Para Sempre Lidinho escrita por Érica, Mariana R


Capítulo 33
Suposições e erros


Notas iniciais do capítulo

"Eu ainda gosto dela, mas ela já não gosta tanto assim. A porta ainda está aberta, mas da janela já não entra luz... E eu ainda penso nela, mas ela não pensa mais em mim, em mim... Não!"... (Skank)



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“Eu to grávida! É isso que tá acontecendo... Agora vai embora!”

“Por que não pode me deixar em paz?”

“Vá embora!”

“Maluca. Louca. Doença... Erro!”

Meu coração perdeu uma batida ao ouvir o que ela disse. Um misero instante em que tudo era nada.

Fatinha Grávida? Grávida!

A garota espontânea e sem juízo que encontrei no meu apartamento durante uma festa. A maior periguete do colégio, que beijou o – quase – namorado da minha irmã esperava um filho de um cara que não era eu. Um idiota que nem teve a consideração de poupá-la dessa situação... Mas quem? O Gil?

Eles dormiram juntos, né? Mas e se... Não, só poderia ser uma pessoa: o Adriano. A preocupação demonstrada por ele com o estado dela, a angustia... Era ele!

Permaneci parado na entrada do Hostel à espera de uma explicação. É verdade que o assunto não me dizia respeito, mas eu merecia um esclarecimento, certo? Ela e eu... Bem, nós tínhamos, digo, tivemos uma história. Não uma comum, com momentos românticos, promessas e coisas do tipo, mas era algo. Eu fui o seu primeiro e agora ela era de outro... Teria o filho que deveria ser meu... MEU?! Não! Eu nunca cometeria a estupidez de conceber uma criança sem ter a plena consciência disso. Ainda mais com ela!

Fatinha... FACINHA!

“Você não mudou nada né, moleque? Foi para isso que voltou do fim do mundo? Para aprontar uma dessas?”

Lia olhou-me confusa, mas rapidamente – acompanhado – o meu raciocínio chegou à mesma conclusão que eu.

O Idiota era o pai do filho da Fatinha!

“Dinho?”

O garoto – que já era um homem – manteve-se frio ignorando a pergunta no olhar da roqueira. Isso foi o bastante para mim, não era mais necessária a confirmação.

“Eu não sei por que ainda me surpreendo com o que você é capaz Fatinha! Esse seu jeito, suas atitudes... Não dava para esperar nada de bom vindo de você!”

“É melhor você medir suas palavras Bruno ou...”.

“Ou o quê?! Vai me encarar Adriano?”

“E se for? Se você continuar ofendendo minha amiga dessa forma...”.

“AMIGA?! É isso o que ela é pra você? Uma amiga ‘colorida’ com quem pretende ter um bebê?”

Eu estava indo longe demais. Insultá-la daquela forma enquanto permanecia em silêncio sentada na cadeira mirando o chão não era algo bonito da minha parte, porém precisava liberar a raiva que tinha dentro de mim de alguma forma.

Dinho avançou em minha direção. Preparei-me para o embate adiado pelo quase desmaio de Fatinha. Porém, antes que algo acontecesse, Lia se pôs em minha frente.

“Vamo embora! Bruno chega disso... Não há nada para gente aqui.”

“Faz o que ela disse, Moreno.”

Ele sorriu irônico sem importar-se com a decepção expressa no rosto da Marrenta. Lia tinha razão, não havia motivos para estarmos ali. O moleque ainda era um grande canalha e a Fatinha... Bem, ela comprovou que eu estiva certo em não deixar-me envolver por seus encantos.

Eles se mereciam!

“Cê tá certa, Lia! É melhor nós irmos embora... Eu só tenho pena dessa criança, sabe? Ninguém merece essas pessoas como pais!”

Virei-me para deixar o local quando ouvi a voz magoada de Fatinha que esteve calada ate aquele momento.

Magoada?! Que direito ela tinha para sentir-se assim?

“Eu também tenho pena, Bruno! Nenhuma criança merece uma mãe como eu... Principalmente um pai que é um completo BABACA!”

“Fatinha, não...”

“Deixa Dinho!”

Ela levantou-se da cadeira. A apatia de antes sumiu e no lugar nasceu uma força que eu não sabia que existia. Fatinha, apesar daquela postura, sempre foi frágil... Mas agora seus olhos refletiam uma força espantosa. E havia mais também... Havia tristeza.

“Desde que eu cheguei você tá me ofendendo, Bruno. Aliás, desde que nós nos conhecemos que você tem feito isso, né? E eu burra demais, idiota demais, imbecil demais... Apaixonada demais, todas às vezes, te desculpei! Mas dessa vez não... Eu não perdoo nada do que você disse tá ouvindo? Eu não perdoo NADA!”

“E por que eu iria querer seu perdão?”

“É... Por que o perfeito e correto Bruno iria querer o perdão de uma pessoa como a Fatinha? – A risada que a loira soltou soou quase histérica – Você é tão melhor do que eu, né? Tão bom, tão... tão Bruno! Pode dizer o que quiser de mim, mas você é tão ruim, ou mesmo, pior do que eu. Sabe por quê? Porque mesmo em duvida, mesmo sabendo da possibilidade desse bebê ser seu: E ELE É! Você se negou a se quer cogitar a ideia! Por que não combina com o papel que você representa, né? O fato de ter engravidado a ‘Periguete’ deve ser uma mancha enorme nessa sua fachada de ‘bom moço’!”

E ELE É!

“Você não tá querendo dizer que eu... Que eu sou o pai, tá?”

Eu?! Mas como?

“Por que não pode me deixar em paz?”

“Por que? Porque... Eu te amo.”

“Eu não to querendo nada, Bruno. Eu nunca esperei nada de você... Nada. E esse foi o meu maior erro. Entreguei mais do que você pretendeu me dar. Mas eu abri os meus olhos, sabe? Eu sei quem você é. Por isso sou grata por não ser obrigada a te ver fingir que se importa. Te ver representar o seu personagem, que convenhamos, você faz magnificamente... Eu não poderia dizer se era verdade ou não. Afinal, você finge, mente tão bem. Mas o seu tempo de mentiras acabou e nunca mais, tá me ouvindo? Nunca mais eu vou ser tão burra a ponto de acreditar em qualquer coisa que você diga. Então, se me dão licença: Eu vou para o meu quarto!”

E assim ela desapareceu dentro do Hostel. Antes que eu dissesse outra coisa estúpida que nos afastasse mais.

“Você não faz ideia do que acabou de fazer... Não faz ideia.”

A voz de Dinho estava neutra, entretanto pude sentir um pouco de solidariedade. Não que eu queira isso dele, mas naquele momento as desavenças foram esquecidas.

Após olhar Lia – que assistia a tudo calada – Dinho subiu as escadas do prédio. Fiquei parado esperando que alguém me tirasse daquele transe. Que alguém gritasse que aquilo não passou de um grande mal entendido. Que a Fatinha tava mentindo... Mas ela não estava. Eu sabia que ela não mentia. Eu era quem mentia ali. Fui eu quem mentiu e neguei o que existia entre nós dois. E eu, apenas eu, havia estragado tudo, definitivamente.

“Vem, Bruno.”

Fui levado do Hostel pela roqueira. Não conseguia acreditar, não sabia o que fazer. Eu que sempre estive no controle, sempre fui responsável, correto... Agora estava completamente perdido com as palavras da Periguete. Não cumprimentei o Severino, e mal reparei ter chegado ao meu apartamento.

“A Ju tá em casa?”

“Não...”

“Dá-me a chave.”

Entreguei o objeto à Lia que logo tratou de abrir a porta. Me joguei no sofá com pouco caso e suspirei forte.

“O que acabou de acontecer foi... Foi: NOSSA!”

“Será que eu sou o pai? Eu não, eu não...”.

“Bem, me diga você: Há a possibilidade de você ser o pai?”

Só havia uma resposta.

“Sim.”

“Acredita que ela tá mentindo? Que não é você?”

“Não... Sou eu. Droga sou eu!”

“Eu não espero nada de você... Nada.” “Você finge!” “Nunca mais eu vou ser tão burra a ponto de acreditar em qualquer coisa que você diga!”.

“Acho que não é uma boa hora para o ‘parabéns’, certo?”

“Não, Lia! Não é... Você tava lá, viu o que eu fiz, ouviu as coisas que eu disse.”

As ofensas.

“... desde que nós nos conhecemos que você tem feito isso.”

A sua voz invadia minha mente. Cada palavra acentuando o quanto eu fui injusto, mesquinho, BABACA.

“Sim... E eu não entendi muito bem, sabe? Pra alguém que não se importa muito com a vida da Fatinha, você parecia bem, como diria? Bem magoado.”

“Eu não tava magoado!”

“Não! Só não sabia como reagir a noticia de que ela tava grávida de outro.”

Não. E em vez de agir civilizadamente, ataquei a única pessoa que não podia ter atacado.

“Eu não fui o único, lembra?”

Lia corou um pouco e desviou o olhar.

“Esse é o maior problema das suposições: Elas quase sempre estão erradas!”

“É... E eu sempre supus muito sobre a Fatinha, sobre meus sentimentos por ela, sobre o fato dela ser ou não a pessoa certa para mim. A única coisa que não supus foi se eu sou ou não a pessoa certa para ela.”

“Ah... a vaidade masculina! Tá na cara que você gosta dela, ama na verdade, por que não ficou com ela desde o inicio?”

Maluca. Doença. Erro.

“Por que ela era a Fatinha e eu o Bruno.”

“Como?”

“Ah... Lia! Não complica!”

Levantei e fui ate a cozinha. A roqueira me seguiu.

“Será que sou eu quem tá complicando as coisas aqui?... Bruno, eu sempre te achei um cara maduro, responsável, correto, mas será que você é assim mesmo? Ou apenas finge ser o que as pessoas esperam que você seja?... Esse é o seu problema com a Fatinha, né? Ela te faz ser quem você realmente é.”

Lia me olhou pervicaz. Como a amiga da minha irmã podia ver tudo tão claramente quando eu ainda tentava focalizar a situação? Quando eu passei a escutar conselhos de uma garota que usava ‘Maria Chiquinha’ ate um tempo atrás?

“Acho que você precisa ficar um pouco sozinho para pensar nisso tudo. Só um conselho: antes de qualquer coisa, decide o que realmente quer tá? Encontra o Bruno que existe dentro de você. Não só por você, mas por ela e por essa criança. Não que eu seja muito amiga da Fatinha, mas ate eu sei que ela merece mais do que um cara que não sabe o que quer nem o que sente. Tchau!”

Depois que ela saiu, mais dúvidas chegaram a minha mente. O silêncio instalado no apartamento me fazia pensar no inicio e em como seria a o fim dessa historia.

Lia estava certa – novamente – sobre tudo.

Sim, eu amava a Fatinha, mas não quis aceitar esse sentimento. Por ela ser quem era e eu ser – ou pensar ser – quem sou.

A Periguete e o Certinho.

Ela, Livre. Sem medo das expectativas, sem receio da opinião da sociedade. Tão causadora, tão... Tão Fatinha.

Eu, Preso. Tentando me encaixar, ser igual a todos. Mais um por entre a multidão.

A Vilã e o Bom moço.

Somos opostos. Diferentes... E ainda assim, eu a amo. O seu sorriso, a forma engraçada como ri, a disposição em ajudar os amigos, como se faz presente nos lugares. Amo quando me olha, como se fosse algo precioso para ela.

Só ela era capaz de me tirar do sério. De me obrigar a fazer coisas imagináveis, me transformar num ‘monstro ciumento’. Só ela me fazia duelar entre a vontade de abraçá-la e estrangula-la. Só a Fatinha. Porque ela era única. Irreverente, maluca, doce, frágil, atirada... Um verdadeiro enigma. Fatinha é do tipo de pessoa que só se encontra uma vez na vida e que nos faz agradecer a Deus pela sorte de tê-la posto em nosso caminho.

Nem anjo, nem demônio. Apenas... Especial.

Saí em disparada do apartamento descendo as escadas por não querer esperar o maldito elevador.

Passei tanto tempo preocupado com o que as pessoas esperavam de mim que acabei me esquecendo do que eu queria para mim mesmo.

Só existia uma pessoa que não me pedia, que não exigia e nem esperava. Só uma pessoa que mesmo me considerando um Babaca – e eu sou – me amou. E continuou me amando todas as vezes que parti. E me amava mais quando voltava, embora odiasse isso.

E eu não fui capaz de retribuir. Fui fraco quando ela era tão forte, tão mais decidida do que eu, tão mais alegre, tão mais feliz. Por que ela não estava presa a opiniões ou convenções sociais. E ela me deu todas as oportunidades para fazer parte do seu mundo. E todas às vezes eu disse não.

Fatinha esperava um bebê meu e talvez não houvesse mais espaço para mim na vida deles.

Não cumprimentei o Severino na recepção, não tinha tempo nem cabeça para isso. Entrei sem me anunciar no Hostel e – diante do quarto dela – bati sem cerimônias na porta.

“O que você quer agora, Bruno?”

Não só agora, mas para sempre: Eu quero você!

“Casa comigo Fatinha?”

Ela não respondeu. Olhou-me com mais magoa do que pensei ser possível alguém sentir e fechou a porta. Ela não precisou dizer não, pois eu já sabia.

Eu a perdi. E a culpa era somente minha.



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Notas finais do capítulo

Capítulo by: Érica!

Tóooma Bruno: Moreno sem vergonha que já tava a fim de tirar o corpo fora! Little Fátima mostrou que com ela não tem essa de mal entendido não, o que ela tem pra falar diz na cara! Agora, Brunito: Aguenta e balança que o filho é teu! E a dona Lia, hein? Sempre com essa mania de pensar mal do nosso Idiota, mas dessa vez foi só um susto... Gostou? Comente! Beijos!



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