Para Sempre Lidinho escrita por Érica, Mariana R


Capítulo 65
Eu sinto muito


Notas iniciais do capítulo

"Você está aqui, não há nada que eu temo. E eu sei que meu coração seguirá em frente. Ficaremos para sempre dessa forma. Você está seguro em meu coração."... (Celine Dion)



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“Ah... minha sobrinha é tão linda!”

“Nós já sabemos Ju, nós a fizemos!”

Juliana fez bico diante da brincadeira de Fatinha. Clarice havia sido levada de volta ao berçário do hospital, sob protesto da mãe coruja. Confesso que foi estranho para mim também, mas não pude evitar. Meus pais foram para casa e Ju chegou logo depois com o namorado, Gil, pelo o que parecia não tava muito bem.

“Alguém sabe onde eu posso conseguir uma aspirina, analgésico, morfina ou qualquer coisa que acabe com essa dor de cabeça?”

O meu cunhado pôs as mãos na cabeça e gemeu de dor. Ju o olhou furiosa, o que era novidade, já que sempre o tratou com tanto carinho.

“Dá para ficar quieto?! Quem mandou encher a cara hein, Gilberto?”

“Pô, Ju! Que história é essa de Gilberto?”

“Olha, eu ainda não desculpei o papelão que você fez na festa de casamento tá? Agora, bico fechado que o que me interessa agora é a minha sobrinha.”

“Alivia aí, Ju! Ele já tá sofrendo o bastante!”

Minha futura noiva riu do casal e foi inevitável não rir também.

“Será que a gente pode ficar mais um tempo?”

Indagou Ju, sem querer se afastar de mim e de Fatinha.

“Sei que passa do horário, mas sair nessa chuva, sério, ninguém merece!”

“Não sei...”

A chuva tinha dado uma trégua, mas voltou a cair com mais força.

“Será que podem falar mais baixo?”

“AFF, cala a boca Gilberto ou eu acabo de rachar a tua cabeça!”

“Acho que nunca vi uma DR JuGil e só posso dizer que to AMANDO!”

“FATINHA!”

Repreendi a Loira sorridente. Ela deveria estar descansando e não rindo da briga da minha irmã com o namorado. Mas foi só ela me olhar manhosamente para eu me derreter por completo. Se daqui por diante ele me olhasse sempre assim, que Deus me ajude, mas eu nunca vou dizer não para nada que ela me peça.

“Amor...”

“Vem Gil, vamos perguntar a alguma das enfermeiras se ela te arranja um remédio... Eu volto logo, minha Loira.”

Dei um selinho na minha mulher, e saí do quarto acompanhado de Gil. As duas permaneceram conversando animadamente.

“Acho que a Ju nunca vai me perdoar.”

Martirizou-se o rapaz.

“Vai sim! É só birra da minha irmã, mas você que não torne isso um hábito hein? A Ju não merece ter que aturar ninguém de ‘pileque’, quanto mais um marmanjo barbado feito você!”

“Eu sei, foi mal...”.

Caminhamos pelos corredores do Hospital em busca de uma enfermeira, sem sucesso. Foi quando meu celular tocou, no visor estava indicado numero desconhecido.

“Alô?”

“Bruno?”

Reconheci a voz da Marrenta imediatamente.

“Oi, Lia! E aí o Dinho já falou da minha filha? Você precisa ver, ela é linda!”

“Bruno, por favor, me escuta – A apreensão da jovem me fez ficar alerta – A Fatinha tá por perto?”

“Não, ela ficou no quarto. Comigo só tem o Gil... Aconteceu alguma coisa, Lia? Você não parece bem.”

“Olha, sem perguntas, só me ouve – Um suspiro pesado foi ouvido antes de ela começar a falar – Desculpa tá te ligando, mas bem, eu não tinha outra alternativa... Cara, ‘Cê’ deve tá tão feliz e eu...”

“O que tá rolando?”

Perguntou Gil, ao meu lado.

“Eu não sei – Pus a mão no telefone – Espera, acho que aconteceu algo grave. Lia, você ainda tá aí?”

“To... To sim, me desculpa. Eu não consigo raciocinar direito.”

“Lia, por favor, para com esse suspense! O que foi que aconteceu?”

“É... Foi o Dinho. O Sal, ele apareceu, me agarrou, mas eu consegui correr. O Dinho tava chegando na hora. Foi tudo tão rápido, Bruno. Tão rápido... Quando dei por mim ele já tava caído no chão. E eu, eu...”

A voz embargada pelo choro foi interrompida. Mil cenas passaram rapidamente pela minha mente, e em todas, o final não era nada agradável. Tentei focalizar minha mente confusa para o ponto principal: Sal. Então, aquele maníaco tinha voltado de Brasília! E novamente tentou machucar a Lia, mas apesar do estado emocional abalado, ela parecia bem, o que significava...

“Você se machucou?”

“Não... Não eu, mas o Dinho... O Sal atirou nele, Bruno. Atirou nele. Atirou.”

Repetiu como se lhe custasse a acreditar. Me senti da mesma forma, não conseguia acreditar no que ela me falava. Ainda pouco Adriano estava com a afilhada nos braços e agora estava... Morto?

“Bruno, a Lia tá bem? Quem machucou ela?”

Gil me sacudiu com força. Olhei para o seu rosto, o meu próprio sem expressão. Recostei-me a parede... Como iria dizer isso a Fatinha? Deus, como iria falar que o melhor amigo dela, o irmão dela tinha sido... AH, Deus!

“Lia, me explica tudo com calma tá? Respira, e conta tudo o que aconteceu.”

“Eu fui ao Hostel falar com minha mãe. O Michel ate falou que tinha visto alguém, mas eu não dei importância. Eu tava indo pra casa quando alguém me agarrou por trás e tapou minha boca com a mão. Pensei que fosse um assalto, mas não, era aquele maldito... Ele me arrastou ate uma parede, fez um monte de ameaças, eu senti o revolver... Eu sabia que ele ia machucar o Dinho, eu sabia! Quando eu o vi descer do carro, não sei o que me deu, eu mordi o Sal e corri. Gritei para ele correr também, mas ele ficou e, e...”

“Ele tá morto?”

Engoli em seco, mas era uma pergunta necessária.

“Não...”

Suspirei aliviado, mas por pouco tempo.

“Mas o estado dele é grave... Eu, eu to tão assustada, Bruno. O tiro foi no peito, onde fica o coração. E se ele morrer? Era para ter sido em mim, a culpa é minha! MINHA!”

“Não, Lia... Onde você tá? Tem alguém aí com você?”

“No hospital onde meu pai trabalha, a Raquel tá comigo... Acredita? Chega a ser irônico, no momento em que mais preciso, a minha mãe tá comigo!”

Lia riu histeria ainda sob o efeito do choque. Por sorte, o hospital era o mesmo em que eu e Fatinha estávamos, mas só que numa ala diferente. Bem, pelo menos Dinho ainda – maldita palavra – estava vivo.

“O que aconteceu com Sal?”

Estava cansado de tantas perguntas e de submetê-la novamente ao horror que deve ter sido ver Dinho ser atingido por aquele psicopata.

“Fugiu. Mas a policia já foi informada, e tão procurando por ele... Mas mesmo que aquele bandido seja preso, o mal já foi feito.”

“Eu, eu nem sei o que dizer... Olha, daqui a pouco eu chego aí tá? Fica calma, vai ficar tudo bem.”

Mas eu não tinha tanta certeza disso. Um tiro perto do coração era grave, e por mais fé que eu tivesse, o pior sempre podia acontecer. Gil me olhou preocupado, eu tinha que contar.

“Pra resumir a história, o Sal voltou e tentou agarrar a Lia, mas ela conseguiu escapar... Porém, ele tava armado e atirou no Dinho, no peito esquerdo. Ele já foi socorrido, mas a Lia não tem noticias... O estado é grave, Gil. E você vai ter que me ajudar com a Ju tá? Deus, eu nem sei o que dizer para Fatinha.”

“A Ju vai ficar arrasada.”

Murmurou emocionado. E mesmo que ele não quisesse demonstrar, ele também estava arrasado, as antigas desavenças com o Idiota, todas esquecidas. Ainda permanecemos um tempo, parados em silêncio, cada um absorvendo à sua maneira o golpe. Tudo o que fui capaz de pensar é que isso poderia ter sido evitado, que se eu tivesse me imposto e feito o certo desde o inicio o Dinho não estaria entre a vida e a morte. Mas deixamos Sal sair impune, e agora, como a Lia mesmo disse, o mal já havia sido feito.

“Ju, será que você pode me acompanhar ate lá fora?”

“Gil, eu to cansada de brigar. Se quiser pode ir embora, mas eu vou ficar, OK?”

“Por favor, Ju... Vocês precisam conversar.”

Minha irmã me olhou confusa, o tom da minha voz sério. Decidi omitir, pelo menos por enquanto, de Fatinha a noticia, mas Juliana deveria saber. E assim, ir dar o apoio necessário à amiga que devia estar tão ou mais abalada do que eu.

“Tá... Eu volto depois.”

O casal saiu do quarto e fechou a porta. Fatinha sentada na cama me olhou inquiridora. O clima tenso era palpável, o meu abatimento também, mas ela não merecia passar por isso, não agora.

“E a senhorita não deveria tá descansando? Acho melhor você dormir, Fatinha.”

Dei um sorriso fraco, o melhor que consegui.

“Por que o Gil estava tão sério?”

“Não sei, acho que ele quer se desculpar pelo que fez a Ju.”

Desviei os olhos dela, mirando em volta na tentativa de disfarçar a tensão. Mas Fatinha, tão atenta a tudo, não se convenceu e continuou o interrogatório.

“AVÀ, e precisa daquilo tudo para pedir desculpas? ‘Cê’ tá me escondendo alguma coisa Bruno! Eu sei que sim! Então, pode começar a falar ou eu saio dessa cama e vou eu mesma buscar explicações!”

“Você tá doida?! Acabou de ter bebê antes do previsto e pensa que eu vou te deixar desfilar por aí só de camisola? Ah, mas minha mulher não vai fazer isso: DE JEITO NENHUM!”

A Loira bufou de raiva. Mas machismo não tinha nada a ver com minha imposição.

“Primeiro: Eu sou sua noiva, e se quiser casar comigo pode ir baixando a bola que nem você nem ninguém diz o que eu faço ou deixo de fazer! Segundo, você acha mesmo que eu vou casar com alguém que mente pra mim? Se você quer mesmo ver esse corpinho aqui entrando numa igreja vai ter que me falar a verdade. Eu confio em você e espero que faça o mesmo!”

“Fatinha...”

O nariz empinado no rosto tão decidido era a única coisa que eu precisa para saber que não existia saída. Não poderia evitar o sofrimento, mas, de alguma forma, tentaria confortá-la. Mas ela merecia saber a verdade, Fatinha confiava em mim.

“É a Clarice? Ela tá mal?”

A aflição da minha Loira me partiu o coração. Não pensei que ao mentir, ela fosse supor algo de ruim com a filha.

“Não, não... Ela tá bem. – Fui ate a cama e sentei ao sei lado – Você sabe que eu te amo, né?”

“Claro!”

“Eu não queria ter que te contar isso, mas eu não posso mentir pra você, Eu juro que se pudesse, faria de tudo para que você não sofra, mas é inevitável.”

“Bruno, você tá me assustando...”.

“Me escuta... O Sal, ele voltou pra o Rio e tentou agarrar a Lia. Mas ela tá bem, ela conseguiu escapar... Porém, ele tava armado.”

“O QUE?! Ele não atirou nela, atirou?”

“Não, não... Não nela. – Engoli em seco, as lágrimas prestes a cair dos olhos dela – Mas ele atingiu o Dinho. Pelo o que eu entendi, ele tava chegando na hora e aconteceu. Já o socorreram, a Lia tá aqui no hospital com a mãe...”

“Aonde o tiro pegou? Aonde ele foi atingido?!”

Exaltou-se Fatinha. Senhor, não pensei que fosse ser tão difícil.

“Por favor, Fatinha... Tenta ficar calma!”

“DIZ! Onde foi?!”

“No peito esquerdo, perto do...”.

Não consegui terminar a frase. O choro mudo dela me fazendo querer acabar com a raça de Sal por fazer tantas pessoas sofrerem. Tantas coisas estavam em jogo, tantas pessoas... Principalmente, ela e a Lia.

“Não pode ser! Você entendeu errado, Bruno... Foi isso, o Dinho não ia ter coragem de fazer isso comigo! Ele não ia se atrever a fazer isso comigo e com a Lia. Diz que é mentira, por favor, diz que nada disso aconteceu e que ele tá bem! FALA!”

“Eu sinto muito...”.

“É MENTIRA! Você só tá falando isso porque não gosta dele, porque ele me ama e você não aceita! Não faz isso, Bruno! Não faz isso comigo!”

“Fatinha...”

A abracei forte enquanto negava o que, se dependesse de mim, não seria realidade. Mas era. Ela se debateu, me socou, tentou de todas as maneiras me afastar, como se assim mandasse para longe a verdade. Mas eu permaneci, e a abracei tão forte como se pudesse livrá-la um pouco da dor. Foram minutos intermináveis nos quais ela chorou, chorou e chorou. E eu chorei também, por todas as vidas que mudariam tão drasticamente se o pior acontecesse.

“Ele não devia ter voltado... – Murmurou, o rosto recostado no meu ombro – Ele ia tá bem se tivesse ficado onde estava. Nada disso teria acontecido...”

“Ninguém podia prever, amor. Ninguém, nem ele, nem nenhum de nós.”

“Ele é meu irmão.”

“Eu sei, e hoje vendo vocês juntos compreendi melhor isso. A amizade de vocês é muito bonita, e peço desculpas por todas as vezes que julguei os dois mal.”.

“O Dinho foi uma das melhores coisas que me aconteceram... Ele era tão bom comigo, diferente de todo mundo. As garotas não gostavam de mim porque eu era Periguete, e os garotos só se aproximavam com segundas intenções. Ele foi o único que quis ser meu amigo de verdade. No inicio, eu estranhei, claro, mas mesmo a gente tendo ficado... Eu vi que a amizade dele era verdadeira. E eu precisava tanto daquilo, parecia que ninguém me entendia, e era tão difícil às vezes... Ser sozinha. – Desabafou sem dar-se conta – Eu não podia contar com meus pais, e depois que saí de casa tudo só piorou. E apesar da minha fama e do que a Ju pudesse pensar, ele me deu abrigo. Foi por pouco tempo, mas acho que ali, com ele, foi a primeira vez que me senti querida. E é estranho, porque eu nunca o vi como um possível namorado, mas seria tão simples... Você só me esculachava, e o Dinho era tão parecido comigo. Mas era você que eu amava, e mesmo sendo contra, ele me entendia, porque o amor dele pela Lia é tão grande quanto o meu por você.”

“E quando eu te machucava, ele vinha tirar satisfações comigo.”

“E você entendia tudo errado, sempre pensando o pior de mim... Mas eu amo vocês dois, de formas distintas, mas com a mesma intensidade... Por isso o escolhi para ser padrinho da Clarice, pois sei que ele vai amá-la e cuidar dela se for preciso. Ele fez o mesmo comigo... Quando eu fiquei no hospital daquela vez que eu passei mal, ele chorou... Eu não sei por que e também nunca perguntei. Mas a gente tinha meio que brigado antes dele viajar para São Paulo. Ninguém nunca tinha chorado por mim, com exceção da minha mãe que é uma manteiga derretida, e das garotas que temiam perder o namorado, mas era por minha causa, não por mim... Dá pra imaginar? Mas ele chorou por mim, por que tava preocupado comigo... E agora é a minha vez de chorar por ele.”

“Ele é um cara legal, a Ju sempre me disse, mas agora eu sei.”

“Muito... Ele, ele ajudou tanto a gente, a Ju a ficar com o Gil. E isso tudo acontece quando ele e a Lia estão brigados...”.

Ah, ela ainda não sabia!

“Não, Fatinha... Eu não te falei, mas eu encontrei os dois juntos quando fui buscá-lo no apartamento. A Lia em trajes bastante suspeitos, e ele mesmo disse que eles reataram.”

“E aquele Idiota nem pra me contar!”

Um sorriso fraco iluminou o rosto da Loira. Mas a lembrança do estado do amigo o fez desaparecer tão rápido quanto surgiu.

“Ele queria uma chance com ela, ele ama tanto a Lia... E talvez, não posso nem pensar nisso.”

“Eu juro que se pudesse te pouparia disso tudo, eu juro!”

“Eu sei, Moreno... Amo você, Bruno. Quero que sempre se lembre disso, que eu amo você.”

“Eu também amo você.”

E as juras de amor foram reafirmadas dentro do quarto de hospital, entre lágrimas e lembranças. Não nos restava muito a fazer, quase nada, na verdade. Mas era como se ao lembrar do nosso amor, o mal se mantivesse afastado e a fé de que tudo ficaria bem crescesse mais e mais. Uma corrente de orações invisível chegando a ele e o ajudando a lutar. E nós estaríamos aqui, torcendo por Dinho para que ele voltasse para a vida e para tudo o que era seu de direito.

Fé é algo estranho, mas também muito poderoso e pedia a Deus, silenciosamente, para que as nossas preces fossem ouvidas.


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Notas finais do capítulo

:´( "My heart will go on"...(8) Não tenho emocional para falar nada... Opiniões, criticas, sugestões, no aguardo de reviews, hein? Por hoje é só, sexta que vem tem mais. Beijos!



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