Para Sempre Lidinho escrita por Érica, Mariana R


Capítulo 60
Dia de felicidade


Notas iniciais do capítulo

"Não consegui esquecer meu coração... Aqueles olhos tristes sonhadores que eu amei, o deixei por conquistar uma ilusão, e perdi seu rastro. E agora eu sei que ele é tudo o que eu buscava."... (David Bisbal)



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“Lia, acorda!”

“O que?”

Sentei na cama rapidamente. Minha cabeça parecia girar e foi preciso minha irmã me amparar para não cair no chão.

“Droga, Tatá o que é que ‘Cê’ tá pensando me acordando assim?”

“Que droga digo eu! Você tava gritando, não lembra? Eu fiquei te chamando um tempão, mas você não respondia...”

“Eu, eu não me lembro...”.

Mas ao passar a mão no rosto, senti o suor frio escorrer, os cabelos molhados grudavam na pele. Como por mágica, o que me atormentava em sonho voltou nitidamente trazendo o pavor.

“Lia...”

Meu corpo começou a tremer, dentes rangendo, como se algo se apoderasse de mim. E por mais que lutasse contra, voltei ao pesadelo de poucos minutos. O quarto ate então iluminado, tornou-se obscuro, a imagem de minha irmã desaparecendo. Me encolhi junto a cabeceira da cama, enquanto tudo parecia se mover. Queria me agarrar a alguma coisa, mas tudo que tocava se desfazia como fumaça escapando pelos dedos, estava sozinha. Sentia o cheiro de perigo impregnado no ar, a tensão oprimindo, sufocando meus pulmões e dificultando a respiração. Imagens embaçadas surgindo uma atrás da outra. Ao longe, ouvi um barulho horroroso semelhante ao escapamento de um carro capaz de machucar meus ouvidos, um grito sufocado de dor. A angustia tomou conta de mim, não reagia, apenas sentia a vida se esvair aos poucos.

“Lia, fala comigo filha!”

“Pai?”

Olhei os olhos apreensivos do Dr. Lorenzo e lutei com todas as forças para escapar daquele pesadelo terrível.

“Pai, me ajuda...”

“Filha!”

Lágrimas escorreram quentes e senti o abraço do meu pai em volta de mim, como um escudo afastando o mal. Me agarrei a ele, tão forte que soube que o machucava, mas ele não se importou, e continuou a me abraçar.

“Foi só um pesadelo, Lia... Vai ficar tudo bem.”

Porém, eu não sentia assim. Embora, já estivesse mais calma era como se algo me avisasse que aquilo era somente o inicio de algo maior e muito mais doloroso. Mas não sabia o que era, não podia prever e isso me doía. Não tinha sonhos, no caso, pesadelos iguais aquele. O ultimo foi há muito tempo quando Dinho foi viajar com Rômulo e eles sofreram um naufrágio. Na época, o desaparecimento dos dois deixou a todos com o coração na mão, mas graças a Deus eles voltaram são e salvos. O que me fazia questionar o motivo desse novo pesadelo... Será que tinha a ver com Dinho?

"Você nem faz ideia do que ele tem feito por você, Lia! Como pode ser tão cega? Ele te protege e você o maltrata!”

As palavras de Luana ecoaram pela minha mente confusa. Desconhecia ter algum poder mediúnico, mas e se o meu amor me fizesse estar ligada a ele de alguma forma? E se o que sentia era o perigo que ele corria? E se Dinho precisasse de mim? Expulsei esses pensamentos da cabeça para o mais longe possível. Era só um sonho, só isso, nada iria acontecer. Deus não permitiria que nada de mal acontecesse a Dinho, eu não suportaria.

“Vai ficar tudo bem...”.

“Desculpa, pai.”

Murmurei contra seu ombro.

“Pelo que filha? Você não tem culpa.”

“Tenho sim! Eu, seu te dei tanta dor de cabeça, nunca liguei para os teus sentimentos... Sempre agi como uma garota egoísta preocupada apenas com o que eu sentia. E você só me amou. Você e a Vovó cuidaram de mim e eu nunca agradeci por todos os sacrifícios que você fez. Me desculpa.”

“Hey, para de bobagem. Você não tem que pedir desculpas por nada. Não foi nenhum sacrifício cuidar de você e da sua irmã, foi por amor. E sua avó pensa o mesmo.”

Eu ainda estava aprendendo a pedir desculpas e não era tão difícil quanto parecia. Luana, ultima pessoa a quem poderia agradecer alguma coisa, me abriu os olhos para a forma estúpida como agia com as pessoas que amava. E só em momentos como esse, podia entender o quanto eles se preocupavam comigo, o quanto era injusto afastá-los. Acho que a sacudida que ela me deu foi o que me faltava pra enxergar que devia mudar minhas atitudes e pedir perdão era o primeiro passo.

Ficamos um bom tempo, abraçados. As lágrimas já secas, a tranquilidade estabelecida e a recordação de que dia se tratava vindo à cabeça.

“É sábado...”

Sussurrei debilmente.

“É, hoje é sábado.”

Concordou Dr. Lorenzo. Revirei os olhos meio impaciente.

“DIA DO SEU CASAMENTO!”

“Verdade! Eu nem me dei conta, tenho que ir pra igreja...”.

“De pijama?”

Meu pai olhou o pijama pra lá de cafona que usava e se deu conta de que no mínimo, Marcela diria um sonoro não se o visse vestido daquela maneira no altar.

“Não! Mãe, cadê meu terno. Eu ainda nem tomei banho, droga!”

“Calma aí, pai! Ainda tem tempo, o casamento é só à tarde... Vai, seu café, relaxa e deixa que eu me encarregue da Tatá. Não se preocupa com nada, hoje é o seu dia feliz.”

“Tá, quem é você e o que fez com minha filha problemática?”

Brincou cruzando os braços em volta do corpo.

“Há-há-há! Muito engraçado!”

“Bem, no mínimo, é uma surpresa. Uma grata surpresa saber que minha filha linda ainda tem concerto.”

Como prometido, fiquei de olho na senhorita Constancia para meu pai. Depois do almoço, deixamos que ele tivesse um momento de paz, e fomos ate a casa de Ju para nos arrumamos para o casamento. A cerimônia seria realizada na igreja do bairro, por volta das 15h00min, numa celebração simples para amigos e familiares. Tendo os noivos decidido assim, a festa seria realizada no Misturama e em seguida eles viajariam para um fim de semana em lua de mel no nordeste.

“Ju, passa batom em mim!”

“Não enche, pirralha! Você vai pra um casamento e não para um desfile de carnaval.”

“Ah, Lia não tem problema!”

E contrariando os meus protestos, Juliana fez da minha irmãzinha sua cobaia.

“Lia, posso ir falar com o Juca lá embaixo? A gente combinou de ir junto pro casamento.”

“Juca? Hum, será que a pirralha arranjou um namorado?”

“AH, para! A gente é só amigo!”

Protestou Tatá vermelha de raiva. Ju ria da situação enquanto eu procurava o par perdido do meu sapato.

“Tá, tá que seja! Vai, mas não some hein? Nem suja sua roupa! Eu vou acabar de me arrumar e já, já desço.”

“Valeu, Lia!”

A garota saiu em disparada pela porta do quarto. Continuei a procurar a droga do sapato que havia sumido de vez ate que notei o olhar sagaz de Juliana sobre mim.

“Que foi? Tem alface no meu dente?”

“Ah, que engraçado! Tava esperando ficar a sós com você para perguntar: Qual foi o resultado?”

“Resultado do que?”

Desconversei, mas sabia exatamente onde ela queria chegar: A suspeita de gravidez. Bem ainda era uma suspeita, não por alta de oportunidade para comprovar, mas sim por falta de coragem. A verdade é que desde a noite que passei mal na casa de Fatinha, a existência ou não de uma vida dentro de mim estava tirando o meu sono. Já comprei um teste de farmácia e tudo, mas não fui ate o fim. Precisava falar com Dinho primeiro, mas nenhum dos meus milhares de telefonemas tiveram retorno. Na certa, ele estava me evitando.

“Do teste de gravidez!”

“Grita mais alto Ju, eu acho que o pessoal que tá no pão de açúcar não escutou!”

Juliana fez expressão culpada.

“Desculpa, amiga! Mas é que isso tá me matando de curiosidade. Você disse que ia fazer o teste, mas não disse nada ainda. Nem se ia falar com o Dinho.”

“Eu ainda não fiz o teste. Eu, eu... Eu não sei o que fazer entende? Eu já liguei para ele e nada. Eu to confusa, não durmo direito e penso quase que vinte e quatro horas na possibilidade de ter um bebê, a reação da minha família... E hoje é um dia tão importante, eu não posso trazer esse aborrecimento pro meu pai. Não hoje.”

Uma lágrima escapou dos meus olhos. Nos últimos dias estava mais emotiva que o normal e me questionava se isso era um dos sintomas da gravidez. Ju segurou minhas mãos e me fez sentar na cama.

“Não precisa ter medo, seja lá o que acontecer ‘Cê’ sempre vai poder contar comigo e com os amigos. E tenho certeza que com o Dinho também. Ele te ama demais, Lia. Acredita nisso.”

“Eu acredito! Eu também o amo, muito. E só eu sei o que quanto tem sido duro ficar longe dele todo esse tempo. O pior é pensar que a culpa é toda minha, Ju! Se não tivesse feito o que fiz, ele ainda estaria aqui comigo e eu não me sentiria tão sozinha.”

Mas me martirizar não ia resolver os meus problemas.

“Estranho, porque ele tá fazendo isso...”.

Juliana falou mais para si mesma do que para mim, como se por acaso soubesse de algo que eu desconhecia. E era mais que evidente que tinha relação com Dinho.

“Fazendo o que? Do que você tá falando Juliana?”

“De nada, amiga! Melhor a gente se apressar. Quem atrasa em casamento são as noivas, não as damas!”

Esquecendo um pouco Adriano, nos ocupamos em nos aprontarmos para o casamento. Eu, Ju e Tatá seríamos damas a pedido de Marcela que entraria na igreja acompanhada do filho, Gil. Não sei porque, mas estava mais ansiosa para cerimônia do que os próprios noivos. Mas pensando bem, isso se devia ao meu desejo de que Dinho estivesse ao meu lado, mas ele não estaria. E muito menos me veria no vestido... É, vestido! Que Marcela escolheu para mim. Apesar de preferir jeans surrados, ate que admitia que era muito bonito em decote v, na altura dos joelhos na cor azul. Pelo menos não era rosa nem cheio de frescuras. Permiti que Ju fizesse uma maquiagem leve, calcei a muito custo os sapatos de salto alto torcendo para me equilibrar e me olhando no espelho duvidei se a apresentável moça refletida era eu mesma, a Lia dos molambos e coturnos velhos.

Minha amiga também estava linda e sem demoras, seguimos para a casa de Marcela para que pudéssemos ir ate a igreja.

“Ai, Marcela ‘Cê’ tá maravilhosa!”

Exclamou Ju ao ver a sogra com um lindo vestido branco de noiva. A roupa era simples, porém muito elegante. Era um modelo tomara que caia, liso, com uma faixa preta em volta marcando a cintura. Os cabelos loiros da nossa antiga professora estavam presos num coque frouxo, enfeitado com pequenas pedras de strass. Não usava véu, mas era uma noiva perfeita e tenho certeza que meu pai se orgulhará demais ao vê-la entrando.

“Obrigada, Ju! Eu to tão feliz e vocês aqui comigo torna tudo mais especial!”

“A Ju tem razão, você tá linda!”

“E vocês? Espero que não se importem em usar a mesma cor. E Lia, você de salto?”

“Ah, a ocasião pedia né? Eu posso usar meus velhos tênis o resto da minha vida ou o tempo que durarem.”

“Cadê o Gil?”

Perguntou Ju olhando em volta a busca do namorado.

“Ele tá no quarto lutando contra a gravata. Acho melhor você ir lá dar uma ajudinha pro meu filhote se não hoje eu não caso!”

Brincou Marcela. Ju seguiu para o quarto de Gil enquanto aguardávamos na sala.

“Pensei que as noivas ficassem nervosas...”.

“Quem disse que eu não estou?”

“Sério? Você parece tá tão segura.”

“Teatro, Lia! A verdade é que meu coração tá a ponto de sair pela boca. Eu, uma mulher adulta quase entrando em pânico porque vai casar daqui a pouco”

Agora que a Loira falou, notei um pouco de apreensão na mesma. Desde que chegamos, ela não parava de movimentar os dedos e morder o lábio. Resolvi acalmá-la.

“Ah, acho que isso é normal! Afinal, é uma nova etapa na sua vida que tá começando, uma nova família... E a minha não é lá das mais amorosas, mas tenho certeza que vamos ser muito felizes.”

“Ai, Lia! Só você mesmo!”

A futura esposa do meu pai me abraçou. Em seguida apareceu Ju e Gil e assim pudemos seguir para a igreja. O percurso foi curto, e em poucos minutos já estávamos a postos. A marcha nupcial se iniciou e os convidados presentes levantaram-se para a entrada da noiva. O nervosismo de antes foi esquecido por Marcela e ela concentrou-se na figura do noivo a sua espera no altar. Ju, Tatá e eu fomos à frente com ela vindo em seguida acompanhada por Gil que a entregou ao meu pai com um sorriso.

Era mais que notável a felicidade dos dois com aquela união e só me restou pedir que fossem felizes. Todos estavam atentos às palavras do padre e não notaram a pessoa que entrou instantes depois na igreja sentando-se ao fundo. Mas eu o vi, senti a sua presença e ao olhar para onde estava uma corrente elétrica cortou o ar quando nossos olhos se encontraram.

“Dinho...”

Sussurrei seu nome e como se ele fosse capaz de ouvir, um sorriso surgiu no seu rosto.


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Notas finais do capítulo

Capítulo by: Érica!

Awn... Marcela e Lorenzo vão casar! E quem imaginou a Lia de dama? Pois é, e as surpresas não param por aí! Parece que finalmente o senhor Adriano resolveu dar o ar da graça! Como será que vai ser o encontro desses dois? Gostou? Comente!

Ps: Gente, Fic tá se encaminhando pro final. Espero que estejam gostando e só para saber, tenho outra Fic em mente, mas bem diferente dessa. Mas só posto se estiverem dispostos a lerem! Então? Por hoje é só, mas semana que vem, mais precisamente quarta, tem mais capítulos para vocês! Beijos!



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