Para Sempre Lidinho escrita por Érica, Mariana R


Capítulo 18
Repetir o passado


Notas iniciais do capítulo

"Quando eu vi você com ela não consegui suportar. Ainda me pergunto por quê?... Não devia me importar."



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"Não, eu não tenho NADA pra falar com ela! Quantas vezes você vai precisar ser abandonada para entender que ela não vale a pena?”

Acabara de dizer isso a Tatá enquanto fechava a porta de casa com força atrás de mim. Sentia meu rosto queimar com o sangue recém-esquentado e chamei o elevador em fúria. O motivo daquilo? O motivo de sempre: os telefonemas esporádicos e insistentes da Raquel, teoricamente, minha mãe.

O seu momento materno mais recente passou e ela voltou a sentir necessidade de ir salvar o mundo. Pegou o primeiro voo para o fim de mundo que ela chamava de “lar” e foi lá tampar buracos, deixando os nossos abertos por aqui. Eu quase acreditei que daquela vez seria diferente, que ela não teria coragem de nos fazer passar por tudo aquilo de novo e que finalmente assumiria suas responsabilidades para comigo e com a minha irmã. Para variar, eu confio nas pessoas erradas!

Meus pensamentos estavam quase indo em direção a um certo idiota em quem tanto confiei, quando vi o Severino abrir a porta do elevador e falar qualquer coisa. Já estava no térreo antes mesmo de me dar conta; iria direto para a casa do Gil, precisava tocar guitarra, grafitar ou apenas ficar no silêncio que o meu amigo me permitia.

“Gil?” – Perguntei surpresa ao vê-lo parado ali, no meio da rua, olhando em uma direção qualquer e com o choque estampado no rosto. Ele não me respondeu.

Caminhei até ao seu lado e quando me virei para procurar o que estava causando aquela reação, senti o sangue que antes esquentava meu rosto, sumir completamente de todas as partes do meu corpo.

“Dinho e...”

“Ju!” Ele respondeu ao meu sussurro com a mesma dose de decepção que eu tinha na voz.

Um Outdoor enorme, Dinho e Ju nos braços um do outro, completamente envolvidos num beijo. O beijo que eu tanto amo... AMAVA, Lia. AMAVA – ouvi minha consciência gritar.

“Gil...” Quando despertei daquela espécie de transe que a foto me causou e me virei para chamar meu companheiro de fossas, ele já estava longe e no caminho de casa.

Como quando desci, só entendi onde estava quando vi o Severino mais uma vez abrindo a porta do elevador e falando algo sobre correspondências, enquanto eu ia em direção à porta da Ju. Sentia aquele embolo na altura da garganta e tocava a campainha com uma força exagerada, até que a própria Juliana atendeu a porta.

Minha presença lhe causou surpresa e desconforto. Ela olhou para algo dentro de casa, eu não me importei e nem esperei por convite. Ao levantar o olhar, dei de cara com o motivo do constrangimento da minha melhor amiga: Dinho.

Como você não pensou nisso antes, Lia? Era óbvio que eles estavam juntos.

Era por isso que a Ju andava me evitando, era por isso que eles andavam grudados para cima e para baixo, era por isso que ele estava mexendo com fotografias. Eles tinham voltado e eu, para variar, era a última, a saber. Fiquei ali, estática, esperando os próximos acontecimentos, esperando qualquer confirmação do que minha mente maquinava.

A it-girl voltara ao sofá e Dinho estava sentado diante dela, segurando uma de suas mãos e segurando seu queixo. Eu queria gritar, mas parecia invisível como naqueles sonhos loucos que só rockeiros tem e acham maneiros.

"Você confia em mim?" Perguntou Dinho com um olhar cheiro de carinho.

"Confio. Tchau Dinho" Ela respondeu dando um sorriso fraco.

Me senti uma intrusa naquela situação. Era como se não tivesse o direito de estar ali e presenciar aquela cena. Doeu ver os dois tão próximos... Senti inveja da minha amiga por poder ter o carinho dele enquanto eu estava sendo ignorada.

"Tchau" Ele saiu pela porta sem ao menos olhar para mim.

Ficamos em silêncio por mais alguns segundos, minutos, talvez. Sua indiferença me queimou e a falta de explicações da Ju me pertubava ainda mais.

“Olha Lia, o que eu tenho pra te dizer é que...” Ela iria se explicar, iria ter a mesma conversa que eu tive com ela há mais de um ano atrás, quando eu pedia perdão por tê-la traído.

“Não, Ju. Você não tem que me dizer nada” Minha voz saiu nitidamente alterada.

“O quê? Mas é claro que...” Ju estava confusa.

“Não! Não tem! Você está solteira, o Dinho está solteiro e não é surpresa, certo? Vocês já namoraram antes. Você até pensou em perder a virgindade com ele, você o amava e nós quase deixamos de ser amigas por causa dele. É óbvio que com a volta dele isso iria acontecer!”

“Não. Não! Você não sabe o que aconteceu!” Tão típico.

A Jujuba estava chorando, pensei com ironia. Então era assim que ela se sentiu naquela época? Eu sentia meu estômago pressionado, minha garganta queimar e uma vontade de quebrar a primeira coisa que aparecesse. Aquele vaso da mesa me parece tão atraente... CONCENTRA LIA, concentra!

“É verdade! Eu não sei mesmo. Não é a primeira vez que sou a última, a saber, o que tá rolando e também não é a primeira vez que eu descubro algo por meio de uma foto... As coisas estão se repetindo com uma frequência assustadora! Ele voltou por você?” Perguntei com mágoa.

“Como é que é? Lia...” Ela estava tão nervosa que gaguejava.

Era verdade. Ela só não conseguia me contar, mas ela iria a qualquer momento. Sem pensar sequer meia vez, resolvi atingi-la da maneira mais baixa.

“Por mim tudo bem, eu tenho namorado. Eu só acho que você devia ter mais respeito pelo Gil. Ele gosta de você! Estava lá embaixo agora, encarando aquela foto e foi embora para casa sem dizer nada! Você devia ter consideração e...”.

“CALA A BOCA. CALA A BOCA!” Eu consegui o que queria, ela acordara e agora reagia. “Você não sabe de nada! Você não pode chegar aqui e falar essas coisas sem saber de nada! Eu não devo nada ao Gil! E ele não gosta de mim! Você quer saber por que terminamos? Pois eu lhe digo: o Gil gosta de você, não de mim. Ele deve ter ido pra casa comemorar o fato de o Dinho estar comigo naquela foto, não você!”

Foi como uma corda de guitarra quebrando, me atingiu em cheio. Gil e Ju terminaram porque ele ainda gostava de mim? Depois de todo esse tempo e das coisas vividas? Não tinha mais o que falar. Era justo, certo? Eu tirei a felicidade da Ju duas vezes – uma com o Dinho, outra com o Gil – ela só está querendo recuperar o que deveria ter sido seu. Eu não deveria acusá-la, pelo contrário, eu nem deveria estar ali exigindo nada! Eu deveria estar pensando em meu namorado, sentindo saudades dele.

Como sempre faço, saí de um ataque de expressão excessiva, para me guardar em meus próprios conflitos. Pela última vez naquele dia, me vi dentro do elevador indo para casa. O Severino não apareceu, ainda bem por isso, pois eu estava chorando. Não era justo com ela, nem comigo e nem com ninguém.

“Ele deve ter ido pra casa comemorar o fato do Dinho estar comigo naquela foto, não você!” A frase ecoou em minha cabeça. Eles estavam juntos. Era ela, não eu. O passado se repetia.



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Notas finais do capítulo

Esse é o capítulo de estreia da Mari!Awn... Perfeito! Gostou? Comente! Ela merece! Beijo!



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