Para Sempre Lidinho escrita por Érica, Mariana R


Capítulo 53
Coração vazio


Notas iniciais do capítulo

"Quando tudo o que posso fazer é ver você partir. Porque nós compartilhamos as risadas e a dor, e ate dividimos as lágrimas. Você é o único que, realmente, me conhecia de verdade."... (Phil Collins)



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Acordei com uma puta dor de cabeça. Sentei na cama, o quarto em completa escuridão, e deduzi já ser muito tarde. Não me lembrava de como tinha parado lá, nem porque minhas mãos tinham curativos, só sabia que a dor que sentia era mais que física.

Esfreguei os olhos e estiquei o braço para ligar o abajur, mas não o encontrei. Não havia nada ao lado. Levantei e segui cegamente para a porta, precisava tomar algum comprimido para essa dor infernal. Tateie o caminho com as mãos, ate chegar próximo à sala. A casa estava silenciosa, e apenas a luz da sala estava acesa. Parei onde estava quando ouvi vozes vindas do local.

“Como ela está?”

Olhei disfarçadamente para as pessoas sentadas no sofá: Meu pai e Dinho. Estranhei os dois estarem juntos, dado que meu pai não concordava com nosso namoro. O Dr. Lorenzo parecia triste, o semblante apático e os olhos tristes demonstravam um sofrimento muito grande. Mas por quê? Eu não entendo por que meu pai estava assim. Pus as mãos na cabeça, a dor se intensificando.

“Ela dormiu há pouco. Eu, eu sinto muito Lorenzo.”

Falou Dinho também triste.

“Não é culpa sua, rapaz. É minha. Eu permiti que as coisas chegassem a esse ponto, que minha filha chegasse a esse ponto.”

O homem passou a mão pelos poucos cabelos que lhe restavam.

“Ela nunca lidou muito bem com a partida de Raquel, nunca assimilou que a complexidade da situação era muito maior. A mãe dela não era feliz, entende?”

Raquel? Ela... As lembranças chegaram a minha mente em uma velocidade assustadora. A nossa briga, o meu descontrole, o quarto destruído... Tudo estava lá.

“Eu sempre tentei ser um bom marido, pai, cuidei de nossas filhas, mas isso não era o suficiente pra ela. A Raquel apenas não se contentava com o que eu tinha para oferecer e foi buscar no mundo uma satisfação para seus sonhos. Não se preocupou com o estrago que deixou para trás. No inicio, pensei que se desse o meu melhor, que se eu fosse presente e orientasse minhas filhas, elas não sentiriam tanto a falta da mãe, mas eu me enganei. Nada poderia substituir esse afeto.”

Pai... Gemi mentalmente. Quis dizer que ele não devia se sentir culpado, que não tinha nada a ver com ele, mas continuei onde estava escutando a conversa.

“A Lia não me fala muito sobre a mãe, mas eu sei que ela sofre muito com a distância dela.”

“É mais que isso, Dinho! A minha filha não sabe como reagir diante da presença da Raquel. Eu a levei a inúmeros psicólogos, mas nada adiantou, terapia, nada! E hoje aconteceu o que aconteceu! E eu não tive como fazer nada lá, de plantão, no hospital. Se não fosse você, não sei se ela não teria se machucado mais.”

Lorenzo deixou escapar algumas lágrimas. Era visível sua decepção, não comigo, mas consigo mesmo. Acho que ele se sentia culpado por não poder me ajudar mais e me ver ter uma crise nervosa como a de hoje.

“Eu vou voltar para perto dela, se não se incomoda. Não quero que ela acorde e não veja ninguém do lado.”

“Tudo bem, eu acho que vou pro meu quarto também.”

Temendo ser vista, voltei para o quarto o mais rápido possível e deitei na cama. Fechei os olhos com força para impedir que as lágrimas escorressem pelo rosto. No fim, eu era mais parecida com Raquel do gostaria. Eu só sabia fazer as pessoas que amo sofrerem como ela havia me feito sofrer. Eu não queria ser assim, juro, não queria.

Por que Deus? Por quê?

Instantes depois, Dinho entrou no quarto e se aproximou da cama. Prendi a respiração e fingi dormir, ele ficou parado alguns instantes. Suspirei aliviada quando o toque do celular desviou sua atenção.

“Alô, Luana. É o Dinho, pode falar.”

Luana? O que aquela garota queria com ele?

Permaneci quieta tentando escutar a conversa.

“Não, eu já estou decidido. Não quero que aconteçam problemas, entende? É uma decisão minha e não depende de você.”

Dinho ficou calado por um momento, escutando a resposta da mulher do outro lado da linha.

“Eu sei, eu sei. Não pedimos por isso, aconteceu. Mas mesmo assim, não me sinto bem enganando outra pessoa.”

Enganar? Quem ele estava enganando?

“Luana, me escuta, a gente pode se ver amanhã? Eu to ocupado agora, não posso falar muito. Fazemos assim, nós encontramos para almoçar naquela lanchonete perto do estúdio e conversamos, o que acha? Eu quero por um ponto final nessa história, vai ser o melhor para nós dois.”

Ele encerrou a ligação e tornou a sair do quarto. A minha cabeça parecia que ia rachar. Não entendia nada do que acabou de acontecer e mil perguntas pairavam sobre mim. O Dinho nunca me falou que mantinha uma relação tão próxima com Luana. E a forma como falou com ela, a preocupação da sua voz, a culpa... Eu, eu não sabia o que pensar. E amanhã eles iriam se encontrar.

Antes que tivesse oportunidade para aprofundar meus questionamentos, ele retornou ao quarto.

“Lia?”

Me remexi um pouco, ainda fingindo que dormia. Ouvi seus passos indo em direção à cama de Tatá e depois disso, silêncio. Olhei cautelosa para o outro lado e o vi deitado de costas. Tentei dormir novamente, esquecer a conversa que ele teve com Luana, mas foi impossível. Passei quase toda a noite olhando para o vazio em busca de uma solução para aquele quebra-cabeça. Adormeci já de manhãzinha, acordando quase perto do meio-dia.

Não havia sinal de Dinho no quarto. Levantei e fui ate a sala onde encontrei minha vó.

“Lia, guria, que bom que você acordou!”

Dona Paulina me abraçou afetuosamente.

“Cadê o meu pai e a Tatá?”

“Seu pai foi ao hospital e sua irmã tá se arrumando no meu quarto para ir à escola. Filha, eu sei que sua mãe está de volta e de tudo o que aconteceu ontem. Graças a Deus eu tinha levado a Tatá para tomar sorvete... Lia, está tudo bem?”

Minha vó me olhou preocupada. Pus no rosto o melhor sorriso que tinha, mas tenho certeza de que não passou de uma careta.

“To, vó... Desculpa, eu não queria te preocupar.”

“Tudo bem, filha. Eu vou levar a sua irmã para o colégio. Você vai ficar bem sozinha?”

“Vou.”

“Ótimo! Eu não demoro. Ah... e o seu namorado disse que era para ligar para ele quando acordasse.”

Dinho... A ligação da madruga me fez pensar rápido. Não podia continuar com dúvidas, então decidi ir ao tal encontro e tirar minhas próprias conclusões sobre o que se tratava. Após minha vó e Tatá saírem, fiz o mesmo e peguei um táxi até onde ficava o estúdio onde Dinho trabalhava. Era um prédio antigo por fora, mas nas duas vezes que estive rapidamente por lá, constatei que era um lugar lindo e bem transado com pessoas andando de lá para cá, sempre ocupadas com alguma coisa.

Já no endereço, não foi difícil localizar a tal lanchonete. Só havia uma na rua, e sem perder tempo, fui ate lá. O lugar estava um pouco cheio, mas assim que passei pela porta vi Luana e o meu namorado numa mesa afastada. Alheios a minha presença, não perceberam quando me sentei em outra mesa. Eu parecia uma ridícula agindo daquela forma, espionado Dinho e aquela bitch, mas era algo mais forte do que eu.

Passei um tempo observando os dois. Ela parecia tentar convencê-lo de algo, mas ele não queria concordar, nada demais... Ate ele pegar a mão dela. Meu rosto ficou imediatamente vermelho de raiva, mas me mantive parada. Dinho acariciou a mão de Luana que o olhou agradecida. A cena era tão surreal, que tive dificuldades para acreditar que estava mesmo acontecendo.

“Nós não pedimos por isso, aconteceu.” “Não me sinto bem enganando outra pessoa.” “Eu quero por um ponto final nessa história, vai ser o melhor para nós dois.”.

Não existia outra explicação para o que estava acontecendo: Eles estavam juntos. E o Dinho, mesmo depois de tudo o que passamos, voltou a fazer o mesmo: Me traiu!

Como foi capaz? Minha vontade era ir lá e dizer tudo o que estava entalado na minha garganta, mas não iria me rebaixar a isso. Se ele acha que eu vou fazer uma cena em público, ele está redondamente enganado!

Me levantei e saí quase que correndo da lanchonete, esbarrando numa pessoa na porta. Não via nada na minha frente, só a imagem de Dinho e Luana juntos! E eu, burra, acreditei que tínhamos uma chance!

“Uma vez mentiroso, SEMPRE MENTIROSO!”

Peguei um outro táxi e voltei para casa, mas em frente ao prédio não quis ir para meu apartamento. Liguei para Ju, mas ela não atendeu. Decidi ir ate a casa de Marcela, conversar com o Gil, tocar ou fazer qualquer outra coisa que me tirasse à imagem de Dinho da cabeça.

“Lia? Nossa, não tava te esperando aqui!”

Falou Marcela ao atender a porta.

“O Gil tá?”

“Tá sim... Lá no quarto, pode entrar! Afinal, você já é da família.”

Fui ate o quarto e entrei sem avisar.

“Lia? Não te esperava aqui...”.

“È, deu para notar. Posso tocar com a sua guitarra?”

O jovem levantou-se da cadeira onde estava.

“Claro! Mas o que aconteceu com a sua?”

“Quebrei.”

Falei sem maiores detalhes. O que mais precisava agora era tocar, conversaria com alguém depois, ou não.

“Lia tá tudo bem?”

Não, Gil! Não tá nada bem! A minha mãe voltou para infernizar minha vida e descobri que meu namorado ainda é um maldito desgraçado traidor!

“Tá.”

“Eu vou sair agora, mas pode ficar o tempo que quiser.”

Gil pegou a mochila e saiu do quarto me deixando sozinha. Peguei a sua guitarra e comecei a tocar musica aleatórias, sem nem me dar conta. O som da música foi um pouco reconfortante, e o barulho me impedia de ouvir meus pensamentos. Tocava uma música atrás da outra, sem parar, sem pensar, sem sentir. Estava vazia. E era assim como sempre estaria, vazia de qualquer coisa boa. Eu quis tanto, esperei tanto, sonhei tanto com Dinho para mais uma vez acabar quebrada.

“Lia, eu te trouxe um lanche.”

A Loira passou pela porta segurando uma bandeja.

“Valeu, mas eu não to com fome.”

Continuei concentrada no instrumento.

“Lia, acho que posso dizer, pelo tempo que te conheço, que alguma coisa te aconteceu. Você aparece do nada pedindo para tocar a guitarra do Gil, mesmo com curativos nas mãos e passa horas sem nem dizer uma palavra. Por que não me conta o que tá te afligindo? Quem sabe eu não possa te ajudar?”

“Sério, eu... Eu não tenho nada para falar. E também já chegou minha hora. ‘Brigada’ mesmo, mas eu já vou.”

Marcela ainda tentou me convencer a ficar, mas não tinha vontade. Peguei minha bolsa e fui para casa. Entrei no apartamento e me deparei com minha vó andando de um lado para o outro.

“Lia! Por Deus! Como é que você sai assim sem avisar? Há horas que eu ligo pro teu celular e nada, guria! Eu já tava quase ligando para o teu pai e para policia!”

“Agora não, vó! Agora não!”

Marchei ate o quarto. Peguei meu Ipod e liguei no volume máximo, me jogando sobre a cama.

Como posso apenas te deixar ir? Deixar você ir sem deixar rastro? Quando eu fico aqui tomando fôlego com você. Você é o único que, realmente, me conhecia de verdade. Como posso te deixa ir embora para longe de mim?...

“Mas é o que eu vou fazer! Antes que você tenha chance de me machucar ainda mais, serei eu a pessoa a abrir mão de você.”

“Lia? É o Dinho. Abre a porta, por favor.”

Com mais calma do que sentia, saí da cama e abri a porta. Dinho me deu um selinho nos lábios, um gesto frio que em nada lembrava os nossos momentos de paixão. O vi entrar no quarto e sorrir, mas não sorri de volta.

“Sua vó me disse que ‘Cê’ saiu hoje. Aonde você foi? Por que não me ligou?”

“Eu tava por aí...”.

“Hum... Por aí? Sei. Mas não importa, vim saber se você tá bem. Depois de ontem, fiquei preocupado.”

Fui ate a cama e me sentei. Sinceramente, aquela não era eu, não a Lia que briga, grita e quebra coisas quando as pessoas a ferem, mentem e enganam. Era como se fosse outra, uma Lia que mantinha o controle da situação e, por agora, não sei se gosto dessa versão de mim.

“Não precisava, eu sei me cuidar muito bem.”

“Será que nunca vai mudar, Marrenta?”

“É como dizem ‘Não podemos mudar quem somos’, né? Não importa o quanto lutemos contra, não podemos negar a nossa essência. Como eu bem pude comprovar hoje.”

“Do que você tá falando? Sério, eu não to te entendendo!”

Olhei o seu rosto com o semblante confuso. Quem o visse, juraria que não fazia ideia de nada ou que não tinha motivos para se preocupar. Mas eu tinha, eu o vi junto daquela vaca. Não me contaram, eu vi, como também vi as fotos dele com a ‘Vacatina dos infernos’ tempos atrás!

“Então, deixa eu te explicar melhor: Acabou, Dinho! Eu to pondo um ponto final no nosso namoro, o que quer dizer que você não tem mais por que se preocupar comigo. Vai viver sua vida e me esquece!”

“Lia, espera, por que tá dizendo isso? Por que tá fazendo isso?”

“Por quê? Porque eu cansei e decidi que quero outras coisas para mim de agora em diante. E isso não inclui você! Sabe, você quase me enganou, quase me levou a um ponto no qual não sei se teria forças para fazer o que to fazendo, mas você não tem tanto poder sobre mim, Dinho. Me faz um favor? Vai embora e acaba logo com essa cena patética. Sério, ate que foi bom ficar com você de novo, mas, sinceramente, acabou. Fim. Ponto final. Vai viver e fazer o que quiser com quem você achar melhor.”

Fui ate a entrada e abri a porta para que ele saísse.

Dinho ficou parado um momento, desconfio que pensando na atitude que tomaria.

“Eu não to te reconhecendo. Mas se é isso que você quer, tudo bem. Eu vou, mas a gente ainda vai conversar. Vou esperar você recobrar a consciência e me explicar porque tá fazendo isso com a gente. Isso não acabou!”

Falou ao passar por mim chispando raiva pelos olhos. Suspirei, mas não era alivio que sentia. Quando ele olhou para mim, quase desisti de tudo, talvez, eu devesse perdoá-lo. Esquecer, ignorar a cena dele e de Luana juntos. Mas não seria eu, e não queria ter um relacionamento assim.

“Dinho, Dinho, Dinho!”

Disse seu nome inúmeras vezes como se assim pudesse fazer ser menos doloroso a sua lembrança, mas não consegui. Eu o amava. Droga, eu o amava!

Então, dê uma olhada pra mim agora, porque há apenas um espaço vazio. E não há nada para me lembrar, apenas a lembrança do seu rosto...



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Notas finais do capítulo

Capítulo by: Érica!

"E esperar por você é tudo o que eu posso fazer e é isso que eu tenho que encarar!"... Awn, a música 'Agains't all odds' é linda, mas bem que eu poderia ter passado sem essa. Será que a Lia fez o certo? Claro que a ligação entre a Luana e o Dinho foi suspeita, ainda por cima teve o encontro, mas sei não... Então, vamos ver como é que fica. Gostou? Comente!

Ps: Hoje é só dois capítulos *Tijoladas*, mas prometo escrever pelo menos três para semana que vem. Quero reviews, hein? E opiniões sobre quem tá certo nessa situação! Beijos pessoinhas do meu heart!



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