Para Sempre Lidinho escrita por Érica, Mariana R


Capítulo 20
A gente se diverte com o que tem


Notas iniciais do capítulo

"Eu procurei me manter afastado, mas você me conhece, eu faço tudo errado... Tudo errado!"... (Charlie Brown Jr.)



Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/329760/chapter/20

"Boa tarde, seu Bruno!” Severino me cumprimentou com sua simpatia habitual e eu apenas respondi com um aceno de cabeça.

Estava voltando da casa de Nélio. Passei a noite lá junto o próprio Nélio, o Rasta e alguns colaboradores do C.R.A.U, desenvolvendo novos projetos para o nosso grupo de causas socioambientais. Resultado disso? Poucas horas de sono e um mau-humor ferrado. Estava tão concentrado em minhas atividades que deixei o celular de lado e só agora, mexendo nele na frente do meu prédio, reparava que a Ju havia me mandado várias mensagens.

“Você vai voltar cedo?”, “Preciso falar com você, Bruno.”, “Me liga!” .

Franzi o cenho instantaneamente com aquilo, algo deveria ter acontecido com minha irmã, mas não devia ser grave, pois não tinha nenhuma ligação recente feita por ela.

“O que será?”

Falei em voz alta, libertando minha dúvida para o mundo. Como se fosse uma resposta imediata, ao levantar a cabeça, me deparo com um enorme Outdoor. Passo alguns segundos até entender quem era aquele casal atracado na foto.

“Filho da...” Nem esperei concluir e corri em direção ao Hostel.

Era aquilo que Juliana queria me contar. Ela e o moleque do Dinho estavam juntos de novo. Aquele pensamento me incomodava em tantas maneiras que era difícil enumerar qual o pior. Fazendo um rápido retrospecto – e pra mim foi rápido, porque guardo facilmente o quê ou quem interferir na vida da minha irmã caçula – e relembro onde o Dinho aparecia na minha cabeça.

Ele namorou a Juliana, passou um tempo enrolando ela, depois a traiu publicamente com a melhor amiga dela, no caso, Lia. Nunca havia visto minha irmã perturbada daquela maneira, eu a vi revoltada, humilhada e rancorosa; ela até mudou bruscamente seu visual graças a isso. Naquela época, eu sentia raiva do Dinho por ele estar me fazendo perder aquela menina doce que tanto dependia de mim e da minha proteção. Se não fosse o bastante, ele também traiu a Lia e foi embora com “a outra”, provando minha tese de que ele nunca prestou.

Apesar de motivos óbvios para não gostar dele, a cena que mais piscava na minha visão naquele momento era sua proximidade de Fatinha nos últimos tempos. Morando no local de trabalho dela, saindo juntos, sempre abraçados, sempre rindo. O problema com a Juliana parecia minúsculo frente a raiva que eu sentia daquilo. Uni o útil ao agradável.

Batia a mão impaciente na campainha da recepção, esperando a Fatinha aparecer para me dar o número do quarto do paspalho. Ela apareceu, e ao me ver, sua expressão transpareceu ao pânico. Ao abrir a boca para exigir o quarto do fulano que se achava Don Juan, uma sombra apareceu por trás da recepcionista do Hostel e qual não foi minha surpresa?

“Fatinha, já vou... Desculpa qualquer coisa tá? E não se preocupe, pois hoje a cama é toda sua.” Falou Gil, o ex-namorado da Juliana.

O alvo do meu ódio mudou de imediato. Vi-me colocando o pé na frente dos passos do grafiteiro quando ele passasse, mas foi apenas uma vontade, não tive reação rápida o suficiente, apenas o fuzilei com o olhar.

Assim que ele saiu dalí, voltei meu rosto para encarar a Fatinha, que já estava atrás do balcão esperando minha explosão. Algo, naquela visita, era diferente: não sentia raiva da Fatinha por sua facilidade em lidar com homens, o que geralmente me incomodava; dessa vez me sentia traído, como se ela me devesse satisfações, como se eu tivesse direito em questioná-la sobre aquela cena que eu acabara de presenciar.

“Que palhaçada foi essa?” Disse lentamente, mas me importando completamente com cada palavra.

“Não sei do que você está falando, Bruno. O Gil só passou a noite aqui.” Fatinha respondeu, ainda incerta se deveria levar a conversa naquela direção.

“O Gil só passou a noite aqui?” Falei, imitando sua voz, tentando ridicularizá-la. “Você não tem vergonha na cara mesmo, né garota? Acha normal ter um cara no seu quarto quando dá vontade, não dá satisfação a ninguém, como se fosse uma qualquer, como se não tivesse família.”

“E eu tenho? Se você não reparou, eu moro aqui porque meu pai me renegou depois de, olha que coincidência, me considerar uma qualquer, assim como você!” Sua coragem apareceu e veio junta com mágoa.

“Talvez ele tenha feito o certo mesmo. Você é uma vergonha pra qualquer um! Além do mais, parece ter inveja da Juliana, né? Fica pra cima e pra baixo com o ex-namorado dela, agora outro ex-namorado dorme contigo e nas horas vagas você ainda vai atrás do irmão dela. Qual seu problema, hein?”

“Vergonha, Bruno? Vergonha? Quem devia ter vergonha era você de vir ao meu local de trabalho, me agredir com palavras e se achar dono da minha vida. Eu pago as minhas contas e tenho direito de deixar deitar na minha cama quem EU quiser! Não preciso ter inveja da Juliana, apesar de ela ser linda e ser muitas coisas que eu gostaria de ser. Eu não preciso ter inveja porque eu sou feliz exatamente do jeito que eu sou. Não sei por que a minha felicidade e meu jeito de ser incomoda tanto você, talvez você quisesse ser um pouco mais como eu, mas não tem coragem. Não é homem o suficiente.”

A Fatinha, geralmente tão feliz, estava à beira das lágrimas, mas manteve-se firme na sua lição de moral. Ela estava completamente certa e suas palavras foram um baque.

O monstro alí era eu. Machista, controlador, possessivo e com vergonha de assumir que não dava mínima se ela deitasse com quem quisesse, mas que eu gostaria que fosse eu a deitar.

“Fatinha, não foi bem isso que eu quis dizer.”

“Foi exatamente isso que você quis dizer, Bruno. Agora, por favor, ao menos que você queira um quarto, saia daqui.”

“Fatinha...”

“Saia daqui.” Ela disse firme, sem me encarar, mexendo em qualquer coisa em seu computador.

Obedeci.

Obedeci porque não tinha alternativa. Acabara de me dar conta de algo que mudava tudo: eu gostava dela, eu sentia ciúmes dela e queria que ela se desculpasse por aquela cena com o Gil. Mas como? Tantas vezes ela me quis, me procurou, disse estar disposta a tudo e a querer fazer direito e minha reação, em todas às vezes, foi a mesma daquele momento: humilhá-la para me sentir superior.

Agora que eu pensava, Fatinha era superior a mim em tantos quesitos, que ela é quem deveria me dar aquele sermão. Eu era quem brincava com os sentimentos dos outros, quem sentia inveja dos que ela olhava de outro modo.

Antes de sair do Hostel, ouvi-a cantarolar uma música.

“Se for difícil pra você tudo bem, pois a gente se diverte com o que tem...”.

Ela se divertia com o que tinha, e realmente, era difícil pra mim assumir que estava apaixonado por ela.


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!


Notas finais do capítulo

Capítulo by: Mariana R.

Hum... Bruno é um babaca! Sempre condenando antes de saber a verdade dos fatos! Não quer admitir que a Fatinha é a garota certa, mesmo sendo errada. Gostou? Comente! Sexta tem mais! Beijos!



Hey! Que tal deixar um comentário na história?
Por não receberem novos comentários em suas histórias, muitos autores desanimam e param de postar. Não deixe a história "Para Sempre Lidinho" morrer!
Para comentar e incentivar o autor, cadastre-se ou entre em sua conta.