento. Usei a sua traição como o único motivo para a gente ter terminado, mas no fundo eu sabia que também era responsável. Você me conhece, sou orgulhosa demais para admitir que também errei... E quando você foi embora, te condenar foi a única saída que encontrei para poder seguir. Você era o criminoso, eu a vitima.”

“Estou acostumado com esse papel... Eu sou o idiota da história. Tão idiota que voltei.”

“Sim, mas tudo mudou tanto... Eu mudei também, mas continuo sendo a mesma menina que morre de medo de ser abandonada. É tão mais fácil não se apegar a ninguém, não se comprometer... A gente não perde o que não tem. Entretanto, com você sempre foi mais complicado... Eu sempre quis mais, precisei de mais, mas não estava disposta a dar mais de mim. E quando a gente ficou em crise, pensei que você não suportaria. Que iria embora também... Aí, você voltou. Mas trouxe a Valentina junto e aquilo doeu tanto, pois foi pior do que se tivesse ido de verdade. E depois você foi mesmo... Um ano. Tempo demais pra uma pessoa ficar esperando.”

Finalmente a conversa que ficou pendente, tempos atrás, se realizava. Quis tanto aquilo, esperei tanto para ouvi-la e agora... Lia estava desarmada e parte de mim queria ir embora, deixar aquele momento suspenso no ar. Muitas coisas nos distanciavam... Brigas, mentiras, traições e mágoas. E se resolvermos tudo o que restará após?

“Eu não te pedi pra esperar. Não te pedi nada.”

“Sim, não pediu, mas não foi fácil. Você estava longe daqui, das pessoas, das lembranças... Pra mim cada dia era uma batalha. Aonde quer que eu fosse, não importando o que fizesse sua imagem sempre estava junto a mim. E eu pensei que não conseguiria. Juro que acreditei que ia ficar quebrada para sempre... Aí, apareceu o Vitor.”

O cara perfeito que a ajudou a me superar.

“O príncipe e oposto de mim. O cara que não mente, não trai e não te machuca... O cara que você pode confiar, pois ele nunca vai te ferir. Tão diferente do Adriano.”

“Sim... Mas mesmo que ele quisesse nunca poderia me ferir. O que a gente teve foi bom, me ajudou... Mas o que sentia quando estava do lado do Vitor não chegou perto do que era com você. E eu me sentia culpada por isso, porque queria fazer dar certo. Era o melhor para mim, mas eu nunca nem falei que o amava.”

Lia não ama Vitor, mas não quer dizer que ame Dinho.

“E eu voltei pra complicar sua vida.”

“É... E mais uma vez brigamos. Você disse que mudou e eu também. E se não formos mais os mesmos? E se o que ficou no passado permaneceu lá? Eu tive uma história com o Vitor, você com a Vacatina... Valentina. Dinho, você me pede para desejar coisas que eu não tenho coragem de desejar... Não somos mais aqueles jovens apaixonados que fugiam dos problemas. E se tudo o que a gente acreditava se desfizer?”

Eu tenho vivido de lembranças de uma época na qual tudo era mais simples e feliz. Mas ela tem razão, não somos mais os mesmos. Não sonhamos os antigos sonhos... E se a memória foi tudo o que nos restou? Devemos correr o risco de corrompê-la?

“Se for para ser assim, não podemos fazer nada. Mas que, pelo menos, todas as arestas que ficaram sejam aparadas. Essa conversa deveria ter acontecido há um ano, mas por algum motivo ficou para hoje.”

Caminhei ate o sofá e sentei ao seu lado. Ela não me olhava, mas não estava fugindo.

“A Valentina foi um erro. Desde o principio, eu sabia que ficar com ela não me levaria a nada, ou mudaria meus sentimentos. As circunstancias da viagem, a nossas brigas... Não to dizendo que não foi minha culpa, claro que foi, mas naquele momento eu só queria sentir que alguém me queria. Que uma pessoa me desejava perto.”

Uma lágrima escorreu por meu rosto. As lágrimas que ela represava também caíram. Mas esse era um sofrimento necessário. Passamos tanto tempo negando, sufocando a dor e agora a trazíamos a tona por vontade própria. Senti-la era o primeiro passo para a cura.

“Alguém que não te mandasse embora... Mas você deveria ter dito a verdade, talvez... Eu acho que talvez a gente pudesse ter encontrado uma solução. Mas a ‘TV Sereia’ foi tão baixo. A única coisa que pensei foi em vocês juntos, rindo as minhas custas, enquanto eu ficava aqui.”

“Eu não falei sobre o que aconteceu por medo. Mais por vergonha, por ter feito o que fiz. Ela me disse que aquilo não era real, que partiria. Quando voltei, eu sabia que se tivesse a chance de concertar o passado, não teria me envolvido com ela.”

“Mas não podemos mudar o passado, né?... Tudo o que vivemos de certa forma, é válido, não? Você foi viver seu sonho, eu conheci o Vitor... Foram essas experiências que nos moldaram. Nós amadurecemos... Você não se parece em nada com aquele Dinho aventureiro e inconsequente. E eu não sou tão exigente com as pessoas.”

“Claro, você ficou com o Bruno!”

Lia me olhou pela primeira vez e riu triste.

“Mas ele é gatinho! E beija bem... Não tanto quanto você.”

“Hum... bom saber disso! A gente teve que ficar com outras pessoas pra acabar aqui?”

“É... E você andou passando o ‘rodo’, até a ‘nariz empinado’ você pegou!”

Sorrimos. Aquilo não podia estar acontecendo. Lia e eu falando civilizadamente sobre nossos envolvimentos amorosos? Sorrisos e lágrimas se misturando. Estranho.

“Estranho...”

“O que?”

“Nós dois aqui, conversando sobre o passado. Vitor, Valentina... O Bruno.”

“Bem, foi estranho ficar com ele... E você? Como foi com a Luana?”

Não havia mais lágrimas nem sorrisos. Só sinceridade. Não entendia por que ela decidiu se abrir comigo, mas tinha o dever de também ser verdadeiro com ela.

“Foi bom... Eu estava sozinho e triste. Confuso e com muita raiva de você, do Bruno e de mim. Raiva demais, pra falar a verdade. A Luana apareceu e me fez ver coisas que eu antes ignorei. Ela me fez questionar se eu seria o melhor pra você. E como você sempre me afasta, acreditei que ela estava certa... Mais nada, além disso. Encontramos-nos outro dia, por acaso, mas não continuamos o que aconteceu em São Paulo.”

“Hum...”

Silêncio se seguiu depois da minha admissão. Havíamos dito tudo. Seria esse o ponto final?

“E agora?”

“Acho que isso é tudo.”

Era o fim.

Mas eu pedi por isso, certo? Não o fim, propriamente dito, mas o final digno que não tivemos na nossa primeira despedida. Há muito tempo queria esclarecer tudo. E isso foi feito... E agora?

Talvez, pudéssemos ser amigos... Não, prefiro levar um tiro a me contentar ser amigo dela.

“Acho que só me resta pedir desculpas... De novo.”

“Eu também te devo desculpas. Eu não sou uma pessoa muito fácil, e nem sempre te tratei muito gentilmente.”

“Gentileza não combina com a Marrentinha.”

Nem me dei conta de que falei o seu antigo apelido. Fui ate a porta, enquanto ela me seguia.

“Foi bom conversar com você... A gente se vê por aí.”

O tempo ao lado de Lia estava se esvaindo por minhas mãos. Como as areias do deserto que deixei para trás. Parece ter sido em outra vida, outro tempo... Estava tão decidido a tê-la de volta, mas não importa... Já era tarde.

“É, a gente se vê... No final, até que você é um cara legal.”

“E você nem é tão marrenta.”

Abri a porta, mas não saí. Aquele instante, antes de partir, era tão precioso. Pois sabia que não haveria volta.

“Você já pode ir.”

Abracei o pequeno corpo tão forte sem, ao menos, temer machucá-la. Lia... A minha Lia. A Marrenta que adora me contrariar. Que está sempre acompanhada da sua fiel guitarra e tem um jeito único de me chamar de idiota. De me fazer sentir um.

O que fizemos da gente? O que vai ser de mim sem ela?

“Eu não consigo.”

“Então, fique...”

A porta foi fechada com um chute enquanto a erguia do solo para beijar-lhe a boca, os olhos, o rosto como um todo. Lia se agarrava a mim como se meu corpo fosse um porto seguro e ela alguém que há muito cansou de nadar.

Interrompi o nosso beijo.

“Eu sou todo errado!”

“Eu sei!”

Ela me agarrou pela nuca aproximando ainda mais os nossos rostos. Mas não nos beijamos.

“Eu vou te magoar!”

“Droga, eu sei!”

“A gente ainda vai brigar muito!”

“Estou ansiosa por isso!”

“Pode dar muito errado!”

“Mas também pode dar muito certo!”

O que eu pretendo? Fazê-la desistir?

“Nada de promessas, certezas, mentiras...”.

“Nada de promessas, certezas, mentiras!”

“Eu te amo.”

Sorri timidamente. Não esperava que Lia falasse o mesmo, mas tinha a necessidade de dizê-lo.

“Eu te amo, Idiota! Agora, ME BEIJA!”


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Notas finais do capítulo

Capítulo by: Érica!

Awn... Um momento, por favor! Snif, snif, snif! Ah... como adoram brincar com os nossos porbres corações! Sério, agora to legal! Quem pensou que não tinha mais volta? Quem achou que o fim era o fim? Pois é, com LiDinho nunca se tem certeza de nada! Ainda bem! Gostaram? Amaram? Comente!

PS: O próximo contém cenas inapropriadas para menores de 18, mas se você curte, então pode ir sem medo!Tá HOT, mas tá muito CUTE!